Life Streets

Fugindo para o lugar certo.


De novo. Lá estávamos nós correndo pelo bairro, de novo! Se em dois dias nós já havíamos corrido pelo menos oito quarteirões, quantos nós correríamos em uma semana? Ou em um mês? Não quero nem pensar quando completar um ano.

Desse jeito vou virar maratonista, porque nem ladrão corre tanto quanto nós corríamos naquele momento. O cachorro estava logo atrás de nós, podendo nos alcançar a qualquer momento e talvez fosse só impressão minha, mas podia sentir um instinto assassino me rastreando a quilômetros de distância.

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Ou seja, fodeu. E para ajudar, vi Jack me ultrapassando em alta velocidade, alcançando as meninas e me deixando para trás como isca. É claro que ele faria isso, afinal o cachorro estava correndo atrás de quem mesmo? Uma dica; é a pessoa que vos fala no momento.

Meus pés batiam contra a calçada de concreto num ritmo acelerado, fazendo barulho quando tocavam no chão. Na verdade os únicos sapatos que não faziam barulho ali eram os de Merida, que por algum motivo, tinha um tênis silencioso de mais para a ocasião. Talvez fosse a experiência em fugas pelo bairro, porque da ultima vez que fugimos, ela quem nos guiou para o caminho certo e nos livrou do perigo.

Suspirei rapidamente e tomei velocidade para não ser deixado para trás em companhia do cachorro sanguinário. Alcancei o lado de Punzie que corria sendo puxada por Merida que aparentava estar planejando algo para uma fuga estratégica.

Como eu soube disso? Ela estava sorrindo. E quem estaria sorrindo no meio de uma corrida contra um cachorro pelas ruas do seu bairro no meio da noite sem estar planejando algo? Merida.

– Eu tenho um plano! – Viu só? Não disse que ela estava planejando algo? - Me sigam, sem fazer perguntas. – A ruiva disse sem olhar para ninguém, mas do mesmo jeito acenei com a cabeça concordando com ela.

Passamos pela frente da casa 2405 e não paramos até virarmos a esquina para a esquerda. As meninas estavam na frente de novo e a única coisa que eu podia fazer naquela hora era segui-las. Elas poderiam parar no quinto dos infernos que me teriam logo atrás, com Jack de brinde se duvidar.

Corremos ainda mais rápido quando o sinal de outro semáforo ficou vermelho, atravessamos a rua e chegamos na outra calçada em questão de segundos, sem pararmos nem um minuto para olhar para trás. Ouvimos um latido alto se aproximando pela nossa direita e senti minhas mãos começarem a suar em pânico.

Nesse momento vi Rapunzel tirando o enfeite que prendia seus cabelos, deixando os fios loiros soltos no vento, se virando e jogando sua presilha bem no meio do rosto do cachorro, que soltou um ganido de surpresa e dor.

– Boa loira! – Ouvi Jack exclamar animado quando viu a cena. – Bela pontaria! – Punzie riu alto, se gabando por ter feito algo útil naquela situação. Viramos em outra esquina o mais rápido que pudemos, mas já havia algum tempo que eu estava perdido e não saberia voltar sozinho para casa. - Onde vamos? – Jack gritou, ignorando que Merida havia proibido alguém perguntar qualquer coisa para ela naquele momento.

– Calado! – Ela reclamou, entrando em um beco no meio de duas lojas da quadra em que estávamos. Apoiamos-nos na parede para tomar folego por algum tempo e o cachorro passou reto, rosnando e mostrando os dentes afiados para quem estivesse no meio de seu caminho. – Certo, acho que por enquanto escapamos. – Merida sorriu vitoriosa, colocando as mãos na cintura e se virando em nossa direção.

Jack se apoiava nos joelhos, respirando rápido e um pouco suado pela corrida. Já Rapunzel estava tirando uma das sapatilhas que estava usando para olhar seu pé que talvez estivesse machucado. Eu apenas estava quase jogado perto da parede, com as pernas bambas e com o coração na mão.

– Já cansaram? – Ouvi Merida se gabar. – Como vamos dar uma espiada no show se você estão morrendo?

– Quem está morrendo aqui? – Me pronunciei, arrumando minha postura e tentando inutilmente ajeitar os cabelos. A ruiva sorriu animada para mim, dessa vez sem malicia ou maldade alguma. Os cachos vermelhos balançaram com uma brisa que passou refrescando a noite, emoldurando o rosto dela de um jeito totalmente bagunçado e natural.

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E lindo.

Balancei a cabeça tentando não olhar de mais o que não deveria, se não levaria um soco bem no meio da cara, e também pra bagunçar os cabelos. Mas de alguma forma percebi algo legal.

– Então, vamos? – Percebi que Merida tinha um sorriso bem bonito quando não tentava planejar algo para nos matar.

Santo Odin, que lugar era aquele?

Pessoas vestidas com roupas estranhas, coloridas, rasgadas e remendadas estavam por toda parte pulando e dançando ao som de uma música desconhecida com ritmo de discoteca. Grudei meu braço no de Rapunzel apenas para garantir que não me perderia no meio daquele monte de gente esquisita.

Aquilo provavelmente era chamado de “rave”, mas só ouvi falar dessas festas pela televisão quando uma propaganda passava anunciando o preço dos ingressos. E segundo meu pai, em festas assim, garotas beijavam garotas que beijavam garotos que beijavam outros garotos que voltavam a beijar garotas.

– Thor todo poderoso, onde fui me enfiar? – Gritei para quem conseguisse ouvir, o que poderia ser muito difícil. Estávamos no tal bar em que Astrid faria show com sua banda e o som que tocava estava muito alto, me deixando com dor de cabeça. – Onde Astrid está? - Perguntei perto do ouvido de Rapunzel que deu de ombros, confusa.

Deslizávamos pelo meio da multidão rapidamente, já que não poderíamos demorar muito tempo naquele lugar. Antes de entrarmos no bar, Merida ligou para sua mãe avisando que a fila do mercado estava gigantesca e que provavelmente demoraria meia hora para ir à locadora pegar o filme. Aquela foi uma desculpa aceitável, comparada a primeira que ouvi as duas inventarem.

Chegamos perto do palco e olhamos ao redor procurando por Astrid ou Flynn, mas não encontramos nenhum dos dois por ali. Resolvemos esperar alguns minutos naquele mesmo lugar e se o show não começasse em dez minutos iriamos embora.

E foram os dez minutos mais torturantes da minha vida! Gente se esfregando em mim, se balançando e fazendo eu me balançar, aquele cheiro de bebida por todo lado e a música alta de mais.

Já haviam se passado quatro minutos e minha cabeça começava a latejar por causa do cheiro forte, então percebi que Rapunzel não estava mais com o braço preso ao meu.

Eu havia me perdido! Como os encontraria de novo? Onde Jack havia se metido? Merida, onde estava? Até o maldito cachorro havia sumido quando eu mais precisava dele!

Respirei fundo algumas vezes, tentando manter a calma e pensar em coisas positivas para não piorar minha situação, então percebi; Não tinha nada de positivo para pensar!

Arregalei os olhos, entrando em pânico e passei a procura-los no meio daquela bagunça como uma criança perdida em um mercado. Me desesperei quando não encontrei ninguém familiar em minha frente e nem dos meus lados, então me virei e me deparei com uma cena estranha.

Rapunzel dançava conforme a batida da música, balançando seus cabelos para todos os lados. Jack tentava acompanhar o ritmo dela, mas não tinha todo o gingado que era necessário para dançar aquilo. Já Merida estava tomando refrigerante em uma latinha de coca-cola, se balançando animadamente perto dos outros dois.

Sim, eles estavam dançando!

Tampei meu rosto com uma mão, indignado com o desespero que senti em vão por pensar que estava perdido. Comecei a me sentir idiota, mas fui puxado para o meio dos três.

– Vem dançar Soluço! – Rapunzel disse, dançando em minha frente. – Se solte! – Ela segurou minhas duas mãos, tentando me fazer dançar.

– Se anime Soluço, temos três minutos para nos divertir! – Merida gritou, jogando a latinha para trás sem se importar se fosse acertar alguém, enquanto Rapunzel balançava meus braços para cima e para baixo no ritmo da música. – Seu amigo Frost tem mais ritmo que você, fala sério! - Jack se aproximou da ruiva fazendo uma dança esquisita e passando a mão em frente ao rosto apenas com dois dedos abertos, dando espaço para os olhos. Merida apenas o imitou, acompanhando-o e depois mudando o passo de dança para um mais complicado.

– Eu sou o Rei das Pistas, baby! - As garotas riram alto da dança estupida que Jack fez ao tentar imitar Merida, me fazendo rir junto com elas. Por fim, resolvi participar da brincadeira junto com Rapunzel, o que rendeu boas risadas de todos nós.

Com toda certeza já havia passado de dez minutos, estaríamos encrencados quando voltássemos para casa e encontrássemos Elinor totalmente furiosa conosco, mas naquele momento o que importava para mim era aproveitar aquela música esquisita que estava tocando com meus amigos.

Girei Rapunzel pela mão quando a música estava quase no fim, pensando que teríamos que ir embora sem ver o show de Astrid ou de Flynn. Só que não seria tão ruim como era antes, porque agora eu havia me divertido.

– Vamos trocar de casais! – Rapunzel disse, me puxando para perto de onde Jack e Merida estavam dançando. – Hey, vamos trocar! – Ela gritou para os dois, mas o que aconteceu a seguir não teve nada haver com dança.

Jack girou o corpo para trás, acertando um soco bem no rosto de um cara que estava muito próximo de Merida em todas as danças que tivemos. O impacto jogou o cara no chão, abrindo um grande circulo na multidão.

– Não tem vergonha dessa sua mão boba não? – Jack gritou para o cara jogado no chão. – Da próxima, vai passar a mão na bunda da sua mãe, babaca! - Olhei para Merida que estava com o rosto abaixado e totalmente vermelho, talvez de raiva ou de vergonha, não sei bem ao certo.

– Jack! – Rapunzel o chamou, se moveu de meu lado e correu em direção à Jack, parando ao lado dele segurando seu braço. Só então percebi que a confusão apenas estava começando. – Vamos sair daqui, rápido! – Ela suplicou, olhando para mim e pedindo ajuda ao ver que um grupo de homens se juntou em frente ao amigo caído no chão.

Aproveitei essa maravilhosa hora e pensei: Pronto, agora que eu morro de vez!

Olhei para a encrenca que se formava em frente de Jack, olhei para Merida, olhei para o palco e vi que não havia esperança para nós.

Poxa vida! Me livro de um problema e ganho outro de brinde, que lindo! Santo Thor, quando essa maré de azar vai acabar?!