Garota-Gelo

Casamento - II


Eu estava totalmente impaciente esperando o bando na escadaria.

\n\n

Mamãe falava com os meus tios, rindo. Marcela conversa com Jonas, também a esperando. Isadora foi levar Camila ao banheiro.

\n\n

Depois de cinco minutos, eles apareceram, sorrindo. Os encarei e bufei.

\n\n

– Cara, vocês demoram demais.

\n\n

– O que posso fazer se sou cogitada para conversar?

\n\n

– Dar um belo chute na bunda deles e os mandar se ferrar? – Eu esclareci.

\n\n

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Ela sorriu.

\n\n

– Você sabe que eu sou coração mole e incapaz de fazer o mal, não sabe?

\n\n

Ri.

\n\n

– Quer que eu conte para o pessoal o que você fez com Mick Cardoso, mamãe?

\n\n

Ela ficou séria.

\n\n

– Nada de falar sobre o Michael, filha. Passado é passado.

\n\n

– O que você fez com ele, Serena? – Perguntou Isadora e Marcela.

\n\n

Ela continuou a me olhar. Mamãe sorriu e bateu na minha cabeça.

\n\n

– Michael Cardoso era o cara que me fazia bancar a prostituta no cabaré que eu trabalhava. O matei com um tiro no peito. Katrina me ajudou a esconder o corpo no porão de sua casa. Foi engraçado.

\n\n

Ri com a lembrança.

\n\n

– Foi mesmo. A gente deixou o corpo dele cair várias vezes, mas ninguém desconfia. Mamãe tomou a posse do cabaré e está assim até hoje. Qual foi a desculpa, mesmo?

\n\n

– “Mick está com câncer. Vamos rezar por ele”. – Ela riu.

\n\n

Comecei a dar risada e tapei a boca.

\n\n

– Tá bom, vamos para a festa. Preciso comer umas coxinhas.

\n\n

*

\n\n

Depois de cinquenta minutos rondando por aí, chegamos ao local onde aconteceria a festa.

\n\n

Era um prédio irradiando luz por todos os cantos. A rua estava lotada de carros luxuosos e brilhosos.

\n\n

Hum, tia safada. Convidou gente rica só para ganhar presente caro, que eu sei.

\n\n

Pulei do carro e quase cai de cara no chão. O bando saiu atrás de mim e eu corri para a entrada.

\n\n

O segurança pediu os papeizinhos e minha mãe deu para ele os nossos convites.

\n\n

Passei por ele correndo e entrei no salão.

\n\n

O piso era todo branco, brilhoso. Uma mesa enorme estava postada no meio do salão, cheio de comidas e pratos prontos. Uma tigela... Cheia de coxinhas estava ali, indefesa, na ponta da mesa... Com um papelzinho escrito: Para Katrina, com muito amor, Rosa. Várias mesas com cerca de sete cadeiras estavam dispostas ao redor do salão.

\n\n

Bati palmas, contente. Roubei uma cadeira de uma mesa qualquer e a levei até a ponta da mesa, de frente para a tigela. Peguei uma coxinha e a comi.

\n\n

Fiquei observando as pessoas, e depois de um longo tempo me dei conta de que havia um minibar ali. Um garçom e vários marmanjos gritavam e bebiam loucamente, jogando pôquer.

\n\n

Pensei por um instante.

\n\n

– Será que consigo uns mil reais? – Murmurei para mim mesma.

\n\n

Depois de um longo tempo dividida entre o sim e o não, e entre comer doze ou vinte coxinhas, me cutucaram no ombro.

\n\n

Virei-me, pronta para dizer: “não vou dividir minhas coxinhas, saí fora, babaca.”.

\n\n

Era apenas Marcela e Jonas. Eles estavam com um sorriso presunçoso, como se soubessem de algo.

\n\n

– Katrina... Queremos fazer uma aposta com você. – Jonas disse.

\n\n

Sorri.

\n\n

– Vou ganhar quanto se eu conseguir?

\n\n

Marcela sorriu.

\n\n

– Você tem quantos anos?

\n\n

– Dezesseis.

\n\n

– Você terá que tomar dezesseis copos de uísque. A cada copo tomado, cinquenta reais.

\n\n

Impressionei-me com a proposta.

\n\n

– Vocês têm algum problema? Eu não vou conseguir tomar tudo isso.

\n\n

Jonas e Marcela se entreolharam.

\n\n

– Sabia que você não era capaz. – Marcela colocou sua mão sobre o meu ombro. – Você é fraca. Nem parece a Katrina Dias que eu conheço. Que topa tudo, até desafiar a morte.

\n\n

Engoli em seco.

\n\n

– Vocês estão manchando meu caráter agora. – Me levantei com tudo, e Jonas recuou, indo para trás de Marcela. – Eu topo. Me dá um RG falso.

\n\n

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Ela sorriu.

\n\n

– O barman é um dos meus empregados. Ele vai deixar de boa.

\n\n

Sorri.

\n\n

– Bora começar a verdadeira festa. – Os encarei. – Não me deixem fazer besteiras. Tá entendido?

\n\n

Eles assentiram inocentemente.

\n\n

Quando eu estava a caminho, ouvi aos fundos “Tik Tok”, tocando. Animei-me.

\n\n

– Não me deixem beijar velhinhos.

\n\n

Entrei no bar e os marmanjos me encararam. Sentei naquele banquinho de bar e Marcela se sentou ao meu lado.

\n\n

Ela chamou o barman, que sorriu.

\n\n

Ele pegou uma garrafa de Jack Daniels na prateleira e o colocou em cima do balcão. Logo depois ele bateu um copo de vidro na minha frente. Ele afagou meu cabelo.

\n\n

– Boa sorte.

\n\n

Sorri.

\n\n

– Não vou precisar. Com esse aqui, lido no bico.

\n\n

Ele riu baixinho e abriu a garrafa. Jogou o líquido no copo e eu o peguei.

\n\n

Observei a bebida. A coloquei na boca e inclinei a cabeça para trás, para escorrer tudo de uma vez.

\n\n

Contorci a boca. Como não bebo com frequência, não consigo me acostumar com o gosto.

\n\n

Bati o copo no balcão com força e olhei para Marcela.

\n\n

– Meus cinquenta.

\n\n

Ela sorriu e deslizou a nota pelo balcão. Sorri e a enfiei no sutiã.

\n\n

– Próxima! – Bati na mesa.

\n\n

E aí foram seis copos a goela abaixo.

\n\n

Marcela Pov.~

\n\n

Não foi uma boa ideia embebedar Katrina.

\n\n

Ela começou a cantar coisas, mexer com as pessoas... Foi apavorante.

\n\n

Consegui convencê-la a se sentar conosco, para jantar.

\n\n

– La, la, la, la, la, la... Cante uma canção! – Ela gritou.

\n\n

– Katrina, não... – Eu disse.

\n\n

Tentei colocar a colher em sua boca, só que ela virou o rosto.

\n\n

– Não quero comer.

\n\n

Eu ia brigar com ela, mas uma música começou a tocar.

\n\n

Pink Floyd.

\n\n

Os olhos de Katrina se iluminaram. A encarei.

\n\n

– Não faça o que eu sei que você irá fazer...

\n\n

Ela riu feito uma criança. Subiu na cadeira e depois ficou de pé na mesa.

\n\n

So, so you think you can tell… – Serena a avisou.

\n\n

Mas ela deu de ombros.

\n\n

O pessoal começou a nos olhar.

\n\n

Heaven from hell…Blue skies from pain.

\n\n

A galera começou a bater palmas no ritmo da música. Um cara gritou lá do fundo:

\n\n

Can you tell a green field from a cold steel rail?

\n\n

Ela sorriu.

\n\n

A smile from a veil? Do you think you can tell? – Katrina cantou, andando pela mesa.

\n\n

Todo mundo começou a cantar com ela, balançando as mãos no ar.

\n\n

Did they get you to trade your heroes for ghosts? Hot ashes for trees? – Ela cerrou o punho para fazer o microfone, e eu tapei a cara.

\n\n

A música ficou mais alta, provavelmente em aprovação ao comportamento de Katrina.

\n\n

Hot air for a cool breeze? Cold comfort for change? Did you exchange a walk on part in the war for a lead role in a cage?

\n\n

Ela pulou da mesa e caminhou pelas outras mesas, incentivando o pessoal a se levantar.

\n\n

Todos se levantaram e começaram a dançar.

\n\n

How I wish... – Ela cantou, depois apontou para o pessoal.

\n\n

How I wish you were here! – Eles completaram, gritando.

\n\n

Serena tirou o celular da bolsa e começou a gravar, rindo.

\n\n

– Temos que guardar esse momento histórico. – Ela sorriu.

\n\n

We're just two lost souls swimming in a fish bowl. Year after year running over the same… old ground what have we found? – Ela cantou, voltando a nossa mesa e pulando para subi-la.

\n\n

The same old fears... – O pessoal gritou.

\n\n

Wish you were here. – Ela encerrou, se curvando.

\n\n

Todo mundo, até eu, Jonas e Camila, bateu palmas. Alguns assobiaram, mas todos, absolutamente todos, tiveram a certeza que Katrina ficava mais meiga bêbada.

\n\n

E isso era ruim.

\n\n

*

\n\n

Katrina continuou insistindo e no fim, a vadia conseguiu juntar oitocentos reais só no porre.

\n\n

Quando a festa acabou, ela pegou a garrafa e ficou a chupando, sem nada dentro.

\n\n

Foi um sacrifício enfiá-la dentro do carro. Quando finalmente ela cedeu e caiu no chão, nós todos rimos e entramos.

\n\n

Eram uma e meia da madrugada e eu estava morta de sono. Jonas me cutucou nas costelas.

\n\n

– Agora a parte final do plano.

\n\n

Ri.

\n\n

– Com certeza.

\n\n

A viagem toda Katrina explicou que hortênsias eram flores enviadas por crianças malvadas, cultivadas nas florestas da Amazônia.

\n\n

Quando chegamos à frente da casa de Serena, Katrina desembestou e correu lá para dentro.

\n\n

Dei risada.

\n\n

– É agora.

\n\n

Pedro Pov.~

\n\n

Eu estava morto de sede.

\n\n

Desci a escada coçando meu peito desnudo e fui para a cozinha. Olhei no relógio. Uma e trinta e duas da manhã. Bocejei e vasculhei a garrafa de água na geladeira.

\n\n

Meus pais não estavam em casa, tinham saído para comemorar os vinte anos de casados. E pelo visto, não voltariam tão cedo.

\n\n

A despejei no copo e a bebi. Pensei por um instante.

\n\n

– Hoje tem trabalho de geografia para apresentar, droga.

\n\n

Já estava a colocando de volta na geladeira quando bateram na porta.

\n\n

Juntei as sobrancelhas.

\n\n

Caminhei devagar até a porta, e quando estava perto, ouvi risinhos. A abri e dei de cara com Marcela e Katrina.

\n\n

– Pedrooooooo – Katrina sorriu. – Sentiu saudade?

\n\n

Olhei para Marcela, incrédulo.

\n\n

– Ela está bêbada?

\n\n

– Sim. – Ela deu um risinho. – Boa sorte.

\n\n

Marcela empurrou Katrina na minha direção. Ela me abraçou pela cintura e esfregou o nariz no meu peito.

\n\n

– Preciso de um banho.

\n\n

Ai, caramba. Já vi que não vou para a escola hoje.