Castigo

Já temos todas as pistas


O sol já havia se posto lá fora.

As cozinhas estavam densas com o vapor que escapava de bules e panelas enquanto o jantar ficava pronto.

Crianças corriam pelos corredores, lavavam as mãos, encontravam amigos, se escondiam e se esbarravam, numa espécie de peça mal ensaiada onde não se sabe o que é roteiro, o que é improviso e o que é simplesmente erro.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Ninguém se preocupou em chamar Mello ou Near, que ainda estavam na sala de brinquedos, quietos e sombrios.

Mello agradeceu por isso.

Mas, afinal, estava apenas de acordo com o plano.

Quando as coisas se acalmaram, e os murmúrios se concentraram nos refeitórios, ele puxou a mão de Near, o erguendo do chão pelo braço.

As pernas do outro vacilaram antes de se firmarem. Estavam fracas, parecia que sua circulação tinha parado, quase podia sentir uma necrose se infiltrando por entre o tecido muscular e epitelial.

Esfregou os cabelos com a mão livre, enquanto esticava a coluna dolorida.

Estava tudo doendo.

Estava suado.

Desconfortável.

E meio enjoado.

Havia um nome para isso... Um nome específico para aquela sensação...

Não lembrava.

.

.

Havia dormido? Não sabia.

Perda de consciência, consciência oscilante... Algo entre um desmaio e uma nítida impressão de se estar sonhando.

Na verdade, nem tinha muita certeza se estava acordado.

Estava com fome.

Sentia ânsias de vômito que lhe deliravam pelo estomago, subindo em cruéis espirais até escaparem num jorro pela garganta. Rasgante, nojento, ácido e amargo.

Cuspiu no balde, sentindo-se satisfeito.

E esperou.

.

.

Bateu na porta duas vezes antes de entrar. Ainda de mãos dadas com o Near cada vez mais fraco e débil, girou a maçaneta, sendo recepcionado pelo cheiro acre e nauseante que bem sabia de onde vinha.

Ouviu Matt trancando a porta trás de si e acendeu as luzes.

Via o suor frio e doentio, pegajoso, que tomava o rosto de Near.

Permitiu-se perceber os dedos dele contra sua mão.

Por tanto tempo os apertara, e só agora os sentia.

Frios. Consequência da circulação fraca que se refletia na respiração patética do outro.

.

.

Matt lhe apareceu, sombrio. Um rosto sério e grave, incomum.

Tinham noção do que estavam para fazer. Tinham?

.

.

Quando estavam para sair do quarto, algo estalou por baixo dos fios ruivos, e ele se lembrou.

Abstinência.

.

.

Ele apenas assentiu, ouvindo pacientemente os relatórios.

De fato.

Nada fora do plano.