Bella Volturi

Conclusões


Conclusões

A cigana quebrou o silêncio que se estabeleceu assim que me sentei.

- Se veio até aqui é porque já sabe.

Ela me analisava como se esperasse alguma reação exagerada.

- Sei o que você quis me dizer hoje mais cedo, mas agora eu quero que você me explique como isso pode ser possível.

Disse contendo a ansiedade.

Ela se levantou e caminhou de um lado ao outro.

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Devia estar pensando em um modo de me convencer.

A velha parou de repente e se virou para mim.

- Não.

Ela me lançou um sorriso nada humilde.

- Eu quero que você me explique como isso pode não ser possível. Você sentiu a pele, você viu os olhos de sangue... Como pode não acreditar?

Ela me encarou.

- Eu ainda não me decide se é sim ou se é não. Vim aqui para que você me contasse o seu lado da história, a sua versão.

Ela sorriu e voltou a se sentar.

- Não tenho muitas coisas a dizer, você já deve ter lido tudo no livro que eu escrevi.

Levantei os olhos imediatamente.

- Foi você?

Ela assentiu. Seu sorriso agora já não aparecia, era possível ver a dor formar um vinco em sua testa.

- Minha irmã gêmea foi brutalmente assassinada por uma dessas criaturas. E eu estava lá... Assistindo de camarote.

Uma sombra ia tomando o rosto da velha, as lembranças da morte da irmã deviam a estar invadindo.

Aquilo foi o suficiente para me convencer da existência desses monstros. Nunca, Jamais, alguém conseguiria fingir a dor que estava estampada na face daquela mulher.

- Mas, apesar de tudo, me considero uma pessoa de sorte por estar viva.

Voltou a sorrir

- Foi por isso que resolvi escrever o livro, para ajudar pessoas como você! Ajudar a cair na real.

- Mas e os ciganos? Eles sabem?

Ela soltou uma gargalhada.

- Sabem por que eu contei á eles.

- E eles acreditaram assim, facilmente?

- Hmm... Não tão fácil...

Suspirou e continuou.

- Me juntei aos ciganos assim que minha irmã morreu. Os avisei sobre os Frios, mas no inicio não acreditaram em mim. Mas quando viram livros e cartas de seus ancestrais viram que a história batia com a minha. Então, não puderam negar a existência dessas criaturas.

- Ancestrais?

- Os Frios sempre existiram, perambulando entre a humanidade á milhares de anos...

- Porque então nunca nenhum humano viu, ou descobriu um deles?

- Ah... Muitos descobriram... Mais a maioria nunca viveu para contar a história. Geralmente são mortos ou são transformados em um deles... Só alguns poucos sobrevivem.Você por exemplo...

Ela ficou pensativa.

- É um caso muito, mais muito raro... Nunca ouvi dizer sobre relações sexuais entre vampiros e humanos...

De repente me lembrei do motivo principal de estar ali.

- E o meu filho?

Interrompi a mulher.

- Bem, eu nunca vi nada igual a isso. Então não posso dizer o que o seu filho será... Só que normal isso com certeza ele não vai ser.

Ela viu o desespero em meus olhos.

- Ele será uma mistura, um híbrido... Ou uma híbrida...

Fiquei pensando no assunto.

Será que ele teria grandes olhos vermelhos?

E se o tivesse? Como explicaria á Charlie?

A velha tossiu chamando a atenção para si.

- Eu sei que você acha isso meio patético, mais eu estou muito curiosa com essa nova raça... Então... Vamos jogar?

Disse ela tirando um bolo de cartas esquisitas da gaveta. Seu sorriso era suplicante.
Suspirei.

- Bom, eu não tenho nada a perder...

Ela pegou o baralho e começou a embaralhar. Suas mãos ágeis denunciavam a sua experiência.

Ela colocou o baralho em cima da mesa.

- Corta

Cortei o baralho ao meio como pediu.

Ela pegou as duas partes e voltou a embaralhar.

Passado alguns segundos distribui seis cartas sobre a mesa formando uma pirâmide.

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A base era constituída por três cartas e estava virada para mim.

- Mantenha seus pensamentos focados na questão principal.

Assenti e a obedeci.

Pensei na criatura, pensei no meu filho, pensei em mim. Queria saber o que aconteceria comigo, e o que seria de meu filho.

Então, ela puxou a primeira carta da base da pirâmide.

A carta era um homem com pernas de dragão, a cabeça era vermelha e tinha uma espada dourada na mão esquerda.

- O que significa?

- Essa carta representa o demônio. No seu caso, a aparição do Frio na sua vida.

Ela puxou a segunda carta

A figura era mais confusa, parecia uma ancora e em cima dela tinha uma roda, onde várias cobras estavam penduradas.

- Essa é roda da fortuna, mas também conhecida como destino. Ninguém está imune à sua ação.

Ela puxou a terceira carta.

E eu não gostei nadinha da figura.

Um homem estava pendurado de cabeça para baixo pelos pés, e ele chorava.

A cigana franziu o cenho. Seu rosto era de preocupação.

- O enforcado...

Ela sussurrou.

- O que significa?

- Bom... Significa que você não pode fazer nada. Está tipo, “imobilizada”...

Ela apontou para a carta anterior, a roda da fortuna.

- Imobilizada pelo destino.

- O enforcado representa sacrifício. Você abre mão de seus próprios objetivos em favor dos outros...

Ela puxou outra carta.

Um velho envolto por uma capa roxa, parecendo um mago.

- O eremita. É a consciência de que o passado determina o momento presente... Também pode significar uma fase de isolamento.

Ela continuou.

Puxou a penúltima carta da pirâmide.

Não precisei de que ela me explicasse aquela carta, eu a conhecia muito bem.

A caveira, que estava em cima de corpos e com uma foice. Representava a pior das cartas.

A morte.

A velha colocou as mãos na boca para esconder seu horror.

O silêncio dominou a tenda, restando apenas o som das gotas de chuva que caiam no teto de plástico.

Não agüentei. Eu precisava saber.

- Meu filho vai... morrer?

A mulher não fez sinal de que iria me responder, ela estava com o olhar perdido na carta que indicava a morte.

- ME RESPONDA!

Explodi me levantando da cadeira.

Imediatamente seus olhos cor de esmeralda me focaram.

- Não... Não vai ser ele quem vai morrer...

Senti meu alivio transparecer em um suspiro. E me joguei de volta no banco.

- Será você.

Arregalei os olhos.

- O bebê irá matá-la... Ele vai sugar sua energia até você não agüentar mais.

Senti meu queixo cair e minhas pernas tremerem.

Eu estava em choque.

Como eu poderia morrer? Eu era jovem e tinha toda uma vida pela frente, e o meu bebê...

Recobrei a lucidez e a encarei.

- Como eu poderia morrer sem perder o meu filho?

Duvidei de suas previsões.

Ela levantou uma sobrancelha.

- Esqueceu do... Papai?

Engoli em seco

Eu me lembrava muito bem.

Frio, indestrutível, imortal...

Meu bebê seria mais forte do que eu.

Ele iria me matar de dentro para fora.

Tudo o que passei e tudo o que eu vivi, no final já não importava. Porque eu estava condenada, por uma pessoa que eu amava e que crescia dentro de mim.

Aquela criança me drenava, roubava todas as minhas forças até não me restar mais nada...

Mas se fosse isso o que ela precisava, eu lhe daria de todo meu coração. Eu lhe daria tudo o que estivesse ao meu alcance para mantê-la viva.

Eu lhe daria a minha vida.

Esse seria meu sacrifício.

Então, essa seria minha posição diante da morte. Eu iria aceitá-la, se meu bebê pudesse viver por mim.

Olhei a tenda a procura da velha. Não percebi aonde ela se metera enquanto eu tinha meu conflito interno.

Ela estava em sua poltrona lendo um livro.

A velha deu um sorriso ao perceber que eu voltava a si.

Se levantou e voltou a se sentar na minha frente.

- Ainda temos uma última carta.

A pirâmide agora estava toda formada por desenhos, figuras que representavam o meu destino. Apenas uma, permanecia oculta. O topo da pirâmide.

- Pelo menos, não preciso mais ter medo do que tem em seu baralho.

Disse sem humor.

A mulher riu e puxou a última carta.

Parecia um sol negro. Mas havia luz por trás dele.

A cigana sorriu.

- O eclipse... Quer dizer que seu filho ou filha, está pré-destinado á algo ou á alguém. Um bem maior...

Pelo menos, meu filho ainda tinha um futuro.

Ela recolheu as cartas e as guardou na gaveta.

Tudo estava muito claro para mim. Só pendia uma dúvida...

- O eremita... Quer dizer que eu vou me isolar para ter o meu bebê?

Ela ficou em silêncio, pensando sobre o que eu dissera.

- Bem, sim. O mais certo é chamar de fuga, por que você não vai contar á nenhum de seus parentes sobre isso.

- E porque não?

- Se você quer passar os restos de seus dias em um sanatório tudo bem, vá em frente.

A cigana deu de ombros.

Hm... Ela estava certa.

Eu não conseguia imaginar ninguém que eu conhecia acreditar em uma história dessas...

- Então... Para onde eu vou?

Outra questão que me assombrava.

Ela se virou para mim com um largo sorriso.

- Quem sabe se você pedir com jeitinho, eu não deixo você vir com agente?

- Agente quem?

- Ciganos... Nômades, esqueceu?

Fugir com os ciganos, era uma solução...

- Eu... Posso?

Ela aumentou seu sorriso formando ainda mais rugas em sua pele.

- Pode.

E assim ficamos conversando sobre o futuro que ainda me restava.

Eu voltaria a procurá-la quando minha gravidez nada normal estivesse mais avançada, quando fosse difícil esconder de Charlie.