"Não há fatos eternos, como não há verdades absolutas."

Friedrich Nietzsche.

Na hora do café da manhã as três senhoritas estavam sentadas a mesa, com as roupas engomadas e olhares de cumplicidade. Pelas feições da mãe, ela havia percebido qual o motivo da pequena reunião na noite anterior, mas decidia não comentar nada na presença do pai, afim seria uma atitude que só causaria desconforto e poderia pesar em um dos lados menos gentis da ponderação do pai sobre o assunto.

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O pai logo se retirou e pediu que não o perturbassem na biblioteca, porque tinha assuntos complexos com o contador, o Sr. Willoughby, ficou claro para as meninas que por conta da contabilidade que o pai analisava cuidadosamente como ditador dos ventos dos negócios. Elas não iriam a Londres.

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As tardes daquela semana passaram-se monótonas e tediosas, o a expressão do pai em cada refeição parecia fazer definhar a cega esperança que com dificuldade respirava no peito delas. Nenhum dos criados foi importunado com perguntas sobre a correspondência, não viam como Digory pudesse alterar algo que se fazia tão presente no ambiente da casa.

Elas visitaram alguns vizinhos com a mãe, ficaram momentaneamente felizes pelo sucesso que o filho dos Richards teve em Londres e agora engrenara em um emprego como advogado, era uma grande conquista, mas não interessante o suficiente para aqueles rostos bonitos segurarem um sorriso por mais que meia visita. As chuvas que anunciavam o começo significativo do outono, impediram ainda a concretização de qualquer outro plano da mãe para manter as três senhoritas ocupadas.

A carta salvadora chegou enquanto as senhoritas ainda dormiam e nem em seus sonhos alguma delas pode sonhar que algo tão esplendoroso e notável esta prestes a ser anunciado. Era uma manhã timidamente nublada, típica no sul, ainda se viam os resquícios da chuva que caíra na noite passada e o leve amarelar das folhas de algumas árvores. O carteiro parou o cavalo aos pés da escada que ficava de fronte para a porta principal, enquanto a criada pegava vagarosamente as cartas com os braços cansados em troca deu alguns xelins ao homem, depois de entrar só as posicionou na bandeja e levou a para a biblioteca. Nada foi anunciado antes da hora do almoço e a ignorância e a resignação reinou em suas mentes por todos os minutos perdidos.

"Tenho boas novas” falou o pai pedindo atenção “já que Digory e Rose estarão disponíveis pelos próximos dois meses e concordaram que poderiam levá-las consigo para visitar sua tia Anna em Londres sem prejudicar meus negócios." Ele que estava de pé, voltou a sentar-se com um sorriso e regozijando-se por ser uma situação favorável a todos.

A euforia manifesta pelas meninas e a esposa foi tanta que perderam o apetite e se não fosse uma falta de decoro e uma atitude desesperada, subiriam nesse momento para começar a arrumar suas bagagens. Porém ao fim limitaram-se a listas mentais e a perguntas curtas sobre os detalhes.

"Quando Digory virá?" perguntou Claire segurando a animação.

"Acredito que em pouco mais que uma semana" respondeu o pai em meio as garfadas.

"E quanto dará as meninas para comprarem vestidos e sapatos novos? Sabe que não podem se apresentar desapropriadamente nos bailes e jantares" mendigou a esposa enquanto olhava para a comida do prato, sem fome.

"Acredito que o suficiente para que comprem com moderação" a resposta vaga pareceu enraivecer a esposa, que queria ver as filhas casadas com cavalheiros das altas camadas de Londres, e decepcionar as filhas que contavam com uma grande quantia para usufruírem.

No fim da refeição elas subiram paras suas respectivas acomodações, por um momento previram uma guerra pelas empregadas, mas a batida na porta anunciava um compromisso mais importante. Era o Sr. Smith, o pupilo do reverendo Murph, acompanhado do próprio reverendo e a filha dele, Judith Murph.

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Ninguém esperava pela visita, porque não fora marcada, os três passeavam e sabendo que o Sr. Murph queria deveras falar com o Sr. Hill sobre um investimento recente feito na sua propriedade, acabaram por bater-lhes à porta. Todas entraram na sala e fizeram-lhes simples reverências que foram retribuídas pelo trio.

"Muita gentileza de nos visitarem Sr. Murph, Srta. Murph e Sr. Smith!" falou a Sra. Hill com um sorriso forçado que sempre acontecia quando tinha visitas inesperadas "Sr. Murph o meu marido deve estar aqui em um minuto."

Como garantido, o Sr. Hill apareceu em pouquíssimo tempo, logo os grupos se dividiram, os homens a mesa e as mulheres nos sofás de linho. A conversa fluía com certa dificuldade no campo feminino ate que a empregada trouxe o chá que Alice insistir em servir.

Após entregar a do Sr. Hill e Murph suas xícaras, caminhou com a do Sr. Smith e derrubou a porcelana ao se desequilibrar enquanto tentava despender a fivela do sapato que ficara presa em um dos fios da franja do tapete. A Xícara junto com o pires se estilhaçaram em mil pedaços e alguns atingiram os pés da menina. O Sr. Smith mais que todos, ficou exasperado com o ocorrido, com ajuda de Clarisse a sentou no sofá e pediu para que Tânia trouxesse os materiais para que ele retirasse os pedaços que ainda estavam presos a pele da "acidentada" como ele se referia.

Ele não descansou enquanto o trabalho não foi terminado, parecia sentir mais dor com os gemidos de Alice que por qualquer outro motivo, parecia até sentir mais dor que ela própria. Se alguém afirmasse que o Sr. Smith e a Srta. Murph até aquele momento Clarisse teria concordado, mas agora era óbvio que estiveram enganados todo o tempo.

A visita não durou mais que isso, depois que relutantemente o trio saiu, todos foram se arrumar para o jantar, exceto Alice que logo começo escrever uma carta para o presbitério para agradecer o comprometimento do Sr. Smith, mas teria que adiar a visita matinal para o fim da tarde para que ela pudesse estar restabelecida, não do machucado, mas dos próprios olhos do moço.

A Clarisse era ao mesmo tempo encantador e terrivelmente amargo os olhares que ela viu entre a irmã e o visitante, Alice estava conhecendo o amor, justo a que mais o merecia. Mas isso custava a Clarisse o fato dela ser obrigada a se casar para que a irmã o fizesse e no momento não havia ninguém menos inclinada que ela ao casamento. A ideia de um casamento arranjado a repudiava, mas e se fosse para o bem dela? Ou mais importante, de sua querida irmã?

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No fim da noite somente Tânia tinha forças para obrigar a criada a começar a arrumas seu baú, enquanto todos os outros se preparavam para dormir, Tânia esbravejava pelo corredor pela ineficiência do serviço e a empregada quase desistindo tornava a reorganizar as saias e novamente era mandada pela patroa refazer o trabalho. Clarisse mesmo tendo dificuldade para dormir por causa das falas e barulhos produzidos, ela sabia o quanto Tânia queria ir a Londres, mas não vários dos motivos sibilinos da prima.