H O L O C A U S T

Um pesadelo real.


Primavera de 1943

Lily Evans

... Aquele soldado nojento continuou acariciando meu corpo por vários minutos até que chegamos ao que parecia uma estação de trem muito antiga e mal cuidada.

Os três homens saíram do carro e o mais novo me puxou de lá como se eu fosse uma boneca de pano pra logo depois me empurrar para o soldado mais velho, que prontamente abraçou minha cintura e beijou meu pescoço.

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Fui guiada a empurrões para dentro do prédio da estação, onde provavelmente estavam todas as outras pessoas que foram presas.

Andamos por intermináveis minutos, passando por salas e mais salas.

Várias delas eram escritórios espaçosos com um ou dois homens que deveriam estar checando os papéis que estavam amontoados em cima de suas mesas, mas ao invés disso estavam dormindo ou lendo jornais tranquilamente.

Depois de andarmos o que me pareceu horas e subirmos escadas que me pareciam intermináveis, chegamos ao andar de destino.

Como eu sabia? Pelos gritos dos adultos e choros das crianças que estavam numa salinha logo adiante.

Aquela sala estava lotada, e com certeza sufocante. Eles estavam amontoados como se fossem os papeis daquelas salas espaçosas do andar de baixo.

Crianças, idosos, mulheres grávidas...

O soldado mais novo foi em direção àquela sala e estava prestes a abrir a porta quando:

– Daqui a pouco, Malfoy. - O soldado mais velho falou – Tenho planos para essa daqui.

– Você tem certeza disso? – O soldado do meio perguntou – Pode nos causar problemas.

– Meu caro Carrow, me diga, quem é o supervisor? – O soldado mais velho perguntou com certo tom de arrogância.

– O senhor, Senhor Grindelwald. – O soldado do meio que descobri ser Carrow respondeu e voltou pelo corredor que viemos.

– Bom, então... Divirta-se senhor. – Malfoy disse e saiu tropeçando nos próprios pés.

O que ele quis dizer com “divirta-se”?

Eu tinha a impressão que já sabia resposta, mas eu não queria acreditar.

O que eu tinha feito para merecer tudo aquilo?

Grindelwald foi me empurrando aos poucos para uma salinha no fundo do corredor, quando chegamos lá ele me empurrou sem nenhum cuidado pra dentro e trancou a porta.

– Já vou avisando, – ele disse me puxando pelos cabelos do chão que eu tinha caído por causa de seu empurrão – se gritar vai ser pior.

E antes que eu pudesse responder ou fungar mais uma vez ele me abraçou fortemente pela cintura, me impossibilitando de qualquer resposta agressiva e me beijou.

Meu primeiro beijo... Aquele que eu sonhava em ter com uma pessoa especial... Um momento que eu aguardava tanto...

Eu fiquei ali parada, totalmente estática enquanto ele alternava as caricias entre minhas costas e meus seios.

Tudo o que eu fazia era chorar, eu estava completamente imune...

Ele abriu o zíper do meu vestido mas não o desceu de imediato, ele estava mais entretido em dar fortes chupões em meu pescoço.

Quando se cansou daquilo, me jogou de costas na cama e pôs cada uma de suas pernas de um lado do meu corpo, se apoiando nos joelhos.

Agora ele alternava suas caricias com mordidas fortes por toda a extensão do meu corpo, aquilo era tão nojento...

Pouco tempo depois ele abriu meu sutiã e o tirou para logo depois me virar de frente pra ele, quando viu que eu estava chorando me deu um tapa na altura dos olhos para ‘limpar’ as minhas lágrimas.

– Melhor você controlar esse seu choro e me fazer gostar de você. – Ele disse e abocanhou um dos meus seios com agressividade.

Enquanto lambia, chupava ou mordia um deles, ‘massageava’ o outro com fortes apertos.

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Ele estava parecendo uma criança que insistia por leite. E aquilo doía tanto...

Quando se cansou daquilo, ele se apoiou ereto em seus joelhos novamente e deu uma breve olhada no meu corpo.

Ele tirou minha calcinha sem cuidado algum e passou um dedo levemente em meu órgão sexual, levando as mãos rapidamente até seu próprio cinto.

Antes mesmo de eu piscar os olhos, ele já estava completamente nu.

Posicionou-se melhor entre minhas pernas e... dor, tudo o que eu senti foi dor...

Dor e desprezo por mim mesma...”

Agora eu estava ali, encolhida no canto daquele trem lotado e imundo. Aquelas cenas iam e vinham a todo instante em minha mente, meu corpo estava completamente dolorido e eu me sentia um lixo.

Mais uma vez eu estava quebrada, não só por dentro como também por fora.

Eu fora violada. Em todos os sentidos.

Eu ouvia gritos, tantos gritos... Mas tudo parecia tão distante, tão pequeno e insignificante.

Eles ainda não tinham se dado conta que todos nós iríamos morrer?

E eu continuava ali... Sentada e encolhida no canto daquele trem, lembrando de tudo o que tinha acontecido.

Quantas horas já haviam se passado desde que entramos naquele maldito trem? Ou melhor, quantos dias?

Eu tinha certeza que já estava trancada naquela caixa sufocante há no mínimo dois dias.

...

Eu não sabia quanto tempo mais havia se passado, mas eu estava exausta.

Exausta e faminta.

Já era noite de mais um dia que passamos naquele trem quando ele finalmente parou. As portas foram abertas um pouco depois e soldados com armas gigantescas começaram a gritar para que saíssemos do trem rapidamente.

Quando todos já estavam fora, separam-nos em dois grupos.

Homens de um lado, mulheres de outro.

Quando todos já estavam em seu devido grupo – incluindo as crianças e os idosos – mandaram que todos nós nos despíssemos.

Claro que ninguém teve coragem de contrariar pessoas que estavam armadas até os dentes, então os obedecemos.

Quando tirei minhas roupas senti que alguns olhares caíram sobre meu corpo por causa das grandes manchas roxas que se espalhavam por varias partes dele.

O médico que nos avaliou para vermos se tínhamos ou não condições de trabalhar pareceu não ligar pros vários hematomas que eu tinha e me mandou para um grupo onde tinha pessoas com mais ou menos a minha idade, alguns mais velhos, outros mais novos... Mas nenhuma mulher grávida, idoso ou criança.

Pessoas com qualquer incapacidade eram mandas para de trás do trem.

Crianças... Eles iriam matar crianças...

Quase todos já haviam sido separados quando:

– GÊMEOS, ELE SÃO GÊMEOS. – Um soldado gritou, enquanto apontava freneticamente para dois meninos gêmeos que estavam agarrados no pai.

Outros dois soldados foram lá e os arrastaram pra longe do pai, os levando em direção a um prédio especial que tinha ‘hospital’ escrito encima da porta.

Eu nem queria imaginar o que acontecia dentro daquele lugar.

O pai dos meninos gritou e tentou correr em direção a eles, para impedir que os filhos fossem levados para o tal hospital. Mas no segundo passo, um soldado apontou sua arma para a cabeça dele e nada mais foi ouvido.

Nem gritos, nem barulho de corrida... Nada, apenas o som solitário de um disparo de arma.

Depois que todos fomos ‘avaliados’ guiaram o grupo do qual eu pertencia para dentro de um prédio feito de tijolos vermelhos.

– Vocês serão desinfetados. – Foi tudo o que nos foi falado.

Fomos empurrados para uma sala que parecia um grande box.

Parecia não, era um grande box.

Tinha chuveiros enormes pelos quais começou a descer água assim que todos estávamos dentro do box.

O banho durou cerca de 20 minutos, quando os chuveiros foram desligados e nos guiaram até outra sala.

Parecia uma barbearia, vários homens com máquinas de cortar cabelo estavam ali.

Estávamos sendo separados em filas quando:

– Não, você não. – E me puxaram da fila.

Nem precisei perguntar o por que daquilo, meu crime era ser ruiva com olhos verdes.

Se eu não tivesse mais cabelo, como iriam continuar me acusando de ser cigana?

Fui levada até outra sala, bem menor dessa vez. Lá um soldado me entregou uma roupa listrada em branco e azul com um triângulo castanho no peito.

O uniforme do campo e a identificação cigana...

Coloquei a roupa que ficou um pouco maior que meu corpo, um ou dois números maiores...

Não era de grande ajuda contra o frio que eu começava a sentir.

Esperei cerca de um hora ou uma hora e meia até que todas as cabeças – menos a minha – fossem raspadas e todas as pessoas se vestissem com seus respectivos uniformes, para sermos guiados a uns barracões estranhos que pareciam um tipo de dormitório miserável com algumas camas que já estavam ocupadas.

Os soldados estavam fazendo a divisão, a cada novo bloco de barracões destinados aos judeus uma parte do grupo ficava para trás.

Com certeza ¾ dos prisioneiros eram Judeus. Eram vários barracões e estavam lotados.

Andamos mais um pouco e avistamos dois ou três barracões destinados a homossexuais, que portavam um triângulo rosa no peito.

Cinco homens e três mulheres (as mulheres portavam triângulos pretos e não rosas) do grupo ficaram pra trás, e nós, os que sobramos continuamos a andar mais e mais até que chegamos aos barracões dos imigrantes (que portavam triângulos azuis).

Eram dois barracões e estavam consideravelmente vazios.

Alguns dos Judeus que estavam em terríveis condições naqueles barracões lotados poderiam vir dormir neles.

Mas não, o nazismo consistia naquilo, não é? Divisão.

Dividir pessoas, dividir raças, dividir tudo.

Divisão, divisão, divisão.

Como se alguém fosse melhor ou pior que alguém pela cor de pele ou pela religião que possuí.

Andamos um pouco mais e alguns pararam nos barracões para Testemunhas de Jeová, que portavam triângulos roxos.

Eram sete barracões no total, e esses também estavam consideravelmente vazios.

Andamos para mais afundo no Campo e ninguém parou nos barracões destinados a criminosos comuns (que portavam triângulos verdes) ou nos destinados aos dissidentes políticos (que portavam triângulos vermelhos *).

Quando chegamos aos barracões destinados aos ciganos dei uma rápida olhada para trás e vi que só havia mais três pessoas comigo.

Todas três com cabelos raspados e olhos castanhos.

Eram ciganos de verdade...

Os dois ciganos homens foram encaminhados ao barracão cigano masculino, e nós, as duas mulheres fomos para o barracão cigano feminino.

Eles também separavam os homens das mulheres. Não que eu discordasse disso.

Os soldados nos deixaram lá e foram embora, sabiam que não íamos fugir.

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Não tinha pra onde fugir.

Entrei no barracão e me joguei em uma cama afastada de onde as outras mulheres estavam.

Deveriam ter umas dez ciganas ali, e tinha uma menininha como eu.

Cabelos ruivos e olhos verdes. Também não teve sua cabeça raspada, estava ali por um preconceito infundado que não deveria estar atingindo-a.

Ela devia ter uns sete ou oito anos. Eu nem imaginava como ela conseguira passar na seleção de trabalho ou morte.

– Oi, qual é seu nome? - A menininha que agora estava enfrente a beliche na qual eu estava deitada perguntou.

– Lily, e o seu? – Respondi, sorrindo pra ela.

– Tonks. Você também não é uma cigana, não é? – Ela perguntou, encarando meus cabelos.

– Não, sou católica. E você?

– Também. Vou deixar você dormir, deve estar cansada... Até amanhã, Lil’s. – Ela acenou e foi para outro beliche.

“Lil’s” Que menininha fofa!

Algum tempo se passou e só eu continuava acordada, toda vez que eu fechava os olhos aquelas cenas vinham em minha mente de novo e de novo.

Tudo o que eu queria era esquecer, ignorar como tentei fazer desde que saí do trem...

Mas ali, à noite e sozinha não pude evitar, minha mente reviveu tudo novamente e as lágrimas já dançavam livres por meu rosto.

Tive o mesmo pesadelo que vinha tendo no trem.

Um pesadelo real.

E eu tinha a impressão que aquele pesadelo nunca mais iria me deixar.