Medicine Love - Crônicas De Amor E Superação

Segundo Capítulo: A Segunda Chance


Um breve estalar de dedos e o barman já aparecia para completar o copo de sua cliente. Já era o terceiro shot de tequila que a loira tomava, mas aquilo não estava surtindo nenhum efeito sobre ela. O som pesado e a pouca iluminação do bar onde se encontrava, tornava a solidão de Ino mais presente e – de certa forma – mais aceitável. Era uma sexta-feira á noite, aquele bar era muito frequentado pelos soldados do regimento que a tenente servia como fisioterapeuta, então, era provável que alguns dos rapazes viessem se engraçar com ela.

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Mas hoje não era um dia para flertes e risos. Hoje, era um dia de luto. Poucas horas atrás, a Yamanaka havia perdido três bons homens para a pneumonia. Tudo começou com uma simples missão de resgate nas águas frias ao sul do pais, mas o que começou com uma simples gripe evoluiu para um caminho sem volta para aqueles homens. “Doença desgraçada!”, praguejava a loira, mirando o copo em suas mãos com pesar.

Ela sentia uma vontade enorme de chorar, de jogar tudo pro alto e pedir suas contas no regimento. Na verdade, ela pensava em pedir contas da vida. Ino Yamanaka era uma mulher que não poderia se queixar por não tentar obter sucesso, afinal tudo o que ela poderia fazer para auxiliar e cumprir bem em sua função ela fazia sem pestanejar. Tudo o que ela queria era um sinal de melhoria para sua vida, embora já estivesse considerando mesmo em desistir. Mas, não seria hoje...


– Hey, e aí, Ino-chan! Como vão você e essa sua bunda deliciosa? – perguntou um homem que se apoiou no balcão por cima dela – Tomando uma tequilinha das boas e nem me chama? Que feio, loira...

– Kankurou, se você não fosse o irmão do capitão Sabaku, eu juro que chutava o seu saco até ele virar purê... – disse ela, virando-se para o homem com seu sorriso mais sarcástico estampado na face – Mas como o mundo não é perfeito como eu quero, peço apenas que me deixe em paz hoje. Só hoje, grandão...

– Mas o que é isso? – perguntou ele, cruzando os braços á frente do peito, com um leve tom de desdém – Uma mulher quando ‘toma todas’ sozinha é porque tá na deprê...

– Que bom que você percebeu, tenente. – respondeu a loira, voltando sua atenção para o balcão mais uma vez – Se entendeu mesmo o recado, me dá uma folga e ‘zarpa’.

– Não quer mesmo a minha companhia? – perguntou o moreno, sussurrando maliciosamente no ouvido dela.

– Ouviu o que a tenente Yamanaka disse, Kankurou. Então, afaste-se...

Ao ouvir a voz torpe do capitão Gaara no Sabaku, tanto o seu irmão quanto a fisioterapeuta se ergueram de imediato e bateram continência para ele. Kankurou podia ser o mais velho dos irmãos Sabaku – apenas por 3 anos de diferença –, mas não era idiota de desrespeitar o capitão do seu regimento, então deu-se por desentendido e foi se juntar á alguns outros soldados no outro canto do salão, deixando o capitão e a tenente sozinhos no balcão.

Pensando ter suas atribulações por encerradas, a loira voltou á se sentar no bar e pregou seus olhos azuis no copo ainda intocado. Qual não foi a sua surpresa em ver o ruivo sentar ao seu lado.


– Se ele voltar á incomodar, por favor, venha e registre uma queixa formal no meu escritório, Yamanaka. – disse o ruivo, erguendo uma mão para chamar o barman – Whisky duplo, sem gelo.

– O tenente Sabaku não me incomoda, senhor. Somos bons colegas de trabalho, mas hoje eu não estou com apetites para as brincadeiras dele. – respondeu a loira, sem encarar seu superior nos olhos.

– Compreendo. – murmurou ele, recebendo o copo com o líquido escuro e virando-o num segundo, logo pedindo uma segunda dose.


Em menos de um minuto, o capitão já havia virado sua segunda dose. Foi aí que a loira percebeu que o belo ruivo não estava bem. Poderia ser sua forma de prestar luto aos mortos? Não... Pelo que conhecia de Garra no Sabaku, era pouco provável que um homem frio e calculista como ele tivesse qualquer outra aptidão ou sentimento, que não o puro instinto da guerra. Não... Ele parecia estar se segurando para não gritar. A respiração dele estava entrecortada, os músculos estavam rígidos. Os instintos medicinais de Ino berravam para ela, dizendo que o homem não estava bem.


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– Capitão... – começou ela, colocando sua mão delicadamente sobre o braço dele – Senhor, está tudo bem?

– Não. Me. Toque. – sibilou Gaara, puxando o braço para junto do corpo – Por. Favor. Não. Me. Toque.

– Tudo bem, Senhor, eu não vou mais tocar... Mas me diga o que está havendo... – suplicou Ino, virando-se para ele com uma expressão aflita.

– Dor... Está doendo... – sussurrou o ruivo, olhando para ela com seus olhos acquamarine repletos de angústia.

– Onde, Capitão?! – questionou a loira, mirando-o por completo para ver se achava algum tipo de ferimento aparente – O senhor está ferido?

– Dói. Tudo. E. Dói. Pra. Cacete. – sussurrou ele, antes de tudo se tornar um borrão á sua frente.


No segundo seguinte, o capitão Gaara simplesmente desmaiou sob o colo da tenente Yamanaka, que já berrava para que seu irmão preparasse o jipe para voltarem imediatamente para o regimento. Kankurou era bem mais forte e parrudo que Garra, então, carrega-lo nos ombros foi como levar um saco de batatas nas costas. Os três voltaram para o regimento do exército e levaram o capitão para o hospital que dava suporte ao local.

Nesse meio tempo, o ruivo gemia de dor, mas tentava fazer com que tudo com o mínimo de descrição. Porém, a dor que lhe fustigava era lancinante. Os médicos do hospital decidiram dopá-lo para que pudessem examiná-lo com exatidão. E após horas de exames e mais exames, os médicos não conseguiram chegar á nenhuma conclusão efetiva. Nenhuma lesão, nenhum edema, nenhum tipo de moléstia.

Todos começaram á pensar que o capitão havia finalmente enlouquecido de vez. Mas havia uma pessoa entre todos que ainda acreditava que aquele homem frio e calculista, ainda poderia ser salvo. Foi nesse momento que Ino começou sua busca particular por respostas. E alguns dias depois de muitas pesquisas, a fisioterapeuta entrou esbaforida no consultório médico onde se encontrava a equipe multidisciplinar que tratava do caso do capitão adoentado.


– FIBROMIALGIA! – berrou a loira, estendendo um chumaço de folhas para o médico responsável pelo caso – O capitão está com fibromialgia!

– Mas que ideia é essa, Yamanaka? – perguntou o médico, incrédulo.

– A fibromialgia é uma doença crônica que cursa com dor muscular generalizada e sensibilidade excessiva em muitas áreas do corpo. Muitos pacientes com fibromialgia também sofrem de fadiga, sono excessivo, dores de cabeça e distúrbios do humor, como depressão e ansiedade. Exatamente tudo o que o capitão Sabaku está apresentando nesses últimos tempos! – explicou a loira, tentando conter a ansiedade – Mas, apesar de todos esses sintomas, não há alterações detectáveis nos exames laboratoriais nem nos exames de imagem ou outros exames. Além da dor, mais nada é detectado através do exame físico. Biópsias realizadas nos músculos, tendões e ligamentos nada revelam, não há sinais de inflamação, não há lesões e muito menos alterações estruturais. Por isso não conseguimos encontrar a resposta do que ele vinha sentindo antes, doutor.

– Bom, isso pode ser uma hipótese, tenente, mas também pode ser uma questão psicológica, como venho suspeitado. – respondeu o médico, ainda um tanto contrariado.

– Exatamente pela falta de achados objetivos, a fibromialgia era no passado considerada uma doença de natureza psicossomática. Seu reconhecimento como "doença real" só foi obtido em 1987. – respondeu Ino com uma expressão teimosa, apontando nas folhas os estudos feitos sobre o assunto – As atuais teorias sugerem uma alteração nas áreas cerebrais responsáveis pela percepção da dor. O cérebro dos pacientes com fibromialgia parece ser excessivamente sensível aos estímulos dolorosos que chegam a si. Isso significa que estímulos indolores para a maioria das pessoas são interpretados como dor pelo cérebro do paciente fibromiálgico.

– Bem, então o que sugere que façamos, tenente? Eu não quero continuar com essa dor maldita para sempre...


Todos se viraram para Gaara no mesmo instante em que ele se levantava da cama com dificuldades. Algo dentro do peito da jovem fisioterapeuta se apertou. Era simplesmente horrível ver um homem forte e viril como Gaara no Sabaku definhando daquele jeito.

Mas, ali, Ino pôde perceber algo á mais nos olhos do capitão. Era como se ele estivesse se apoiando nela e lhe dando apoio ao mesmo tempo. E então, ela decidiu que iria tentar mais uma vez.


– O tratamento é idealmente feito com uma equipe multidisciplinar, capitão. Com um reumatologista, um fisioterapeuta e um psicólogo ou psiquiatra. – sugeriu Ino, aproximando-se cautelosamente do homem – Entender o que é a doença, acabando com pensamentos negativos, ajuda muito a combater os sintomas.

– Você nem sabe que eu não vou virar um Ursinho Carinhoso do dia pra noite, Yamanaka. – murmurou o ruivo, concedendo á ela um breve sorriso sarcástico.

– Nem queremos isso, capitão. Com todo o respeito, senhor, creio que não leve a mínima vocação para ser um ursinho, muito menos carinhoso... – respondeu a loira, virando o rosto para esconder um sorriso debochado. - Entretanto, não existe cura fácil ou rápida para fibromialgia. E apesar de sentir-se persistentemente cansado e dolorido, não fazer nada ao longo do dia tende a piorar os sintomas. Nada é pior para os sintomas da fibromialgia do que o sedentarismo, senhor.

– Longe de mim, querer entrar em estado vegetativo por conta de algumas dores... – disse Gaara com seriedade, tentando demonstrar algum tipo de força – Eu tenho um regimento para comandar.

– Exercícios físicos aeróbicos e musculação melhoram a qualidade de vida e diminuem a intensidade das dores e a sensação de cansaço. – sugeriu Ino, mostrando algumas anotações que estavam dobradas que estavam no bolso da sua calça – Um tipo de atividade que tem se mostrado muito eficiente é o Yoga, que ajuda a melhorar o cansaço, as dores e a qualidade do sono. Também é importante evitar álcool, cigarros e cafeína.

– Bem... A fisioterapeuta eu já tenho... – disse Gaara, sem olhar para a mulher á sua frente – Quando começamos, Ino?


A loira não pôde deixar de se sentir aquecer por dentro quando ouviu seu primeiro nome ser pronunciado pela voz torpe e sedutora de seu capitão. Aquela era a chance pela qual ela havia ansiado em todo aquele tempo. Com um sorriso verdadeiramente feliz, Ino se aproximou e explicou o programa de tratamento que havia planejado.

Com o passar do tempo, Gaara tinha voltado á pelo menos 75% de sua condição anterior. Todos os dias ele tinha um período de tratamento particular com Ino. A jovem Yamanaka voltara á ser confiante em seus procedimentos terapêuticos e não cansava de buscar novas abordagens para cuidar do ruivo altivo. E foi assim, sem prestar muita atenção no rumo que estavam tomando que o capitão e a tenente se descobriram completamente apaixonados um pelo outro. Os encontros não se resumiriam somente á sala de tratamento, mas acabariam se expandindo para o apartamento dela e algumas vezes para a casa dele, como se não vê-la em todos os momentos fizesse com que ele voltasse á sentir aqueles sintomas horríveis. Já para ela, não vê-lo era como se um pedaço de si estivesse sendo arrancado. Ele não era frio ou rude com ela – muito pelo contrário –, ele tinha para com ela uma delicadeza e um tato inexplicáveis.

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E assim os dois viveram o resto de seus dias: buscando novas maneiras de salvarem um ao outro, tanto com seu amor, quanto com sua esperança na melhoria da vida de ambos.

Afinal, não é todo mundo que tem direito há uma segunda chance...