Os dias se passavam indistintamente e o inverno se alongava. Syndel continuava se recusando a comer com a família real e a rainha por fim desistira, ordenando que as refeições fossem entregues diretamente no quarto dela. Syndel agradecera a sua majestade e conversara com Oropher para reforçar o pedido por uma morada na vila de Greenwood.

— Se não for possível, Majestade... — Ela completou, num tom baixo. Oropher, sentado em seu trono, não olhava para ela. — Se não for possível, eu gostaria de solicitar permissão para ir morar em Valfenda. Eu não desejo permanecer aqui no palácio, onde não tenho nenhum direito de residir. Aqui, eu estou sendo apenas um peso para o senhor e sua casa.

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— De fato, você não tem o menor direito de estar aqui, ainda mais ocupando um de meus aposentos mais nobres. — O rei olhou para ela. — Mas não é verdade que é um peso, considerando que mal notamos sua presença nos últimos dias, de tanto que tem trabalhado por este reino.

Ela permanecia de joelhos diante dele, mas ousou erguer a cabeça para olhá-lo:

— É o mínimo que eu poderia fazer, meu senhor.

Oropher assentiu.

— Vossa Majestade vai recusar também este pedido?

— Um rei só decide no tempo que lhe convém. Por ora, não lhe darei resposta definitiva. O inverno tem sido severo e não há como construir uma habitação nova, e de modo algum eu poderia permitir que qualquer súdito meu partisse em direção a Valfenda neste tempo. Dessa forma, qualquer decisão no momento seria inútil. Por isso, abstenho-me de dar-lhe resposta para o momento. — Ele fez um sinal para que ela se levantasse e saísse.

Ela apenas trincou os dentes e assentiu, retirando-se imediatamente. Nos últimos dias, o desprezo que ela sentia por Thranduil havia se estendido também a Oropher. Ele nunca gostara dela. Nunca quisera que ela ficasse com seu filho. Por que era tão difícil deixá-la partir, agora que tinha conseguido o que queria?

~~ ♥ ~~

Conforme o inverno se tornava cada vez mais rigoroso, a comida e a lenha começaram a ficar escassas e Oropher intensificou suas exigências sobre os súditos. Naquele dia, a caçada havia sido suspensa devido à intensa nevasca da noite anterior, mas todos os elfos, exceto por alguns guardas, foram mandados à floresta em busca de madeira para o fogo. O trabalho era pesado e lento, pois o rei exigia que se mantivesse o respeito para com a floresta, e apenas árvores que já estivessem de algum modo condenadas podiam ser derrubadas. À parte delas, apenas troncos e galhos caídos podiam ser recolhidos.

Thranduil e os outros capitães da guarda fiscalizavam o serviço. Mas o príncipe não prestava realmente muita atenção, caminhando lentamente entre os carregadores de madeira, com os braços cruzados atrás das costas. Ele mal via os rostos que passavam por ele. Uma ou duas elfas tentaram sem sucesso flertar com ele. A história de seu rompimento com Syndel havia se espalhado rápido demais.

Havia dias que ele não a via, por mais que ela permanecesse morando no palácio. Ela certamente o estava evitando. Na última vez em que ele a vira, ela o cumprimentou com uma mesura fria, e imediatamente voltou o rosto na outra direção. Ele pôde sentir o desprezo dela por ele. Além disso, ele notara que os sinais de tristeza que ele vira nela no dia em que ela retornara ao palácio (as olheiras, a palidez) haviam desaparecido. Parecia que nada dele havia restado nela.

Ele também havia se esforçado para superar tudo, já que não havia mais remédio. Estava acabado e pronto. Aquela noite em que ele pateticamente fora até o quarto dela com aquele pretexto estúpido, e acabara por não conseguir dizer nada, fora a única noite em que ele chorara. Depois disso, ele tinha mantido o foco em suas atividades na guarda e procurava ficar cansado o bastante para não ter que pensar em nada antes de cair no sono durante a noite.

Naquele momento, porém, ele se viu traindo a si próprio, buscando por ela na fila de elfos que voltavam da floresta com os braços cheios de madeira pesada.

O coração dele falhou ao localizá-la. Ela estava alguns metros adiante, falando com outro guarda. Seus cabelos ondulados pareciam refletir o brilho do sol frio de inverno. A madeira que ela carregava parecia demasiado pesada, e ele teve vontade de ir até lá e se oferecer para carregá-la para ela, mas se conteve.

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E de repente, enquanto ele observava, Syndel caiu.

O guarda com quem ela falava se adiantou para segurá-la, enquanto os pedaços de madeira que ela carregava se espalhavam ao redor. Todos pararam o que estavam fazendo, mas ficaram apenas olhando, atônitos. Thranduil correu para lá, sem sequer se dar o tempo de pensar a respeito. Ele estendeu os braços para ajudar o guarda, que a segurava sem jeito.

— Syndel! Syndel!

Ela estava desacordada.

~~ ♥ ~~

Quando Syndel voltou a si, a primeira coisa que sentiu foi o cheiro. Poderia se passar o tempo que fosse, ela sempre iria reconhecer aquele cheiro. O perfume dele.

— Thranduil? — Ela abriu os olhos devagar, piscando e percebendo vagamente que estava sendo carregada por braços fortes e firmes.

— Shh... Calma. Vai ficar tudo bem.

Os olhos dela entraram em foco, e ela viu o rosto dele. As sobrancelhas dele estavam unidas em preocupação. Ele estava angustiado e olhava para ela ansiosamente. O coração dela falhou uma batida, e ela se sentiu acordando de uma vez só.

— Me ponha no chão! — Ela protestou, se debatendo.

— Calma! Você desmaiou! Eu a estou levando para a ala médica!

— Não precisa! Eu estou bem! Me solta! — Ela empurrou o peito dele com força, tentando afastá-lo.

Ele fechou a cara para ela.

— Quieta! — disse, rispidamente. — Isso é uma ordem!

Ela parou de se debater, sentindo a raiva queimando-a por dentro.

— Eu não disse que você sempre dizia isso?

Você não me deixa escolha!

Thranduil ainda tentava se acalmar quando a elfa médica finalmente o chamou:

— Meu senhor? — A voz dela era doce e um leve sorriso dançava em seus lábios. — O senhor pode entrar agora.

Ele se levantou e se dirigiu ao quarto. Syndel estava sentada de braços cruzados sobre a cama forrada com um lençol branco. Quando Thranduil entrou, ela virou o rosto. Ele olhou para ela longamente e comentou, num tom baixo e calmo:

— Você parece ter se recuperado.

— Na verdade, não há nada de errado com ela, Alteza. — A elfa médica disse, num tom afável. — Deve ter sido apenas o esforço do trabalho. Se ela aguardar por um momento, eu vou trazer um preparado de néctar de nossos estoques, e ela logo se sentirá bem.

— Não será necess.. — Syndel começou a falar, mas foi interrompida.

— Vá buscá-lo. Eu fico aqui com ela. — Thranduil disse.

A médica fez uma pequena mesura e saiu. Syndel olhou para ele, irritada:

— Você sempre tem que ter tudo do seu jeito, não é?

Ele respirou fundo e se aproximou, encostando-se à parede em frente a ela e cruzando os braços. Seus olhos percorreram o rosto dela, lendo sua expressão. Por fim, ele disse, num tom suave:

— Você me assustou lá.

Ela desviou o olhar, e não respondeu. Ele notou que os dedos dela se contraíram, agarrando a beirada da cama. E então a médica retornou, trazendo um grande copo cheio de um líquido dourado. Ela o estendeu para Syndel, que o pegou sem questionar.

— Beba devagar, mas beba tudo. Você vai se sentir renovada.

— Obrigada.

Thranduil se desencostou da parede e deixou os braços caírem ao lado do corpo:

— Você está dispensada por hoje.

— Eu posso trabalhar! — Ela ergueu os olhos do copo para olhar para ele.

— Não. Eu não quero mais vê-la na floresta hoje. — Ele olhou no fundo dos olhos dela por um momento. — Eu a proíbo, Syndel.

Ela cerrou os dentes, e baixou os olhos de volta para o copo, com raiva.

— Sim, Alteza.

~~ ♥ ~~

Naquela noite, Syndel não conseguiu dormir. Na verdade, havia semanas que não dormia direito. Sempre que fechava os olhos, lembranças a assaltavam. Algumas eram boas, outras, ruins. Mas ele sempre estava lá com ela, em seus pensamentos. E as memórias se transformavam em lágrimas, que ela não sabia mais quais sentimentos evocavam.

Ela decidiu se levantar e ir buscar um copo d’água. Não era realmente necessário, já que havia uma jarra de água pura e fresca sobre seu criado-mudo, mas ela queria caminhar. Estava cansada de ficar virando de um lado para outro sob os lençóis. Sabendo que poderia evitar os caminhos em que os guardas montavam guarda durante a noite, ela saiu sem trocar de roupa. Sua longa camisola de seda branca esvoaçava atrás de si.

Ela passou pelos corredores sem fazer barulho, mas parou ao chegar a uma encruzilhada. A parede leste ali dava para uma larga sacada branca. Apenas a luz da lua cheia iluminava o local, diferentemente dos corredores, que eram iluminados por tochas. Da sacada, era possível ver o céu coberto de estrelas e, lá embaixo, o vale no qual o povo dormia sob a proteção das árvores. Tudo estava coberto de neve, a qual refletia a luz da lua e parecia cintilar. A vista era estonteante.

Mas não foi por causa disso que Syndel parou. Ela parou porque não era a única ali.

Thranduil estava parado, em trajes de dormir. Ele apoiava os cotovelos sobre a beirada da sacada e olhava a noite, estreitando levemente os olhos. A luz da lua banhava seu rosto. Syndel não podia ter certeza, mas ele parecia sorrir suavemente, como se o fizesse inconscientemente. Uma brisa fria fazia seus cabelos longos e muito lisos ondularem. Eles pareciam prateados.

Syndel ficou parada ali observando. Ele era a coisa mais bela que ela já havia visto. Ela sentiu o coração acelerando no peito, batendo forte, e suas mãos pareceram gelar de repente. Ela se esqueceu completamente da raiva que sentia dele.

E então ele pareceu sentir a presença dela, pois se virou de uma vez e olhou para ela. Ela desviou o olhar, constrangida, e sentiu o rosto queimar levemente. Ele franziu as sobrancelhas e deu dois passos inseguros em direção a ela, estendendo uma mão:

— Syndel? O que foi? Você está passando mal? Quer que eu a acompanhe até a ala médica?

— Não, eu... — O tom suave dela o surpreendeu. — Eu só... Não conseguia dormir. — Ela olhou para ele. — Eu estou bem, obrigada.

Ele soltou o ar aliviado.

— Que bom que está bem.

— A noite está linda, não é? — Ela passou por ele, indo em direção à sacada.

Ele se voltou para olhar para ela e engoliu em seco, inseguro. O coração dele ainda batia acelerado por causa do susto.

— Está... — respondeu meio vagamente.

— Você se importa se eu ficar aqui um pouquinho? — Ela olhou para ele, sorrindo timidamente.

Ele arregalou os olhos levemente. Não podia acreditar que ela estivesse realmente pedindo aquilo, depois de tanto tempo evitando-o. Ele não retribuiu o sorriso, mas se aproximou, parando ao lado dela.

— Não... Tudo bem, pode ficar.

~~ ♥ ~~

Syndel acordou primeiro, piscando quando os primeiros raios solares machucaram seus olhos. Ela se virou para evitá-los, e seu rosto roçou a frente das vestes de Thranduil sobressaltando-a. E então ela se lembrou. Na noite anterior, eles haviam se sentado naquele largo banco de madeira que havia na sacada e ficaram conversando sobre trivialidades. Em algum momento, ela havia pegado no sono, e, pelo visto, ele também. Mas algo lhe dizia que ela havia dormido primeiro, pois um braço dele ainda estava protetoramente ao redor dela.

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Ela sentiu o pulso se acelerando rapidamente e teve certeza de que estava corando. Ela tirou o braço dele dali com cuidado para não o acordar. Thranduil parecia dormir pesadamente ainda, com a cabeça sobre o outro braço, que ele repousava sobre o braço do banco. Ela se permitiu contemplar o rosto dele por mais alguns longos minutos, depois se afastou sem fazer barulho.

Quando ele acordou, não havia mais sinal dela. Mas ele podia sentir o perfume dela em suas roupas. Não a ter em seus braços doeu.

~~ ♥ ~~

Outra nevasca caiu sobre Greenwoods no dia seguinte, e Syndel se viu novamente dispensada de seu trabalho. Oropher mandou suspender todas as atividades do reino, pois a caçada se tornara além de impossível, inútil. Lenha, eles tinham o bastante, e as provisões deveriam durar por alguns dias até que a neve derretesse novamente. Então, Syndel permaneceu em seu quarto. Ela tentara estudar alguns de seus velhos pergaminhos, mas não conseguia se concentrar. Ultimamente, ela não tinha muito controle sobre seus pensamentos. Então, resolutamente, ela se afastou em direção à janela.

Ela ficou parada ali, observando tediosamente aquela imensidão branca. Ao longe, ela podia divisar a Montanha Solitária e, apenas um pontinho branco no meio da água, a Cidade do Lago. Foi então que um movimento na neve chamou sua atenção. Quando ela percebeu de que se tratava, seu coração se encheu de preocupação, e ela disparou porta afora antes mesmo de perceber o que estava fazendo.

~~ ♥ ~~

Thranduil caminhava lentamente, deixando um rastro na neve atrás de si. A estrada havia desaparecido completamente. Oropher tinha razão sobre não ser conveniente levar um cavalo. O que Thranduil não compreendia era o porquê de toda aquela urgência em relação àquela mensagem para o mestre de Valle. E muito menos o porquê de o rei ter insistido em que ele a levasse. Ele tinha aceitado sem questionar toda aquela conversa sobre “diplomacia”, mas eles não estavam em maus termos com o povo de lá, então aquilo não fazia sentido. Mas as ordens de um rei foram feitas para serem seguidas, não compreendidas.

Ele estava perdido nesses pensamentos quando ouviu passos apressados atrás de si. Alguém vinha correndo na neve. Ele se virou para olhar, surpreendendo-se ao ver Syndel. Ela avançava com dificuldade, e parou respirando pesadamente quando enfim se viu em frente a ele. Ela apoiou as mãos nos joelhos, tentando recobrar o ar.

— Syndel?

Ela se reergueu e olhou para ele, sorrindo levemente ao ver sua expressão incrédula. Ela estendeu os dois braços. Ele baixou os olhos, e só então notou que ela carregava uma pesada capa de viagem verde-escura. Ele arregalou os olhos e olhou para ela de novo:

— Você sempre se esquece, não é, Alteza...? — Ela não conseguiu e nem tentou evitar que o carinho que sentia aquecê-la por dentro escapasse para sua voz.

Thranduil olhou longamente em seus olhos, tentando ler seus pensamentos. Ele estava confuso, sem saber como agir. Os olhos dela sorriam e pareceram derreter alguma coisa dentro dele.

Por fim, ele se inclinou e pegou a capa das mãos dela, atirando-a em seguida sobre os ombros. O calor foi bom. Ele não havia percebido antes que sentia tanto frio. Ele estendeu as mãos e segurou as duas mãos dela. O toque foi quente e bom. Ele levou as mãos dela aos lábios e as beijou suavemente. Ela sentiu o coração disparando ainda mais, e desconfiou que agora isso não tinha mais nada a ver com a corrida até ali. Thranduil sorriu levemente, um tanto tímido:

— Obrigado.

— Faça uma boa viagem, meu senhor.

Ele assentiu e, depois de olhá-la por mais um longo minuto, se virou lentamente em direção à estrada. Syndel ficou olhando até ele desaparecer de seu campo de visão.

~~ ♥ ~~

Thranduil retornou ao reino apenas dois dias depois. A tarde estava surpreendentemente quente, então. Após aquela última nevasca, o inverno parecia ter finalmente começado a ceder. A primavera se aproximava e os elfos celebravam. Canções animadas ecoavam por toda a Floresta Verde.

Após ter se reportado a Oropher e comunicado o sucesso de sua missão diplomática, Thranduil se afastou às pressas da sala do trono. Ele ainda estava em trajes de viagem, de capa e tudo. A barra de suas calças estava molhada por causa das poças que a neve deixara ao longo da estrada ao derreter, mas ele não se importou. O que ele tinha a fazer não podia esperar.

Ele planejava ir até a floresta imediatamente, mas não precisou fazê-lo. Ele mal havia deixado o salão do rei, e parou bruscamente no largo corredor. Syndel estava ali e também parou ao vê-lo. Os olhos dela se arregalaram levemente. A julgar pela forma como seus cabelos estavam presos, ela estivera caçando. Devia estar voltando para descansar, agora que o sol já estava quase se pondo.

Os dois ficaram parados ali, como se tivessem virado estátuas, olhando um para o outro. De repente, Thranduil não se lembrava mais de nem uma palavra sequer do discurso que havia planejado fazer quando a visse. Naqueles últimos três dias, ele não havia pensado em mais nada, a não ser em Syndel. Em seu caminho, ele decidira que precisava falar com ela e havia pensado em tudo, mas agora sua boca estava seca e sua mente, vazia. Por fim, porém, ele decidiu que precisava tentar, antes que ela fizesse uma mesura e se afastasse de novo:

— Syndel, eu...

Foi o que bastou para romper o encantamento que mantinha a elfa paralisada no lugar. Sem esperar para ouvir o que ele tinha a dizer, ela correu e se atirou nos braços dele. Ele cambaleou, em choque, mas assim que se recuperou, retribuiu o abraço, primeiro inseguro, e depois com firmeza. Ela ergueu as mãos e começou a acariciar o cabelo dele suavemente. Ele fechou os olhos e deixou que seus braços deslizassem para a cintura dela, puxando-a para mais perto de si. Ela enterrou o rosto nos cabelos dele, e cada pelo do corpo dele se arrepiou ao sentir a respiração quente dela em seu pescoço. O cheiro dela estava por toda a parte, inebriante.

Ele se afastou levemente e ela olhou para ele, insegura. Ele olhou em seus olhos apenas por um instante, depois fechou os olhos, abaixando a cabeça até que seu nariz tocou o dela suavemente. Ela sentiu seu coração falhando uma batida, depois se acelerando rapidamente. Sua boca estava seca. Thranduil virou o rosto e pousou os lábios sobre os dela bem de leve, apenas ensaiando um beijo, e depois voltou a roçar o nariz no dela carinhosamente. Ela pôs as mãos no pescoço dele e o puxou delicadamente em direção a si, e o beijou. Ele retribuiu, erguendo uma das mãos para acariciar o rosto dela com as pontas dos dedos.

O beijo foi suave e demorado. Quando o ar lhes faltou e eles precisaram se afastar, Syndel sorriu timidamente para ele:

— Você... Queria me dizer alguma coisa?

Ele abriu um de seus sorrisos tortos para ela, e ela ainda não tinha se dado conta do quanto ela tinha sentido falta deles. Os braços dela ainda estavam no pescoço dele. Os dele, repousavam em sua cintura.

— Sim... Mas acho que acabei de mudar de ideia.

Ela franziu as sobrancelhas.

— Como assim?

Ele riu levemente e se aproximou para dar um beijo na testa dela.

— Eu ia dizer que eu ainda te amo mais que a minha própria vida... — Ele estendeu a mão e começou a fazer carinho no rosto dela. — E ia implorar para você voltar para mim, se precisasse.

— E agora...?

— Agora, eu acho que eu tenho uma ideia melhor que essa.

— Qual?

Ele ergueu um dedo, pedindo que ela esperasse, e se desvencilhou dela. Ela ficou olhando para ele sem entender. Ele sorriu de novo, se ajoelhou diante dela e segurou sua mão. Ele a beijou suavemente e depois ergueu a cabeça para olhar para ela:

— Syndel... — Ele disse o nome dela com reverência e era possível ouvir o amor em cada letra. — Eu te amo mais que qualquer coisa neste mundo. E não posso imaginar viver sem você novamente. Eu a quero sempre ao meu lado, em todo o tempo, pelo resto dos meus dias. — Ele fez uma pequena pausa. — Você me daria a honra de se tornar minha esposa?

Ela arregalou os olhos, e lágrimas de felicidade brotaram neles instantaneamente. Para a surpresa de Thranduil, ela se deixou cair de joelhos diante dele e o abraçou. Ele riu, retribuindo o abraço:

— Posso considerar isso um “sim”?

Ela riu também e lhe deu um beijo no rosto:

— Sim. — Ela começou a enchê-lo de beijos, atirando-se sobre ele, derrubando-o no chão: — Sim, sim, sim, sim, sim...!

Ele ria, e suas mãos tremiam. Ele mesmo não podia acreditar no que tinha acabado de fazer.

A alguns metros de distância, Oropher assistia a tudo, oculto nas sombras. Um leve sorriso dançava em seus lábios. Ele se sobressaltou quando braços suaves envolveram sua cintura, mas seu corpo relaxou imediatamente, reconhecendo o toque dela. Seu sorriso de alargou.

— O grande Oropher Verdefolha, bisbilhotando dessa maneira...? — A rainha sussurrou no ouvido dele.

Ele se voltou para olhá-la, sorrindo levemente. O sorriso torto de Thranduil corria em seu sangue.

— Um rei tem que fazer o que um rei tem que fazer.

Ela sorriu e estendeu as mãos, pousando-as suavemente em torno do pescoço do marido. Ele ergueu as mãos para a cintura dela, puxando-a para mais perto de si.

— Você não vai causar nenhum problema para eles agora, vai?

— Não seria eu se não causasse, seria?

Ela olhou fundo nos olhos dele, perscrutando sua alma. Depois sorriu, aproximando o rosto do dele, até que suas testas se tocaram.

— Você é um idiota, sabia?

Ele riu baixinho.

— E você é uma insolente.

Sem dar a ela a chance de responder, ele se inclinou para beijá-la.

Próximo capítulo: ??? =O