Causa Perdida?

Capítulo 21


Protegido pela Capa da Invisibilidade, James caminhava apressado. Todo o seu corpo estava dolorido, mas as únicas coisas em que ele pensava eram o amigo que carregava desacordado e Lily, que ainda estava na Casa dos Gritos. James parou de andar de repente e Peter, que o estava acompanhando, esbarrou em suas costas.

– Você assume daqui – James informou. – É só entrar com cuidado na ala hospitalar e deixar o Remo na primeira maca.

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– Talvez você que devesse fazer isso... – choramingou Peter.

– Nem pense! – James censurou. – Quantas vezes nós não ajudamos o Remo a chegar na ala hospitalar?

– Mas... a capa...

– Anda logo, Rabicho! – emburrado, Peter segurou Remo pelos pulsos e lançou um Feitiço de Levitação no amigo. – Com cuidado! – James recomendou. Peter saiu, resmungando.

– Maldita hora que você perdeu o Mapa!

James ignorou o comentário e ajustou melhor a capa ao corpo. Em seguida, correu da forma mais silenciosa possível em direção à Torre da Grifinória. Se alguma coisa ruim acontecesse a Lily naquele meio tempo...

“Mas, pelas calças de Merlin, por que ela nos seguiu?!”

Ele bem que não quisera deixar Sirius faltar à detenção, mas os dois acabaram batendo boca e até se esqueceram de usar a Capa da invisibilidade. Lily provavelmente os vira e acompanhara na esperança de descobrir uma nova infração ao regulamento. Agora, ela podia alegar que eles infringiam até a própria lei bruxa.

James afastou uma tapeçaria e entrou num nicho apertado, onde ficava uma escada íngreme. Subiu os degraus rapidamente e saiu por uma fresta estreita atrás de um pilar. Estava no andar dos dormitórios femininos da Grifinória. Apenas dois quartos eram usados pelas setimanistas e, segundo Sirius, o que James procurava estava à esquerda do pilar. Ele empurrou a porta com cuidado e viu Melanie deitada na primeira cama, de frente para ele. James prendeu a respiração quando ela emitiu um som preguiçoso e coçou os olhos. Em seguida, suas pálpebras se abriram e ela viu a porta, aparentemente, sem ninguém do outro lado.

– Tem alguém aí? – sussurrou, sentando-se na cama. James engoliu em seco antes de despir a capa. Melanie levou as mãos à boca para conter um gritinho de pavor. – James! – exclamou, de olhos arregalados. – O que houve com você? O que está fazendo aqui a essa hora? Como chegou aqui?! – ele entrou no quarto, fechando a porta ao passar.

– Preciso de ajuda – explicou. – O que você tem aí para tratar ferimentos?

– Eu... Só essência de ditamno e um creme anti-hematomas.

– Posso pegar emprestado?

– Eu acho que madame Pomfrey...

– Não posso ir à ala hospitalar – ele interrompeu. – Mas posso pegar suas coisas?

– Cl-claro – ela indicou o malão ao pé da cama e James imediatamente começou a revirá-lo. – Mas o que aconteceu com você, James? – Melanie se inclinou para apanhar um frasco com ditamno e um tubo com o creme anti-hematomas. Seus olhos estudavam os machucados de James. – Nunca vi alguém nessas condições...

Ele pegou o frasco e o tubo que ela segurava e os guardou nas vestes antes de se cobrir com a capa outra vez.

– Muito obrigado, Melanie. Eu sabia que podia contar com você – ela engoliu em seco.

– Você se meteu em confusão, não foi?

– Nem tanto – a voz dele vacilou.

– Ah, James...

– Não se preocupe – ele falou, indo até a porta. Dou notícias assim que puder e trago o que sobrar das suas coisas. Só, por favor, não diga nada a ninguém, ok?

Melanie assentiu, claramente preocupada. James já estava do lado de fora quando desistiu de fechar a porta e se virou para ela outra vez.

– Melanie – chamou, mesmo sabendo que ela não podia vê-lo. – Você é uma amiga incrível.

E saiu às pressas logo que fechou a porta.

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Essa foi a primeira coisa em que Lily pensou assim que recuperou a consciência. Seu pescoço ardia e sua cabeça latejava incomodamente. Abriu os olhos devagar e, à tênue luminosidade, viu o teto de madeira da Casa dos Gritos, mas seu raciocínio estava lento demais para processar detalhadamente todas as últimas informações.

– Eu não me moveria se fosse você.

O rosto machucado de Sirius Black pairou sobre Lily. Ela nem conseguia pensar num bom motivo para que ele estivesse ali.

– Black? – falou com dificuldade.

– Em beleza e humildade – ele respondeu com um sorriso torto. – Como está se sentindo, Lily?

– Tudo dói – reclamou. – E você já teve uma aparência melhorzinha, hein? – ele riu.

– Você deve estar muito bem se já consegue implicar comigo.

– O que está havendo? – Lily tentou se erguer, mas sua cabeça rodopiou e ela acabou deitando de novo.

– Bem, o Pontas disse que queria te explicar. Acho que ele se sente culpado pelo que houve à noite.

– Isso não faz sentido. Por que nós estamos machucados?

Ela lutou contra a lentidão dos pensamentos, forçando a memória. A noite era um borrão de gritos e uivos. Uma pontada em seu nariz a fez lembrar uma pancada no rosto. Algo envolvendo uma tábua...

– Ah, meu Deus! – exclamou baixinho.

– Não é que você lembra?! – Black falou sem emoção.

– Onde estão os outros?

– Pontas e Rabicho foram deixar o Aluado na ala hospitalar, mas não se preocupe. Eles estão com a Capa da invisibilidade e o Pontas vai trazer uns remédios para você.

Com algum esforço, Lily finalmente ergueu o tórax e conseguiu se sentar. Black a ajudou a apoiar as costas numa parede. Pela primeira vez, ela reconheceu o quarto poeirento com que se deparara ao chegar à casa na noite anterior. Percebeu que estava sentada numa velha cama de pilares e desejou ardentemente que toda aquela loucura não passasse de um pesadelo.

– Não se preocupe – Black falou, sentando à sua frente. – São anos de experiência com esses machucados. Um pouco de ditamno aqui e ali e nós estaremos prontos para outra.

– O que houve com o Remo?

– Ah – Black murchou. – Ele está num ciclo ruim. Nem sempre ele é tão agressivo. E também não é acostumado a ver seres humanos quando está transformado. Essa noite nós tentamos lutar, mas só conseguimos alguma coisa quando lançamos uns Feitiços Paralisantes. Pontas, Rabicho e eu fizemos um verdadeiro mutirão.

– Você está dizendo – Lily começou, chocada – que vocês sempre acompanham o Remo na lua cheia? E que derrotaram um lobisomem?

– Isso mesmo – ele falou de modo anormalmente simples. – Você nunca percebeu que o Pontas só faltava à ronda durante as noites de lua cheia?

Não, ela nunca percebera isso. Nunca procurara um padrão nas ausências de Potter e, no ano anterior, ficava até aliviada quando ele sumia sem dar satisfação.

Uma burrice, é claro. Ela sempre sabia quando Remo estava num ciclo. Como nunca ligara os pontos antes?!

– E aqueles bichos...? – atrapalhou-se com as palavras. – Você... Por um segundo, pensei que você tivesse se transformado num cachorro preto enorme... – ele deu outro sorriso torto.

– Que sugestivo, não? – Lily ficou perplexa. Não era possível que...

– Você é um animago – sussurrou.

– Pontas e Rabicho também são. Por isso você não viu nosso amigo gordinho. Ele estava na forma de rato.

– Rato? – repetiu, meio enojada, meio incrédula. Peter mal conseguia fazer feitiço não-verbal.

– É. Acho que o Pontas vai querer te explicar melhor isso, mas, só para constar, o veado era ele.

– Isso não pode ser verdade – Lily balançou a cabeça.

– Claro que pode. Nós passamos meses a fio estudando animagia. Tudo para acompanhar o Remo.

– Black, isso é crime! – indignou-se Lily. – Aposto que nenhum de vocês tem registro no Ministério. Isso para não mencionar todos os riscos!

– Nós sabemos disso, Lily, mas o Remo precisa de apoio.

– E se ele matasse ou mordesse um de vocês?! – ela quase gritou. – Você acha que ele conseguiria viver com isso?!

– Lily, foi você quem veio aqui sem saber o que ia encontrar.

– Não acredito que vocês todos concordaram com isso!

– Se não fôssemos animagos, você teria morrido – ele retrucou, emburrado.

– E, se vocês não fossem um bando de desmiolados, nós todos estaríamos na segurança de nossos dormitórios!

– Almofadinhas!

Os dois pararam de discutir e se encararam por um segundo. A terceira voz tinha saído do bolso da calça de Black. Ele tirou de lá um pedaço de espelho e, para espanto de Lily, falou:

– Deu certo, Pontas?

– Deu. Já estou voltando para aí. Rabicho vai ficar no castelo mesmo. Como está a Lily?

– Ótima. Acordou agora há pouco e já me passou sermão.

– Certo... Estou no túnel agora, na passagem secreta. Até já.

Black acenou para o pedaço de espelho e voltou a guarda-lo.

– Espelho de dois sentidos – explicou, diante da expressão confusa de Lily.

– Agora tudo faz sentido – ela falou, incapaz de lidar com a sequência de surpresas. – Foi assim que vocês burlaram as detenções durante tantos anos? – ele apenas deu um sorrisinho, encolhendo os ombros.

Durante o silêncio que se seguiu, Lily se encolheu um pouco para se proteger do frio da manhã. Imaginou o que Black e James tinham pensado para resolver aquela situação e, principalmente, imaginou como explicaria seu sumiço a Alice, Marlene e Claire.

– Lily – Black começou de repente –, acho que, depois das aventuras de ontem, nós já podemos ser coleguinhas e nos chamar pelo primeiro nome – ela apenas ergueu uma sobrancelha. – Mas o que eu queria dizer mesmo é que você devia dar um desconto ao James. Ele adora você, quase teve um ataque quando te viu machucada, queria te levar para o Saint Mungus no meio da noite... enfim. Não foi culpa dele, ok? Eu e ele discutimos no caminho até aqui e nos descuidamos. Foi por isso que você nos seguir e o mais importante: ele nunca soube que eu estava usando a capa. Só desconfiou porque eu nunca era pego.

– Black...

– Independente de tudo isso – ele continuou, ignorando a interrupção. – Ele realmente salvou sua vida, Lily. Acho que você se lembra muito bem disso.

Ela não ousou responder. De fato, sua situação podia ser muito pior. O problema era que toda aquela história era muito absurda.

Então, houve um baque surdo quando James entrou no quarto. Ele despiu apressadamente a Capa da Invisibilidade e olhou direto para Lily. Respirou, aliviado, ao vê-la.

– Graças a Deus – murmurou.

– Trouxe tudo, Pontas? – Black quis saber.

– Trouxe – James respondeu, olhando de relance para o amigo. Ele mostrou um pequeno frasco e um tubo que acabara de tirar dos bolsos. – Essência de ditamno e creme anti-hematomas.

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– Você não trouxe nada da ala hospitalar? – queixou-se o outro.

– Preferi não arriscar – ele fixou os olhos em Lily. – Eu queria voltar logo – aproximou-se dela. – Como você está?

Lily não soube o que responder. Só conseguia pensar que, durante todos aqueles anos de calculada rejeição, sua opinião sobre James Potter era completamente vaga e equivocada.

– É, amigo – intrometeu-se Black, apanhando o creme anti-hematomas. – Quando a barra estiver limpa por aqui, eu volto.

Ele acenou para Lily e saiu mancando do quarto. O silêncio entre os outros dois ficou mais incômodo que nunca.

– Bem – James começou, pigarreando. Ele assanhou desajeitadamente os cabelos. – Eu não sei se o Sirius já explicou que...

– Ele me falou um monte de coisas – Lily interrompeu. James engoliu em seco.

– Nós resolvemos contar tudo para você – ele garantiu. – Mas vamos cuidar desses machucados primeiro – Lily percebeu que ele estava nervoso e que seu equilíbrio estava abalado. – Sirius e eu contivemos o sangramento que aquela tábua causou na sua testa. Nós não achamos nenhum ferimento mais grave e conseguimos usar uns feitiços curativos simples, mas...

– Por que você não me contou? – Lily disparou.

– Quê? – ele ficou confuso.

– Por que você não me disse que tinha de faltar por causa do Remo?

– Você nunca teria aceitado.

– Será que não? – mas nem ela sabia bem o que teria feito. – Você tem ideia do risco em que se meteu, James?

– James? – ele repetiu, surpreso. Lily corou.

– Você salvou minha vida. Como diria o Sirius, acho que já podemos nos chamar pelo primeiro nome – improvisou.

– Sirius? – James balançou a cabeça. – Certo – então, sentou à sua frente, parecendo desconcertado. – Então você não está sentindo nada preocupante? Não quebrou nada? Não quer ir à ala hospitalar?

– Eu quero saber como nós vamos escapar de uma expulsão por descumprirmos todo o regulamento e até a lei bruxa – estremeceu só de cogitar a ideia. James indicou a Capa da Invisibilidade.

– O sol nasceu agora há pouco – explicou. – Ainda temos um bom tempo para voltar ao castelo – Lily sacudiu a cabeça.

– Meu Deus, não acredito que me meti nisso...

Parte sua queria berrar com James e culpa-lo por tudo, mas a voz de Sirius ecoava em sua mente: “ele realmente salvou sua vida”.

– A culpa é minha – James falou, deprimido. – Desculpe, Lily.

– Se você não acobertasse tanto os mal feitos do Sirius...

– Eu não sabia, Lily! – ele suspirou, frustrado.

– Ele me disse a mesma coisa – admitiu, mas James a ignorou. – E eu...

– O que você quer de mim?! – James explodiu. Ficou de pé e começou a gesticular enquanto falava. – Desculpe se eu não vivo como você gostaria, Lily, mas é isso. Não vou me desculpar por fazer companhia ao Remo nem vou tomar partido nas coisas que o Sirius apronta – ele a encarou duramente. – Pela milionésima e última vez, Lily: eu não ajudei o Almofadinhas.

– Eu sei – ela disse baixinho, assustada com o jeito exasperado dele. – E, apesar dos pesares, eu ia te pedir desculpas.

A expressão de James ficou mais suave. Lentamente, ele sentou outra vez e olhou para Lily, sem entender.

– Acho que nós dois cometemos nossos excessos – ela recomeçou, corando. – Desculpe a minha histeria, James. E pode ficar tranquilo: eu não vou fazer nada que prejudique você ou os outros Marotos.

– Lily...

– Mas seria interessante vocês me prometerem que vão parar com essa maluquice na lua cheia.

– Não posso. Palavra de Maroto.

– Ah, James...

– Talvez você ache que não, mas nós também temos princípios, Lily, e nós prometemos que o Remo não lidaria sozinho com o probleminha peludo dele.

– E se vocês morrerem? – impacientou-se Lily. – Se forem mordidos ou machucados ou...?

– Não vai acontecer nada disso – James garantiu.

– Você não tem como saber! – pela primeira vez, ela elevou um pouco o tom de voz. – Depois do que eu vi essa noite, James... Como eu vou saber que vocês estão bem? Que vão sobreviver?

– O que você viu essa noite foi uma exceção. E Almofadinhas e eu conseguimos controlar o Remo quando estamos na forma animaga. Talvez ele até reconheça a gente...

– James...

– Não posso! – ele pegou as mãos dela e as segurou com força. – Remo se sente um pouco melhor em nos ter por perto. Se nós o abandonarmos, ele vai se sentir o lixo do mundo. Pense nisso...

Ela sacudiu a cabeça, mas foi forçada a encerrar o assunto. Nesse ponto, James estava certo. Remo provavelmente já estava se culpando por tudo e era importante que os amigos continuassem perto dele nos ciclos seguintes.

– Vocês são malucos – ela murmurou enfim. James arriscou um pequeno sorriso.

– Agora que você já conseguiu me interrogar e já está mais calma, será que a gente pode cuidar desses machucados? Daqui a pouco, nós temos que voltar para o castelo.

Lily ficou meio assustada quando finalmente percebeu o estrago nas próprias roupas. Sua calça estava com um rasgão na panturrilha, a manga da camiseta ganhara um corte no ombro e toda a extensão do tecido estava imunda. Havia também alguns pingos de sangue próximos ao decote, os quais ela associou à dorzinha incômoda que sentia no nariz.

James a ajudou na aplicação do ditamno nos maiores cortes, um dos quais ficava na testa. Ele afastou cuidadosamente as mechas ruivas de Lily e encarou fixamente a longa linha vermelha que aquela maldita tábua havia desenhado.

Nesse meio tempo, Lily o observou.

Ele estava em condições muito piores que as dela. A calça jeans estava manchada de sangue em alguns pontos e rasgada nos dois joelhos. Seus cabelos pretos, sempre tão assanhados, estavam cobertos de poeira. Seus braços tinham diversos cortes e arranhões. Seu queixo fora cortado também e havia um hematoma na lateral de sua testa. A boca, que Lily sempre evitava olhar, estava um pouco inchada no canto direito. Mesmo assim, era Lily quem estava recebendo todos os cuidados. Teve vontade de abraçá-lo.

– Pronto – James informou, soltando um suspiro de alívio. – O corte da testa já está fechando. Vou pegar o creme anti-hematomas para você aplicar nessas marcas do pescoço.

– Não agora – Lily decidiu. Ela pegou o frasco com ditamno das mãos dele. – Vamos dar um jeito nesse seu queixo primeiro – James a encarou, surpreso.

– Eu estou bem.

– Eu, também. Graças a você.

Atordoado, ele sentou na cama e deixou que Lily aplicasse o ditamno em seu queixo. Ela ficou desconcertada ao sentir o olhar dele fixo em seu rosto, mas ignorou aquele calor nas próprias bochechas e continuou com a tarefa inicial.

– Pronto – ela falou baixinho quando a pele começou a se restaurar. Afastou-se um pouco e seu olhar encontrou o de James.

– Valeu – ele disse.

– De nada – Lily hesitou. – Eu... eu nem te agradeci ainda por ter evitado que o Remo me atacasse.

– O que não é bem verdade – ele disse, chateado, apontando para as marcas arroxeadas em seu pescoço. – Desculpe, Lily. Eu provoquei você.

– Não foi bem assim – ela corou. James continuou com cara de culpa. – E não adianta chorar pela poção derramada, James. O importante é que estamos todos vivos.

– Apoiada! – Sirius, que vinha entrando no quarto, concordou prontamente. – Sempre soube que você era uma pessoa sensata, Lily. Por isso que sempre foi minha monitora favorita também.

– Não fique mal acostumado – ela retrucou. – E nem pense que vai escapar da detenção.

– O quê?! – horrorizou-se Sirius. – Mas eu ajudei a salvar sua vida!

– E foi também você quem distraiu o James e o fez esquecer que devia usar a capa. Resumindo, a culpa é basicamente sua. Vou pensar numa detenção bem divertida para a semana que vem – ele bufou.

– Me dá logo isso – falou, puxando o frasco com ditamno das mãos de Lily. Em seguida, entregou o tubo com creme para James e encarou o amigo: – Acho bom você voltar a levar a culpa por tudo, Pontas.

Lily não quis ajuda para aplicar o creme anti-hematomas no pescoço porque teve medo dos comentários que Sirius faria caso James a auxiliasse e, principalmente, porque teve vergonha daquela velocidade maluca que seus batimentos cardíacos ganhavam sempre que ele estava mais perto ou sempre que a tocava.

Aos garotos, porém, justificou-se com a necessidade de pouparem tempo.

Assim, poucos minutos depois, os três caminhavam enfileirados pelo túnel escuro e frio que levava às raízes do Salgueiro Lutador. James e Sirius estavam curvados para que suas cabeças não colidissem com o teto baixo. Sirius ia à frente, mancando.

– A primeira aula começa daqui a uns vinte minutos – informou, espiando por cima do próprio ombro. – É melhor chegarmos logo, antes que os corredores fiquem lotados.

– Madame Pomfrey devia olhar esse seu tornozelo, Almofadinhas – disse James.

– Bobagem – Sirius deu de ombros. – O importante agora é pensar no que diremos aos outros. As garotas com certeza vão estranhar o sumiço da Lily.

– Nós não combinamos com o Peter para ele dar um jeito de não deixar que elas procurem algum professor?

– Como se Pettigrew fosse muito convincente – Lily resmungou, subitamente preocupada. Precisamos de uma boa história!

– É impressão minha – Sirius começou – ou Lily Exemplar Evans quer inventar uma mentira para salvar a própria pele?

– Não é só a minha pele que está em jogo, seu ingrato – ela rebateu. – A sua e as dos seus amigos também entram no pacote.

– Bem, eu salvei a sua pele e ganhei uma detenção.

– Francamente, Sirius! Nós todos sabemos que Remo seria o mais afetado se essa história vazasse...

– Lily tem razão – James sentenciou.

– Quê?! Desde quando você concorda com ela e discorda de mim?! – queixou-se Sirius. Lily corou.

– Enciumado, amiguinho? – James brincou. Num olhar rápido, Lily o viu com um grande sorriso.

– Claro – Sirius soou quase entediado. – Não quero perder meu veado favorito.

– Cervo! – James corrigiu, irritado. Sirius deu de ombros. Pela primeira vez, Lily soube qual era o bicho com chifres que tinha atacado a forma lobisomem de Remo. Como era possível que, há apenas algumas horas, ela estivesse tão furiosa com James e agora nada disso importasse?

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– Vocês deviam simplesmente dizer que tiveram alguma emergência ou sei lá. Coisa de monitor. Digam que levantaram mais cedo para ir ao corujal...

– Isso não explica as roupas sujas nem os machucados – Lily observou.

– Mas ninguém vai ver nada disso – James interveio. – Nós vamos faltar à primeira aula.

– O quê?! Mas eu nunca gazeei aula na vida! – protestou.

– Estamos emocionados de presenciar sua primeira vez, Lily – Sirius falou solenemente. Em seguida, caiu na gargalhada. Lily revirou os olhos, mas James apenas suspirou.

– Almofadinhas, eu não provocaria uma monitora-chefe que já te passou mil detenções – recomendou.

Quando eles chegaram ao Salgueiro Lutador, Lily e James se cobriram com a Capa da Invisibilidade e seguiram para o castelo. Sirius preferiu esperar um pouco para voltar sozinho.

– Nossas pernas sem corpo chamariam muita atenção – justificou. – Vejo vocês no almoço.

Então, Lily e James caminharam às pressas e curvados, porque James era tão grande que a Capa já não cobria parte de sua panturrilha. Lily adoraria dizer que estava atenta a possíveis movimentações nos corredores desertos, mas tudo em que conseguia pensar era no quanto estava perigosamente perto de James e nos arrepios que a assaltavam sempre que eles se encostavam acidentalmente. Em geral, a presença de James não a deixava nervosa, mas há quanto tempo eles não se falavam ou se tocavam de verdade? Desde aquele incidente na ronda...

Felizmente, o percurso foi curto, porque James conhecia todos os atalhos possíveis e imagináveis para a Torre da Grifinória. Em certo ponto, ele apenas parou de andar e puxou uma tapeçaria da parede, revelando um nicho apertado e uma escada íngreme.

– É só seguir a escada – ele orientou, afastando-se para Lily sair de debaixo da capa.

– Você não vem? – ela perguntou, confusa.

– Não posso – James assanhou desajeitadamente os cabelos. – Mas é seguro. Pode confiar. A gente se vê mais tarde.

– E o que eu vou dizer às garotas?

– Bem, parece que já estão todos na aula, então elas não devem estar no dormitório.

– Certo – Lily entrou no nicho. – James, você não vai se meter em outra encrenca agora, vai? – preocupou-se. Ele deu um sorriso cansado.

– Não, não vou. Talvez você já me veja no período de Poções daqui a pouco. Mas, se entrarmos juntos na Torre da Grifinória, vamos chamar muita atenção.

– Certo – ela sentiu o rosto esquentando. – Então...

– É... Até mais, Lily.

– Até mais, James.

Ele recolocou a tapeçaria antes de se afastar e Lily subiu as escadas com uma estranha sensação de abandono.