Causa Perdida?

Capítulo 31


No corredor, Lily se deu conta das roupas enlameadas de James. Ele ainda estava meio encharcado. Ela o segurou pelo pulso, sacando a varinha:

– James, você vai acabar resfriado.

Lily executou o Feitiço de Secagem enquanto ele apoiava as costas numa coluna do corredor. Sirius e Alice se aproximaram.

– Afinal – Alice começou – como isso aconteceu?

James suspirou, exausto. Balançou a cabeça.

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– Foi minha culpa – disse enfim. – Insisti em treinar com um tempo horrível...

– Isso não é novidade – Lily se apressou em intervir. – Vocês são acostumados a jogar na chuva.

– Marlene e McLaggen estavam discutindo. Provavelmente porque McLaggen estava reclamando de como ela sempre arremessa na mesma direção – Sirius disse. – Ela não deveria estar tão perto das balizas. O treino dos batedores era perto de lá e o vento desviou o balaço de Guga. Se Marlene estivesse na marca de pênalti, como era para ser....

– Sirius – James o repreendeu. – Discussões como aquela acontecem o tempo todo.

– Mas nós todos sabemos que McLaggen só se irritou porque...

– O que eu ainda não entendi – Alice interrompeu – é o que você, Sirius, estava fazendo no campo – voltou-se para James. Pensei que esses treinos fossem fechados.

– Eles são – James suspirou. – Eu apenas pedi a Sirius que me trouxesse uns equipamentos.

– De qualquer forma – Sirius recomeçou –, você não tem que se sentir culpado, Pontas. Se não fosse por você, a queda teria sido bem pior.

Lily e Alice olharam para eles, exigindo explicações. James estava claramente desconfortável.

– Quando o balaço acertou o tornozelo de Marlene, ela se desequilibrou e caiu da vassoura. Eu estava voando um pouco mais baixo e tentei segurá-la, mas o impacto foi mais forte do que eu previ e...

– E ela continuou a cair – Sirius terminou. – Mas, se não fosse o Pontas ter desacelerado tudo... – Alice fechou os olhos e estremeceu. Sirius balançou a cabeça. – Nem quero pensar.

Passos soaram pelo corredor e Guga Jones apareceu.

– James! – ela exclamou, afobada. – Como ela está?

– Marlene já está melhor – James respondeu, tentando transmitir calma. – Mas madame Pomfrey nos expulsou da enfermaria.

– Eu queria falar com ela – Guga murmurou. – Pedir desculpas...

– Não foi sua culpa. Foi um acidente, Guga. E a Lene é dura na queda. Eu não dou uma semana para que ela esteja nova em folha – a garota não pareceu mais tranquila.

– Os outros também queriam vir – informou –, mas eu não deixei. Só de imaginar todo aquele tumulto na ala hospitalar de novo... – James assentiu.

– Você fez bem, Guga.

Lily a observou engolir em seco e acenar positivamente com a cabeça. Guga Jones não era sua pessoa favorita, mas, naquele momento, ela era apenas uma garota assustada.

– Vai ficar tudo bem – Lily falou enfim. – Essas coisas acontecem. Faz parte do esporte.

Ela não pôde culpar Alice, Sirius e James por lhe lançarem olhares de estranhamento. Nem a própria Lily conseguia acreditar que estava defendendo o lado mais perigoso do quadribol, mas o acidente de Marlene não podia simplesmente ser atribuído a alguém.

– Bom, agora já está tudo se resolvendo – Alice retomou a conversa. – É melhor nós voltarmos para o salão comunal.

Os outros assentiram e começaram a caminhar. James e Lily ficaram por último.

– Então, você não está zangada comigo? – ele sussurrou inesperadamente. Lily se espantou.

– Zangada?

– Pelo que houve com a Lene... – ele falou, sem jeito. Lily o puxou pela mão para que parassem de andar.

– James, não foi sua culpa.

– Os pombinhos precisam de privacidade? – Sirius perguntou, entediado.

– Seria ótimo – Lily retrucou. Alice riu.

– Vamos, Sirius – ela chamou. Em seguida, acrescentou para Lily: – Quem te viu, quem te vê, hein, Lils?! – Lily apenas revirou os olhos. Voltou-se novamente para James.

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– James? – recomeçou quando os outros já tinham se afastado. Mas James estava olhando para o chão. Apesar de estarem secas, suas roupas continuavam sujas, cobertas de poeira e pedaços de grama. Ele balançou a cabeça. – James, o que foi?

– Eu só... – ele suspirou. – Foi um susto horrível.

Lily segurou as mãos dele. Por um segundo, viu o fantasma de um James triste e preocupado que andava curvado pelos cantos.

– Está tudo bem – disse. – Marlene vai sair da ala hospitalar num instante e vocês vão ganhar a Taça de Quadribol.

– Pensei que você ficaria furiosa comigo – James confessou, estremecendo. – Desculpe por eu não ter avisado pessoalmente, mas, na hora...

– James, pare – e apertou as mãos dele com força. – Pare de se culpar por isso. Tem algo que você não está me contando.

Ele hesitou por um segundo.

– Depois do que aconteceu com minha mãe... – James não conseguia encará-la. – Eu não quero perder mais ninguém. Mas aí a Marlene caiu e....

Ele nunca terminou a frase. Lily suspirou e afagou o rosto de James com uma das mãos.

– Lene está bem – insistiu. James suspirou também. Diante do silêncio, ela acrescentou: – Como o Sirius acabou no treino de vocês, James? – ele se remexeu desconfortavelmente.

– Almofadinhas está tentando resolver as coisas. Eu quis ajudar. Esqueci parte do material para o treino de propósito, para que eu pedisse a ajuda dele. Na hora que ele trouxe o que eu pedi, foi bem quando tudo aconteceu – Lily balançou a cabeça.

– Certas coisas nunca mudam com você, James Potter. Toda aquela ladainha sobre sigilo nos treinos... – ela suspirou. – Homens...

James assanhou os cabelos despretensiosamente.

– Fiquei preocupado com o Almofadinhas – confessou. – Ele quase enlouqueceu quando viu a Marlene desmaiada – Lily estremeceu só de imaginar a cena.

Ela balançou a cabeça e se apoiou em James para que ele a abraçasse.

– Chega disso – sentenciou. – Não quero mais pensar em coisa ruim.

Eles ficaram em silêncio por um longo momento. James se ocupou em acariciar os cabelos de Lily e observar as feições preocupadas dela por um segundo. Alguma coisa a estava impedindo de relaxar.

Ao mesmo tempo, Lily podia quase segurar a tensão do namorado. Sabia que James estava preocupado com alguma coisa de que ainda não falara.

– De uns tempos para cá, parece que tudo está saindo dos trilhos – ele comentou. Lily o abraçou, balançando a cabeça. Alguns segundos depois, com o rosto escondido no peito de James e os olhos bem fechados, Lily admitiu:

– Eu estou com medo.

James finalmente a abraçou de verdade.

– Eu também.

Ele suspirou.

– Lily – chamou baixinho, com o rosto meio perdido nos cabelos dela. – E o que vai ser de mim se eu não puder te proteger?

Lily recuou um pouco para que eles pudessem se encarar. James estava sério, preocupado. Às vezes, Lily se assustava com a intensidade dos sentimentos que eles tinham um pelo outro. Ela sabia que os bruxos casavam mais cedo, mas tudo com James parecia tão apressado e ao mesmo tempo tão certo que ela ficava confusa. Nunca tivera planos de casar logo após a escola e, às vezes, ela se assustava com a forma como James falava, como se os planos dele fossem de longuíssima duração e com início urgente.

– Você não tem que se preocupar com isso – disse enfim.

– É claro que tenho – James rebateu, afastando delicadamente os cabelos dela do rosto. – Você se lembra da família da Claire? O Aluado disse que os tios dela deixaram o país e é só uma questão de tempo até...

– James – Lily interrompeu. – Eu não vou a lugar algum. Não vai me acontecer nada de ruim. E você não é meu anjo da guarda – ele amarrou a cara, contrariado. – O que nós precisamos fazer é enfrentar tudo juntos.

– Você não tem como garantir que nada vai lhe acontecer - resmungou. – Ainda assim...

Num segundo, Lily estava se preparando para uma longa discussão. No outro, James tinha se inclinado para a frente e pressionado a boca na dela. Ela ficou apenas surpresa por um instante. Então, seus braços subiram para o pescoço de James e ela o beijou de volta, com toda a saudade, o carinho, a preocupação e a impaciência de nunca saber ao certo como ele estava lidando com tudo.

James a abraçou com firmeza e virou o corpo, de modo que as costas de Lily encontrassem a parede do corredor. Ela nem lembrava quando tinham se beijado assim pela última vez. Durante boa parte do mês de janeiro, James estivera absolutamente distante e perdido no próprio luto e, em fevereiro, Lily começara a enlouquecer com os NIEM’s. Além disso, havia a Taça de Quadribol, que consumia todo o tempo livre de James com treinos e reuniões e ainda o deixava exausto demais para prolongar o tempo da ronda. Lily surpreendera a si mesma várias vezes quando se oferecia para patrulhar os corredores sozinha e James ficava estirado em algum sofá do salão comunal. Em boa parte, isso a lembrava de que, independente de todas as mudanças dos últimos meses, ou mesmo dos últimos anos, ele ainda era James Potter. Contudo, se nenhuma briga surgira a partir daí, Lily o enxergava como um claro indício de que aprendera a amá-lo.

Quando eles pararam o beijo, ela sorriu, satisfeita.

– Eu sempre soube que você estava mal-intencionado – brincou. James sorriu um pouco, empurrando o corpo contra o dela. Lily precisou de muita força de vontade para manter o foco na conversa. – Mas prometa, James – sussurrou, tocando o rosto dele. – Prometa que você vai ser mais cuidadoso nesses treinos e no jogo da final. Eu nunca tinha visto Marlene daquele jeito e nunca mais quero ver nenhum de vocês com tanta dor.

Ele se afastou um pouco para olhá-la.

– Cuidado e quadribol é como pedir a você para não surtar com os NIEM’s, ruivinha... – tentou argumentar.

– James! Você sabe muito bem que...

– Shhhh... – ele riu um pouco. – Você não quer voltar à outra parte?

Lily revirou os olhos.

– Você não tem jeito, James Potter – ele a beijou no canto da boca. – Tudo bem então – beijou no queixo. Lily lutou muito para não rir nem se render de vez. – Mas não pense que você vai escapar da ronda de hoje!

**********************************************************************

Quando Claire avisara durante o café da manhã que queria falar com as garotas mais tarde, Lily não imaginara que o assunto seria tão sério. A princípio, ela supusera que as três iriam visitar Marlene para ouví-la reclamar do tédio na ala hospitalar ou do gosto ruim das poções que precisava beber.

Contudo, elas se reuniram na ala hospitalar após o almoço e, ao final da conversa, Lily, Alice e Marlene se entreolharam, surpresas e tristes, enquanto Claire ficava cabisbaixa, as mãos juntas no colo, sob o silêncio pesaroso das amigas.

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Foi Alice quem falou primeiro:

– Eu quero que Voldemort morra.

A raiva contida em sua voz era assustadora. Lily e Marlene olharam para ela, espantadas. Alice tinha uma aparência delicada, mas ela não era inofensiva. Certa vez, na aula de Defesa Contra as Artes das Trevas, Peter aparecera no lugar errado e na hora errada e a azaração de Alice o enviara para a ala hospitalar por dois dias. Ela era talentosa com a varinha, mas também era uma pessoa muito doce, o que destoava daquele tom raivoso.

– Isso não está ajudando – Marlene disse enfim. – Claire, se nós pudermos fazer qualquer coisa...

– Não – Claire finalmente ergueu o rosto para elas. – Nós todas sabemos que não há o quê fazer.

– Como você está? – Lily indagou. A outra suspirou.

– Bem, eu quero que minha família fique em segurança, mas... sei lá. Eles podem chegar aqui a qualquer momento e dizer que é hora de partir. Minhas coisas estão sempre prontas. Nós não marcamos uma data nem nada, porque não dá mais para confiar nas cartas...

– Isso é um absurdo! – Alice bateu no braço de sua cadeira.

– Lice! – Marlene censurou.

– Quê?! – os olhos de Alice estavam marejados. – Nós precisamos reagir! Se eles estão se organizando, nós também temos que nos organizar. Quantas outras vidas precisam ser arruinadas para que as pessoas percebam isso?! Voldem...

– Alice, chega – Lily interrompeu com firmeza. Ninguém falava aquele nome e Claire não precisava ouvir nada daquele discurso. – Apenas foque no problema em questão.

– Claire vai embora – Alice disse entre dentes. – Ela vai fugir do país para acompanhar a própria família, como se fossem todos criminosos – suas lágrimas corriam livremente, mas a voz dela era firme o bastante. – Mas eles não são os criminosos. Nós não poderemos falar com ela, nem mesmo saberemos se ela completou a fuga. É esse o problema em questão? Porque, se for, nós sabemos que não adianta chorar – ela enxugou as próprias lágrimas bruscamente. – Não podemos evitar isso, então, sim, eu quero lutar e acabar com esses desgraçados e...

Claire lançou os braços sobre Alice, chorando. A voz de Alice quebrou, suas palavras se atropelaram e o mundo de Lily ficou borrado por lágrimas enquanto Claire agradecia a Alice por um monte de coisas. A outra garota estava chorando também, afinal. Marlene, que estava sentada em seu leito na ala hospitalar, rodeada pelas amigas, estendeu uma mão para Lily. Em questão de segundos, as quatro estavam todas na cama de Marlene, num abraço coletivo que era quente, desajeitado e repleto de cabelos e lágrimas. Lily só conseguia lamentar, mas Claire continuava agradecendo: pela amizade, pelas boas conversas, pelo apoio naquele momento. Finalmente, quando o silêncio caiu, Marlene perguntou:

– O Remo já sabe? – Claire estremeceu.

– Eu contei a ele ontem, antes que perdesse a coragem – as garotas assentiram, fungando.

– Você fez bem – disse Lily. Ela puxou Claire para um abraço. – Se por acaso, nós não tivermos a chance de uma despedida – Claire soluçou nessa parte e Lily continuou falando com mais dificuldade: – eu quero lhe desejar toda a felicidade desse mundo. Você é tão incrível, Claire! Eu sei que vai dar tudo certo.

Alice e Marlene se apressaram em concordar, mas a resposta de Claire foi sussurrada para que apenas Lily ouvisse:

– Por favor, Lily, cuide do Remo pra mim.

Isso, mais que qualquer outra coisa, esmagou o coração de Lily. Mesmo assim, ela sussurrou de volta:

– É claro que sim. Eu prometo.

**********************************************************************

A primeira coisa que Marlene viu ao acordar no dia seguinte foi Sirius sentado numa cadeira que parecia muito desconfortável. Ele estava dormindo, o pescoço jogado para o lado, todo esticado, de modo que a cabeça encostasse na janela. O corpo estava todo torto para se acomodar na cadeira. Em outra ocasião, Marlene acharia a cena engraçada, mas mal passava das oito da manhã e Sirius Black estava sentado ali, perto de seu leito na ala hospitalar, exatamente como ele fizera no dia anterior.

Ela se perguntou como ele conseguia dormir daquele jeito. A boca estava entreaberta e todo o corpo estava sob uma cruel réstia de sol. Seus cachos escuros brilhavam graciosamente com a luz e as feições do rosto estavam mais claras que o normal. Ele parecia exausto.

Por um longo momento, Marlene apenas o observou. Na manhã anterior, Sirius aparecera antes do café da manhã, mas Marlene ainda estava dormindo. Então, ele voltara no intervalo entre as aulas apenas para checar que ela estava bem.

– Seu rosto já tem cor de novo – ele comentara. – Nada mau.

Contudo, madame Pomfrey não o deixara passar mais que uns cinco minutos, alegando que Sirius demorara quase uma hora, cochilando junto à cama mais cedo, antes mesmo de os outros amigos aparecerem.

Enquanto lembrava tudo isso, Marlene sentiu uma estranha vontade de chegar perto de Sirius e tocá-lo. Balançou a cabeça para afastar a ideia e deu uma olhada ao redor. Madame Pomfrey não estava à vista e havia vários frascos repletos de poções coloridas enfileirados na mesinha de cabeceira. Marlene tentou erguer o tronco para se sentar. Foi quando suas costelas recentemente emendadas arderam em protesto. Ela deixou escapar um gritinho de dor.

– Merlin!

Sirius estava subitamente acordado e alerta, observando Marlene da cadeira. Os olhos dele tinham se arregalado de susto.

– Lene – levantou-se e veio para junto da cama.

– Oi, Black – ela falou com uma careta de desconforto.

– Você está bem?

– Sim. Desculpe o susto, eu só tentei me sentar – suspirou, desenganada. Como Sirius parecia desconfiado, acrescentou: – Bem, as malditas costelas ainda incomodam muito. Mas o tornozelo está quase perfeito outra vez.

Sirius olhou para os lados.

– Posso chamar madame Pomfrey se você quiser. Ela está na salinha.

– Não, eu não quero. Ela já vai aparecer daqui a pouco para me dar uma dessas poções mesmo – eles se encararam em silêncio. – Black, o que você veio fazer aqui tão cedo?

Sirius ficou meio sem jeito, jogando os cabelos para o lado com bem menos charme do que costumava ter.

– Não seja ingrata, Marlene. Eu vim te visitar.

– Onde estão os outros? – desde a conversa com as garotas no dia anterior, ela estava com uma estranha necessidade de saber onde estavam todos os amigos, como se eles também pudessem abandonar Hogwarts de uma hora para outra.

– História da Magia – ele deu de ombros. – Eu preferi vir para cá.

Marlene deixou escapar o esboço de um sorriso. Ela sentiu algum conforto por não estar sozinha. Com tudo o que vinha acontecendo, desde os treinos incessantes de quadribol ao anúncio de Claire, passando pelo fim do namoro com McLaggen, a última coisa de que ela precisava era acordar sozinha e dolorida numa enfermaria deprimente.

– Eles todos vieram te ver antes do café da manhã outra vez – Sirius informou.

– Então você perdeu a hora dessa vez e decidiu dormir aqui? – ela implicou.

– Eu detesto acordar cedo e tive um momento de fraqueza, mas estava atento, ok? – Marlene sorriu.

– Atento a quê, Black?

– A tudo – ele fixou os olhos nos dela. – Madame Pomfrey não nos deixa passar a noite aqui, mas, depois do que houve...

– Está tudo bem, Black...

– Não – ele balançou a cabeça. Sua expressão era séria. A mão dele segurou a de Marlene. – Não diga que está tão bem assim. Eu fiquei preocupado.

Marlene apertou a mão dele com força. Na outra visita de Sirius, eles não puderam conversar de verdade e, depois da visita das garotas, ela ficou desorientada por um tempo. Coincidência ou não, Sirius não aparecera mais naquelas horas.

Ainda assim, boa parte do que acontecera entre a queda dramática no treino e o momento em que madame Pomfrey entregara a primeira dose de Esquelesce era um borrão para Marlene. Ela conseguia se lembrar de gritos, muitos gritos seus e de todos no time, do feitiço que McLaggen usara para que ela recuperasse a consciência, da voz de James despachando ordens e funções aos jogadores. Então o feitiço que ele usara para fazê-la flutuar, a tumultuada corrida pelo castelo, a agitação na ala hospitalar, a dor insuportável em suas costelas, o ardor na garganta por causa dos gritos, o medo de tudo e então a mão de Sirius, quente e firme. A única coisa estável em meio ao turbilhão. Depois havia a mão de Lily também, os carinhos de Alice... e mais Sirius. O olhar no rosto dele quando suas mãos se soltaram.

– Eu quero sentar – Marlene falou de repente.

– É melhor não.

– Eu aviso se achar que não aguento.

Sirius claramente não estava convencido, mas apenas bufou:

– Você sempre acorda assim, Marlene?

Então ficou de pé e a ajudou a levantar parte da cama. Depois, ajudou-a a sentar. Marlene esmagou a mão dele para conter um grito, até que, de alguma forma, ela estava sentada e a dor estava reduzida a umas pontadas ardidas na lateral de seu tórax.

– E então? – disse Sirius. Ela inclinou a cabeça para trás, apoiando-a no colchão.

– Eu vou sobreviver – ele sorriu e balançou a cabeça, como se dissesse: “você não tem jeito”. Marlene quis acrescentar alguma coisa. – Black, obrigada por ter ajudado a me socorrer e... – hesitou. – E por se importar – Sirius corou um pouco.

– De nada – remexeu-se um pouco. – Você também nunca desistiu de mim, nem mesmo quando eu achei que era só um desgraçado com sangue de Comensal.

– Falta de caráter não é um problema genético – ela disse com firmeza. Então, deu vez a um pequeno impulso e se moveu um pouco para o lado. – Senta.

Sirius atendeu ao pedido. Ele era alto e de costas largas, então os dois precisaram de um tempo para se acomodar. Quando conseguiram, Marlene apoiou a cabeça no braço dele. Ela se sentia particularmente emotiva desde quando Claire começara a se despedir na noite anterior.

Pensou na briga que tivera com Sirius antes do Natal. Na época, parecera impossível que eles algum dia seriam amigos de novo. Em grande parte, porque Marlene se sentira miserável com as palavras dele na ocasião. Ainda assim, ela e McLaggen estavam se afastando desde o fim das férias, culminando no recente final do namoro, enquanto Sirius povoava seus pensamentos com cada vez mais frequência.

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– Você está assim por causa da Claire? – Sirius quebrou o silêncio. Marlene assentiu. Ele segurou sua mão outra vez.

– Sinto muito.

Marlene virou um pouco o rosto e fechou os olhos. O cheiro de Sirius invadiu seus sentidos. Ela queria perguntar sobre Jenna e o garoto da Corvinal. Queria entender por que tudo aquilo parecera tão importante para Sirius. Ela sabia que ele se escondia atrás da fama de cafajeste, mas não podia conter uma ponta de ciúmes em relação a Jenna.

– Eu sei que não é um bom momento – Sirius começou –, mas quero lhe dizer uma coisa já há algum tempo... – Marlene ergueu a cabeça e eles se encararam. Ela esqueceu completamente sobre Jenna ou sobre qualquer outra pessoa por um momento. Sirius engoliu em seco.

Enquanto ele lutava com as palavras, um cacho particularmente grande caiu sobre seu rosto. Marlene o afastou delicadamente.

– O que é?

Ele segurou a mão de Marlene quando ela soltou seu cabelo e a trouxe para os lábios. Beijou demoradamente o dorso de sua mão. O coração de Marlene batia disparado.

– Sirius?

Ele se inclinou com uma expressão que ela nunca vira antes, mas parou antes que a proximidade entre eles ficasse irresistível, como se hesitasse. Sirius pigarreou. A mão de Marlene ainda estava junto da dele.

– Eu sou louco por você, Lene.

Alguma coisa se revirou dentro de Marlene. Ela sentiu pontadas geladas no estômago, mas não tinha a menor ideia do que deveria fazer.

– Desculpe – Sirius recomeçou. – Eu tinha que dizer.

Marlene separou a mão da dele. Seus dedos tocaram o rosto de Sirius e desceram para o pescoço. Ela se esticou um pouco. Em alguns segundos, Sirius tinha eliminado o espaço mínimo entre eles e os dois estavam se beijando.

O peito de Marlene parecia prestes a explodir. Ela percebeu que Sirius estava um pouco surpreso, mas ele retribuiu o beijo, segurou o rosto de Marlene com uma mão e pousou a outra em sua cintura. Ela pouco se importou com o fato de ele poder sentir as bandagens em suas costelas. Reconheceu o gosto de pasta de dente na boca de Sirius, e sentiu arrepios quando seus dedos se enroscaram nos cabelos enrolados dele. Já tinha beijado Sirius Black outras vezes, várias vezes, mas ele nunca antes tinha sussurrado seu nome entre um beijo e outro. Nunca antes eles tinham se beijado com aquela sensação de quem esperara muito tempo por isso.

Quando pararam, Marlene escondeu o rosto no ombro dele. Estava contente, ainda sentindo o gosto de Sirius na boca. Ele afagou suas costas e beijou o topo de sua cabeça.

– Madame Pomfrey vai nos matar – murmurou. Marlene riu.

– Eu já estava imaginando há alguns dias se você faria isso – ela admitiu.

Sirius recuou um pouco para que eles pudessem se encarar. Marlene estava mais séria agora.

– Nós dois tivemos nossos contratempos, não é?

Ela assentiu enquanto ele se inclinava para beijá-la de novo. Estava completamente desligada do mundo, perdida na ação de beijar Sirius quando a voz indignada de madame Pomfrey os interrompeu.

– Sr. Black! O que o senhor pensa que está fazendo?! Quantas vezes preciso lhe dizer para não se agarrar com minhas pacientes?!

Sirius saltou da cama, atordoado. Seus cabelos estavam bagunçados, seus olhos estavam arregalados e ele claramente estava com dificuldades em formular uma boa resposta.

– Não é bem como a senhora está pensando – tentou se defender.

– É a segunda vez só esse ano que eu preciso lhe expulsar da enfermaria por causa desse tipo de coisa! – madame Pomfrey rebateu. – E você, senhorita McKinnon... Não acredito que se reclamou tanto das dores para fazer tudo isso na primeira chance.

Marlene ainda estava pensando na primeira fala de madame Pomfrey. Quem mais Sirius tinha beijado na enfermaria ao longo daquele ano letivo? A única resposta possível, pelo que ela sabia, era Jenna Edgecombe.

– Não foi nada demais – Marlene respondeu. – Eu me sinto bem. Sirius não...

– O senhor ainda está aqui?! – madame Pomfrey cobrou. Sirius apanhou a mochila que deixara perto da cama e a jogou sobre um ombro. Ele se virou para Marlene.

– Desculpe – pediu. – A gente se vê mais tarde? – ela abriu a boca para falar, mas a enfermeira saiu na frente.

– De jeito nenhum! Se o senhor aparecer aqui de novo, eu o levarei pessoalmente para a professora McGonagall.

– Mas...

– Ande logo!

Só para provoca-la, Sirius se inclinou na direção de Marlene e a beijou uma última vez.

– Fica bem – ele piscou um olho, indiferente às queixas e ameaças de madame Pomfrey e saiu da enfermaria.

Marlene mal conseguiu sorrir em resposta. Quando a porta se fechou atrás de Sirius, ela olhou para a expressão irritada de madame Pomfrey.

– Esses jovens de hoje... – ela estava resmungando. – A senhorita ao menos tomou as poções da manhã? – Marlene negou com a cabeça.

– Ainda não.

Enquanto a enfermeira preparava suas doses matinais, ela se arriscou a perguntar:

– Então Sirius já causou problemas na ala hospitalar? – madame Pomfrey lhe lançou um olhar penetrante. – Nós realmente não planejamos nada disso – murmurou, timidamente.

– O sr. Black me parece um rapaz muito impulsivo, srta. McKinnon. E preciso manter a ordem na minha enfermaria.

– Mas o que ele fez de grave? – a outra bruxa ergueu uma sobrancelha.

– Talvez a senhorita saiba até melhor do eu.

O rosto de Marlene esquentou rapidamente. Mas ela decidiu insistir.

– Ouvi boatos de que ele causou problemas aqui com a Jenna Edgecombe – blefou. Madame Pomfrey suspirou, entregando duas poções à garota.

– Tome suas poções, srta. McKinnon. E não tente me fazer fofocar sobre meu trabalho – Marlene tomou uma das poções.

– Então é verdade?

– Eu não sei nada sobre a vida pessoal dos meus pacientes, srta. McKinnon. Talvez você deva conversar com o sr. Black sobre isso quando sair daqui.

Com o coração apertado, Marlene tomou a última poção. Madame Pomfrey voltou para a salinha e a garota ficou sentada na cama, pensando em todos os piores motivos pelos quais Sirius teria beijado Jenna Edgecombe na ala hospitalar se fora justamente naquela época que todos descobriram sobre o tal garoto da Corvinal.