Stranger

Etapas.


Capítulo 37 — Etapas.

Alberto encarou a tela do celular completamente perplexo. A maior vontade era de enviar um e-mail perguntando sobre o que tudo aquilo se tratava, mas sabia que Mark jamais deixaria os detalhes escaparem e guardaria a surpresa até o fim.

Isso o deixou muito inquieto, inclusive, arrancando-lhe o sono completamente. Tentando se acalmar, foi até a cozinha e se serviu de um copo de suco, o qual bebeu lentamente. A cada gole, pensava nas possibilidades do que Mark estava planejando e só conseguia imaginar qual seria a reação de Lucas.

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Se soubesse onde seu melhor amigo estava, era óbvio que iria querer vê-lo, mas isso significava deixar o loiro certamente irritado. Sabia que Lucas conseguiria entender que ele precisava rever Mark, mas também sabia que ele não conseguiria engolir a ideia de que ele pudesse estar voltando para suas vidas.

Quando deu por si, já eram três horas da manhã. Esteve tão absorto em seus pensamentos que sequer viu o tempo passar. Deitou-se ao lado de Rachel e forçou-se a pegar no sono, mesmo que os pensamentos o tivessem mantido acordado por mais meia hora.

Na manhã seguinte, Alberto acordou sem saber que horas eram, notando que Rachel já não estava no quarto, então depois de ir ao banheiro e lavar o rosto para se livrar do sono, encontrou-a na cozinha, já tendo preparado o café da manhã.

— Bom dia, dorminhoco. — Disse ela, sorridente.

— Bom dia. — Falou simplesmente, sentando-se em seguida.

— Nossa! — Rachel estranhou, não era do feitio de Alberto parecer tão seco. — Ou você sonhou com o Freddy Krueger, ou tem alguma coisa acontecendo. Pode ir falando.

Alberto respirou fundo, já esperando pelo interrogatório, pois não conseguia disfarçar o cansaço e a ansiedade que sentia. Aproveitou a deixa para contar a ela tudo que se passou durante a noite, desde o e-mail e até suas preocupações em relação a Lucas, caso Mark estivesse realmente pensando em revelar sua localização.

— Por isso dormi tão tarde. — Concluiu, bocejando.

— Caramba, consigo realmente imaginar como sua cabeça está nesse momento, nem eu estava esperando por isso. — Comentou, surpreendida. — E sem querer te desanimar, tem algo que me preocupa com isso tudo.

— Que seria? — Indicou, querendo a continuação.

— Não é perigoso esse seu amigo revelar a localização dele? Quer dizer, você me disse que ele trabalhava com gente barra pesada e essas pessoas ainda estavam atrás do Lucas um tempo atrás.

— Se estivéssemos grampeados ou sendo vigiados, já saberiam que estamos em contato com ele... eu acho. — Alberto refletiu. — Mas também já pensei nessa possibilidade. Eu não quero pôr você ou o Lu em risco.

— Eu entendo você. — Ela estendeu a mão e acariciou o braço dele. — Mas não fica se preocupando tanto, você nem sabe o que é essa surpresa ainda. Então tenta não pensar muito nisso por enquanto, vamos tomar café e passar o dia tranquilos. É nosso primeiro café-da-manhã como noivos, não deixa a paranoia atrapalhar.

Alberto sorriu sinceramente e respirou fundo, varrendo os pensamentos com a memória da noite maravilhosa que teve, graças ao seu pedido de casamento aceito pela mulher de seus sonhos.

Sexta-feira, 7 de junho de 2013.

Lucas estava atrasado, recolhendo os livros que usaria, jogando-os com pressa dentro da mochila. Colocou um biscoito na boca e encheu seu copo térmico de café para comer no caminho, descendo pelo elevador enquanto via suas mensagens.

Chegou alguns minutos após o horário e apesar de ninguém se importar, não gostava da sensação de estar atrapalhando, mesmo que fosse seu último dia na revista, não se deu ao luxo de chegar atrasado em nenhum outro dia.

Ao chegar no andar, percebeu uma agitação diferente no pessoal, chegando mais perto e vendo que alguns de seus colegas de trabalho não estavam em seus postos. Deixou suas coisas em sua mesa e foi à cozinha no fim do corredor para pegar mais café, assustando-se ao passar pela porta.

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— Surpresa! — Seus colegas disseram em uníssono.

Lucas arregalou os olhos e viu o refeitório arrumado, com um cartaz feito à mão com seu nome e vários lanchinhos arrumados sobre a mesa principal.

— O que é isso? — Riu consigo mesmo, olhando tudo ao redor.

— É uma homenagem de despedida. — Ashley, sua vizinha de mesa falou, sorridente. — Nem sei como deu tempo de preparar tudo, você sempre chega antes de todo mundo!

— Gente, isso é muito legal! — Olhou para todos ali e a decoração colorida que haviam feito.

— Vem se servir, tem suco, café, tortinhas, biscoitinhos, sem contar que tem bolo na geladeira! — Outra colega afirmou, indicando a mesa arrumada com as guloseimas.

— Mas quando planejaram isso? Tiveram todo esse trabalho só por mim? — Lucas indagou, ainda sem acreditar na surpresa.

— Não seja modesto, você sabe que trabalhou duro e ensinou muita coisa pra gente, nem acredito que você tá indo embora... — Ashley respondeu com sinceridade e tristeza no olhar. — Espero que a Amber encontre uma vaga pra você por aqui, não quero que você saia.

— Isso é demais, vocês são demais. — Riu, sem graça.

— Não vai embora hoje sem dar um discurso, hein? — Outro colega solicitou.

— E seus planos a partir de agora? Está quase terminando a faculdade, né? O que quer fazer? — Ashley interrogou-o.

— Por enquanto ainda não tenho uma certeza, mas vou continuar firme com meu blog e continuar estudando. É só isso por enquanto, quem sabe a gente não se vê de novo algum dia por aqui? — Lucas respondeu, feliz por saber que seus colegas se importavam consigo.

— Sério, vocês deviam ver, eles foram muito legais e planejaram durante dias e eu nem percebi. — Lucas falou para Rachel e Alberto, sentando-se à mesa de jantar.

— Não é nada menos do que você merece, Luke. — Rachel colocou a travessa do assado no meio da mesa, enquanto Alberto vinha com os acompanhamentos.

— Eu queria ter trazido algo de lá pra vocês, mas eu juro que não sobrou nada. — O loiro riu.

— Ah, não tem problema, além do mais, agora você tá cheio da grana, pode levar a gente pra jantar. — Alberto afirmou, rindo. — Ah, falando nisso, a gente não se falou muito desde semana passada, como foi a questão do patrocínio?

— Eu recebi os produtos e já estou testando. Pra ser bem sincero, fiquei surpreso com a qualidade, eu fiquei com receio de ser um produto ruim. — Assumiu. — Porque eu não queria mentir na resenha, mas eu tô bem mais aliviado agora porque eu realmente gostei do resultado, o hidratante é muito bom.

— Dá pra ver, seu rosto tá lindo, não tem um poro aberto sequer. — Rachel passou a mão na bochecha do amigo. — E tá lisinho também, já pode ir providenciando um frasco pra mim!

— Pode deixar, eu vou pedir um a mais pra você da próxima. — Sorriu, começando a se servir da comida. — Isso se tiver próxima, vai depender do engajamento que eu vou ter, mas isso é assunto pra outro dia. Por enquanto vou aproveitar pra me enfiar nos livros pra essas últimas provas e treinar pra minha apresentação da tese.

— Verdade! Já tá tão perto! — Rachel impressionou-se. — Nossa! Passou muito rápido.

— Falando nisso, o comitê já está cobrando a confirmação da presença na festa de formatura, posso confirmar a de vocês? É dia vinte e dois, daqui duas semanas, é em um sábado.

— Você nem precisa perguntar, é claro que vamos. — Alberto concordou, servindo-se de um pouco de cada coisa da mesa.

— Inclusive, é uma semana antes do seu aniversário, né, Al? Já pensou em como vai comemorar? — Lucas indagou, antes de começar a comer.

— Ah, pra ser bem sincero, eu não faço ideia. — Torceu o lábio, não querendo entrar naquele assunto. — Mas até lá, a gente tem tempo pra pensar.

Alberto não deixava de pensar que Marcus, até então, não tinha dado muito mais detalhes que pudessem ser úteis para que descobrisse onde ele estava e não planejava dizer pelo que percebia. Deixando-o apenas ansioso, se perguntando o porquê de ele ter introduzido aquele assunto sabendo que ele ficaria impaciente até o dia chegar.

Não perturbaria Lucas com aquela preocupação, com ele tão perto de suas provas e tão atarefado, conversaria com mais calma com ele quando tivesse sua última prova, já fazia um tempo que sentia falta de se abrir totalmente com o amigo.

— Não se esqueçam também que já estou planejando a festa de noivado, já comecei a pensar na decoração. — Rachel sorriu orgulhosa. — Vamos ter muita coisa pra comemorar! Preciso de um vestido novo, quer ir escolher comigo, Lu?

— Assim que eu acabar minhas provas eu sou todo seu. — O loiro falou, sorrindo.

— Oi, gato, o que tá fazendo aqui? — Angela indagou Marcus ao vê-lo sentar-se ao balcão do bar. — Tá proibido de beber, sabe disso desde a sua síncope do mês passado.

— Eu não vim pra beber, só vim pra conversar com você.

— Ah, então tá. — Ela parou de organizar os copos limpos e foi em sua direção. —Diga.

— Angel, você pode tirar um intervalo agora? Pra gente conversar em particular.

— Por que a gente não sai assim que eu acabar, então? Pode ser? Eu acho que consigo sair um pouco mais cedo. — Ela pegou um copo fundo e encheu-o de gelo. — Então, quer um Shirley Temple ou um Roy Rogers?

— Não são quase a mesma coisa? — Riu consigo mesmo, vendo-a erguer uma das sobrancelhas.

— Roy Rogers. — Ela entregou, após escolher o drink por conta própria, preparando e finalizando com uma cereja.

— Eu ainda não gosto dessa história de drinks não alcoólicos. — Recebeu a bebida, dando o primeiro gole.

— São mocktails. — Ela colocou um guardanapo sobre o balcão para que ele apoiasse o copo.

— Eu daria uma porrada no cara que inventou esses mocktails. — Pousou o copo sobre o guardanapo.

— Mas então, posso ter ao menos uma prévia do que você quer conversar? — Ela quis saber.

Marcus encarou-a, pensando no que diria, olhando para o drink em seguida.

— Tudo bem, a gente conversa mais tarde. — Angela percebeu com a hesitação dele que não deveria insistir mais.

Um pouco mais de quarenta minutos depois, ela finalizou a limpeza do balcão e despediu-se do colega de trabalho, sinalizando para Marcus que já estava livre, fazendo com que ele se levantasse, seguindo-a para fora dali.

— A gente vai continuar nesse suspense? — Ela caminhou com ele até o hall de entrada. — Pra onde a gente vai? Vamos pro seu quarto?

— Eu não sei aonde seria mais apropriado conversar sobre isso... — Marcus parou de andar e encarou-a.

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— Então vamos subir, eu também queria conversar com você. — Angela agarrou o braço dele, indo juntos ao elevador.

Ficaram estranhamente calados enquanto iam à cobertura, como se já adivinhassem que não tinham boas notícias um para o outro. Chegaram ao andar e se acomodaram na sala, em frente ao terraço.

— Tá com fome? Quer que eu peça algo pra gente comer? — Ele ofereceu, sentando-se ao lado dela.

— Não, não precisa. — Angela apoiou uma das mãos em sua coxa. — Vai, fala primeiro.

— Eu te contei do meu amigo Alberto, né? Ele está prestes a vir e eu queria que você soubesse que outra pessoa pode vir também...

— Ah. — Ela arregalou os olhos, não imaginando que ouviria aquilo. — Entendi... acho que já sei o que isso significa.

— E é por isso que eu queria te avisar antes que acontecesse, eu não sei nem mesmo se ele vai aceitar e eu só o veria no mês que vem, mas eu não quero que você seja a última a saber.

— Mas e a gente? Alguma coisa vai mudar com a gente?

— Eu posso até dizer que não, mas eu não estaria sendo sincero.

— Mas você mesmo disse que ele poderia não vir... Quer dizer, você não estava se referindo ao Alberto, porque ele provavelmente vem. Então a gente concorda em quem estamos nos referindo aqui, não é? — Ela encarou-o, vendo que ele desviava o olhar. — Não pode falar que tudo vai mudar só por causa de um talvez.

— Angel, não é assim...

— Não é assim como, Mark? Me explica, porque o que eu entendi do que você está dizendo é que está pensando em convidar o seu amigo pra vir pra cá e não uma certeza de que aquela outra pessoa está vindo... Eu sei que você disse que não superou, mas e daí? Você não tem uma certeza de que vai ter isso que eu sei que está pensando.

— Ah, se está tão claro assim, o que é que eu estou pensando, então? — Ele ergueu uma das sobrancelhas, fazendo-a perder a pose condescendente de antes.

— Que você o quer de volta. — Falou rápido, cruzando os braços. — Eu sei que é isso que tá se passando na sua cabeça! Mas pensa bem, você nem sabe se o Lucas está vindo... e se ele nem chegar a vir? E se ele vir e não quiser nem olhar pra você?!

— Esse não é o ponto aqui, Angela.

— Ah, agora é “Angela”. — Ela riu desdenhosa. — Olha, eu sei que você ainda tem sentimentos guardados aí dentro, mas pra ser bem sincera, eu não acho justo fazer isso comigo... Quer saber?! Eu não acho justo mesmo! Ele não estava aqui vendo você definhar, só bebendo dia e noite e sem vontade de comer ou de fazer exercícios, mas eu estava! Eu estava aqui por você! Eu estava lá pra te reerguer e fazer você ter ânimo pra viver de novo!

— Ei... ei... — Tocou em uma das mãos dela, fazendo-a parar para lhe ouvir. — Me desculpa.

— Mas... e se ele não vir? — Ela encarou-o, segurando a vontade de chorar.

— Você não merece ser a segunda opção de ninguém. — Respirou fundo, acariciando os dedos dela. — Você é perfeita, sabe disso. E desde o começo eu deixei claro, não deixei? Eu nunca quis te dar falsas esperanças.

— É, você deixou claro, claro até demais. — Ela desviou o olhar, enxugando uma lágrima teimosa antes de voltar a encará-lo. — Você ao menos vai continuar falando comigo?

— É claro que vou! A não ser que você não queira mais olhar na minha cara. — Ele riu baixinho, roubando um riso tímido dela.

— Não, é claro que isso não vai acontecer. Eu não posso ser ingênua e dizer que achei que o que a gente tinha iria durar pra sempre. — Ela levantou-se, caminhando à porta lentamente. — Então eu acho que eu devo te desejar boa sorte, não é? Mas eu espero que você saiba que eu vou continuar aqui e...

— Sim, eu sei. — Ele levantou-se, seguindo-a.

— A não ser que você queira ir embora, mas caso contrário, eu vou estar aqui por você e... — Ela parou de tentar disfarçar que estava lidando bem com aquilo, sentindo a voz embargar. — Por favor... tenta deixar as coisas como estão por mais um tempinho, eu gosto da gente.

— Eu também gosto, mas não é mais o certo. — Marcus quis abraçá-la, mas se conteve, vendo-a dar as costas para si.

— Mas por que não?! A gente fez um acordo, falamos que a nossa amizade colorida não atrapalharia em nada! — Choramingou, ainda sem encará-lo.

— Ei, não é isso, Angel. — Segurou aos ombros dela, fazendo-a se virar. — Olha pra mim... Você sabe que da minha parte não é recíproco e eu não posso te dar o que você quer, não por completo.

— Mas não tem problema... — Ela respirou fundo, tentando controlar a voz trêmula.

— É claro que tem! Eu me importo com você e eu sei que você tá sofrendo em como as coisas estão agora.

— Não tô, não... — Ela tentou negar, manhosa. — Fica comigo, deixa as coisas iguais por enquanto, por favor...

— Não dá. — Respirou fundo, não querendo vê-la assim.

— Então só por hoje, só mais uma vez, por favor. — Ela segurou em seus dois braços, encarando-o esperançosa.

— Me desculpa, eu não posso fazer isso com você. — Respondeu, sentindo agora uma das mãos dela acariciarem sua bochecha.

— Eu tô me sentindo ridícula. — Ela recolheu suas mãos e enxugou o próprio rosto. — Eu vou embora, então.

— Espera, Angel... — Pediu, vendo-a se virar mais uma vez em sua direção. — Você disse que queria falar comigo também...

— Ah, relaxa. Não é importante. — Ela deu os ombros, abrindo a porta.

— Tem certeza? — Marcus sentiu o peito apertar ao vê-la tão abatida.

— Certeza, não é nada demais. — Ela forçou um sorriso nada convincente.

— Por favor, não me odeie pra sempre, tá? — Pediu, enquanto ela saía.

— Eu não vou. — Ela lhe encarou uma última vez antes de sair, fechando a porta.

Lucas passou o fim de semana com os amigos e começou a semana estudando durante a maior parte do dia, indo à academia todas as noites com Rachel, tanto para os treinos, como para as aulas de autodefesa. continuava a evitar Brock na academia, pedindo ajuda a outro professor e outros dias da semana tinha aulas de Krav Magá, então havia conseguido eliminar o contato com o Brock, pelo menos, por enquanto.

Estava treinando quando percebia a aproximação dele, o instrutor vinha em sua direção e não parecia querer mudar o caminho. Continuou o que fazia sem dar importância a ele e quando menos percebeu, ele se posicionava ao seu lado, parecendo esperar para ser notado.

— O que foi? — Lucas parou o movimento que fazia, pegando sua garrafinha de água.

— Eu queria falar com você. — Brock iniciou, parecendo constrangido. — É que... eu queria falar que, sabe... A Mia tá com saudade.

— Não só ela, pelo visto. — Desdenhou, dando uns goles na garrafa antes de deixá-la de lado. — É só isso?

— Não, não é só isso. Eu quero me desculpar.

— Você já se desculpou, várias vezes. Não precisa mais fazer isso.

— Preciso sim, Lucas... — Deu um passo a mais. — Por favor, me dá outra chance.

— Mesmo se eu desse, isso não mudaria nada, a gente já viu no que deu. Você sabe que eu não posso dar o que você quer. — O loiro levantou-se, se afastando dele. — Por favor, não insiste.

— Eu fui um idiota.

— Foi mesmo.

— Mas eu quero me redimir... Por favor.

— Olha, eu tô de bom humor, não força a barra, tá? — Lucas interrompeu-o. — Eu quero paz pra minha cabeça agora.

— Tá, já entendi. — Brock abaixou a cabeça, desanimado. — Eu tentei, se você quiser conversar direito é só me ligar. Mas eu não vou esperar pra sempre.

Lucas viu-o sair com passos firmes e riu internamente, tinha um pouco de pena por ele não conseguir ver em si mesmo quais erros tinham levado até aquilo, torcendo para que ele aprendesse e não tratasse outra pessoa daquela mesma forma.

Sexta-feira, 14 de junho de 2013.

Alberto chegava no prédio após seu expediente daquele dia, sendo avisado pela portaria de uma correspondência nova, indo retirar como de costume. Ao receber a embalagem, percebeu que não tinha o remetente em lugar algum, ficando curioso para saber do que se tratava.

Já chegando em seu andar, abria o plástico que protegia o envelope interno, entrando no apartamento, sem nem mesmo se sentar para ver do que se tratava, retirando papéis retangulares, arregalando os olhos quando percebeu do que se tratava.

Eram passagens aéreas.

Antes em pé, agora procurava acomodar-se ao sofá por sentir que suas pernas não aguentariam aquela informação. Suas mãos suadas ainda seguravam o envelope, sentindo seu coração palpitar alvoroçado. Segurou os papéis contra o peito, como num gesto de protegê-los para que ninguém pudesse pegá-los.

Já imaginava que ele estaria no México, mas não em Cancún.

Então era isso, a data da viagem daquelas passagens estava marcada para dali três semanas, tendo todo esse tempo para se organizar e tentar se distrair do fato de que finalmente veria Marcus.

Em todos os seus momentos de maior criatividade, não poderia esperar por aquilo, imaginou que receberia uma ligação de surpresa ou um e-mail misterioso com códigos para decifrar e descobrir sua localização, mas não aquilo. Era direto ao ponto e estava prestes a se realizar.

Olhou as passagens mais uma vez, vendo o itinerário, começando a imaginar como seria quando chegasse e o que fariam ao se verem depois de tanto tempo. Provavelmente não tinha roupas para o clima de Cancún, mas certamente era um lugar incrível e não podia negar que o amigo tinha um bom gosto para escolher onde passava seus dias.

Era próximo de onde alguns de seus parentes moravam e pensou que até mesmo poderia visitá-los após alguns anos sem vê-los, também seria uma boa oportunidade para Rachel conhecê-los e assim poderem falar mais sobre o casamento.

Poderia finalmente escolher a data, antes sendo impedido por não saber como seriam as coisas ou se o amigo estaria presente em sua cerimônia, mas agora que sabia onde ele estava, não o deixaria escapar mais, não ficariam mais afastados.

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— Alberto! Alberto! — Rachel chamava impacientemente, aumentando o tom de voz.

— Oi! — Arregalou os olhos, encarando-a. — Desculpa, amor, eu não vi você chegar.

— Nossa, em que mundo você está? — Ela riu consigo mesma, se sentando ao lado dele. — Eu tava te falando que o Luke não vem jantar com a gente hoje... o que é que você tá segurando?

— Pode olhar. — Passou o envelope para ela.

— Mas o que é isso? — Ela estranhou, vendo as três passagens reservadas com seus nomes. — Você comprou pra gente? Por que não me disse nada?

— Não fui eu que comprei, Rachel... isso chegou hoje, é do Marcus.

— Então ele...

— É isso mesmo. — Respirou fundo. — Ele finalmente disse onde está, do jeito Marcus de ser.

— Espera aí, do seu documento e o do Luke eu até entendo que ele pode saber, mas como ele sabia o número do meu documento? — Ela indagou, confusa. — Você disse pra ele?

— Não, não disse. E nem me pergunte como ele conseguiu, esse homem tem seus truques. — Ele levantou os ombros.

— Agora eu tô um pouco assustada, se quer saber.

— Eu não acho que isso seja a tarefa mais difícil pra quem trabalhava com espionagem e outras coisas piores. Ele tem seus contatos, forjou a própria morte, tem um documento novo falsificado... então não fico surpreso.

— É, você não tava brincando mesmo... — Ela devolveu o que segurava. — Você quer mesmo ir?

— Eu não perderia essa oportunidade por nada, você sabe disso. E eu espero que você possa ir comigo também.

— Mas e o Luke? Você já falou com ele? Porque tem uma passagem aí pra ele também.

— Não, achei melhor esperar até que ele terminasse todas as provas e apresentasse o trabalho final. Depois disso eu conto, não quero o distrair e arruinar a graduação dele.

— É, é o melhor a se fazer. — Ela suspirou, ainda sem saber o que pensar. — Eu vou ter que pedir ao pessoal do trabalho pra tirar alguns dias de folga ou para trabalhar remotamente, mas eu consigo, então acho que dá pra ir sim. E você? Já pensou no que fazer?

— Posso tirar férias não-remuneradas, ou sei lá, vou dar um jeito... — Respondeu, abrindo um largo sorriso em seguida. — Eu tô muito feliz, Rach, eu quero muito que você o conheça... nossa, eu tô com tanta saudade dele.

— Manteiga derretida como você é, tenho certeza que vai se acabar de chorar. — Ela brincou, fazendo-o rir.

— E você também vai poder conhecer a minha família que mora em uma cidadezinha perto de lá.

— Eu gostaria muito, eles falam inglês?

— Não dos melhores, mas tentam.

— Eu não quero passar vergonha, então você vai precisar me ajudar com meu espanhol, porque ele é péssimo, eu só sei o básico do básico: “como se llama, si, bonita, si, mi casa, su casa”. — Ela gargalhou.

— É só ficar longe de “hipsdon’t lie” da Shakira que vai ficar tudo bem. — Alberto riu com ela. — Eles vão te adorar, mexicanos tem um ótimo senso de humor e amam dançar, você vai se adaptar rapidinho.

— Então já me sinto em casa. — Ela sorriu, deitando a cabeça ao ombro dele.

Passaram um bom tempo ao sofá conversando sobre todas as possibilidades dali em diante, tanto do casamento, como da viagem e suas famílias. Era tudo uma loucura e estavam prestes a unir suas vidas para sempre.

Alberto decidiu pegar a agenda e procurar o telefone de sua tia, colocando o código para a ligação internacional, esperando chamar. Ao atenderem, Rachel observou enquanto ele conversava em espanhol com seus familiares, entendendo algumas poucas palavras, só podendo saber totalmente o que ele conversou ao vê-lo desligar a ligação.

— E então? — Ela perguntou, ansiosa.

— Eu falei que estamos noivos e que, se tudo der certo, estaremos no México daqui algumas semanas.

— E aí? O que disseram?

— Ficaram muito felizes por nós, querem marcar da gente se ver e também deram uma ideia que eu gostei muito, mas eu disse que ia falar com você primeiro. — Voltou e sentou-se ao lado dela.

— O que é? — Rachel indagou, curiosa, se acomodando melhor no sofá.

— Sugeriram fazer uma festa de noivado por lá e eu gostei da ideia, sinceramente, acho que seria perfeito, mas eu queria ver o que você acha.

— Uma festa de noivado em Cancún? Meu Deus, isso seria o auge. — Ela surpreendeu-se, começando a pensar no assunto.

— Na verdade, eles falaram em fazer em uma casa de uma tia minha, mas a gente pode fazer em Cancún mesmo, não fica muito longe da cidade deles, porque o mais importante seria reunir todos e a gente pode achar um lugar pra fazer isso. — Explicou. — O que acha?

— Eu acho que seria um sonho, mas a gente teria pouco tempo, né? Três semanas não é muito pra pensar em tudo, mas acho que daria certo... Eu tenho certeza que meus pais super topariam em ir pra lá e acho que alguns primos meus também. — Ela cogitou, cruzando as pernas. — Mas e o Luke? Eu sei que ele não vai ficar muito animado com essa viagem e nem sei se ele aceitaria ir... eu me preocupo com ele.

— Cancún é um sonho de consumo Rachel, só isso já seria motivo o suficiente se a gente prometesse que ele não seria forçado a ficar no mesmo ambiente que o Marcus, a não ser no dia do noivado, mas eu sei que ele iria por nós.

— Meu Deus... seria tão incrível. — Ela falou, com os olhos brilhando. — Eu amo praias e sempre quis ir pra Cancún.

— Então por que não? — Alberto se animou.

Mais uma semana havia passado e era como se Lucas pudesse mensurar o peso que saiu de suas costas, parecendo ter descarregado mais de uma tonelada de responsabilidades. Mal acreditava que não precisaria se preocupar mais com os estudos, torcendo para que a sua nota da apresentação fosse boa.

Era véspera do dia da formatura, tinha acabado de jantar com os amigos e agora voltava ao seu apartamento. Após atravessar o corredor e entrar em casa, lembrou-se que precisava tomar seus remédios, pegando um copo d’água e abrindo a caixinha onde os guardava.

Deparou-se com o calmante e o antidepressivo, uma pílula dentro de cada embalagem, sendo assim, os últimos. Tinha passado o dia distraído, não lembrando-se do fato, acabava ali aquela jornada de evitar bebidas alcoólicas e não poder se esquecer de se medicar todas as noites.

Pegou-os e os engoliu com a água. Depositando o copo vazio sobre a mesa da cozinha. Olhou novamente para as embalagens vazias, finalmente se dando conta de que não teria que repor nenhum deles, haviam acabado e não precisaria comprar mais.

Tampou sua boca com a mão, em uma tentativa frustrada de calar o soluço que emergia com um choro desesperado. Com as lágrimas já manifestando-se, trazendo memórias e sentimentos que costumava encobrir, desenterrando pesares do local mais fundo de seu coração.

Enxugou o rosto com pressa, descendo a mão para a corrente em seu pescoço, apertando o anel com força, espremendo os lábios enquanto fungava, querendo poder dividir aquela conquista com Gus. Ele não estava ali, mas estaria orgulhoso de tudo o que ele teria conquistado, cada passo que conseguiu dar depois de pensar que não conseguiria sequer sair do lugar.

Respirou fundo e tentou se conter, se arrastando para o sofá, encolhendo-se sobre ele, abraçando os próprios joelhos. Sentia um misto de alívio e pavor por não saber se estaria pronto para aquilo ainda, o medo surgia, fazendo-o pensar que dissociações e a vontade de morrer poderiam voltar a atormentá-lo.

Tentou controlar-se, lembrando-se dos vários conselhos do Dr. Elijah, começando a sentir-se merecedor daquela esperança, conseguindo sorrir em meio ao choro, sabendo que aquele era um passo importante e que tudo ficaria bem.

O sono lhe atingiu conforme o calmante fazia efeito, fazendo com que dormisse ali mesmo, passando a noite toda no sofá. Durante a madrugada, sonhos bons lhe embalaram até a hora de acordar.

Abriu os olhos e mesmo sabendo que sua formatura seria dali algumas horas, a ansiedade não lhe atrapalhava. Lembrou-se da noite anterior e o que fez com que dormisse no sofá e se orgulhou mais uma vez de tudo o que tinha conquistado, sabendo que merecia aquela vitória, não deixando mais que paranoias lhe atingissem.

Tomou café da manhã, rumou para o banho e se trocou, colocando um belo terno azul marinho, acompanhado de uma clássica camisa branca com sapatos sociais escuros. Perfumou-se e se encontrou com os amigos no corredor para irem ao campus, a colação seria um pouco antes do horário do almoço, ao ar livre, e depois rumariam ao salão de festas e ficariam até a noite.

Ao chegar, os amigos se sentaram com os outros convidados enquanto Lucas recebia a beca para vestir e o capelo, indo sentar-se junto aos outros formandos, ouvindo a homenagem aos pais e mestres. Procurou ao redor até achar onde os amigos estavam sentados, sorrindo para eles e acenando discretamente.

Pouco depois do discurso, chamaram um dos alunos escolhidos pela turma para realizar a leitura do juramento e Lucas ficou de pé junto aos outros formandos para repetir as palavras de compromisso.

Após isso, foram aos poucos sendo chamados por ordem alfabética do sobrenome para se juntarem à fila do recebimento do grau. Quando foi finalmente chamado, caminhou até a mesa de honra e cumprimentou todos os mestres, em seguida recebendo o diploma diretamente das mãos de sua orientadora Catherine.

— Obrigado, Dra. Foster. — Lucas agradeceu-a. — Sem você isso não seria possível.

— Foi um prazer te guiar nesse caminho, você tem um futuro brilhante. — Ela sorriu, vendo-o trocar o lado da tira frontal do capelo para a esquerda.

Os dois sorriram para a foto e o loiro voltou ao seu lugar, enquanto olhava os amigos ao longe comemorando. Já em seu assento, ouviu o discurso do orador e entregaram as placas aos professores homenageados pela turma, ouvindo mais alguns discursos inspiradores dos mestres.

Chegaram ao momento do encerramento, com todos os formandos ansiosos para finalmente arremessarem os capelos pelos ares. Todos presentes ovacionaram com o fim da colação, saindo de seus lugares para se encontrarem com seus familiares.

Após retirar a beca, Lucas se apressou para encontrar-se com os amigos, abraçando-os com força, sendo parabenizado pelos dois, que não se cansavam de tirar mais fotos. Foram caminhando enquanto conversavam até o salão reservado para a recepção, achando a mesa destinada a eles.

Se sentaram e observaram a decoração clássica de todo o ambiente, vendo os formandos de outras turmas socializando e se exaltando pelo tão sonhado diploma. Era tudo agradável e Lucas estava mais do que feliz por fazer parte daquilo, lembrando mais uma vez de tudo o que havia passado para finalmente estar ali.

Os garçons se espalhavam por todo o ambiente, onde um deles chegou até a mesa em que estavam, segurando uma garrafa de espumante envolta num lenço, aproximando-se da mesa.

— Posso servi-los?

Por um impulso, o loiro quase negou a bebida, em seguida sorrindo para o homem, dizendo:

— Sim, por favor.