Kibou to Hikari

Capítulo único: Kibou to Hikari


–Por que você me salvou, Takeru?

A pergunta lançou-se no ar, surpreendendo o loiro de tal forma que não pôde elaborar uma resposta de imeditato. Sentou-se de pernas cruzadas no banco de granito e olhou-a atentamente, fazendo menção de falar. Em vez disso, porém, recolheu o chapéu branco de sua cabeça, amassando-o teimosamente com as mãos, com a testa franzida em frustração e os lábios cerrados, como se tentasse evitar de lhe esclarecer a questão.

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–Takeru, diga-me. - Exigiu a menina, apesar de fazer sua petição suavemente. E foi suavemente que ele lhe respondeu:

–Como assim, por quê? Eu te salvei porque você precisava de ajuda. Precisava de mim.

–Sim, e-eu precisava... Muito. - Ela deu de ombros. - Mas, ainda assim, não justifica o quanto você se arriscou, o perigo que você correu... - E a voz dela desvaiu-se. Após um pequeno momento de silêncio entre os dois, o garoto decidiu que enfrentaria aquela conversa:

–O que exatamente você quer saber, Hikari? - Takeru não ousou encará-la.

A morena deu um sorriso fraco e culpado, repleto de preocupação:

– Você arriscou sua vida por mim.

Takeru apenas assentiu, sério, complacente - como se aquilo não lhe importasse. (Até mesmo ele surpreendera-se com tamanha dedicação.) Como se a única coisa que importasse era a segurança da morena de onze anos de idade, e nada mais em todo o planeta. Hikari deixou escapar um suspiro:

–Você arriscou tudo por mim.

–Eu sei. - Foi o que disse.

“E faria novamente.”– Foi o que não disse.

Patamon e Tailmon haviam ido à sala de computação da escola avisar aos outros três que Hikari estava salva. A cima deles, as nuvens traçavam caminhos no céu azul, e a brisa que rodopiava pelo cenário calmo era gentil e fresca. O sol brando da manhã irradiava-se pela paisagem como um manto cálido e translúcido, a palidez da manhã mesclava-se com o breu que se insinuava nas sombras feitas pelos arranha-céus atrás dos dois. Os pés de Hikari encostavam de leve na areia.

E as ondas do mar quebravam-se na arrebentação da praia.

–Por quê? - Ela inclinou a cabeça para o lado, com uma curiosidade quase infantil. Mas o terror ainda espelhava-se no castanho-avermelhado dos olhos dela, cujo brilho estava um tanto mais opaco do que a luminosidade habitual. Mas ninguém poderia culpá-la por isso, após presenciar tanta escuridão.

Takeru virou-se para mirá-la com atenção.

E Hikari confundiu-se quando um leve rubor lhe invadiu as bochechas.

–Eu... Já disse. - Sorriu timidamente.

‘-Eu me importo demais com você para deixar qualquer um levá-la de mim sem uma luta antes!’

–Bem. - Hikari estava disposta fazê-lo dizer por completo o que quer que ele estivesse escondendo. Mal sabia ela que o próprio Takeru ainda não compreendia exatamente o sentimento que escondia. - Você poderia ter chamado os outros. Mas... Você preferiu vir sozinho me salvar, apesar de poder chamar o onii-chan.

–Taichi não vai conseguir estar aqui o tempo todo. - Takeru retrucou, convicto. Com essas palavras, Hikari estremeceu de leve. O loiro tinha razão: há muito seu irmão deixara de estar sempre presente para cuidá-la. - Não adiantaria chamá-lo.

–Eu sei. - O sussurro foi cortante. - E também sei que preciso parar de depender dele, mas... É difícil. - Comprimiu os lábios. - O onii-chan sempre esteve comigo, sempre me protegeu, cuidou de mim quando fiquei doente, e eu gostaria tanto de mostrá-lo que posso ser tão forte quanto ele... M-mas eu acho que não sou. Eu sou fraca.

O loiro grunhiu: - Não diga isso, Hikari! Pare de se comparar a ele! Você é forte em sua própria maneira; é até mais forte que o Taichi! - E retomou o tópico: - Mas a questão não é essa. É que poderia ser tarde demais quando ele chegasse, entende? E... Eu não poderia correr o risco de ser tarde de mais para te salvar...

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Ela completou, ocultando um pequeno sorriso: -... Porque você se importa comigo.

Takeru deu um longo suspiro.

–Bem, sim. Quando Tailmon disse que você desapareceu, meu primeiro instinto foi procurá-la a qualquer custo, mesmo sem os outros. Isso não te incomoda, não é?

–É claro que não, Takeru! Você é meu melhor amigo, e eu também me importo muito com você. - Apressou-se em falar, coisa que o deixou muito aliviado. Mas não completamente satisfeito:

–Então, qual o problema?

Hikari hesitou. Mas, por que, exatamente? Ela sabia que podia confiar nele para tudo, e contá-lo o que quisesse, que ele iria ouvir com muita atenção e ainda aconselhá-la com sensatez. O loiro, além de amigo de infância, era seu maior confidente e companheiro. Encarou-o, encontrando aquele olhar gentil e motivador, e decidiu falar:

– Aquele mar, aqueles seres estranhos de agora pouco... Eu tinha pesadelos com eles. Pesados horríveis. E eles diziam que ninguém nunca poderia me salvar. Mas eu não acreditei. Pensei que onii-chan viria me salvar, como fazia há três anos. Mas ele não veio - quem veio foi você, Takeru. E eu me sinto, mesmo, muito lisonjeada por ter alguém que se importe tanto assim comigo. Mas... - Juntou as mãos com força sobre os joelhos e respirou fundo. - Eu odeio isso.

–Odeia o quê, Hikari?

–Que você se arrisque por mim!

–Hmmm? - Takeru piscou, atordoado e pensativo. Observou que o lábio inferior da menina tremia levemente enquanto ela falava, encarando seus sapatos, com os pequenos punhos cerrados.

–Você arriscou a sua vida. - Ela repetiu, quase transtornada. Cauteloso, ele fez que sim com a cabeça, e ela prosseguiu com uma angústia precoce. - Por mim. Para me proteger! Você foi a um mundo completamente estranho, sem saber se poderia retornar, só porque eu estava lá! Como se eu fosse importante a esse ponto!

-Você é! - Ele interrompeu, firme, mas ela não lhe deu ouvidos.

-E se você tivesse se machucado quando voou em Pegasumon? E se você tivesse ficado preso lá, com Patamon, para sempre? E se tudo tivesse sido uma armadilha do Imperador? Não poderia suportar se algo te machucasse enquanto você me protegesse... - Confessou. - Tenho medo de algo ocorrer a você, Takeru! Arriscar-se tanto por mim...

–Eu fui atrás de você porque eu quis! Hikari, pare de falar como se não valesse apena arriscar-se por você! - Ele tentou, mas a menina não havia terminado ainda:

–Eu jamais me perdoaria se eu me tornasse um fardo para você também!

Uma lágrima percorreu a bochecha dela, que estava trêmula. Takeru tratou de secá-la gentilmente com a manga da camisa.

–Você não é um fardo para mim! - Aborrecia-se com aquela conversa. Mas sorriu levemente, com o intuito de tranquilizá-la: - E nunca será, Hikari, eu prometo. Tenho certeza que Taichi pensa assim também. E não vejo você como alguém que preciso aturar. Eu realmente me importo com você. Você é a nossa Luz. Somos amigos, e amigos cuidam um dos outros, certo?

–C-certo. - Ela fungou, corada de forma imperceptível. - Amigos cuidam um dos outros.

–Nós podemos nem ao menos saber o que acabou de ocorrer, mas, sinceramente, eu não me importo, porque eu consegui te trazer de volta. Você está segura agora... E não precisou de seu irmão mais velho para isso.

–Eu precisei de você, Takeru. - “E ainda preciso.” Franziu o cenho: - Não consegui por minha conta.

–Ninguém pode fazer tudo só, nem mesmo você. - Ele disse suavemente. - Pode até demorar um tempo para você se acostumar a não ter o Taichi sempre, mas todos nós precisamos do apoio dos nossos amigos para lidarmos com certas situações que ainda não podemos suportar sós. E eu... - Desviou seu olhar por um momento, os olhos azuis estreitados.

Takeru fitava as ondas do mar com raiva; como se elas fossem tentar tomar Hikari uma segunda vez.

–Você...? - Escutando com atenção, ela o incentivou a falar.

–Eu... Caso aquelas coisas voltarem a te perseguir no futuro... - Apertou os punhos. Respirou fundo. Aquela ideia verdadeiramente o apavorava. - Eu só quero que você tenha certeza...

Docemente: - Sim?

–Eu vou estar sempre aqui quando você precisar de mim, Hikari.

Ele havia falado aquilo com relutância. Não por não estar falando a verdade - ele não sabia por que nem como, mas jamais havia sido tão sincero -, mas sim por pura timidez. Hikari era sua amiga. Sua melhor amiga. E. Não que aquilo fosse pouco: sua ligação com Hikari era, na verdade, uma das maiores coisas de sua vida. Mas, por enquanto... Os dois tinham apenas onze anos de idade. Aos oito, ele havia jurado protegê-la. Eram, após três anos, ainda, crianças. Mas então o que era aquilo dentro dele? Era aquilo...

Aquilo que ligava os dois mundos.

“-O amor!”– Dissera Tailmon, cerca de uma hora antes. Será?

Mas a amizade dos dois - ela era infinitamente preciosa.

–Obrigada, Takeru. - O sorriso de Hikari era tão cheio de luz que ele não conseguiu evitar de devolvê-lo abertamente. E sussurrou, com sua típica voz melodiosa, sábia e suave: - Sei que, se aqueles seres vierem atrás de mim, um dia... - Fechou os olhos pacificamente. - Se ainda não puder me livrar deles por conta própria... Você estará aqui para me ajudar, assim como você faz desde três anos atrás.

Ele assentiu, determinado, mas ainda bem reservado, falando bem baixo:

–Agora existem outras pessoas para estarem com você, para lhe cuidarem e lhe protegerem. E eu definitivamente sou uma delas.

Hikari sorriu de novo e levantou-se do banco, apreciando a brisa marítima. Takeru imitou o gesto. Uma calmaria tão imensa instalara-se no local enquanto eles conversavam, levando embora as mágoas e as preocupações que os atormentavam. E, quase que nervosamente, ele murmurou:

–Acho melhor voltarmos para a escola e contarmos aos outros que está tudo bem. - Ajeitou o chapéu e resolveu brincar: - Daisuke deve estar morrendo de preocupação agora.

–Sim. - A morena disse sarcasticamente: - ‘A garota dele’ desapareceu com o ‘Tajeru’, não foi?

Takeru riu de leve: - É. E foi um desespero para resgatá-la, sabia? Mas valeu apena; e ela está bem agora, não está?

–Estou. - O loiro surpreendeu-se com tamanha firmeza. Nessas horas, lembrava muito seu irmão mais velho; a coragem que ardia em chamas no coração da menor era a mesma. Só que a chama dela, de vez em quando, necessitava de alguém para ajudá-la a acender.

E a sua luz iluminaria mundos.

–Tem certeza? - Quis certificar-se.

– Estou muito bem, obrigada. - Hesitou por um breve momento. - Acho que podemos...

De repente, sem aviso nenhum, Hikari tomou a mão de Takeru na sua, tão gentil, inocente e alegremente que ele deixou um sorriso bobo ocupar sua face. Andaram assim, conversando, até a escola, quase prolongando a caminhada para poderem ficar na companhia um do outro por mais tempo, como os inseparáveis melhores amigos que eram.

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Assim que chegaram lá, Hikari abraçou-o com rapidez, sem pretenções, deixando transparecer sua gratidão enquanto dizia em seu ouvido, no que ele completou logo em seguida com mais um sorriso:

–Hikari to Kibou...

– ...issho ni eien ni.

Luz e Esperança.

Juntos para sempre.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.