Os Quatro Símbolos

Capítulo Doze


CAPÍTULO DOZE

Na verdade, eu não estava pronta para nenhuma verdade, mas não tinha mais jeito de fugir, já estava ali e não fazia a minima ideia de como ir embora daquele lugar estranho, espero que essa conversa não dure muito tempo, sei que aquela tal lenda de que o lugar desaparece pode não ser real, mas prefiro me prevenir e estar longe da rua Guimel quando der sete horas.

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Entramos na casa, o ar tinha um cheiro forte de incenso de rosas e a a pequena sala era dividida junto com a cozinha, o lugar era meio escuro por causa das cortinas vermelhas florais junto com a pintura preta das janelas que eu não entendia o motivo. Tinha uma pequena luminária num criado mudo ao lado de um sofá velho amarelo e a luz era meio fraca formando sombras na parede que davam medo.

- Precisam beber essa água antes de entrarem na minha sala onde faço minhas sessões - a mulher disse abrindo a geladeira e pegando uma garrafa de água.

Ela estendeu copos na nossa direção e colocou um pouco daquela água neles. Aquela cozinha era tão pequena que acho que não dariam duas pessoas ali atrás do balcão, então ficamos no outro lado.

- Como vou saber que isso é seguro? Vai que queira nos envenenar? - perguntei duvidosa.

- Não vão saber - a mulher falou dando um leve sorriso.

Olhei para o copo com aquela água cristalina, ainda estava com medo de beber aquilo.

- Eu não quero beber isso, será que não pode dizer essas suas "verdades" aqui nessa sala mesmo?

- Garota, dá para parar de frescura e beber logo esse troço? Quero logo saber o que essa mulher tem a dizer e não vou perder tempo por sua causa - a Adélia disse isso e depois bebeu a água no seu copo.

O Daniel bebeu também e depois os dois me olharam esperando a minha vez de beber, olhei para um relógio antigo de números romanos pendurado na parede verde descascando e eram 5:50h, não faltava muito tempo. Tomei coragem e bebi de vez aquela água que tinha um gosto mais diferenciado, era mais gostosa.

- Me sigam - a mulher disse - E a proposito, me chamo Mariáh.

A seguimos por um corredor que ficava ao lado da minúscula cozinha e ao contrario dela e da sala, o corredor era longo e com algumas portas, mas a que a mulher parou em frente era a última, uma que era de madeira escura com uns desenhos, que eu não sabia o que significavam.

A Mariáh, antes de abrir a porta se virou para nós e disse:

- Quero que tirem os sapatos, eles trazem más energias da rua.

- Caraca, essa minha bota é difícil de desamarrar - a Adélia bufou.

- Ninguém mandou coloca-la - disse rindo.

A Adélia me lançou um olhar furioso e depois se sentou no chão para tirar aquela bota preta.

- Pronta? - o Daniel perguntou se virando para mim.

- Para dar o fora daqui? Sim, eu estou.

- Claro que não, estou perguntando se está pronta para descobrir algumas verdades.

- Eu sei o que estava perguntando, estava brincando - falei revirando os olhos.

- Não parecia - ele disse rindo.

A Adélia se levantou e a mulher se voltou para a porta e a abriu. Que medo, que medo, que medo... Poderia ter qualquer coisa lá dentro e na minha cabeça só vinha aquelas bruxas más que faziam rituais com as pessoas.

A sala por dentro era com as paredes pintadas de vermelho e cheia de coisas penduradas como quadros, prateleiras, uns tecidos e outras coisas. A mulher sentou atrás de uma mesa com uma toalha roxa pendurada e nos indicou umas cadeiras no outro lado da mesa para sentarmos.

O ambiente ao redor era um pouco estranho, parecia aquelas salas de consultas ciganas e acho que é meio isso mesmo. Sobre a mesa tinha duas velas e um baralho espalhado. A janela atrás da Mariáh tinha uma cortina azul escuro e um gato preto que estava no parapeito se moveu e fez eu levar um susto quando o vi se movendo.

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- Será que pode começar a falar...é que estamos com um pouco de pressa - falei já um pouco nervosa com medo de não dar tempo de ir embora.

- Não se preocupe com a velha lenda de que essa rua desaparece, nem sempre acontece - a Mariáh disse com um sorriso.

Esse "nem sempre acontece" não me deixou menos nervosa.

- Esse lugar fede a incenso - a Adélia reclamou - E não ponha esse gato perto de mim, tenho alergia.

O gato até parece que a ouviu, ficou olhando-a por um tempo, depois pulou do colo da Mariáh e foi para algum outro lugar da sala.

- Sei que quem os mandou até aqui foi o Eleador, sei que buscam o dono do Quarto Símbolo e vieram aqui por dicas, mas preciso me conectar a ele antes por vocês, sei que nunca se viram na vida, mas sempre tiveram uma ligação, todos os donos dos símbolos tem.

A mulher buscou algo dentro de uma gavetinha numa pequena cômoda e depois se sentou de novo, nas mãos ela estava segurando três pedrinhas coloridas, ela entregou para mim a azul, a verde para o Daniel e para a Adélia, a branca.

- Preciso que vocês deem as mãos um para o outro e fechem os olhos, quero que limpem a mente, fiquem tranquilos, preciso disso para que a conexão dê certo.

A Mariáh foi até o interruptor e desligou a luz fraca azul que estava no ambiente, só ficaram as velas acesas sobre a mesa. Todos sentados ali deram as mãos. Eu não gosto muito desse negócio de limpar a mente, sempre penso em mil coisas quando tenho que fazer isso, mas tentei.

- Que por esta nossa conexão possamos achar o quarto símbolo. Que por esta conexão possamos achar o quarto símbolo. Que por esta conexão possamos achar o quarto símbolo... - a Mairáh foi falando essa frase com a voz baixa e controlada.

Aquela pequena esfera na minha mão parecia que se aquecia toda vez que a mulher dizia aquela frase, queria saber se era só a minha ou de todos, mas preferi não abrir a boca.

O único som ali na sala era o som das velas crepitantes e a Mariáh falando, parecia que não tinha mais nada no ambiente, ele estava frio e eu podia sentir a mão da Adélia tremendo, pelo visto não sou a única medrosa.

Depois de alguns minutos, a mulher estalou os dedos e pediu para abrimos os olhos e soltarmos as mãos.

- E então, o que sabe? - o Daniel perguntou apreensivo.

- Sei que a pessoa não está por perto, talvez em outra cidade...Vi algo como praias, uma placa grande na entrada da cidade...era um lugar que iniciava com "D"...Sim, era Denvallu, esse é o lugar em que está quem procuram.

Denvallu, essa cidade é onde a Sophie vivia dizendo que adorava ir para as praias de lá e que tinham surfistas gatos, será que ela conhece o dono do quarto símbolo? Seria muita coincidência.

- Nossa, grande coisa, não dá para nos dizer onde a pessoa mora ou o nome? Impossível descobrir só sabendo a cidade e aliás, porque aquele cara maluco de capa não podia ele mesmo procurar e nos mandou fazer isso? Se ele nos descobriu acho que poderia descobrir qualquer um, né? - a Adélia reclamou.

Não vou com a cara da Adélia, mas tive que concordar com o que ela falou, como o ser quer que achamos uma pessoa sem nem ao menos saber por onde começar a procurar? E aquele cara estranho bem que podia achar sozinho.

- Não consegui informações muito sólidas, a conexão não estava muito boa...

- Deveria ser conexão discada - o Daniel disse rindo.

- Para, não é hora para gracinhas - falei cutucando ele com o cotovelo.

A mulher nos olhou e parecia que não tinha entendido a piada que realmente foi muito fraca, mas se bem que nessa rua nem sei se eles conhecem internet.

- E respondendo a sua pergunta, menina, o Eleador não conseguiu rastrear a pessoa do quarto símbolo, pois ele tem um forte escudo protetor que permite que ninguém desse mundo "sobrenatural" possa acha-lo, provavelmente os pais deles sabiam de toda a verdade e o quiseram esconde-lo e até que funcionou.

- E como nós vamos conseguir rastreá-lo? - perguntei - E que verdades são essas?

- Vocês são todos do mesmo tipo, são donos de um dos Quatro Símbolos e como disse, tem uma ligação que os permite achar os outros, basta saber manusea-la.

Essa mulher enrola, enrola e enrola e não diz nada do que quero saber, acho que se fosse direta seria bem mais fácil, o que custa esclarecer tudo logo de uma vez?

- Será que pode me dizer o que somos e o que são esses símbolos?! - já estava me estressando.

A mulher se levantou e ficou dando algumas voltas na sala. Jurava que se ela não dissesse nada iria socar aquela mesa com cartas e tudo até ela me responder, está tudo muito ruim na minha vida, acho que eu ao menos mereço uma explicação do por quê isso está acontecendo.

- Vocês são Seres Elementais, tem o poder de que a natureza lhes deu, cada um de vocês são donos de um dos Quatro Elementos e os símbolos são a fonte de onde vocês adquirem esses poderes, só que os verdadeiros não estão com vocês, para conseguirem eles devem fazer algo valioso para A Ordem.

O quê?! Isso realmente existe? Ela está falando sério?

- Isso é alguma piada ou o quê? - não dava muito para acreditar.

- Sério mesmo que temos poderes?! Isso é tão...DEMAIS! - a Adélia disse empolgada.

O Daniel não disse nada, ainda estava olhando para a Mariáh em busca de mais coisas que ela pudesse falar e eu também queria mais informações.

- Mas por que eu nunca senti nada de estranho...? - eu não me lembro de já ter me sentido com poderes antes.

- Nunca reparou, mas sempre esteve com você e bom, cada um tem alguns outros dons como por exemplo você, Daniel, que consegue descobrir coisas da vida de alguém ou saber o que estão pensando só de encostar na pessoa e você Adélia, que consegue entrar nos sonhos das pessoas e muda-los.

- Pensei que o poder da Adélia fosse de chatice - disse rindo, ela me lançou um olhar nem um pouco satisfeito e eu continuei: - E porque eu não tenho nada?

- Ainda não o descobriu, é a mais nova daqui, fez 16 esse ano, uma hora vai descobrir...

Nunca tinha me ligado em perguntar a idade do Daniel ou da Adélia, mas se eu sou a mais nova eles devem ter 17 ou 18, não queria ser a mais nova, é chato isso.

- Uma dica a vocês - a Mariáh disse se sentando de volta na sua cadeira - Não deixem ninguém pegar essas esferas que estão com vocês, elas são uma forma de conseguirem achar a pessoa do quarto símbolo, sei que conseguem sem mim...Agora não posso falar mais nada, vocês tem que ir embora.

Tinha até me esquecido que estava segurando aquela bolinha azul e ela era de um cor tão viva e brilhante, era linda.

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- Como assim já temos que ir embora? Você nem terminou de nos dizer tudo que sabe, que elemento eu domino? Como eu faço para usa-los? Quero sabeeer! - a Adélia disse batendo na mesa.

- Sinto muito, mas não posso mais falar nada, sei que vão descobrir essas coisas sozinhos e agora realmente precisam ir, depois da sete a rua fica perigosa, quando não desaparece, acontecem coisas estranhas por aqui.

Minha cabeça ainda estava meio flutuando com todas as coisas que a Mariáh disse, então o Daniel sabia onde eu morava, meu nome e minha escola só porque ele encostou em mim? Isso é muito louco. E a Adélia espero que nunca entre nos meus sonhos e faça-me ter pesadelos, dela não consigo esperar coisas boas. E eu ainda estou sem entender nada, como nunca soube que coisas estranhas rodeavam a minha vida? Para mim a única coisa estranha e azarada era eu ter ido parar naquela casa e ter a infeliz vida de morar com a Sophie e a Morgana.

Nós saímos da casa da Mariáh e ela parecia estar nervosa com alguma coisa e isso me deixava nervosa também. O tempo lá fora já estava escuro, eram 6:45h, tínhamos quinze minutos para sairmos dessa rua ou eu não quero nem saber que "coisas estranhas" poderiam acontecer.

- Que raiva daquela mulher estranha...Como assim não pode nos contar mais coisas? - a Adélia reclamou, como sempre.

O Daniel se aproximou de mim e colocou seu braço sobre meus ombros.

- Então, como se sente? - perguntou.

- Tira a mão de mim, não quero que saiba mais coisas da minha vida ou o que estou pensando - disse tirando o braço dele do meu ombro.

- Calma - ele falou rindo.

A Adélia se agarrou no braço do Daniel e disse:

- Se quiser pode saber o que estou pensando, é algo muito legal - ela deu um risinho malicioso que me fez ter vontade de vomitar.

Ele tirou o braço da Adélia do dele discretamente e depois falou:

- E essa história de conseguir entrar nos sonhos das pessoas? Como que funciona?

- Normal, quando tem alguém dormindo em uma distância próxima de mim eu consigo saber o que a pessoa está sonhando e entrar nos sonhos dela e fazer o que quiser, como por exemplo, consigo me comunicar com alguém pelo sonho, mas é claro, quando a pessoa acordar vai só achar que só estava sonhando.

- Gente, será que dá para pararem de falar de dons e olhar para aquilo - disse indicando logo a frente.

Os dois se viraram e viram, o carro não estava mais embaixo da árvore em que tínhamos deixado, não tinha nada ali, só umas folhas secas.

- Isso não é bom...- o Daniel disse.

Pois é, isso não é nem um pouco bom.