Olhos De Vidro

É Assim que se Começa uma Amizade


― Ei, Embry, vamos para a casa do Sam – anuncia Jacob ao ver o garoto passar correndo.

― Vou mais tarde, tenho que ir pra casa! – grita em resposta.

― Para casa? – questiona Paul de modo zombeteiro. – Ele mal para em casa...

O bando dá de ombros e segue seu caminho tranquilamente, enquanto Embry seguia em disparada para o seu próprio lar. Bastaram apenas alguns minutos de corrida para que ele enxergasse a pequena casinha de madeira com telhado avermelhado.

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Embry abre a porta da residência com certa brutalidade, causando um grande estrondo e fazendo a mulher que ali habitava pular com o susto. E com um abraço de urso ele a toma nos braços, expondo sua euforia e girando-a no ar, enquanto ela clamava em vão para que ele parasse.

― Pelos céus, menino, o que deu em você? Embry Call me ponha no chão!!! Você é um lobo, mas eu ainda posso fazê-lo chorar como um bebê!!!

O quileute a solta, salta sobre o sofá, corre para o quarto e retorna ainda saltitante para a sala, onde sua mãe o aguardava com as mãos no coração e o olhando como se estivesse possuído.

― Devo chamar um padre? – cogita preocupada.

― Não! – exclama Embry desabando no sofá, sendo vencido pelo cansaço. – Eu finalmente a achei, mãe.

― Achou, quem? – pergunta pausadamente.

― Meu imprinting. – Sorri. – Finalmente encontrei meu imprinting!

A mulher de idade um pouco avançada corre para o lado do filho, boquiaberta e não sabendo o que dizer diante de tão boa notícia. Em seu peito o coração pulsava forte, pois muitas foram às vezes que ouviu o filho falando a respeito, chorando escondido por nunca encontrar ninguém e, agora, o imprinting estava ali à sua porta.

― Quem é? Onde mora? Como é? – pergunta rapidamente. – Vamos, Embry, diga-me alguma coisa!

― Se chama Andy. É linda, mãe, parece um anjo.

― Que incrível. – Aplaude. – Espere só até o bando ficar sabendo!

― Não, eles não podem saber! – impõe rapidamente. – Quero me aproximar dela primeiro... Eles me zoam a todo instante, imagine se tentarem bancar os engraçados? Vão me fazer parecer um idiota na frente dela.

― Filho – chama a mãe, acariciando seu rosto com carinho –, eles dizem que ninguém o quer, mas isso é apenas o que dizem. Embry Call é um rapaz lindo, educado, de boa família e têm tanta capacidade quanto os outros de amar e ser amado.

― Me promete? Promete que guardará segredo? – pede com olhos suplicantes.

― Sim, eu prometo. Contudo, não deixe que as coisas que lhe disseram criem raízes em seu coração!

― Está bem.

― E então, quando poderei conhecer minha nora? – empolga-se.

― Mãe – retruca Embry, encabulado. – Não é como se já fossemos casados...

Naquela tarde, Embry não compareceu a reunião na casa do alfa, pois passara horas a fio na companhia da mãe, ouvindo conselhos, relembrando a curta conversa com Andy e esquecendo-se do encontro na casa de Sam... À noite, ele demorou a cair no sono, tamanha era a sua expectativa pelo dia seguinte, porém, quando conseguiu dormir, foi agraciado com o mais perfeito dos sonhos.

No profundo de seu subconsciente Andy já habitava e em seu sonho ela se materializava, perfeita como a vira na primeira vez, de pele branca e macia, cabelos alaranjados e seus olhos de oceano. Com certeza, aquela íris marcante era sua parte preferida nela e para todo o sempre a admiraria.

Já passava do meio-dia quando o quileute despertou de seu pesado sono, xingando-se mentalmente por acordar tão tarde. Ele precisava urgentemente saber da reunião do bando, porém, também precisava ir à praia... E se os lobos estivessem estado de alerta? E se houvesse alguma missão importante? Mas, e se Andy estivesse lá, o esperando? Não daria tempo de conversar com os amigos e chegar a tempo para encontrá-la.

― Sam e os rapazes que tratem de esperar! – diz para si mesmo, saltando da cama em direção ao banheiro.

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Banho, roupas bonitas, cabelo penteado e perfume, tudo era válido para impressionar Andy e fazê-la o olhar como um homem de verdade. Embry se despede da mãe com um beijo e um abraço apertado, e corre em direção à praia, mais uma vez cruzando com seus irmãos de bando:

― Embry, precisamos conversar sobre ontem!

― Depois, Jake, depois...

― Você trabalha hoje – anuncia, antes dele sumir de vista.

É claro que “trabalhar”, para um lobo quileute, referia-se a patrulhar as fronteiras da reserva no período noturno, evitando que qualquer vampiro adentrasse o território quileute e machucasse alguém. Aquela era a maneira mais fácil de falarem a respeito, sem levantar as suspeitas dos moradores que desconheciam a verdade.

Enquanto se afastava dos amigos, Embry sentia seu coração queimar em seu peito e, assim que avista as ondas se quebrando na praia, sente-o disparar. Ainda era cedo e Andy não havia chegado, o quileute caminha pela praia exatamente como fizera no dia anterior, porém, ao perceber sua ausência, resolve esperá-la na entrada de La Push.

Uma pequena mureta fazia a separação da rua e da praia, muitos turistas se sentavam ali para arrumar seus equipamentos antes de ir surfar e foi naquele local que Embry decidiu se sentar. Seus olhos acompanhavam a movimentação de maneira frenética e, ao seu redor, o tempo não parava de correr. Duas horas ele esperou e Andy não apareceu.

Apesar de seu corpo protestar por ficar numa mesma posição por tanto tempo, sua mente e coração pareciam não perceberem a hora passar. Embry cogitava perguntas a serem feitas, respostas a serem ditas, assuntos a serem abordados e maneiras de poder tocá-la sem que parecesse tão abusado; ele nunca fora um bom galanteador e não sabia como causar uma boa impressão.

― Um, dois, três, siga reto outra vez! – cantava Andy enquanto se aproximava, fazendo o quileute rir com a música de conteúdo engraçado e finalmente perceber sua chegada.

― Quatro, cinco, seis... – continua ela, antes de travar e não encontrar uma rima adequada para terminar sua canção improvisada.

― Encontre o Embry tão cortês – completa ele, levantando-se da mureta e se aproximando.

Andy se assusta com a fala repentina do quileute, mas logo sorri, virando-se em direção a ele e estendendo a mão para um cumprimento.

Embry corresponde o gesto sem pestanejar, não deixando de notar as luvas que cobriam a mão feminina. Este era um ponto que precisaria se atentar dali em diante, pois andar somente de bermudas ou com uma camiseta fina não era algo comum, ainda mais com a aproximação do inverno e da neve. Se não tomasse os cuidados necessários certamente levantaria suspeitas antes da hora.

Dando-se as mãos, Andy sente-se estremecer, como se um estranho elo estivesse se formando entre eles. Embry fita-a com ternura e veneração, pois sentira a mesma coisa e sabia que aquele elo já existia e que estava apenas se fortalecendo. Ela é quem desfaz o aperto primeiro, podendo sentir o calor dele em suas mãos mesmo depois de largá-lo.

― É bom encontrá-lo novamente, Embry – cumprimenta.

― É bom vê-la de novo, Andy – retribui. – Não trouxe nenhum livro dessa vez?

― Não. – Dá de ombros. – Ouvi dizer que alguém queria conversar, então vim preparada para conversar.

― Legal. – Sorri. – Então, vamos? – incentiva empolgado, cruzando a mureta e pisando as areias de La Push.

Embry olha para trás com expectativa, mas Andy não havia mexido um músculo, muito pelo contrário, parecia ter se encolhido no lugar onde estava.

― Frio? – arrisca ele, deixando-se levar pelas luvas, o casaco e o gorro que ela vestia.

― Um pouco.

― Isso é fácil de resolver!

Embry retorna alguns passos, segura as mãos da menina e a guia para um lugar de sua preferência. O tempo parecia bom naquela tarde, o céu, apesar de nublado, não anunciava chuva e o vento frio dava a oportunidade perfeita para o quileute se aproximar sem ser mal interpretado. Andy parecia bastante nervosa, pois frequentemente tropeçava nos próprios pés e agarrava a camisa do lobo em busca de apoio.

Eles caminham alguns metros e param ao chegar a um tronco velho, caído e esquecido numa parte da praia. Embry envolve a cintura de Andy, para que sentassem próximos um do outro e assim ele pudesse esquentá-la com sua alta temperatura.

― Precisa mesmo de tudo isso? – pergunta encabulada.

― Disse que estava com frio, pensei que se sentássemos próximos, o vento gelado causaria menos impacto e você se sentiria melhor. Tudo bem pra você? – pergunta, como se realmente precisasse de sua aprovação para aquela aproximação.

Andy esfregava as mãos freneticamente enquanto pensava e, por um momento, esteve tentada a afastá-lo, afinal, era estranho estarem tão juntos daquela forma sendo que mal se conheciam. Mas no fim – e não sabendo exatamente o porquê –, acabou por acenar positivamente com a cabeça, dando seu aval para permanecerem juntos.

A conversa entre eles desenrolava-se de forma tímida e lenta. Andy perguntava coisas de vez em quando e comentava sobre o tempo ou a praia, mas era Embry o mais insociável naquele momento...

― Diga algo que preste, lobo burro! – repreende-se mentalmente. – Ontem você se saiu tão bem, tinha tantas coisas a perguntar e agora trava como um computador velho?

Há muito tempo que o quileute não colocava em prática sua tática de conquista e estar do lado de Andy só tornava a missão ainda mais difícil. Era complicado se concentrar tendo-a tão perto daquela forma.

― Está com vergonha de mim? – pergunta Andy, arrancando-o de seus devaneios.

― Bem, eu... Não, quero dizer... Talvez... Um pouco – gagueja, sentindo-se envergonhado por ter sido pego no flagra.

― Dá para notar. – Ri, baixando a cabeça. – Está tão calado. Acho que sei mais coisas sobre você, do que você sobre mim.

― Você sabe coisas sobre mim? – pergunta incrédulo.

― Claro! Está desafiando minha inteligência?

― Sim, acho que estou – enfatiza o desafio.

― Pois bem! – Se ajeita, deixando a coluna ereta e fechando os olhos. – Só para enfatizar minha inteligência, direi tudo de olhos fechados...

Ele ri, não imaginando o que ela poderia saber além do que via naquele momento. Após um longo suspiro, Andy começa:

― Seu sobrenome é Call e você é um indígena... Um quileute, dado os locais de nossos encontros!

― Isso não é novidade. – Ri. – Todos que olharem para mim chegarão a essa conclusão.

― A pele de seus dedos é um tanto áspera – continua ela, não o deixando interromper sua linha de raciocínio –, provavelmente por trabalhos manuais ou que exijam certa força. – Embry sorri, ele ajudava Jacob na oficina vez ou outra, mas acreditava que sua aspereza era por correr demais em quatro patas. – Seu perfume é bastante agradável, mas seu cheiro natural é melhor, algo que lembra cravos – diz ela, dando uma leve risada –, eu adoro cravos... Sua voz é harmoniosa, seu humor é um pouco afetado, mas o achei simpático no fim das contas. E, por fim, percebi que desde ontem você está um pouco quente... É melhor se cuidar, pois pode estar com febre.

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Embry fica contente com a última parte, era bom saber que não estava levantando desconfianças, afinal, precisava conquistá-la antes de realmente lhe contar seu chocante segredo. Andy abre seus olhos lentamente, prendendo-o em sua íris de oceano no mesmo instante... E foi aí que, num estalo em sua mente, ele se dá conta:

― Como percebeu tudo isso?

― Li num livro uma vez, que o amor só é de verdade quando acontece à segunda vista e não à primeira. A primeira se limita àquilo que seus olhos enxergam, não passa do exterior. A segunda ultrapassa a barreira do que é bonito e feio, ela busca encontrar outras coisas para se gostar, não priorizando a aparência...

Andy não dissera exatamente como descobrira tudo aquilo, mas denunciara que já o estava observando. Ela realmente não se prendeu à sua altura, à cor de sua pele ou de seus olhos em sua descrição, muito pelo contrário, dissera apenas o que não era visível aos olhos.

― Isso é bastante interessante – confessa ele, admirado – deve estar trabalhando neste negócio de “segunda vista” há bastante tempo, não é? Isso quer dizer que está querendo se apaixonar por alguém?