P.O.V Ian

Aos poucos, fui sentindo meu corpo, tomando consciência de estar deitado e imóvel há muito tempo, já que algumas partes doíam.

Minha cabeça girava, eu não conseguia lembrar de nada direito. Imagens desconexas vinham à minha mente como flashes, até se tornarem nas lembranças que eu menos queria ter.

Conseguimos tirar a roda do carro do buraco pouco tempo depois de Peg e Cal se afastarem, mas ainda levamos um tempo para sair do lugar, pois o pneu tinha furado.

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Já havíamos entrado no carro há um tempo, quando ouvimos o barulho de um estrondo ao longe. Um tiro?

Jared acelerou o carro quando houve o barulho de mais dois tiros vindos da mesma direção e logo nos deparamos com a cena: ao pé da estrada havia um homem com uma arma apontada para Peg - a minha Peg– e o corpo de Cal estava jogado no chão a poucos metros de distância, com sangue vermelho vivo escorrendo do ombro esquerdo.

Fiquei desesperado. Jared parou o carro longe o bastante para que não percebessem nossa presença. Desci do banco já coryrendo e sendo seguido por Melanie e Jared. Nate foi direto para o corpo inerte de Cal. Corri em direção à Peg, parando na frente dela a fim de protegê-la da arma que ameaçava atirar a qualquer momento.

Abri os olhos e dei de cara com o teto do hospital. Soltei um soluço e só então percebi as lágrimas escorrendo por meu rosto.

–Ian? - virei o rosto e me deparei com Doc, coçando os olhos e parecendo cansado. E devia tê-lo acordado.

Ele veio até mim lentamente e parou na frente do catre. Sentei-me e pus a mão na cabeça. Ainda estava tonto.

– Calma. Fique deitado, deve estar confuso. - disse Doc calmamente.

Levantei-me, ficando de pé ao seu lado e fitei seus olhos.

– Onde está Peg? - perguntei, a voz apesar de rouca, um pouco alta demais.

– Ela está... - ele começou a responder, a voz um bem mais baixa que a minha, mas parou ao ouvir um arfar sofrido vindo da porta. Olhei na direção do som e vi Peg.

Minha Peregrina.

Mas ela estava diferente. Tinha olheiras profundas abaixo dos olhos e parecia mais magra. Há quanto tempo eu eatava desacordado? Não sabia dizer.

Fitei seus olhos e lágrimas escaparam, tanto dos meus quanto dos dela.

– Peg... - sussurrei, o coração martelando no peito.

Ela deu dois pequenos passos na minha direção, mas eu fui mais rápido. Dei apenas três passos largos e peguei-a em meu braços, levantando-a do chão e apertando-a contra meu peito. Soluços altos irromperam por seus lábios, enquanto chorava convulsivamente, o rosto escondido no vão de meu pescoço.

– Peg. - murmurei de novo, fechando meus olhos e permitindo que as lágrima escorressem, mais silenciosamente que as dela.

– Vá chamar Kyle. - falou Doc para Mel, que só agora percebi parada na porta. Ela saiu rapidamente, quase correndo.

Esperei até Peg se acalmar um pouco para afastá-la minimamente e pegar seu rosto delicado em minhas mãos e fitar seus olhos prateados. Passei o dedo com cuidado em torno de suas olheiras e depois em seu lábio inferior. Ela aproximou seu rosto e beijou delicadamente meus lábios entreabertos. Retribuí o beijo com todo amor que consegui. Não sei quanto tempo fiquei desacordado, mas foi o suficiente para me fazer sentir saudades daqueles lábios.

Quando finalmente nos afastamos, ambos buscando ar, olhei em seus olhos novamente e sussurrei um "eu te amo" para ela.

– Eu também te amo. - respondeu, me abraçou de novo. - Senti sua falta.

– Por quanto tempo...? - comecei a perguntar e parei sugestivamente.

– Quase uma semana. - respondeu, baixando a cabeça.

– Sete dias? - indaguei, assustado.

– Isso depois que o Cal saiu do seu corpo...

– Como? - fiquei ainda mais confuso.

Peg me explicou tudo, desde Nate ter colocado Cal no meu corpo para ele não morrer, até eu ter ficado desacordado por quase 7 dias depois que Cal saiu do meu corpo. Falou também que John - que depois eu descobri que era o homem que estava com a arma e que começou tudo isso - estava aqui e fugindo de buscadores.

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Mel voltou, não só com Kyle, mas com metade das pessoas que moravam nas cavernas. Peg não desgrudou de mim um segundo, nem quando outros vinham me abraçar. Passamos a tarde no hospital, matando a saudade e Doc fez algumas perguntas sobre como eu me sentia e anotou tudo.

Quando a noite caiu, fomos para o quarto e em menos de 5 minutos, ela adormeceu em meus braços, mesmo ainda sendo relativamente cedo.

Eu não estava cansado, afinal tinha passado os últimos 6 dias e meio só dormindo. Depois de um tempo, ouvi uma batida leve na porta e murmurei um "entre" baixinho, para Peg não acordar. Mel entrou no quarto e sorriu ao vê-la adormecida em meus braços, aninhada em meu peito.

– É bom vê-la assim novamente. - disse e eu fiquei confuso.

– Assim como?

– Feliz. - respondeu, suspirando pesadamente. - Desde que tudo isso começou, ela só chorava. Não conseguia nem dormir nesse quarto sem você.

Olhei seu rosto e a fitei. Seu semblante era sereno.

– Depois, quando você não acordou... - Mel continuou, mas eu não tirei os olhos dela. - ela não comeu nada nem dormiu um minuto sequer. Só ficou do seu lado, tentando te fazer acordar. Só nesta manhã eu a convenci a sair comigo para a cozinha e comer alguma coisa, nem que fosse só um pedaço de pão, e quando voltamos, você estava acordado.

– Por isso ela está tão magra e com olheiras? - perguntei, apertando-a mais contra meu peito.

– Sim. Ela sofreu muito com tudo isso.

Eu havia feito ela sofrer. Meu coração se apertou mais e mais a cada palavra de Melanie. Mas esse sofrimento foi, de certa forma, necessário. Se eu não tivesse chegado a tempo de me por entre ela e aquela arma, quem teria levado levado o tiro seria ela. Se eu não tivesse chegado a tempo, Peg provavelmente estaria morta. Então, se fosse preciso, eu faria tudo de novo. Faria tudo por ela.

Depois que Mel saiu do quarto, o sono custou a chegar. Fiquei com a imagem de Peg sofrendo na minha cabeça. A única coisa que me acalmou foi poder senti-la e vê-la em meus braços, dormindo tranquilamente.

(...)

Quando finalmente consegui dormir, já era quase de manhã e o sol já estava quase nascendo. Acordei pouco tempo depois com Peg me olhando, um sorriso singelo estampado em seu rosto. Foi impossível não retribuir.

– Bom dia. - cumprimentei-a, beijando sua testa.

– Bom dia. - respondeu, fechando os olhos e pondo os braços finos em volta de mim.

– Acordada há muito tempo?

– Não. Ainda é cedo.

Ficamos abraçados mais um tempo e eu não me aguentei. Tive que falar.

– Mel esteve aqui ontem à noite.

– Esteve? - seus olhos ainda estavam fechados.

– Sim. Ela falou que você não comeu e nem dormiu enquanto eu não acordava.

Senti ela ficando rija em meus braços e abrir os olhos.

– Por que fez isso? - perguntei, levantando seu rosto e fitando-a. - E se eu nunca acordasse? Iria ficar para sempre sem comer?

– Não diga isso. Eu só não conseguia me permitir deixar você.- respondeu, envergonhada.

– Não importa. Você não podia ter feito isso. Deixou todos preocupados.

– Eu sei, eu sei. Desculpa. Eu só não conseguia ter apetite com você lá, imóvel o tempo todo. E eu precisava acreditar que você ia acordar, por que se não acordasse, eu também não iria querer mais viver sem você.

– Não diga isso. - apertei-a mais contra emu peito. - Promete que não vai fazer isso de novo se algo acontecer co...

– Nada vai acontecer. Não mais. - ela me interrompeu, lágrimas começavam a encher seus olhos.

– Ei. Não fique assim. Tudo vai ficar bem agora. - eu disse, limpando seu rosto das lágrimas que escaparam.

– Desde que você esteja comigo... - ela disse, a voz embragada.

– Sempre estarei.

E era verdade. Eu sempre estaria ao lado dela, não importa o que acontecesse.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.