Causa Perdida?

Capítulo 20


–É verdade – Lily falou, largando-se na própria cama.

Marlene era a única que ainda estava acordada agora que ela chegara da ronda, mas também já estava de pijamas.

– O quê?

– Mais cedo, você achou que Black estava exagerando, mas eu acabei de vê-lo aos beijos com Jenna Edgecombe.

– Credo! – Marlene fez uma careta de repulsa. – Isso é coisa que se diga quando eu estou prestes a dormir, Lily?!

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– Bem, se lhe serve de consolo, eu passei uma bela detenção nele.

– Só no Sirius? – Marlene desconfiou.

– Bem, Jenna saiu logo que eu puxei a tapeçaria. Sabe como é: eu vinha na ronda e escutei aquele barulho de sucção. Quando encontrei o lugar... surpresa!

– Eca! – ela balançou a cabeça. – Que descida de nível... O próprio Sirius costumava dizer que Jenna não valia o esforço sedutor dele.

Lily ficou calada, incapaz de discordar da amiga. Jenna era uma garota de cabelos ruivos e crespos, voz estridente e feições grosseiras. Além disso, o ar de superioridade que ela sempre esbanjava já rendera várias intrigas suas com Marlene, principalmente quando Jenna era artilheira no time de quadribol da Corvinal. Em quase sete anos de escola, ela era a única pessoa que Marlene realmente não suportava em Hogwarts, exceto por Belatriz, Malfoy e seus seus escudeiros sonserinos.

– Quer dizer que você não passou detenção no Sirius só para dar o troco no James? – Marlene indagou de repente.

– Claro que não! – indignou-se Lily. – Ele quebrou o toque de recolher.

– Jenna, também.

– Você só está com ciúmes – ela retrucou. Marlene riu.

– Não confunda nossos casos, Lily. Você brigou com um bando de primeiranistas só porque viu o James e a Melanie conversando.

– Mas aqueles garotos pisaram com tudo no meu pé! – a outra balançou lentamente a cabeça.

– Fala sério, Lily...

– Bem, ainda que fosse por causa do Potter, eu tenho o direito de ficar chateada, ok? Até um dia desses, ele dizia que gostava de mim e agora já arranjou outra.

– Espere. O James não dizia que gostava de você. Dizia?

Lily suspirou, derrotada, e contou para a amiga sobre a última conversa com Potter. Enquanto falava, sentiu-se tão deprimida que não teve forças para ocultar o episódio do beijo e foi forçada a ver o brilho de alegria nos olhos de Marlene quando contou essa parte da história.

– Não acredito que você deu um fora nele, Lily! – ela exclamou, impaciente. Lily corou.

– Não era para ser bem um fora... Eu só... só queria que ele esperasse um pouco ou...

– Poxa, essa é uma piada de péssimo gosto para o James – Lily deu de ombros, a cara amarrada.

– Não que ele se importe mesmo. Já está falando de novo com a Melanie... – Marlene revirou os olhos.

– Não vou discutir isso, Lily. Eu sei que você já entendeu o que está havendo. E não adianta se roer de ciúmes se você não quer dar o braço a torcer.

Lily não se atreveu a retrucar. Sabia que a amiga estava certa. Sempre estivera, pelo visto, mas era muito difícil tratar desse assunto.

– Acho que Potter ficou chateado mesmo – Lily recomeçou baixinho. – Você acha que... – hesitou. – Você acha que ele vai realmente investir na Melanie?

– Não sei... Mas se a Melanie correr o risco de ficar com ele, eu não vejo o quê impediria os dois.

As entranhas de Lily remexeram incomodamente. Marlene lhe lançou um olhar solidário.

– Você só precisa se reaproximar do James. Aposto que ele ainda gosta de você.

O assunto não rendeu muito mais, mas Lily gravou bem o que Marlene dissera. Embora fosse difícil admitir que estava com saudades de James Potter, ela já achava muito mais difícil manter a pose de inabalável, especialmente se Melanie estava de volta. Restava saber se ainda tinha chances com James.

– Devo estar maluca – murmurou para si mesma antes de dormir. Disputar o amor de James Potter sempre fora seu pior pesadelo

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James se largou num sofá do salão comunal, tentando não parecer muito aborrecido. Ao seu lado, Peter se encolheu.

– Não acredito que você acobertou isso tudo! – James reclamou.

– Desde quando você se importa tanto com o regulamento? – Peter falou com a voz fraquinha.

– Não tem a ver com o regulamento, Rabicho! Tem a ver com o Almofadinhas mexendo no meu malão, sem avisar, e sequestrando minha capa para ir a Hogsmeade! – James abaixou a voz. – A Evans vai me enforcar se souber que ele andou vendendo cerveja amanteigada dentro do castelo!

– Ora, ele saiu de casa e precisa se sustentar – James amarrou a cara. Peter fez uma careta de culpa.

– Como se precisasse! Sirius tem uma boa fortuna no Gringotes. E o mais importante: ele não pode simplesmente roubar minha capa sempre que tiver vontade. Ainda por cima, foi pego ontem pela Lily. Se ela tem confiscado a mochila dele e visto a capa...

– Bem, ele precisava confirmar a história que inventou para McKinnon, não é? Aquilo foi tudo planejado.

– Espera aí – atrapalhou-se James. – Então ele mentiu para Marlene?

– É – Peter deu de ombros. A Edgecombe estava lá o tempo inteiro, mas ele só se interessou quando McKinnon e McLaggen voltaram – ele deu um sorrisinho. – Sugestivo, não?

– Merlin. O cachorro perdeu de vez a noção – James murmurou, tão chocado que se esqueceu momentaneamente da raiva.

– Sei não, mas acho que a McKinnon pode antecipar a aposentadoria dele – Peter comentou. – Mudando um pouco de assunto, você vem hoje à noite?

– Vou – James garantiu. – Vai dar trabalho e a Evans certamente vai achar que eu fugi para ajudar o Almofadinhas a escapar da detenção, mas eu vou.

Houve uma pausa. Do outro lado do salão, Melanie e Sandy conversavam alegremente. James se despediu do amigo e foi até as garotas. Tentou resgatar seu jeito charmoso.

– E aí – cumprimentou.

– James! – Melanie sorriu. Sandy apenas acenou.

– Período livre? – Melanie fez uma careta.

– Já não era sem tempo. Aquela aula de Herbologia acabou comigo...

– Nem me fale – lamentou-se James. – Não consigo entender aquelas malditas plantas...

Houve uma pausa. Então, Sandy balbuciou uma desculpa qualquer e se retirou.

– Foi algo que eu disse? – James quis saber. Melanie negou com a cabeça.

– Não, ela só não se conforma do Sirius ter sido tão canalha na hora de dar o fora. Mesmo sem que eles tivessem um compromisso, dava para ter sido mais decente, sabe.

– Entendo.

– Soube que ele foi pego no flagra ontem. Com Jenna Edgecombe – ela fez uma careta. James riu.

– Ainda não sei os detalhes dessa história. Estou tão surpreso quanto você.

– Bem, e que tal se nós juntássemos forças contra aquelas malditas plantas? Já que você largou essa vida delinquente – ela ficou sem jeito, mas James sorriu, aliviado.

– Ah, seria ótimo! Quando podemos fazer isso?

– Hoje à noite?

– Na verdade, eu vou passar uma semana inteira com as noites ocupadas.

– O que foi que você disse?!

As entranhas de James gelaram. Ele reconheceria aquela voz irritada em qualquer lugar. Virou-se lentamente para encarar Lily.

– Algum problema, Evans? – perguntou calmamente.

– Muitos, muitos problemas, Potter. Qual você quer ouvir primeiro?

– Você quer realmente...

Mas, antes que ele terminasse de falar, Lily ergueu a mão e jogou um pedaço de tecido em seu rosto. Não era um tecido qualquer.

– Vamos conversar, Potter.

Ela indicou o buraco do retrato. James olhou para Melanie com cara de quem pede desculpas e a acompanhou até uma sala vazia naquele mesmo andar.

– Você pode me dizer por que Black estava com sua capa? – Lily vociferou assim que ele entrou na sala e fechou a porta.

– Eu não sabia que ele estava com capa nenhuma.

– Não minta, Potter! Eu já vi você usando essa coisa e, certa vez, Remo deixou escapar que ela era sua.

– Ok, ok! Eu sou o dono da capa, admito. Mas só descobri que Sirius estava com ela agora há pouco, porque revirei meu malão e...

– Você acha que eu sou burra?! Sou capaz de apostar que essa capa permitiu a você e a Black seis anos de reinado em Hogwarts. Agora, não que eu saiba como vocês conseguiram executar um Feitiço da Desilusão tão eficiente, mas vou confiscar a capa e...

– Não! – assombrou-se James. – Você não pode fazer isso. A capa está na minha família há séculos, Evans.

– Quanta cara de pau...

– A questão não é essa! A capa sempre foi diferente. Eu a encontrei no armário do meu pai quando tinha dez anos e ela já conseguia deixar as coisas invisíveis.

– Nossa – ela falou com desprezo.

– Isso é sério, Evans! Se não acredita em mim, lance um contrafeitiço! Vamos lá, você é a melhor da nossa turma, certo?

– Vou levar para a professora McGonagall fazer isso.

– Não! – ele ficou horrorizado. – Não envolva os professores... – como ela não se abateu, James começou a ficar desesperado. – Onde diz no regulamento que eu não posso ter uma capa?!

– E onde diz no regulamento que Black pode contrabandear cerveja amanteigada?! – ela parecia muito chateada. – E, ainda por cima, eu acabei de encontra-lo nas masmorras, tentando enfeitiçar um monte de caldeirões!

Normalmente, James acharia engraçada a ideia dos caldeirões, mas ficou horrorizado demais. Sirius claramente se descuidara na hora de criar uma distração para aquela noite. Afinal, ele precisava ocupar Lily para ir à Casa dos Gritos no fim da tarde sem levantar suspeitas.

Agora tudo fazia sentido.

– O que diabos está acontecendo?! Não acredito que você sabia de tudo e deixou por isso mesmo!

– Mas eu não sabia, Evans! Ele não me conta mais nada porque acha que eu vou dedurar!

– Você é monitor-chefe! – ela exclamou, frustrada. – Nem acredito que te defendi para McGonagall ontem... Ainda por cima, você me vem, ou pior, nem me disse que está ocupado hoje à noite!

– Eu nem tive tempo...

– Ótimo. Então essa é sua chance de me explicar qual é o compromisso tão longo e tão importante de hoje.

– M-mas... – James se atrapalhou.

– E então, Potter?

A entonação acusadora dela o irritou. Dessa vez, James era plenamente inocente e não estava disposto a escutar um sermão que não merecia. Quando era monitor, Remo também fechava os olhos para as infrações dos amigos e Lily nunca o condenou por isso. Ela simplesmente não tinha o direito de exigir que James se voltasse contra Sirius ou que expusesse o que os Marotos faziam nas noites de lua cheia.

– Tenho um compromisso com os Marotos – ele respondeu, sério.

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– Inadiável?

– É.

– E vai durar a noite toda? Durante uma semana?

– Isso mesmo – ele assanhou nervosamente os cabelos.

– Eu não acredito.

– Tanto faz. Não é como se fosse da sua conta mesmo.

– Se você esqueceu, eu também sou monitora – Lily estava vermelha de revolta. – E aposto que essa história de enfeitiçar caldeirões era só uma forma de me ocupar para vocês fugirem e fazerem sabe Deus o quê. Então, será possível que você não percebe, Potter?! Não entende que Black foi longe demais?! Fugir para Hogsmeade desse jeito é perigoso! Com os Comensais assombrando o país inteiro...

– Por que só comigo?! – ele explodiu. – O Remo também acobertava a gente! E você até hoje acha que ele é um santo! Mas adivinha só, Evans, eu NÃO sou o Remo! E não lhe devo satisfação sobre nada! Se quiser me dar cobertura na ronda, ótimo!

Ele virou as costas para Lily e fez menção de sair.

– A capa – ela exigiu. James a encarou duramente.

– Não. Diga o que quiser à McGonagall, mas a capa fica comigo.

E saiu da sala.

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–... então, só para completar a bosta de dragão, ainda tem aquele trabalho enorme de Astronomia – queixou-se Marlene.

– Um rolo inteiro de pergaminho – Frank resmungou.

– E só o que a Lily faz é xingar o James – Alice completou.

Os três olharam para Lily, mas ela os ignorou e partiu furiosamente um pedaço de rosbife que estava em seu prato. Era hora do jantar e seu mau humor aumentava sempre que alguém reclamava dele.

– No lugar do James, qualquer um faria o mesmo – Marlene falou delicadamente. – Era o Sirius quem devia pagar o pato, Lily. Ele quem faz tudo.

– Potter podia ter evitado – retrucou de má vontade. – Tenho certeza que eles estão aprontando juntos dessa vez.

– Por que você não diz logo à McGonagall? – impacientou-se Alice. Lily largou os talheres e suspirou.

– Quero evitar escândalos. E não se preocupem, já estou de saída. Preciso ficar de olho naqueles dois e descobrir que porcaria de compromisso é essa que ninguém pode perder.

– Lily, você não acha que está exagerando? – Frank perguntou calmamente. Ela o fuzilou com o olhar.

– Bem, você sabe de alguma coisa que me levaria a pensar assim?

Ele negou com a cabeça.

– Só acho que você está misturando as coisas. Se tem a ver com o que você sente pelo James...

Mas todos se encolheram quando Lily se levantou bruscamente e deixou a mesa da Grifinória, caminhando às pressas para o Saguão de Entrada. Só parou de andar quando esbarrou no ombro de Claire por pura coincidência.

– Lily! – ela se espantou. – Desculpe. O que houve?

– Não faz mal – a outra resmungou, massageando o ombro acertado.

– Ah, ainda com raiva do James?

– Ah, não! Se você quer defender o Potter...

– Eu não vou defender ninguém! – Claire falou, assustada. – Mas não precisa ficar uma pilha de nervos, Lily. Sirius já está de detenção e os outros monitores estão em alerta...

– Ele vai faltar à ronda de novo! – Lily explodiu. – Será que ele não vê?! Não entende que, desse jeito, eu nunca vou confiar nele?!

Ela estava ofegante e seus olhos ardiam. Tinha verbalizado o que a angustiava desde quando abordara Black nas masmorras e confiscara a Capa da invisibilidade, que cobria o corpo seu do pescoço para baixo. Depois disso, ele confirmou os boatos sobre a venda de cerveja amanteigada, o que desgostou Lily profundamente.

– Ok, o James vacilou, mas não adianta ficar furiosa, Lily. Você precisa é conversar melhor com ele.

– Não quero falar com ele! – Lily disse, emburrada. – Quero mais é que ele se dane!

– Certo – Claire suspirou. – Nesse caso, vamos focar naquele trabalho imenso de Astronomia. Se temos que estudar os principais satélites, eu acho que devíamos aproveitar a lua cheia para...

Lily ergueu a mão, gesticulando para que Claire parasse de falar. Seus olhos estavam fixos num ponto próximo à escadaria de mármore, onde James e Black caminhavam apressados, discutindo. James parecia mais irritado e estava gesticulando mais que o normal. Normalmente, Lily os interromperia, mas, dessa vez, seus planos eram outros.

– Lily? – Claire chamou. – O que foi?

– Nada – Lily desconversou. Se James realmente achava que podia livrar Black da detenção... – A gente se vê mais tarde, na Torre de Astronomia.

Nem esperou que Claire respondesse e já correu para os jardins. Em outra ocasião, ela poderia recorrer à ajuda de Remo, mas, àquela hora, ele provavelmente já estava se preparando para a primeira transformação do mês. Além disso, Lily duvidava que ele fosse entregar os amigos.

Então ela caminhou pela grama, encarando o vento frio, e foi acompanhando de longe os passos dos dois garotos. Eles continuavam falando entre si de forma pouco amigável e pareciam indiferentes aos outros alunos que ainda estavam fora do castelo. Como estava escurecendo, porém, a maioria das pessoas já voltava para o Saguão de Entrada, porque não podiam deixar o castelo durante à noite.

Lily se sentia mais indignada a cada segundo, mas seu sexto sentido só disparou quando os garotos finalmente pararam de falar, acenderam as varinhas e olharam ao redor. Imediatamente, ela se escondeu atrás de um arbusto. Houve um barulho de passos se aproximando e Lily tirou a própria varinha do bolso, preparando-se para duelar se preciso.

– Anda, Sirius! – a voz aborrecida de James chamou. – Antes que a árvore volte a se mexer.

– Certeza que ninguém acompanhou a gente?

– Por que alguém faria isso?! Quase todo mundo já voltou para o castelo.

Lily se odiou por ter pensado que James estava mais maduro. Ele continuava sendo um moleque inconsequente...

Mas por que uma árvore deveria ficar parada?!

Com o coração aos pulos, ela esperou Black se afastar e espiou pela lateral do arbusto para ver que o Salgueiro Lutador estava imóvel. Quase deixou escapar um gritinho de horror.

Todo mundo sabia que os Marotos conheciam Hogwarts melhor que as palmas das próprias mãos, mas aquilo já era demais. Lily se aproximou lentamente do Salgueiro, empunhando a varinha acesa. Os garotos haviam sumido, mas os olhos dela encontraram um pequeno buraco em meio às raízes. Ficou dividida entre a vontade de entrar e os conselhos de sua consciência. Talvez fosse melhor contar logo tudo à McGonagall...

Diante do impasse, houve um ruído agourento e o Salgueiro voltou a se mexer. Assustada com a iminência de ser acertada por um galho robusto, Lily pulou de qualquer jeito no tal buraco e caiu de cara no chão poeirento de um túnel longo e estreito. Felizmente, a varinha estava firme em sua mão.

– Bosta de dragão! – resmungou enquanto se erguia. Já estava imaginando como sairia dali. E pior: James e Black podiam estar sob a Capa da Invisibilidade, certificando-se de que estavam seguros. Lá fora.

“Não foi um truque” Lily pensou, tentando se convencer. “Eles estavam até brigando...”.

Foi acompanhando o túnel, apurando os ouvidos. Havia boatos sobre passagens secretas que ligavam Hogwarts a Hogsmeade e ela até conhecia a localização de algumas, mas eram todas dentro do castelo.

Apesar de tudo, Lily tentou manter a calma. Talvez fosse uma situação perigosa, mas ela ainda era uma Grifinória. Só vacilou na coragem quando, uma eternidade depois, atravessou uma pequena passagem e entrou num quarto velho e sujo. Os móveis estavam desgastados e, à luz da varinha, Lily viu tábuas nas janelas. Seus pelos se arrepiaram com os barulhos que vinham do andar de cima. A voz de James ecoou a todo volume.

– Não vai dar para tirar ele daqui, Rabicho! – em seguida, o teto rangeu precariamente e Lily disparou pelo corredor.

– James! – gritou, apavorada. Só conseguia pensar em uma coisa que aconteceria num lugar daqueles em noite de lua cheia.

– Você ouviu isso? – perguntou a voz de Black.

Lily os alcançou numa sala apertada, aos pés de uma velha escada. Black e James ficaram horrorizados ao vê-la, mas Pettigrew não estava por ali.

– Vocês enlouqueceram de vez?! – ela censurou. – Se isso for a Casa dos Gritos... – um uivo característico a interrompeu. – VAMOS EMBORA DAQUI!

– Não, Lily, você não entende – atrapalhou-se James, empurrando-a de volta para o corredor. – Você não pode ficar aqui, não podia ter vindo...

– CUIDADO! – gritou Black.

Lily nunca tinha visto um lobisomem de verdade. Reagiu institivamente e, apontando a varinha por cima do ombro de James, berrou:

– Estupefaça!

O lobisomem soltou um ganido, mas continuou avançando escada abaixo, numa velocidade assustadora.

– Agora, Pontas! – Black falou e, para horror de Lily, ele tocou a ponta da varinha na própria cabeça e assumiu a forma de um cão preto enorme, que abocanhou a perna do lobisomem. O bicho urrou de dor e começou a lutar com o cão.

– Lily, saia daqui! – James disse, nervoso.

– O q... como... – atrapalhou-se ela.

– Depois eu explico, Lily. Juro que explico...

Black emitiu um ganido agonizante. James se virou imediatamente, a varinha em punho.

– Impedimenta! – mas seu feitiço errou por pouco o alvo e estilhaçou o corrimão da escada.

– Protego! – berrou Lily.

O escudo apareceu bem em tempo de impedir o avanço do lobisomem, que recuou, choramingando.

– Sirius! – James chamou.

– Isso... – Lily gaguejou, os olhos marejados. – Esse é o Remo?

James confirmou. Do outro lado do escudo, Remo voltava a atacar e o feitiço estava enfraquecendo.

– Eu vou distraí-lo quando você desfizer o feitiço – James decidiu. Lily se encolheu junto à parede, com os olhos arregalados e fixos na figura monstruosa que era seu amigo Remo. – É só desfazer o escudo e voltar para o túnel, ok? Não avise a ninguém. Não se preocupe conosco...

– Remo... – choramingou Lily. No segundo seguinte, o escudo foi rompido e o lobisomem arremessou James para longe. – NÃO!

Ele ainda uivou antes de atacar Lily. Suas garras rodearam a garganta dela e ele a empurrou contra a parede, tirando seus pés do chão...

O cão preto reapareceu e pulou nas costas do lobisomem. Lily foi jogada para longe e caiu por cima do próprio pulso. Sua cabeça colidiu fortemente com o chão, o que a deixou tonta. James, que acabara de se levantar, ajudou-a a ficar de pé.

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– Está tudo bem – ele garantiu, segurando suas mãos com força. – Ele só está num ciclo muito violento, mas nós somos acostumados. Agora saia daqui, Lily! Por favor!

James a empurrou de volta ao corredor e Lily seguiu com passos vacilantes, tremendo da cabeça aos pés, sentindo-se atordoada demais para saber se deveria fugir ou tentar ajudar os garotos. No meio da confusão, ela espiou por cima do ombro no exato momento em que o lobisomem se livrou do ataque de Black e arremessou uma tábua enorme na direção do corredor.

O grito de súplica de Lily para que James saísse logo dali jamais foi pronunciado. A tábua a acertou com tudo e a última coisa que Lily viu antes de apagar foi um animal grande e com chifres investindo contra Remo.