Rosa Adormecida

O Segredo da Pedra


Quando o chá estava finalmente pronto Yeva colocou as duas xícaras sobre uma espécie de mesinha pequena de madeira junto com algumas rosquinhas açucaradas e se dirigiu a sala onde Dimitri estava sentado sobre o braço do sofá e com um dos cotovelos escorado no encosto olhando para o nada atrás do mesmo.

- Aqui está o chá querido! –disse Yeva depositando a mesinha sobre a mesa maior.

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Dimitri desviou o olhar de onde estava para a mulher enquanto esta fitava o mesmo lugar vácuo que o neto e depois dizia:

- Sinto tanto por não poder servir chá para três, eu adoraria conhecer Rose.

- Agradeça sua avó pela gentileza! –disse a moça da escada onde observava as fotos emolduradas na parede.

- Ela disse muito obrigada. –se manifestou Dimitri. – Agora pode voltar cá? –disse voltando a olhar a garota.

- Você ainda não me respondeu se o pirralho esganando o coelho na foto é você! –ela disse descendo os degraus.

- É o pirralho da foto sou eu sim, isso foi na antiga casa dos meus pais.

- Uma foto adorável! –disse Yeva servindo o neto.

- Uma gracinha mesmo! Parece uma criança normal! –riu Rose parando nas costas do sofá e recebendo um olhar sério de Dimitri.

- Imagino que você tenha sido adorável. –ele disse erguendo as sobrancelhas.

- Na verdade eu era sim! Mas não era do tipo que brincava com bonecas. Eu sempre tive preferência por brinquedos de garotos!

- Isso explica o seu comportamento. –disse Dimitri se sentando adequadamente no sofá.

- Aposto que você brincava de boneca! –ela riu sentando-se ao lado dele com uma das pernas abaixo do traseiro.

- Eu não vou te responder por educação. –disse bebendo um gole de chá.

- Como era essa Eva? –Yeva apenas adoçava seu chá.

- Como eu vou saber, ela sequer existiu. –respondeu em tom seco.

- Quem não existiu? –disse Yeva.

- Eva.

- Rose quer saber como ela era? -disse se sentando no outro sofá.

- Ela é como gato curioso. –ele franziu a testa.

- Ela era sua namorada? –riu Rose debruçando o cotovelo no encosto enquanto mexia na única coisa que podia tocar, seus próprios cabelos.

- Claro, eu tinha uma namorada imaginária com cinco anos Rose. -ele respondeu meio injuriado.

- Dez querido. -respondeu Yeva. – Você tinha dez anos e não cinco. E nessa idade você já costumava espiar suas primas trocando de roupa... –riu a mulher.

- Mas que safado! –riu Rose.

- Eu agradeceria se você não falasse da minha vida pessoal diante da minha paciente Yeva. –disse Dimitri assumindo uma postura social.

- Olha só, lá vem o doutor Dimitri Belikov se apossando do corpo dele de novo. –debochou Rose.

- Não vejo mal nenhum na sua paciente conhecer um pouco da sua vida querido. –disse Yeva enquanto Dimitri lançava um olhar mortal sobre Rose.

- Tá vendo? –disse a garota apontando o dedo indicador na direção da mulher.

- Só não acho que assuntos de família devam ser discutidos assim tão naturalmente na frente dela. –retrucou Dimitri.

- Ta falando igual a minha mãe. –disse Rose.

- Pobre Rose. –disse Yeva sacudindo a cabeça. – Tenho dó dessa menina de ter que aturar o seus dias de mau humor Dimka querido.

- Sábias palavras dona Yeva! Sábias palavras. –disse a garota.

- Você sabe o que fazer Rose, se minha companhia te desagrada basta não me seguir mais. –disse ele encarando a mesma com um olhar de canto.

- Dimka. –repreendeu Yeva.

- Infelizmente você é o único que pode me ajudar então nesse caso agente vai ter que aturar um ao outro até que eu volte pro meu corpo. –respondeu Rose.

- Vou redobrar meus esforços pra que isso aconteça o mais breve possível. –disse ele deixando a xícara sobre a mesinha.

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- Você é insuportável. –continuou Rose.

- Querem ouvir a razão de Rose poder se comunicar com você querido? –disse Yeva trazendo-os de volta a realidade. – Caso desejem continuar discutindo a relação eu posso subir, tomar um banho quente e esperar até que decidam. –disse imaginando a briga entre duas crianças grandes.

Dimitri apenas franziu a testa sentindo-se um garoto sendo repreendido pela avó, exatamente como Rose, que embora não pudesse ser vista nem ouvida pela mulher tomou a repreensão para si ficando calada.

- Pois bem. –seguiu Yeva deixando sua xícara sobre a mesinha. – Eu tomei a liberdade de falar sobre seu caso querido, com uma velha amiga. A mesma que me cedeu à pedra de Ramandu. –ela se referia a pedra negra usada em sua pequena cerimônia e evocação.

- Poderia ter mantido essa estória constrangedora somente entre nós dona Yeva. –disse Dimitri.

- Pode fechar a boca querido, eu ainda não conclui meu pensamento. –disse a mulher em tom imponente botando respeito. – Como eu ia dizendo... Uma velha amiga chamada Rhonda me cedeu a pedra de Ramandu e segundo ela esta pedra possui poderes desconhecidos, mas que podem servir de interseção para qualquer ritual que envolva o espírito. Por esta razão eu decidi tentar evocar o espírito de Rose para que ela pudesse se comunicar comigo.

- E porque diabos ela se comunica comigo ao invés disso? –disse Dimitri.

- Vai ver que a chamada se perdeu no caminho. –zombou Rose.

- Talvez a razão para que Rose se comunique com você e não comigo esteja ligado ao seu passado querido.

- Eva? –ele ergueu as sobrancelhas.

- Rhonda acredita que se fizermos uma regressão na qual você relembre essa sua fase da infância com Eva possamos descobrir porque Rose escolheu você.

- Eu não escolhi, apenas aconteceu, foi um acidente. –resmungou Rose.

- Tá sugerindo uma daquelas sessões de hipnose? –disse o moreno.

- Rhonda é a pessoa mais preparada para isso e é de confiança. Já que não deseja falar sobre isso com mais ninguém.

- Quando?

- Eu vou avisá-la de que você concorda e ela virá até aqui assim que você decidir que está pronto.

- Posso vir pra cá na sexta assim que encerrar meu plantão.

- Ótimo. Até lá teremos tempo para preparar tudo.

- E o que eu faço com ela enquanto isso? –disse indicando o lugar onde Rose estava usando o dedo indicador.

- Você procura conhecer mais a Rose, falar com ela saber sobre a sua vida, isso pode ajudar. Talvez vocês consigam descobrir o que a prende naquele leito.

- Tudo bem. –disse Dimitri escorando os cotovelos sobre os joelhos.

- Bem! Eu ainda quero tomar um banho quente, me livrar destes sapatos infernais e descansar um pouco. Tive um dia agitado. -disse se levantando. – Mas você e Rose podem ficar por aqui se quiserem, tem torta na geladeira, suco, frutas. Você conhece os cantos da casa. –disse se aproximando e dando um beijo na testa do neto. – Sua avó vai descansar um pouco querido.

- Obrigado pelo chá. –disse ele.

- Disponha. –dito isso ela seguiu até a escada de onde disse. – Até breve menina Rose!

Rose permaneceu em silencio, escorada no encosto do sofá com os braços cruzados enquanto fitava a mesa a sua frente. Dimitri voltou os olhos para a garota e ficou encarando-a por um tempo depois se levantou e disse:

- Você tá legal?

- Queria uma rosquinha! -ela disse fazendo biquinho. – Parece deliciosa. Eu acho até que sinto o cheiro.

- E eu pensando que essa sua cara de pastel estragado fosse por causa do que Yeva disse. –ele resmungou se afastando.

- Você que deveria ficar preocupado, foi você que recebeu atestado de doido quando tinha dez anos. –Rose se levantou seguindo-o.

- Minha única preocupação no momento é me livrar de você. –disse ele seguindo rumo a escada.

- Aonde vai?

- No meu quarto.

- Você tem um quarto na casa da sua avó? –disse ela subindo os degraus em seu encalço.

- Eu morava aqui Rose. –ele suspirou.

- E por que não com seus pais?

- Por que minha mãe colocou um cara da minha idade dentro de casa, e meu pai vive na Rússia na nossa antiga casa.

- Sua mãe tem um namorado com a mesma idade do filho? -ela riu e recebeu um olhar fulminante do moreno.

- Por que não me fala da sua família perfeita? –ele rebateu enquanto a encarava com os traços retorcidos, seguindo em frente.

- Minha mãe você já conhece, e meu pai se você topar com ele diga que o espermatozoide que ele colocou no útero da minha mãe fecundou e virou um lindo bebê.

- Não conhece seu pai? –ele a encarou já no corredor.

- Janine sempre dizia que os homens são fracos e não assumem responsabilidades quando elas se apresentam a eles. Ela dizia que eu não precisava de um pai, que ela me ensinaria tudo que eu precisaria. Isso quando eu tinha dez anos...

- É nós temos algo em comum. –disse ele enquanto seguia rumo ao seu quarto.

- Uma família conturbada?

- Também fui criado longe dos meus pais.

- É, mas eu não tenho uma avó metida à bruxa! –ela riu. – E minha mãe não costuma atacar o berçário! –ela sabia que isso deixaria o moreno enciumado por conta da mãe e fez de propósito.

- Eu não sei por que eu abri minha boca. –disse abrindo a porta de seu quarto.

Dimitri abriu a porta do cômodo e logo entrou no mesmo sendo seguido por Rose que manteve o riso estampado no rosto devido às expressões zangadas do moreno. Por alguma razão tirar o médico do sério era algo que divertia Rose. Ela sabia que este era o seu maior dom, tirar todo e qualquer indivíduo por mais paciente que este fosse do sério com apenas algumas provocações, e ela adorava este poder que usufruía sobre as pessoas. Sabia que também que às vezes exagerava e acabava sendo chata, mas ela não ligava desde que fosse divertido pra ela mesma. Com esse pensamento ela se jogou sobre a cama de solteiro do rapaz encontrando sobre uma almofada um pequeno ursinho de pelúcia que chamou sua atenção.

- Que gracinha! –disse ela enquanto Dimitri procurava algo em seu guarda roupa. – Você dormia agarrado com ele?

- O que? –ele se virou encarando-a até ver o objeto fofinho sobre a cama. – Foi um presente Rose, não que isso seja da sua conta.

- Namorada?

- Ex. –ele voltou ao que fazia.

- Hum! Ela deve ser uma fofúra, dar um ursinho de pelúcia pra um homem do seu tamanho! –ela ria enquanto fingia mexer na gravata do ursinho de pelo dourado.

- Ele não vinha sozinho! –disse ele usando o mesmo ar de mais cedo na sala quando se referiu ao possível constrangimento de Rose.

Rose franziu a testa e começou e procurar algo diferente no bichinho peludo ao lado de sua cabeça, mas não encontrou absolutamente nada suspeito.

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- Tá procurando o que?

- Você sempre foi curiosa assim, ou faz só pra me irritar? –ele se virou encarando-a com as sobrancelhas unidas.

- Ah... –ela revirou os olhos e fitou o teto. – Essa vai ser uma longa semana...

Dimitri sacudiu a cabeça e então voltou ao que fazia tentando ignorar a presença da garota deitada sobre sua cama...