O Lado Cinzento
Como guardar um segredo
25. Como guardar um segredo
“Nada nos deixa tão solitários quanto nossos segredos.”
Daniela Filipini
— Por que é que as pessoas guardam segredos, Sirius?
Ele engasgou-se com o chá enquanto lia o jornal e eu dei um meio sorriso pela reação dele. Estávamos a tomar o pequeno-almoço e aquele silêncio, entre nós os dois, estava a matar-me aos poucos, fazendo-me lembrar da conversa que tinha tido com o Riddle.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!— Guardar segredos? Como assim?
Mordi o lábio, pensativo, e olhei para o teto, tentando saber qual era a melhor forma de lhe dar uma dica, uma simples oportunidade de eles contarem a verdade, sem dizer que eu sabia.
— Simplesmente, por que é que se guardam segredos?
O Sirius estreitou os olhos, pousando o jornal enquanto me analisava, provavelmente tentando concluir o motivo da minha pergunta.
— Posso presumir que esses segredos são guardados por pessoas que desejam bem à pessoa de quem os estão a esconder?
Encolhi os ombros, sem saber muito bem o que dizer.
— Acho que sim.
Ele olhou para o chá e, passado uns segundos, voltou a olhar para mim, com uma convicção que eu achei estranha para aquela conversa.
— Então acredito que seja para proteger essa pessoa.
— Proteger? Acreditas mesmo que esconder informações protege alguém?
Sirius assentiu com a cabeça, observando-me com uma seriedade que era estranha na face dele.
— Sim.
Engoli em seco ao ver a determinação com que ele disse aquela única palavra.
— Isso é idiota, Sirius. Se os segredos são sobre essa pessoa, ela tem direito a sabê-los.
— Posso concordar que a pessoa até pode ter direito a sabê-los mas eu também acredito que existem alturas para dizer certas informações e, por isso, compreendo quando têm que esperar um tempo.
Expirei, começando a irritar-me pela justificação dele. Então, ele estava a dizer que eles não me achavam preparado para saber certos segredos? Eles nem me conheciam!
— Eu acho que a única pessoa que pode saber se a informação é demasiado ou não é a dita pessoa.
O meu padrinho endireitou-se na cadeira, olhando para mim sério.
— Ai é? Então diz-me uma coisa, Harry. Se tu tivesses uma informação sobre a Rose que sabias que a iria fazer ficar preocupada, mas ela não poderia fazer nada para mudar, tu dirias? Quando tudo o que queres é que ela tenha uma vida calma? Não esperarias para que ela estivesse no seu normal para lhe dizeres isso?
— Eu estou no meu normal! – Murmurei entre dentes e ele deu-me um sorriso de lado como resposta.
— Então nós estamos realmente a falar de ti – ele inclinou a cabeça para o lado, pensativo. – O que é que tu pensas que nós te estamos a esconder?
Olhei para ele em choque por as minhas emoções mais uma vez terem sido mais fortes do que eu e tenha falado mais do que devia. Nem uma manhã tinha aguentado com aquela informação sem lhes dizer nada. Eu não era assim antes…. O que estava a acontecer comigo?
— Harry? – Sirius insistiu, preocupado e eu voltei a lembrar-me do motivo daquela conversa. Eles esconderem coisas de mim.
— Isso são vocês que sabem. O que é que não me estão a dizer?
Ele juntou as sobrancelhas, confuso.
— Do que é que estás a falar? Não estou a perceber nada.
Suspirei, cansado por causa daqueles segredos e, por causa, da minha vida com eles ser muitas coisas, mas simples, não era.
— De informações sobre mim que vocês não me dizem. Porque é que eu sobrevivi, Sirius? Tem de haver uma explicação e eu sei que vocês sabem!
Ele olhou em choque para mim, por eu mais uma vez ter falado sobre aquele assunto. O Sirius, provavelmente, já nem se lembrava da outra conversa que tinha tido com eles…
— O James já falou contigo.
Revirei os olhos, mostrando todo o meu descontentamento com a situação.
— E achas mesmo que eu me acredito no que ele disse? Que segredo é que vocês estão a guardar? Digam de uma vez por todas!
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!— Não sabemos mais nada do que te dissemos. Ainda estamos a recolher mais informações para ter certezas.
— Então digam-me o que desconfiam que ocorreu porque eu sei que vocês me estão a esconder alguma coisa. Olha só para a tua cara! Até ficaste mais branco.
— Estás a fazer confusão. Não sabemos de nada. Ainda estamos a tentar descobrir.
Eu ri pelo nariz e levantei-me, esquecendo-me do meu pequeno-almoço que ainda estava pela metade.
— Muito bem. Vou fingir que me acredito nisso.
Comecei a andar para a sala para ir para o meu quarto, preparar-me para correr e livrar-me daquela irritação toda, no entanto, parei quando o Sirius voltou a falar.
— Por que é que desconfias tanto de nós? Nós só queremos o teu bem.
Cerrei o maxilar, lembrando-me das palavras da Lily do dia anterior.
— Tu não causas só sofrimento! Para de pensar que só trazes miséria e sofrimento para as pessoas que se importam. Eu amo-te, Harry. AMO-TE! Isso é o que importa! Eu não quero saber de sofrimento ou de tu não conseguires confiar. Ok, não consegues confiar e agora? Continuas a ser o meu filho que eu amo. Por isso, por favor, para de pensar que és o culpado de tudo o que ocorre à tua volta.
Por que é que eles não eram consistentes? Davam provas que se importavam comigo, como quando ofereceram a vida deles por mim, mas também davam provas que só me poderiam estar a usar, como quando escondiam a profecia. Eu assim não sabia que haveria de pensar deles, porque por muito que quisesse confiar, não conseguiria calar a minha voz interior enquanto soubesse que guardavam segredos de mim.
— Sirius, como eu disse, vou fingir que me acredito e nunca mais te vou mencionar este assunto – murmurei sério e com calma para ele perceber a gravidade da situação, não tendo coragem de me virar para trás e ver a cara dele, que devia de estar desiludida e com dor. Eu não queria causar esses sentimentos, no entanto, simplesmente, não me conseguia controlar e eu precisava de fazê-los entender que tinham que confiar em mim! – Mas não podes pedir confiança quando tu não demonstras confiança.
Ouvi o barulho de uma cadeira a arrastar atrás de mim, e o meu coração começou a bater cada vez mais rápido devido ao meu nervosismo.
— E não digas que estou enganado. É verdade e estou aqui e agora a ser sincero contigo, coisa que tu não foste.
— Harry… - eu ouvi a voz dele, em tom de súplica, e mordi a bochecha, tentando ser forte mesmo que para isso tivesse de usar todas as minhas forças.
— Não insistas e só te digo isto mais uma vez. Vou fingir que me acredito em ti, que vocês ainda não sabem de nada e estão à espera de mais informações para terem uma conversa honesta comigo, onde me dizem tudo o que andam a esconder. Vou tentar, inclusive, não vos julgar, mas Sirius, se por algum motivo este assunto for mencionado por ti ou por algum dos meus pais e for para me mentir, eu nunca mais vou confiar em vocês. Eu só vos vou dar esta oportunidade e, lembra-te, só podes mencionar esta conversa no dia em que tiveres coragem para ser completamente honesto, porque senão é melhor fingir que ela nunca existiu.
Saí, não vendo a cara chocada e de dor do Sirius, não fazendo a mínima ideia que o assunto da minha sobrevivência era muito sensível para ele e, principalmente, para a Lily, e também não notando que pela primeira vez chamei o James e a Lily de pais para outras pessoas que não eles.
–--OLC---
Ela pegou-me ao colo e tentei logo agarrar-lhe os cabelos pretos para brincar.
— Quem é o menino da mamã? Quem é? — ela riu-se quando viu que eu só lhe agarrava ainda mais os cabelos. — Acho que é melhor irmos andando, Peter, a Lily já estava a querer vir aqui pessoalmente, estragando a tua tão grande surpresa — disse e virou-se para o outro homem que fez um sorriso tão fingido para ela que comecei a chorar porque queria a minha mãe. — Oh, Harry, tu vais já ter com a Lily e com a Natalie. Vais poder brincar à vontade – ela puxou-me contra ela e beijou a minha bochecha. — O que falta fazer, Peter? Ainda nem o mascaraste — murmurou, olhando para mim.
— É uma surpresa, Marlene, até de ti. É melhor ires ter com o Sirius, que eu já lá vou ter.
Ela riu outra vez, o que me fez ter confiança nela e aconchegar a minha cabeça no ombro dela.
— Se chegar lá sem o Harry, a Lily mata-me mal me veja. É melhor irmos e mostrar-lhe que está tudo bem e depois voltamos — disse, dirigindo-se para a lareira.
Vi o homem morder o lábio, indeciso, até que tirou a varinha e apontou-a para a mulher.
— Não te posso deixar fazer isso, Marlene. Desculpa.
Houve um segundo de silêncio, onde eu vi a mulher olhar chocada para trás, para onde Peter estava.
— Atordoar.
Ele lançou o feitiço, no entanto, a Marlene saltou para o lado e num segundo segurava-me com uma mão e agarrava a varinha com outra.
— Tu és o traidor — murmurou chocada. — E queres matar o Harry — ela apertou-me ainda mais contra ela. — Peter, porquê?
— Este é o caminho certo. Marlene, vai-te embora e nada de mal te vai acontecer. Nem a ti nem a eles. Não é para ninguém se aleijar.
— A não ser o Harry, não é?
Eu não estava a perceber bem a conversa deles, no entanto, ela, num instante, virou-se para trás e correu, subindo umas escadas, desviando-se do feitiço que o outro homem mandou enquanto ainda me segurava. Ela só parou quando eu estava no meu quarto e pousou-me lá.
— Harry, não faças barulho – murmurou, começando a tremer e a parecer muito assustada. – Vai ficar tudo bem. Expecto patronum — disse, lançando um feitiço e eu vi um grande lince formar-se, prateado, e a sair pela parede correndo. — Por que é que eu me esqueci do espelho — sussurrou, levantando-se. — Vai ficar tudo bem Harry — disse outra vez e dirigiu-se à porta que levava ao corredor, no entanto, algo correu mal porque ela parou, chocada, ao som de uma voz fria.
— Só te vou dar esta oportunidade uma vez. Sai da frente e para de proteger essa criança e a tua vida será poupada.
— O Harry não — ela disse, decidida e, apesar das suas mãos tremerem, vi-a apontar a varinha a quem quer que fosse que estava do outro lado.
— Que seja — ele disse com desprezo evidente na sua voz. — Avada Kevadra.
Esperei que ela pulasse, como fez com o outro feitiço, no entanto, só fechou os olhos e murmurou outra vez, de forma baixa, “ o Harry não”, fazendo com que o corpo dela fosse acertado pelo raio verde e caísse sem vida. Vendo aquela mulher simpática, a minha tia, cair e o outro homem, o meu tio, continuar a agir estranhamente, junto com aquela voz estranha e assustadora, não aguentei e chorei, fazendo com que aparecesse uma figura à minha porta, que me fazia lembrar os fantasmas dos meus pesadelos.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!— Finalmente, vou-me ver livre da criança — sibilou, agarrando a varinha com os seus dedos finos e esqueléticos. — Avada Kevadra.
Um raio verde, igual ao que atingiu a outra mulher, veio na minha direção e eu só chorei, sentindo-o atingir-me e vir com ele uma dor enorme.
Algo aconteceu, porque além da dor, o raio virou-se para trás e atingiu aquela figura monstruosa e ele desapareceu, fazendo as suas roupas caírem sem corpo. No entanto, um fumo branco apareceu e o rosto dele, pontiagudo, esquelético, sem nariz, apareceu em fumo e ele virou-se para o meu tio.
— Exxxplode o quarto — sibilou. — Faz com que esta criança morra e finge a tua própria morte.
E com aquelas últimas palavras a figura desapareceu. A última coisa que vi foi o antigo doce e simpático homem apontar a varinha para mim, com lágrimas nos olhos, olhar para o corpo no chão e lançar um feitiço, que fez o quarto explodir.
Acordei sobressaltado, só me lembrando vagamente da parte final, mas mesmo assim tendo um pressentimento de que era importante.
Suspirei e levantei-me, decidido a ignorá-lo, visto que tinha coisas mais importantes para fazer. Hoje era o dia do retorno dos alunos para as férias da Páscoa e eu iria ter a querida Natalie em casa e aprender a voar. Ou seja, o ritmo de vida calmo que tinha tido até ali iria ser abalado.
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