My Dear Nerd

Escada


P.O.V Mellany

Filho da puta, infeliz, desgraçado, miserável, imprestável, inútil...

Sério, nem todos os insultos do mundo seriam capazes de representar o que eu tô achando do Logan nesse momento. Eu ainda estou aqui tentando entender como foi que ele teve a coragem de me beijar daquele jeito e depois, na maior cara lavada, dizer que aquela nojenta continua melhor do que eu. Como ele consegue ser tão cara de pau? Tão cínico a ponto de me aprontar uma dessas? Mas ele vai mudar de opinião, podem escrever. Nem que pra isso eu precise cruzar o Polo Norte inteiro apenas de biquíni.

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Peguei um drink qualquer pelo caminho e bebi tudo de vez, indo até a piscina.

– Onde estava cat? – Blaine apareceu de repente.

Ah, mas se ele soubesse onde eu estava realmente... Coitado, bateu até uma culpa aqui.

– Fui lá em cima checar se as portas estavam fechadas. Sabe como é né? Não dá pra bobear. – menti.

Mas o pior é que não dá mesmo. Porque da ultima vez que eu dei uma festa e deixei a porta dos quartos abertas, encontrei dois caras se pegando na minha cama. E podem acreditar, foi uma das cenas mais bizarras que eu já vi em todos os meus 17 anos. E olhem que eu já vi bastante coisa! Mas enfim, deixando o drama de lado, tirei o vestidinho que estava usando e fiquei apenas com o biquíni, logo depois chamando o Blaine pra dar um mergulho comigo.

Estava indo tudo bem, porém, assim que cheguei, à borda da piscina, pude avistar o Logan e a Cindy perigosamente próximos. É certo que eu só vi os dois se pegando “de verdade”, que foi ontem. Geralmente ficavam só juntos demais, abraçados demais, trocando carícias demais, e alguns olhares bastante suspeitos. O que não significa que eles não tenham se pegado sem que eu tivesse visto. Por isso, a proximidade deles me deixou preocupada.

Eu realmente não quero ver a cena de ontem se repetir hoje. E por isso, me joguei com tudo na piscina, espirrando um monte de água em cima deles dois.

Qual é né? Eu não sou obrigada a ver eles dois se engolindo.

Ele me olhou desacreditado. Como se o que eu havia acabado de fazer não tivesse acontecido de verdade. E ela nem se fala! Mas comparado ao que ele me aprontou a minutos atrás, isso não é nada. Eu deveria ir lá e afogar eles dois, isso sim. Porém, iria ficar muito suspeito, então me limitei a mergulhar e nadar até o outro lado.

– Foi de propósito né? – Blaine se acomodou ao meu lado.

– O que?

– Quando você se jogou aqui na piscina e atrapalhou aqueles dois ali. – ele apontou discretamente para o casal.

Fiz minha melhor cara de inocente e disparei:

– Você me conhece tão bem­­­­­­­­­­­!

Ele apenas riu e me beijou.

Por um momento me lembrei do Logan e acabei abrindo os olhos involuntariamente. Mas não foi a coisa mais esperta de se fazer, pois bem a minha frente, pude ver o Logan e a Cindy se beijando. Mas não era um simples beijo. Era aquele beijo do tipo desentupidor de pia, sabe? Não, melhor. Do tipo de beijo que ele me deu há minutos atrás. E aquilo me deu uma raiva inexplicável. Mas o pior de tudo é que o infeliz também estava me encarando, de um modo que eu julguei ser desafiador.

Ah, mas se ele acha que depois de ter me beijado ele vai ficar por ai trocando saliva com aquele projeto do Satanás só pra me irritar e acha que eu não vou responder a essa provocação, ele está mais do que enganado!

Sustentei o olhar e aprofundei ainda mais o beijo com o Blaine. Sabe, estou me sentindo uma completa fingida por estar usando o coitado do Blaine só pra provocar outro garoto. Mas tudo bem, vou deixar pra lidar com minha auto-crucificação depois.

Pra reagir ao meu ato, pude ver o Logan puxando a Cindy para mais perto dele, se é que isso era possível. E a gente ficou nessa até que perdemos o fôlego e eu acabei me separando do Blaine. Eu sempre vi esse tipo de coisa em cenas de filme e achava que era uma tamanha idiotice. Mas hoje, por causa do Logan, eu estou repetindo esse ato de infantilidade. Olha aí o que esse garoto faz comigo!

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Tentei me focar em algo que não fosse ele e sua prima biscate, e vi que o resto do povo já estava na piscina. Fui até lá com o Blaine, e pra minha sorte, não demorou muito para os dois pombinhos se encostarem ali também. Tentei ao máximo ignorá-los, inclusive a Cindy. Mas a partir do momento em que percebi que ela estava lançando uns olhares maliciosos para o Blaine, não consegui me segurar mais.

Não que eu achasse que ele me devesse fidelidade, porque eu mesma acabei de “trair” o coitado.

Mas isso também não significa que eu vou deixar qualquer garota, muito menos a Cindy, ficar se insinuando pra ele na minha frente.

– Será que dá pra você parar? – perguntei com uma voz irritadiça.

Ela ainda teve o cinismo de me olhar com uma cara de desentendida, como se não soubesse do que eu estava falando.

– Parar com o quê?

– De lançar esses olhares maliciosos pro Blaine. Aproveita e deixa de se cínica também, porque eu não sei se você percebeu, mas no momento, ele está comigo.

– Vocês tem algum tipo de relacionamento sério? – ela perguntou com as sobrancelhas arqueadas.

– Não.

– Então você não pode me impedir!

– Ah, eu posso sim. E se você continuar com seu cinismo, já já vou te impedir de andar, quebrando as suas pernas.

Ela permaneceu me encarando.

– Sabe, eu queria saber se essa regra também se aplica a você. Porque eu acho que se ele não pode ficar com outra pessoa, você também não pode.

Ok, se nesse momento eu estivesse bebendo algo, com certeza eu teria posto tudo pra fora, tamanho foi o susto que eu tomei.

Como assim ela quer saber se essa regra também se aplica a mim? Será que ela está suspeitando de algo? Bom, mesmo que esteja, ela vai continuar apenas na suspeita.

– É claro que sim!

– Hum, bom saber! – ela estreitou os olhos em minha direção e me lançou um sorriso falso.

Fiz o mesmo e voltamos a conversar. Até que me aparece uma garota de sei lá onde, me gritando. Detalhe pra falta de necessidade da barulheira dela, já que estávamos praticamente coladas.

– Algum problema? – perguntei.

– Você tá ficando com esse garoto? – ela perguntou meio confusa.

– Que garoto? – minha voz saiu meio esganiçada devido ao nervosismo.

O porquê de estar nervosa? Simples. Minha consciência masoquista pensou no Logan assim que a garota perguntou se eu estava ficando com alguém. E também pela hipótese de ter sido pega no flagra pela mesma, enquanto estava aos beijos com o infeliz.

– Com esse aí. – ela apontou pro Blaine.

E eu pude suspirar aliviada. Mentalmente, é claro.

– Tô sim, por que?

– Mas você e o Logan não estavam namorando?

Ok. Mantenha a calma Mellany, essa garota só está te zoando. E falando besteiras também.

– Vocês estão namorando? – Cindy e Blaine perguntaram em uníssono.

– É claro que não! – tratei logo de negar.

Em consideração ao Blaine, é claro. Porque se fosse só pela Cindy, eu diria que não devo satisfações da vida a ela.

– De onde você tirou essa história? – Logan finalmente se manifestou, perguntando diretamente à garota.

– Bom, vocês mesmo disseram isso na sexta-feira, na escola. Ou vocês não se lembram?

Eu diria um sonoro não, mas por incrível que pareça, consegui raciocinar rapidamente e lembrei exatamente o que tinha acontecido:

– Você, por um acaso, se refere àquela ceninha bizarra que aconteceu no refeitório? – perguntei, porém nem esperei sua resposta. – Porque se for, era tudo mentira.

– Era?

– Aham. Sabe aquela garota maluca que apareceu lá e começou a discutir comigo? Então, ela era a ex-namorada do Logan, e pra que ela o deixasse em paz, a gente armou todo aquele teatrinho.

– Então vocês não estão namorando?

– Lógico que não!

– Ah, ok então. – ela saiu dando de ombros.

Resolvemos ignorar esse fato e voltar a conversar, como se nada tivesse acontecido.

Algum tempo depois, senti uma vontade incontrolável de ir ao banheiro, então me retirei, avisando ao povo que iria subir, e logo após, segui meu caminho.

Optei por ir à minha suíte, afinal, nunca se sabe o que eu vou encontrar no banheiro das visitas, em pleno dia de festa. Assim que me aliviei, sai do quarto e já estava preparada pra descer. Se não fosse por algo me impedindo. Alguém, mais especificamente.

Alguém que estava ali só pra me irritar. E que conseguiu.

– Eu vi! – Cindy afirmou.

– Viu o que garota?

Eu já estava começando a achar que ela estava delirando. Como assim “eu vi”? Será que ela estava me espionando enquanto eu ia ao banheiro?

– Você acha que eu sou idiota não é? – eu até diria que sim, mas não tive oportunidade, porque logo em seguida ela continuou a falar. – Eu vi você e o Logan se pegando na cozinha.

– Como é que é?

Meu queixo estava praticamente no chão, tamanho era o meu choque.

– Quando eu vi que ele estava demorando muito, fui atrás dele, e flagrei vocês dois discutindo. Eu estava adorando ver a cena, e como estava... – ela deu uma risadinha maldosa. – Mas aí do nada, você agarrou ele sem mais, nem menos. E bom, depois que eu julguei já ter visto o suficiente, saí de lá antes que algum de vocês dois pudessem me notar.

Eu garanto que estava parecendo uma retardada, com a boca aberta e sem falar uma palavra. E juro que estava tentando reagir, mas não fazia ideia do que dizer, muito menos do que fazer.

Eu não estava com medo dela, apenas fui pega de surpresa.

Felizmente, minha capacidade mental pareceu acordar pra vida, e eu tive tempo de responder:

– Olha, eu sinto muito, mas o problema é total e inteiramente seu.

Ela me olhou com a sobrancelha arqueada, como se não tivesse acreditando no que eu tinha acabado de falar.

– Você tá encrencada, mas mesmo assim, não quer perder a pose, não é? – seu tom era amargo.

– Encrencada? Eu? – ri debochadamente. – Faz-me rir garota!

Um fato sobre mim: quando estou nervosa, não há uma palavra que saia da minha boca sem que tenha, pelo menos, um pouco de deboche.

– Então você acha que não tá encrencada? – ela perguntou retoricamente. – Será que você esqueceu que o seu “ficante” tá lá fora? E que eu posso contar tudo o que eu vi pra ele?

– Olha, eu continuou sentindo muito, mas o problema continua sendo seu. A culpa não é minha se você fica espiando o que não deve. – fui categórica. – Sem mencionar o fato de que eu não tô nem um pouco preocupada com o que você faz ou deixa de fazer com essa informação.

Era mentira. Até porque, eu estava preocupada. Não com o que ela poderia fazer, mas sim com o Blaine. Porque ele é um cara muito legal e não merece ser taxado de corno só por minha causa.

– Ah, mas se eu fosse você eu me preocuparia.

– Mas que bom que não é né? – fingi entusiasmo. – Além do mais, a única coisa de ruim que você pode fazer é contar pro Blaine e fazer a gente brigar. Porque fora isso... – dei de ombros.

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– Posso te deixar com fama de vadia também. – ela deu um sorriso vitorioso.

Bom, se eu for parar pra pensar, grande parte das pessoas que me “conhecem” já me taxam de vadia e outras coisas bem piores, mas eu não dou a mínima pra isso, porque eu sou quem eu sou e não quem o povo acha que eu seja. Então, algumas pessoas a mais nessa lista de gente que me julga sem me conhecer de verdade não vai fazer diferença nenhuma.

– Tenha certeza de que mais vadia que você eu não serei. – o sorriso cínico voltou a estampar meu rosto. – Agora, se me der licença...

– Eu ainda não acabei!

– E eu não tenho nada a ver com isso. Agora, por favor, será que dá pra sair da minha frente? – eu já estava perdendo a paciência.

– Eu não vou ouvir desaforos vindos de você e deixar por isso mesmo!

– Não quer ouvir? Simples. Basta tampar os ouvidos e sair daqui.

Desviei pro lado esquerdo, a fim de descer, mas ela desviou também, ficando na minha frente. Revirei os olhos diante da infantilidade dela e fui pro outro lado, e ela fez o mesmo.

Eu não estava com o mínimo de vontade de brincar de Tom & Jerry com ela, por isso fiquei parada por uns instantes, esperando pra ver se ela saía da minha frente. Mas isso não aconteceu.

– Não vai sair né? Tá legal. – já que ela não queria sair por bem, ela iria sair por mal.

Empurrei-a para o lado, mas acabei usando mais força do que deveria. E esquecendo que estávamos no topo de uma escada. Em seguida foi como se tudo acontecesse em câmera lenta: a Cindy tropeçou nos próprios pés, se desequilibrou, e no segundo seguinte, eu só pude ver ela rolando escada a baixo.

Foi como se o tempo tivesse congelado. Como se meus pés estivessem sido fixados no chão. E eu estava sem esboçar relação alguma. Não sei nem quanto tempo fiquei desse jeito, só sei que só fui acordar pra vida depois que ouvi um grito vindo de lá de baixo:

– Mellany, o que foi que você fez?!

E essa voz eu conhecia muito bem. Mas ao invés de me tranquilizar, só conseguiu me aterrorizar mais ainda.