Miracolo

Prólogo


Uma flor nasceu na rua!
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu.
É feia. Mas é flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.

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– Carlos Drummond de Andrade.

ooo

Humanos... os novos, os velhos... os de agora, os que passaram e os que estão por vir... Todos, todos, todos com seus medos, seus anseios, suas lutas, suas vitórias.. tudo tão intenso, tão... tão...

Chato.

Chaaatooo...!

Mas, preciso confessar, às vezes (sim, raras vezes), quando afastamos para os lados as densas cortinas da mediocridade e da banalidade e espiamos ainda que bem de leve o que tem se passado no mundo, não todo, não de todos, mas o mundo de uma única pessoa, podemos presenciar um instante ímpar na história da humanidade. Como o momento em que um menino tonto e azarado é mandado não apenas para outros presentes (os presentes que já foram, presentes que serão ou que seriam), mas para dentro, fazendo força para pular fora, do que conhecemos como o Submundo.

A Terra do crime organizado.

A Máfia.

Mas não, não vou falar de Sawada Tsunayoshi.

Não hoje. Não agora.

E nem nunca, pra falar a verdade. A fascinante trajetória de determinação e perdão, de reconciliação vivida pelo pequeno Chefe Vongola e de como um a um ele tornou "inimigos" em aliados, ficará tão somente em segundo plano por aqui, capiche~?

Mas por que?! - você me pergunta - É uma história tão bela.. tão dura e ainda assim acalentadora...

Hmmm...

Porque Tsunayoshi-kun é tonto. Só por isso. Não como estúpido (apesar de também o ser) e nem como atrapalhado (o que, de novo, ele também é), mas inocente e humilde. Também fraco é amigável e, acima de tudo, é feliz. Ou satisfeito, conformado, escolha o termo que preferir sem me aborrecer.

Qual o problema?

O problema é que pessoas felizes perdoam. Pessoas fracas perdoam. É como alguém que está de barriga cheia dizer que não tem problema não receber sobremesa ou quem está habituado a comer pouco... este sequer esperava por uma pra início de conversa. O mundo ao redor delas é grande e repleto, e sua própria miudeza as permite sentir que nada perdem realmente. Nunca. Não para sempre, e isso não me tem valor.

Tsuna nunca fora sequer capaz de odiar, se bem me lembro. A inimizade que o circundava fora sempre unilateral. Houve exceções, claro, modéstia parte fui uma delas, mas isso não vem ao caso.

Pensem: e se Sawada não fosse fraco? E se, na cadeia alimentar, estivesse no topo, observando o rastejar de todos os inferiores desinteressadamente, vivendo sem emoção, e até (porque não?) com uma crescente irritação sua vida sem desafios? Sem lutas reais e, portanto, sem vitórias das quais valesse a pena mencionar. E se além de forte, estivesse ferido? Se ao invés de acompanhado estivesse preso e isolado? Se não conhecesse o que chamam de 'amizade' e não tivesse quem o fosse com ele por outro motivo além do medo?

Pode uma fera acostumada a ser a primeira a se fartar perdoar quem lhe tire a comida da boca e lhe quebre um dente? Pode o monstro que recebera um presente uma única vez e fora grato por isso suportar ver a outros despedaçando-o?

É... quando a vida lhe oferece pouco e este pouco lhe é tirado... "perdão", "reconciliação"... tomam outro peso.

A história da qual quero falar possui esses dois personagens. Duas curiosas pessoas que muito tem de seres, mas pouco tem de humanos. Dois fortes, orgulhosos e em constante rota de colisão. Porque ambos existem e se conhecem... e porque ambos se odeiam.

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Inimigos recíprocos... Completos.

Mortais.

Então abram alas, bondes e carros! Calem-se pessoas fracas e conformadas e me escutem com toda sua atenção, porque Morte e Solidão se encontraram... e do campo estéril e frio em que pisavam, nasceu Vida... e nasceu Amor.

Brota tosca e feia, mas finalmente, uma história de reconciliação que vale a pena meu entediado ser contar.