Songs Of The Heart
Little Lion Man
Se aqueles olhos lhe pertencessem... Talvez seu mundo seria mais completo.
Ele se sentou no banco de pedra recém-instalado na praça do bairro onde morava. A rotina de ir até aquele banco lhe agradava profundamente. Ele era um pouco masoquista, até. Gostava de sentar-se lá, com um livro nas mãos que nunca saia da décima segunda página, e aproveitar a vista. Por vista, entende-se ela. Como gostava de observá-la. O movimento, o sorriso, os olhos... E que olhos... Olhos que muitas vezes passavam por ele vasculhando a praça à procura de alguém. Olhos que não sabiam da existência dele, ou se sabiam, o conheciam como “o estranho homem, com o mesmo livro nas mãos, da praça”. Olhos que não o pertenciam. Mas ele, ao mesmo tempo em que a desejava, não se importava em manter essa relação à distância. Uma relação quase inexistente e platônica.
Não quer ver anúncios?
Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!
Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Aquele banco havia sido substituído, assim como ele. Porque lá estava a moça de belos olhos caminhando de mãos dadas com outro homem. E a felicidade de ambos era inegável. Mas ele continuava lá, sentado no banco enquanto fingia ler o livro para olhar para o casal.
Ele sabia que ela nunca seria dele, mas sabia que a amava de uma forma louca e profunda, sem explicação.
Às vezes, ele parecia sentir suas coxas lhe traindo e colocando força para levantar-se e caminhar até ela. Mas não podia deixar isso acontecer. Porque ela era feliz sem ele e ele gostava dela assim. Feliz.
Olhou, pela última vez, para a moça que lhe arrancava suspiros, e levantou-se, lutando contra seu próprio corpo enquanto se afastava.
E assim ele foi embora. Não voltou mais. Abandonou aqueles olhos que não o pertenciam, que faziam seu mundo incompleto.
Fale com o autor