As Crônicas De Nárnia - A Filha De Aslam

A Despedida Mais Cruel de Todas


Naquela manhã, Kalene e Edmundo acordaram muito felizes, pois tinham tido a melhor noite da vida deles algumas horas atrás. Nada ficou estranho entre eles, como fica entre alguns casais. Kalene contou para Lúcia, que ficou histérica na mesma hora.

–Você fez o que??? - Perguntou Lúcia, completamente pirada.

–O que eu falei pra você. - Respondeu Kalene, mais feliz do que nunca.

–Não acredito!!! Minha amiguinha tá crescendo! - Brincou Lúcia.

–Engraçadinha, eu sou mais velha do que você! - Retrucou Kalene.

–Mas então... - Lúcia fez uma pausa. - Então vocês estão muito apaixonados, não estão?

–Mais do que apaixonados, Lu. - Respondeu Kalene. - Eu me sinto tão infinita! Só tem um problema, é claro.

–Até já sei o que é. - Disse Lúcia. - Você não quer que ele vá embora, não é?

–Seria egoísmo da minha parte se eu dissesse isso. Vocês dois tem família no outro mundo, eu jamais poderia pedir uma coisa dessas. - Disse Kalene.

–Aslam vai dar um jeito nisso. - Disse Lúcia, segurando as mãos de Kalene amigavelmente. - Tenha fé.

–É, nós vamos até o país dele, não vamos? Talvez eu possa falar com meu pai e, eu não sei, pedir para ir visitar vocês no outro mundo... - Disse Kalene.

–"Vocês"? Não era só o Ed? - Perguntou Lúcia, com uma carinha de pidona.

–Você também é minha amiga, Lu. Talvez até a minha melhor amiga. - Respondeu Kalene. - Só não conte isso pro Caspian, ok?

Lúcia riu e abraçou Kanes. Aqueles abraços típicos de melhores amigas.

Na cabine dos mapas e armas, Edmundo contou para Caspian o que aconteceu entre ele e Kalene noite passada.

–Então quer dizer que vocês dois... - Caspian foi interrompido pela timidez de Edmundo.

–É, nós fizemos. - Respondeu Edmundo.

–Está virando um homem, Edmundo. - Disse Caspian, colocando a mão no ombro de Eddie. - Primeiro ganha um reino, e agora ganha o coração de uma Princesa.

–Ela é uma rainha para mim. A minha rainha. - Disse Edmundo, com muito ênfase no "minha".

–Pedro teria orgulho de ver você agora. - Disse Caspian. - Está amadurecendo muito.

–O Pedro vai é vir cheio de piadas pra cima de mim. Do jeito que a Susana brigava com ele por ele ser tão "pegador" lá em casa... - Disse Edmundo, fazendo Caspian se calar um pouco ao ouvir o nome de Susana.

Caspian notou que Edmundo se arrependeu de ter dito aquilo, rapidamente se desculpou.

–Não, não precisa se desculpar, Edmundo. Até porque, eu acho que me apaixonei por Lilliandil. Vou voltar até a Ilha de Ramandu e pedir a mão dela em casamento! - Disse Caspian, com entusiasmo.

–Boa sorte com ela, Caspian. - Disse Edmundo, encorajando o amigo.

Mais tarde, horas depois de combinar de atravessar o Mar de Lírios em busca do País de Aslam, estavam num bote: Lúcia, Edmundo, Kalene, Caspian, Eustáquio e Ripchip. Durante a viagem, Eustáquio contava para eles como foi ser dragão.

–E como é que foi? Quando Aslam transformou você? - Perguntou Edmundo.

–Por mais que eu tentasse, não estava conseguindo sozinho. Aí, ele se aproximou de mim, doeu um pouco, mas foi uma dor boa. Tipo, quando você tira um espinho do pé. Ser dragão não foi nada mal. Eu acho que fui um dragão melhor do que um menino mesmo. Desculpem ter sido tão chato. - Respondeu Eustáquio.

–Tudo bem, Eustáquio. Você foi um dragão bem legal. - Disse Edmundo.

–Kalene. - Chamou Eustáquio, para a surpresa de todos.

–Sim? - Ela o respondeu.

–Quero pedir desculpas principalmente pra você, por ter zombado de você e do seu pai. Você me perdoa? - Pediu Eustáquio.

–Claro que te perdoo, Eustáquio. - Disse Kalene. - E me desculpe por ter socado a sua fuça.

–Tudo bem. - Respondeu Eustáquio, com um sorriso no canto do lábio. - Acho que mereci aquilo.

–Meus amigos, nós chegamos. - Anunciou Ripchip.

Eles haviam chegado até uma praia pequena, onde havia um mar com uma onda gigante prestes a quebrar, mas ela nunca quebrava. Ali era a entrada para o País de Aslam. Na medida em que aproximavam da onda, perceberam outra sombra os acompanhando. Uma sombra muito familiar.

–Aslam. - Disse Eustáquio.

–Pai! - Disse Kalene, alegre.

–Bem vindas, crianças. - Disse Aslam. - Agiram muito bem. Muito bem mesmo. Estão bem longe. E agora, a jornada acabou.

–Estamos no seu país? - Perguntou Lúcia.

–Não, meu país fica pra lá. - Respondeu Aslam, fazendo um gesto com a cabeça.

–O meu pai está no seu país? - Perguntou Caspian.

–Só pode descobrir isso por si mesmo, meu filho. - Respondeu Aslam. - Mas fique sabendo que se prosseguir, não há retorno.

Caspian fez menção de entrar na onda, mas assim que colocou sua mão, ele rapidamente a retirou e se virou para os companheiros e Aslam.

–Você não vai? - Perguntou Edmundo.

–Meu pai não ficaria orgulhoso de me ver desistir do que ele morreu pra conseguir. Passei tempo demais querendo o que foi tirado de mim, e não o que eu recebi. Eu ganhei um reino. - Respondeu Caspian.

–Palavras de um verdadeiro Rei. - Disse Kalene, sorrindo para Caspian.

–Eu prometo ser um rei melhor. - Disse Caspian, para Aslam.

–Já está sendo. - Disse Aslam, se voltando para Lúcia, Edmundo e Eustáquio. - Crianças.

–Por favor, de novo não. - Sussurrou Kalene para si mesma.

–É hora de voltarem pra casa. - Disse Aslam.

–Mas nós adoramos esse lugar! - Disse Lúcia.

–Também temos a nossa família em casa, Lúcia. - Disse Edmundo, cabisbaixo. - Eles precisam de nós.

Kalene não queria dar uma de egoísta, mas no fundo, ela não queria que eles fossem embora. Não queria ficar sozinha outra vez. Foi quando Ripchip se apresentou novamente para Aslam.

–Eminência, desde a mais tenra idade, eu sonhei em ver o seu país. Eu vivi grandes aventuras neste mundo e nada aplacou essa vontade. Eu sei que posso não ser digno, mas, com sua permissão, eu deixaria de lado a minha espada pelo prazer de ver seu país com meus próprios olhos. - Disse Ripchip.

–Meu país foi feito para corações nobres como o seu. Sejam eles grandes ou pequenos. - Disse Aslam.

–Majestade. - Disse Ripchip, se curvando para Aslam.

–Ninguém seria mais merecedor. - Disse Caspian.

–É verdade. - Concordou Edmundo.

Lúcia se aproximou de Ripchip e lhe pediu para fazer uma coisa que ela já desejava fazer havia um longo tempo.

–Posso? - Pediu Lúcia.

–Acho que pode, mas só dessa vez. - Permitiu Ripchip.

Ela rapidamente abraçou o rato e lhe fez carícias nas costas como se ele fosse um bichinho de estimação.

–Hm, e eu, não posso? - Pediu Kalene.

–Alte... isto é, Princesa Kalene. Pode sim, eu deixo desta vez. - Concordou Ripchip.

Ela fez a mesma coisa que Lúcia fez, só que largou-o mais depressa, pois sabia que ele se sentia mal em ser tratado daquele jeito. Mas em compensação, ela acariciou a cabeça de Ripchip como se ele fosse um gatinho.

–Eu não entendo. - Disse Eustáquio, chorando. - Eu nunca mais vou ver você? Nunca mais?

–Que surpreendente enigma você é, e um verdadeiro herói. Foi uma honra lutar ao lado de um guerreiro tão nobre, e um ótimo amigo. - Disse Ripchip.

Assim que Ripchip terminou de se despedir de todos, ele foi em direção a um pequeno barco, feito para ele, que estava na beira da onda e largou sua espada na areia.

–Eu não preciso mais disso. - Disse Ripchip, deixando a espada para trás e subindo a onda em direção ao País de Aslam.

Eustáquio chorou muito com a partida de Ripchip. Os dois haviam ficado muito amigos depois de Eustáquio ter virado dragão, e agora não iriam se ver nunca mais. Foi tão triste quanto a despedida que viria a seguir.

–É a nossa última vez aqui, não é? - Perguntou Lúcia.

As lágrimas finalmente caíram do rosto de Kalene. Ao ouvir aquelas palavras saindo da boca de Lúcia, ela imediatamente sentiu um aperto no coração. Não iria ver seu rei nunca mais? Nunca mais mesmo?

–Vocês cresceram, minha querida. Assim como Pedro e Susana. - Disse Aslam.

–Vai nos visitar em nosso mundo? - Perguntou Lúcia.

–Vou ficar vigiando vocês sempre. - Respondeu Aslam.

–Como? - Perguntou Lúcia.

–Em seu mundo, eu tenho outro nome. Devem aprender a me reconhecer nele. - Respondeu Aslam. - Foi pra isso que foram trazidos à Nárnia. Tendo me conhecido um pouco aqui, podem me reconhecer melhor lá.

–Vamos voltar a nos ver? - Perguntou Lúcia, já liberando algumas lágrimas.

–Vamos, querida. Um dia. - Respondeu Aslam.

Aslam rugiu e uma passagem apareceu no meio da onda.

–Pai! Espera um minuto! - Chamou Kalene.

–O que foi, minha filha? - Perguntou Aslam.

–É que eu.. bem, eu... - Ela não conseguiu terminar a frase.

–Está apaixonada e não quer que ele vá embora, não é? - Perguntou Aslam.

–Eu seria egoísta se dissesse isso, pai. Eu só quero pedir um favor. - Respondeu Kalene, em meio aos prantos.

–Pois peça. - Disse Aslam.

–Eu vou poder visitá-los? No mundo deles? - Pediu Kalene.

Vendo que a filha sofreria ali, sem ver Edmundo pelo resto da vida, ele ficou indeciso. Não podia deixá-la ir e voltar do mundo deles quando bem entendesse. Mas uma vez só não faria mal.

–Está bem, Kalene. Mas apenas uma vez, está entendendo? - Permitiu Aslam. - E vai demorar até que possa visitá-los.

–Tudo bem, pai. - Ela concordou. Seria só uma vez, e iria demorar, mas pelo menos, ela iria vê-los outra vez.

Ela, então, se voltou para se despedir dos amigos. O primeiro foi Eustáquio. Ele apenas apertou a mão dela, para não causar problemas com Edmundo. A segunda foi Lúcia, que deu um abraço apertado na amiga. Ambas choravam muito.

–Adeus, Lúcia. - Disse Kalene. - Eu vou sentir sua falta, minha amiga.

–Adeus Kanes. - Disse Lúcia. - Vou manter o Ed na linha até você vir nos visitar, ok?

–Ok. - Assentiu Kalene, chorando, mas com seu olhar de humor.

A terceira, e última despedida foi a mais cruel de todas. Edmundo. Seria ficar longe dele agora. Mas ela teria que aguentar, por algum tempo, pelo menos. Enquanto Lúcia se despedia de Aslam e de Caspian, Edmundo se aproximou de Kalene.

–Eu não sei nem o que dizer. - Disse Kalene, liberando grossas lágrimas.

Eddie estava chorando também. Ele simplesmente a puxou para um abraço muito apertado. Como ele era um pouco mais alto do que ela, ele abaixou sua cabeça no ombro dela (como Caspian fez com Susana).

–Não sei como vou viver sem você lá. - Disse Edmundo, ainda chorando. - Eu te amo muito, Lennie.

–Eu também te amo muito, Eddie. - Respondeu Kalene, com as lágrimas no ombro dele. - Você foi o meu porto seguro em todas as horas. Eu te contei coisas que nunca havia contado pra ninguém. Você foi o primeiro garoto que me fez bem.

Ele a abraçou mais forte ainda. Estavam quase se esmagando ali, mas não fazia mal. Pois aquela era a última vez que se veriam em muito tempo. Ambos se amavam muito. E haviam se entregado, um ao outro, de todas as maneiras possíveis.

–Você é e sempre será a minha rainha. - Disse Edmundo. - Nunca se esqueça disso.

–E você é o meu eterno rei. - Respondeu Kalene. - Sempre vou te guardar no meu coração.

Não aguentando mais, ele deu seu último beijo na Princesa. Último, em muito tempo, mas não para sempre. Dessa vez, já começou a beijá-la com voracidade. Rapidamente pediu por passagem e ela concedeu. Aproveitaram que ninguém estava olhando e se beijaram do jeito mais apaixonado possível.

Foi difícil se separarem, mas foi preciso. Aslam disse para Eustáquio que ele ainda poderia voltar para Nárnia. Depois disso, os três seguiram pelo portal, com água cobrindo a última visão que tiveram de Caspian, Aslam e Kalene.

Eles falaram muito de Nárnia nos dias em que se seguiram. Tanto de Nárnia, quanto de Caspian, Aslam e Kalene. Eles sentiriam muita falta deles. Principalmente Edmundo sentiria falta de Kalene. Ele jurou esperá-la e nunca olhar para outra garota.

Kalene também sentiria muita saudade deles. Tanto de Edmundo, quanto de Lúcia. Mas estavam na beira daquela praia, se preparando para voltarem ao Peregrino da Alvorada, quando Aslam disse uma coisa para os dois.

–Caspian, volte até a Ilha de Ramandu e case-se com sua filha. Estou vendo que se apaixonou por ela. - Disse Aslam.

–Sim, eu me apaixonei por ela. - Assentiu Caspian.

–Vocês serão muito felizes. - Disse Kalene, feliz pelo amigo. - Óbvio que eu não vou com a cara dela, mas com você, eu aprovo.

–Há dois minutos você estava chorando e agora está fazendo piadinhas irônicas? - Perguntou Caspian, perplexo.

–Não foi uma piada. - Disse Kalene, fazendo Caspian perder o ar da graça.

–Kalene. - Chamou Aslam. - Quanto a você, agora, você provou ser realmente digna. Cair Paravel será reconstruído, e assim que chegar em Nárnia, estarei esperando você lá para coroá-la rainha, filha.

–O quê? - Perguntou Kalene, com os olhos arregalados. - Isso é sério?

–Completamente sério. Agora vão. Vocês dois tem assuntos a tratar. - Disse Aslam.

Caspian e Kalene se entreolharam, felizes e retornaram ao bote para o Peregrino da Alvorada. Claro que uma coroação não tiraria a saudade que Kalene já tinha de Edmundo. Mas a fazia feliz.

Continua

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