Garota-Gelo

Pedro Assume


Acordei de manhã com o despertador tocando. Estiquei-me e apertei o botão para pará-lo. Sentei-me na cama e me espreguicei.

Não demorou muito para ouvir os gritos histéricos de Katrina, do outro lado da rua. Ri sozinho, imaginando a cena do beijo de ontem.

Rodrigo escancarou a porta e correu, subindo na minha cama.

- Irmão, irmão... Olha o desenho que eu fiz! – Ele mostrou o desenho, feliz.

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Peguei a folha e me deparei com... Com... Virei a folha ao contrário, mas não percebi o que era.

- Está lindo. – Eu sorri. – Você poderia ser pintor de desenhos abstratos.

Ele não entendeu e só riu.

Rodrigo pegou a folha e correu para fora do quarto.

Encarei o cômodo. Katrina me veio à mente.

Ele ficava extremamente vazio sem uma cobra ao meu lado, segurando minha mão.

Esfreguei minha cara.

- Droga. Katrina, o que você fez comigo?

*

Troquei-me e desci a escada.

Derek estava conversando animadamente com minha mãe, que estava fazendo o café.

Eu ri.

- Não perturbe minha mãe, Derek. Ela é frágil demais para te ouvir relinchar. – Brinquei.

Ele sorriu.

- Quem não aguenta te ouvir relinchar sou eu. Você fala demais enquanto dorme. Quase te joguei pela janela.

Eu ri e sentei na cadeira ao seu lado.

- O que eu estava falando?

Ele pensou por um instante.

- Parecia que estava sonhando com uma cobra.

Eu dei risada.

- Só tem uma cobra que eu quero sonhar, Derek.

Peguei uma maçã do cesto de frutas e a mordi.

Minha mãe se virou e me deu um tapa na cabeça.

- Você não tomou o café ontem, porque tinha um encontro com Katrina... E esse é o seu café? Uma maçã. Meu Deus, como os jovens estão irresponsáveis.

Ela andou para a sala resmungando algo. Derek abriu um sorriso.

- E então... Como foi ontem?

Eu ri sozinho.

- Foi ótimo, na medida de Katrina. – Peguei a maçã já mordida e a observei. – Você tinha que ver a expressão dela enquanto assistia ao filme, Derek... Era como uma criancinha desfrutando um doce. Adorável.

Derek riu alto. O encarei.

- Cara... Você tem ideia do que está dizendo? Está chamando Katrina Dias, a fera... De “adorável”. – E caiu na gargalhada outra vez. – Eu vi essa menina crescer, a vi derrubando assaltantes com os dentes!

Mordi a maçã com mais força.

- Para mim, Derek... Não interessa o que você viu e sim o que eu vejo. E para mim, ela ainda será o ser mais adorável que eu conheço.

Derek suspirou.

- Meu Deus, Pedro. Você é doido.

*

Quando pisei na escola, vi Katrina e Marcela sentadas de frente para uma árvore, escondendo algo.

Eu fiquei curioso então me sentei atrás delas, para ouvir do que falavam.

- Mas... – Katrina estranhou algo. – Acho que... Ficou pequeno?

Marcela assentiu.

- Ficou pequeno, mesmo. Acho que vamos ter que colocar a força, quando ele estiver dormindo.

Katrina engasgou.

- Você é idiota? O Pedro não é alguém que se pode invadir a casa, colocar uma fantasia de carneiro, tirar uma foto depois comparar com Hugo. Isso seria suicídio.

Eu estraguei minha camuflagem quando dei risada.

Elas tomaram um baita susto e se levantaram.

- NÃO FAÇA ISSO! – Elas gritaram.

Eu dei risada e sentei que nem um índio.

- Por que vocês querem colocar uma fantasia de carneiro em mim? – Eu franzi a testa. – E por que querem me comparar com aquele lá.

Elas se entreolharam.

- É que... Os meninos da nossa sala foram sorteados para usarem fantasias. Aí a professora nos designou para fazermos a fantasia de Hugo. – Explicou Marcela. – Mas só que nós queremos fazer surpresa. A Katrina porque acha que vai ser constrangedor, e eu porque adoraria ver ele de roupa de carneiro.

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Levantei a sobrancelha.

- E eu entro onde nessa história?

- Se couber em você, cabe nele.

Eu mordi o lábio e olhei para o lado.

Não queria experimentar uma roupa que Katrina fez para aquele lá.

Katrina se ajoelhou e pegou minha mão. A encarei, surpreso.

- Você vai experimentar essa fantasia sim senhor. Para de ser mulherzinha! – Ela gritou. – Quebra essa para gente!

Diga-me, tem como dizer não para a Katrina?

Ela estava séria, e quando ela fica séria, ela fica ainda mais adorável.

Sorri.

- Já que vocês insistem, posso provar.

Marcela e Katrina sorriram.

- Obrigada, Pedro. – Agradeceu Marcela.

- Tudo bem, de verdade.

Katrina se sentou na grama e cruzou os braços. Ela bufou.

- Apenas sua obrigação.

Dei risada e afaguei seus cabelos.

Katrina tinha cabelos extremamente macios e ralos. Parecia que a qualquer toque mais bruto eles iriam cair.

Ela se levantou e pegou aquele monte de lã. Ela o jogou na minha cara.

- Veste isso.

- Aqui não.

Katrina cruzou os braços.

- Quando chegar em casa você veste.

Eu sorri.

- Tudo bem.

Levantei-me e enfiei a roupa de carneiro dentro da mochila.

- Vejo vocês no almoço?

Marcela assentiu e arrastou Katrina para a sala delas. Katrina foi resmungando algo como: odeio todo mundo.

Enfiei as mãos nos bolsos e fitei o céu. Estava incrivelmente azul e límpido. Eu estava sonhando sozinho quando me cutucaram no ombro. Virei-me, meio surpreso e encontrei Carmen.

- Oi, Pedrinho... Por que você ainda não entrou na sala? – Ela disse em um tom angelicalmente falso.

Inspirei com força e forcei um sorriso.

- Estou tomando um pouco de ar, apenas. Eu já vou entrar.

Eu andei alguns passos, mas ela se agarrou ao meu braço. Olhei para o lado, já sem paciência.

- Não quer faltar aula e fazer algo divertido comigo?

A encarei, incrédulo.

- Larga de ser vadia. Você já tem aquele cozinheiro de merda, por que tem que vir para cima de mim? Não vê que eu não vou nem um pouco com a sua cara?

Larguei-me dela e andei pesadamente até o pátio interno.

- Pedro, você é um gay! – Ela gritou.

Virei-me para ela e andei de costas.

- Não fico ofendido, pois isso não é uma ofensa. E, aliás, quem é gay é aquele que sai contigo. – Lhe dei língua.

Entrei na minha sala e dei de cara com a professora. Ela foi para trás com o encontrão e eu a segurei pelos ombros. Ela me olhou, surpresa.

- Pedro, querido. Está atrasado!

Encolhi-me.

- Desculpe.

Seu olhar se tornou mais suave.

- Está perdoado só dessa vez, hein! Agora entra logo!

Eu a contornei e saltitei até minha carteira. Algumas pessoas riram. Sentei-me na segunda carteira ao lado da janela e tirei o caderno e meu estojo.

- Bom, hoje nós vamos falar sobre um assunto de sétima série. Divisão de polinômio com polinômio. Todos devem ter se saído muito bem, não é?

Alguém mandou a professora se catar, e ela começou a brigar com todos nós. Eu comecei a dar risada.

Então, ela finalmente disse:

- Isso é apenas sua obrigação!

Lembrei-me de Katrina.

Esfreguei o rosto e bati com a testa devagar na mesa.

- Ai, droga.

*

Peguei uma maçã da cozinheira e estreitei os olhos, a procura de alguém sociável. Ou uma cobra.

Enquanto me arrastava entre as mesas, várias pessoas me cumprimentavam. Eu apenas sorria e acenava com a cabeça.

Eu ri sozinho quando vi um doce e uma cobra sentadas juntas, conversando com Liza, a irmã mais nova de Kevin, o garoto problema que eu já tive que lidar várias vezes.

Na realidade, Katrina estava dormindo, e Marcela estava falando com ela.

Sentei-me ao lado de Katrina e Marcela sorriu.

- Aí, Liza. Esse é o príncipe encantado da nossa “sapa”.

Eu ri.

- É cobra, Marcela. – Corrigi.

Ela sorriu e afagou a cabeça de Katrina.

Liza me olhou com atenção.

- Meu irmão já brigou com você uma vez, não é?

Assenti.

- Foi divertido. Ele quebrou uma costela minha. Mas eu consegui quebrar o braço dele. – Sorri, ao lembrar esse acontecido.

Marcela e Liza arregalaram os olhos.

- E você achou divertido? – Perguntaram as duas.

- Uhum.

Katrina levantou a cabeça e me encarou.

- Pedro, você quer brigar comigo?

Eu ri.

- Vamos. Só que a nossa luta não vai ser nem um pouco ruim.

Ela estreitou os olhos.

- Não entendi.

Eu sorri.

- No dia que nós dois formos lutar, você irá entender.

Mordi a maçã e fiquei observando o movimento.

Katrina bufou e me roubou a maçã, a mordeu e se virou para conversar com Marcela.

A fitei por um tempo.

Ela ficou nervosa, dando um tapa na cabeça de Marcela. Mas Marcela apenas sorriu e continuou a falar.

Comecei a rir sozinho.

*

Eu estava indo para casa, prestando atenção no céu, que ficava cada vez mais carregado de nuvens.

Me agarraram no braço. A início, tive um susto, mas aí era apenas Marcela.

- O que aconteceu, doida?

- A gente estava solitária. – Ela se soltou de mim e pegou a mão de Katrina, que estava de touca e com cara de morta.

- Mentira, estávamos bem. – Entregou Katrina. – É que ela está preocupada com a merda da fantasia, porque ela quer ver o bosta daquele cozinheiro "fofinho" para ela. Eu só vou tirar fotos com o celular dela e postar em algum site gay. Vou até criar uma conta fake. Vai ser um máximo.

Marcela deu um tapa na cabeça de Katrina.

- Você vai experimentar mesmo, não vai?

Assenti.

- Vou sim, não se preocupe.

Estávamos na frente da casa de Katrina quando Marcela voltou a me interrogar.

- Não esquece. – Ela disse

- Não esqueço.

- Se não der, avisa a gente.

- Aviso.

- Sério. – Marcela mordeu a unha. – Avisa!

- Ele vai avisar, Marcela, que demônios! – Gritou Katrina, enquanto escancarava a porta de sua casa.

Sorri.

- Não preocupa, Marcela. Aviso sim.

Eu acenei e atravessei a rua.

Quando abri a porta, meu pai, minha mãe e Derek estavam sentados no sofá, assistindo televisão. Aproximei-me deles e joguei a mochila no chão.

- Tenho uma coisa muito importante para dizer. – Eu disse.

Eles prestaram atenção em mim.

- Virei um carneiro.