Tema: Percy Jackson.

Shipp: Ethan Nakamura & Rachel E. Dare

Equilíbrio

Estou junto a uma flor do campo. Ela é bonita, tem as pétalas simetricamente perfeitas, que se sobrepõem a uma imensidão amarela. O botão dela é laranja, e aparenta ter pólen. Ela parece até ser um pequeno círculo colorido. Mas não colorido demais. Ela é simples. Eu gosto de coisas simples, apesar de também curtir certos exageros. Ela é... Droga, não há outra palavra. Equilibrada. Pronto, já disse, ela é equilibrada.

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Subitamente, meus olhos são cobertos por alguém. Di immortales! Será isso algum encantamento dos deuses? Monstros? Ou... Ah. É só o Ethan me fazendo de boba.

Ele começa a rir por causa da minha estranheza.

– Rachel, você é muito fácil de ser enganada.

– Você é que se engana, eu é que não estou acostumada a ser acometida por mãos em meus olhos.

– Deu uma de Atena? “Acometida”? Sério?

– Muito engraçado. Só você pra não saber o que “acometida” significa.

– Eu sei o que significa. O que estou querendo dizer é que não é normal usarmos essas palavras no cotidiano.

– Eu sou fã de palavras célebres. Tipo “perpassado”. Perscrutou. Loquaz. Oneroso. Ou então...

– Bazófia. Bravio. Apogeu. Taciturna – ele me desafiou, assumindo uma expressão atrevida e se aproximando de mim.

– Ponderação. Opulência. Ósculo. Célere.

– Inócuo. Incólume. Supérfluo. Súcia. Pacóvio.

– Vamos parar com isso? – eu sugeri.

– Por quê? Está com medo de perder? – ele sibilou, querendo me provocar.

– Eu nunca perderia para você, Nakamura.

– Porque não? Nossa disputa está bem equilibrada – a menção à palavra “equilíbrio” me deixou brava.

– Para de falar de equilíbrio! Isso me tira do sério!

– Mas o que? Eu sou filho de Nêmese, você deve saber que é natural eu ser obcecado por equilíbrio.

– Mas isso está me perseguindo! Tudo é simetricamente perfeito, tudo é perfeitamente similar! Sabe, recentemente não encontro nada que seja... Assimétrico! E tudo é sua culpa, Ethan Nakamura!

– Como pode ser minha culpa?

– Você com suas noções estranhas de simetria... Para! Nunca quis viver nada desregulado? Desproporcional? Sentimental?

Ele abriu a boca para falar, mas eu o interrompi.

– Porque tudo tem que ser tão racional? Tudo é resultado de uma fórmula matemática, de um algoritmo estranho, ou de uma reação química quando estou perto de você. Porque nada pode ser... Simplesmente... Natural?

– Mas Rachel... O meu equilíbrio... É natural – Ethan argumentou, com a voz desfalecendo. Confesso, senti pena.

– Você não tem equilíbrio. Nada pode compensar a sua índole – eu disse. OK, eu admito, fui cruel.

– A não ser você – ele disse calmamente, antes de vir rapidamente para cima de mim.

Ele direcionou as mãos à minha cabeça, segurando meu pescoço, levantando meus cabelos, e de certa forma eriçando meus pelos da nuca. Eu apenas consegui visualizar seu rosto bonito uma última vez, antes de ele roçar levemente meus lábios. Correspondi, meio que instintivamente. Ele deve ter sorrido, ao notar que eu havia gostado. Ele continuou a me beijar. E foi um beijo doce. Bem doce. Nossos rostos estavam colados, eu era capaz de perceber a serenidade que ele desejava me transmitir. Ele soltou a mão direita que prendia meus cabelos e amavelmente foi descendo até minha cintura. Ele segurou-a de uma maneira bem forte. Só depois deste movimento percebi que meus braços estavam imóveis. Então, abracei-o de um modo um tanto brusco. Acho que ele percebeu isso, pois logo em seguida soltou a mão esquerda, que novamente pendeu em minha cintura. Então finalmente nossos lábios pararam a atividade. O quadro-geral da nossa situação era: ele me segurando pela cintura e eu me agarrando ao pescoço dele. Nossas faces estavam muito próximas, eu podia enxergar sua alma e sentir sua relutante respiração. Seus olhos puxados esboçavam verdade e harmonia.

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– Ethan – eu iniciei – Você gosta de mim?

– Claro que sim, boba. Acho que a pergunta que você quis fazer é se eu te amo.

Eu corei com este comentário. Ninguém nunca me disse isso.

– E como você quis dizer isso, vou te responder. Sim, Rachel Dare, eu sou apaixonado por você.

– Para de fazer esse tipo de comentário, me deixam muito sem graça – eu disse, me afastando.

– Mas é a verdade, oras.

– Mas não me impede de me constranger.

– Eu realmente não te entendo, Rachel Dare.

Sorri.

– Mas fale a verdade, eu beijo muito bem.

– E também é convencido.

– Por isso você não poderia ser mais feliz.

Os céus trovejaram. Ia cair uma baita tempestade. Zeus não está de bem comigo hoje.

– Vamos para algum lugar, vai chover – eu disse. Então caminhamos, apressados, saltitantes, até a casa dele. Não era muito distante de onde estávamos: um lugarejo de campos de trigo. Mas a casa dele estava na cidade.

– Não se preocupe, meu pai não está em casa.

– E por isso eu deveria estar aliviada?

– Suponho que sim!

– Oh Deus.

Entramos na casa dele. Era relativamente pequena. Melhor assim. Compensava o tamanho da minha.

Droga. O equilíbrio novamente.

Nós dormimos na mesma cama, já que fazia frio, mas não aconteceu nenhum tipo de baixaria, juro. E eu agradeço a Ethan por isso. Apenas nos beijamos. E houve uma hora em que achei que não poderia ser mais feliz do que aquilo.