XV

ÍNDIO


– Estou ferrado! – Índio falou.

Ele já não tinha a mínima ideia de como ir á São Paulo, imagina ir até a Amazônia.

– Calma Índio. – Caimana o confortou. Temos que pensar em algum modo de ir até lá.

– Como? Sabe quantos quilômetros tem de lá até aqui?

– Vamos arrumar um jeito Índio! – Viny se intrometeu.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Eles passaram o resto do dia procurando por livros que indicassem alguma forma de chegar a outro lugar em pouco tempo. Viny saiu ás 16 horas dizendo que tinha algo importante para fazer, mas não disse nada mais. Porém não acharam nada, e seria difícil procurar depois, pois as aulas começariam no outro dia.

Ele foi dormir e, na cama, ficou pensando em tele transporte ou algo do tipo. Se voassem de vassoura do Rio de Janeiro até a Amazônia seriam vistos por azêmolas, além de se cansarem muito e demorar muito.

Adormeceu com esses pensamentos preenchendo a mente.

* * *

O dia estava claro e os alunos já se dirigiam ao refeitório, onde muitos alunos estavam ás mesas conversando alto e rindo.

Ele se sentou á mesa junto dos Pixies.

– E então? – perguntaram á Índio.

– E então o que? – ele respondeu.

– Teve alguma ideia? Eu e Caimana pensamos em ir de vassoura. - Caimana assentiu.

– Também pensei nisso, mas demoraria muito. – Índio olhou para o lado e viu muitos alunos amontoados em uma mesa olhando algo. Eram no mínimo uns 20 alunos formando um formigueiro humano. – O que houve ali?

– Devem estar vendo alguma coisa. – Caimana respondeu.

– Ei Lucas! – Viny chamou. Índio se virou para onde ele havia chamado e um garoto de cadeira de rodas vinha lendo um jornal. De alguma maneira a cadeira andava sozinha.

– E aê Viny? – o garoto perguntou.

– O que está acontecendo ali? – ele apontou para o grupo de alunos.

– Não estão sabendo? – Lucas perguntou.

Eles fizeram não com a cabeça.

– Sabendo do que? – Caimana perguntou.

Ele jogou o jornal amarelado com o nome de O KORKUNDA em cima da mesa e apontou para a manchete. Na foto estava uma cidade e um gigante, que Índio percebeu ser Anhangá, destruindo e jogando fogo para todo lado. O titulo dizia: Azêmolas são atacados por Anhangá.

Índio não sabia como eles sabiam quem era o gigante, mas não era isso que o preocupava. O que realmente o preocupava era as chamas e os vários azêmolas correndo na imagem que se mexia.

– Ele está atacando os azêmolas! – Lucas disse. – Isso foi na cidade de São Paulo. Os azêmolas não conseguem ver o que é e pensam que são explosões.

– Meu Deus! – Caimana exclamou. – Nós precisamos agir rápido!

– Valeu Lucas! – ele deu uma piscada pra o garoto que retribuiu e saiu da mesa com o jornal.

– Precisamos arrumar algum modo de ir até lá! – Caimana falou com urgência. Índio duvidou que eles conseguissem.

– Teríamos que partir amanhã cedo! Não podemos mais demorar. Se demorarmos ele destruirá o Brasil inteiro, e após fazer isso, destruirá o mundo! – Capí disse.

– A primeira aula irá começar, vamos! – Caimana falou.

– Aula de quê? Esqueci o horário na barraca.

– Aula de Defesa Pessoal, com o Atlas. – Capí disse.

Eles foram até a sala do professor que ainda estava sem alunos. Apenas o professor estava encostado na mesa. Ele lia o jornal O KORKUNDA, e por isso não percebeu a chegada deles na sala.

O lugar era bem estranho. Por todos os lados da sala havia objetos voadores, invenções de séculos passados, mapas, pergami­nhos... Aquilo parecia mais um museu do que uma sala de aula; sem falar que o professor devia ter um tremendo complexo de capitão Gancho: nas estantes laterais, relógios e mais relógios. Nenhum mostrava o horário certo. Livros de Júlio Verne lotavam as prateleiras, junto a bules indianos e bonecas russas.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Voando próximos ao teto, uma réplica em miniatura do 14-bis e um Zeppelin prateado pareciam disputar a atenção dos novos hóspedes, rodopiando e fazendo acrobacias no ar. Ao lado da mesa do professor, um armário tinha as inscrições Mobilis in mobili escritas no topo, porém o armário estava trancado.

Eles se sentaram em mesas na frente e logo os alunos começaram á chegar até que todos ocupavam as cadeiras vazias na sala.

O professor tinha um ar de jovem feliz e encrenqueiro. Isso era bom, já que a maioria dos professores eram chatos.

– Peguem suas varinhas. – o professor ordenou. Os alunos se entreolharam confusos, mas obedeceram á ordem. – Vocês vão prender á como se defender de feitiços fracos, ou azarações. Percebi que recentemente, muitos de vocês buscam encrenca e para que não haja... Para que ninguém se machuque. Certo?

Os alunos confirmaram com um aceno de cabeça.

– O feitiço que vou ensinar faz o encantamento lançado pelo adversário ser cancelado. Existe outro bem parecido, mas é para desviar objetos lançados e não feitiços. Enfim, quero que prestem atenção. O feitiço é Ã-na. Repitam!

Os alunos repetiram em uníssono. Alguns tiveram dificuldade com a palavra difícil, mas após repetir umas cinco vezes os alunos não se preocuparam mais com a palavra.

– Muito bom! Agora quero que formem duplas e treinem. Não ousem usar feitiços proibidos na sala de aula hein! Apenas feitiços básicos.

Índio olhou para os lados. Viny e Caimana fizeram uma dupla. Capí não estava mais ali, imaginou se teve que sair pra fazer alguma tarefa para o seu pai.

– O-oi!

Ele se assustou e viu que era Annie.

– Oi. – disse com cautela. Não tinha outra opção, pois todos já formaram seus pares então perguntou. – Quer fazer par comigo?

O rosto dela ficou vermelho. Ela pegou uma varinha no bolso de trás da calça e se posicionou em forma de ataque.

Índio sacou sua varinha. Annie mudou sua expressão drasticamente, ficando muito séria. Será que ela iria descontar todos os foras que ele deu nela? Pensou.

– Bàtà! – ela gritou. Um jato vermelho vivo saiu da ponta da varinha dela e quase o atingiu. Por sorte ele murmurou “Ã-na” e fez um movimento circular com a varinha. O feitiço foi forte e o desequilibro.

– Uau! – exclamou. Ela era um pouco doida, mas era poderosa. Ficou impressionado.

– Minha vez! – ele disse.

– Pode vir! – ela respondeu determinada.

Ele não iria lançar um feitiço daqueles contra ela. Apesar de ser forte era menina. Não se faz uma coisa dessas com uma menina. Ela deu um sorriso como se estivesse lendo sua mente.

– Cósca! – ele disse. Um brilho branco saiu de sua varinha veloz, mas não o bastante.

– Ã-na! – Annie disse. Um escudo invisível pairou na frente dela e o feitiço ricocheteou. Agora o feitiço vinha na direção de Índio. Ele se jogou para o lado e o feitiço bateu na parede da sala.

– Ufa! – murmurou. Se o feitiço o tivesse atingido ficaria rindo como um idiota, e isso seria nada engraçado na frente de todo mundo da sala.

Após algum tempo de aula, índio e Annie melhoravam cada vez mais. Até que o horário acabou e os alunos pegaram seus materiais e saíram da sala. Os Pixies ficaram por ultimo e o professor chegou neles e disse.

– Sei que pretendem ir atrás de Anhangá.

Eles se entreolharam e baixaram a cabeça sem responder nada.

– Isso é muito perigoso – o professor continuou. – Não podem ir até São Paulo, sozinhos, e não podem lutar contra ele! Ele é muito poderoso!

– Precisamos ir! Se não formos, ele destruirá tudo o que tiver pela frente e virá atrás de nós de qualquer forma! – Índio disse.

– A Zô os protegerá! – Atlas rebateu. – Não precisam se preocupar. Ela se ofereceu para derrota-lo e assim fará!

– Não podemos deixar uma coisa que nós fizemos nas costas da diretora! – Caimana disse. – Temos um plano já e o senhor não vai nos impedir!

Atlas deu sorriso de canto.

– Garota valente! – olhou para eles. – Tudo bem, eu não posso impedí-los. Mas irei com vocês!

Os Pixies trocaram olhares tensos. Índio virou-se para eles e disse.

– Tudo bem pessoal, ele virá conosco! – e piscou com um olho. Virou-se para o professor e disse. – Mas antes precisamos ir atrás da única pessoa que tem a Bola de Cristal, o único objeto que pode aprisiona-lo.

– Quem? – o professor perguntou.

– O curupira! – Capí disse.

– O curupira? Mas que brincadeira é essa? – ele segurou um riso.

– É sério! Lemos sobre ele, mas só podemos encontra-lo na Amazônia! Precisamos arrumar um jeito de chegar lá! – Viny tomou a palavra.

Atlas suspirou.

– Bom, talvez a floresta possa ajuda-los! – ele disse.

– Como assim? –Caimana perguntou.

– A floresta da escola é misteriosa – Capí respondeu. – Talvez ela nos ajude! – ele disse com esperança. – Vamos!

– Para onde? – Caimana perguntou.

– Arrumem suas coisas com a intenção de acampar!

– Acampar? – Índio disse. – Temos que ir para o outro lado do país, e você está pensando em acampar?

– Peguem suas coisas e nos encontramos em quinze minutos na orla da floresta! – ele correu pelo corredor.

Índio foi para o seu dormitório e pegou o máximo de coisas que era possível. Um canivete, um cantil de água (usado para poções), uma corda, um canivete e uma bússola (já que iriam para uma floresta precisava pensar na possibilidade de se perderem.). Trocou de roupa rapidamente, vestindo uma calça jeans, tênis esportivo e uma camisa leve, pois sabia que florestas tropicais sempre tinham a temperatura alta. E correu para a orla da floresta.

Caimana e Viny já estavam á espera, com mochilas e roupas leves. Capí veio correndo logo após Índio chegar

– Ufa!! Demorei porque estava buscando um ingrediente essencial que precisaremos!

– E o que é? – Viny perguntou.

– Não temos tempo! Temos que ir andando. – ele estava com muito peso na bolsa, pois estava um pouco curvado para frente para aguentar a mochila.

Após um longo tempo andando pela floresta escura e fria, cheia de insetos e criaturas estranha que, Índio tinha certeza, os observava de longe, Viny falou.

– Capí! Não me leve á mal, mas... O que a gente está procurando?

– Como assim? Estamos procurando ajuda é claro!

– Tudo bem, mas... Que tipo de ajuda? Quem pode nos ajudar á chegar à Amazônia de uma hora pra outra?

– Ora, o Saci é claro!

– O Saci?? – Viny, Caimana e Índio perguntaram juntos.

– Sim, qual o problema? – ele perguntou inocentemente. Aquilo fez o sangue de Índio ferver.

– Capí, não sei se você sabe, mas não estamos aqui para brincar de folclore!

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

– E você acha que estou brincando? – Capí parou.

– Só pode ser brincadeira pra querer pedir ajuda á um personagem ridículo do folclore, que ainda por cima não existe.

Agora os quatro estavam parados, um olhando para o outro, apreensivos, pois Capí tapou a boca de Índio com uma das mãos e disse.

– Nunca mais diga isso. Ele poderia nos ouvir sabia?

Índio se desvencilhou da mão de Capí.

– O que disse?

– Se ele ouvisse você dizer isso, estaríamos ferrados!

– Você está de brincadeira?

– Não ele não está! – uma voz disse.

Os Pixies congelaram e bem devagar se viraram de onde vinha o barulho.

– Não acredito! – Índio soltou antes de algo acertar a testa dele, desmaiar e cair no chão.