Aluga-se Um Namorado

Irritação Matinal


Pela primeira vez naquela noite Sakura sentiu frio. Sua roupa parecia inadequada, sua presença desinteressante e indesejada. Sentia-se como uma adolescente e a adolescência não foi – nem de longe – a sua melhor fase. Então antes que outras pessoas aparecessem, antes que alguns paparazzi de verdade surgissem, ela o pegou pela mão e o tirou dali.

Sasuke parecia em transe, perdido em seus próprios pensamentos, alheio a presença de Sakura ao seu lado. Poderiam voltar caminhando, mas pelo estado em que ele se encontrava ela preferiu pegar um táxi.

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Nada foi dito, apesar de muitas perguntas persistirem no ar e Sakura quase as verbalizou, mas todas as vezes que o fitava ela desistia, só receberia hostilidade se insistisse. Aquele não era o momento para questionamentos, então se focou no celular, buscando ver todas as mensagens que tinha ignorado, sorriu ao ouvir as mensagens de Hinata. Assim que pudesse compraria um presente para sua amiga, ela merecia por ter aguentado a festa sozinha.

Quando entraram no quarto de Hotel, a Haruno se sentou no sofá, onde passou a maior parte da noite. Procurando se ocupar com tudo e qualquer coisa. Sasuke ainda preferia ficar sozinho a compartilhar o que estava sentindo e pensando, trancou-se na suíte, ficou por bastante tempo escorado no dossel da cama fitando as próprias mãos, completamente absorto.

Sakura não queria pressiona-lo, não mesmo, respeitava o silêncio dele, não entrou no quarto nem uma vez e apenas o fitava sorrateiramente, nas poucas vezes em que ele cruzava a sala. As horas foram passando e a Haruno começou a divagar sobre o momento adequado para entrar no quarto e informa-lo que só tinha uma cama e que eles teriam que compartilha-la, mesmo ele já sabendo disso. Talvez não falasse nada, seria melhor entrar, deitar e dormir fingindo não vê-lo, se ele estivesse estirado na transversal deitaria igual e se estivesse deitado no meio ela ocuparia de bom grado uma ponta qualquer. Só queria que raiva que o viu sentir não fosse transferida para ela.

Sua concentração em escolher a melhor abordagem era tamanha que demorou a notar que a porta tinha sido reaberta e que assim tinha ficado. Na verdade só percebeu quando o ouviu dar duas batidas na madeira, levantou incerta de que era um convite ou apenas som qualquer. Parou a soleira da porta observando a cama já desfeita, Sasuke estava ajeitando- se em seu canto, cobrindo-se dos pés a cabeça.

Fechou a porta, caminhando apressada até o seu lado que restava, em cima do travesseiro tinha uma das camisas dele, das antigas que ela criticava quando ele vestia, mas andava dormindo confortavelmente com elas.

Sorriu pegando a peça, era mesmo um convite. Foi logo se trocar, voltou em menos de cinco minutos, cabelos e dentes escovados, acomodou-se ao lado dele. Torceu para que o sono viesse logo, mas ali, deitada ao lado de Sasuke as perguntas que tinham martelado o caminho todo pareciam querer gritar para fora dela e ela se remexia sem parar em busca de uma paz que posição nenhuma traria.

— E então... — Enrolou uma pequena mecha de cabelo entre os dedos, ora a fitando, ora voltando a observar as costas dele. — Nós vamos ter o nosso jogo da noite? — a resposta demorou a vir, Sakura já estava desistindo de recebe-la quando a voz grave soou pelo aposento.

— Já jogamos no restaurante. — Sakura apertou a coberta entre os dedos, pressionando os lábios com força, tentando com muito custo mantê-los juntos. Não deveria falar, sabia disso, tinha certeza disso, mas não o fez.

— É... mas houve aquele telefonema e eu pensei que você poderia... que nós poderíamos... — não dava para segurar, a curiosidade pinicava dentro dela como brotoeja que precisava ser coçada ou não teria alívio nunca. Porém Sasuke não compreendia essa necessidade e se virou para fita-la com a expressão fechada, pesada.

— Pensei que a ideia da brincadeira fosse se abrir sem pressão quando nos sentíssemos a vontade para falar. Caso não tenha percebido eu não estou interessado em conversar sobre. — Ali na frente dela não estava o garoto tolerante e compreensível que tinha se habituado e sim o que a tinha pego escondida entre dois sofás de uma sala onde não deveria estar. — Não ouse insistir, Sakura.

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E ela não ousou, por um tempo ela ficou a fitar as costas dele, observando o subir e descer dos ombros, ouvindo a respiração forte e descompassada, um detalhe claro do quão irritado estava. Sakura pensou em muitas maneiras de continuar assunto, maneiras de se desculpar, ou de quebrar o gelo, mas por fim desistiu. Nada mais precisava ser dito.

— Boa noite, Sasuke.

— Boa noite, Sakura.

(...)

Um som agudo e em seguida o de algo aparentemente caindo o despertou. No entanto não procurou saber do que se tratava, pressionou o travesseiro, que segurava, em seu rosto tentando voltar ao mundo dos sonhos. Porém outro som ocorreu, peculiar e bem conhecido, soltou um suspiro exasperado. Não teria paz? Como resposta a esse questionamento a porta do quarto foi aberta, sem cuidado Sakura se jogou sobre o corpo dele, pulando eufórica. A pontada de dor em suas costas foi profunda, ele virou jogando-a para o lado e sentando na cama, mas nem isso acabou com a animação dela. Sakura estava fora de si e logo o estava abraçando por trás e enfiando uma revista bem em frente ao seu rosto.

— Olha! Olha! O-lha! — ela pressionava o material na cara dele, sem gentileza alguma. Mesmo se quisesse ler seria impossível daquele jeito. Sasuke arrancou a revista das mãos dela. — Somos nós na capa!

— E o que tem isso? — Pelo que ele bem lembrava esse era o plano, eles deveriam ter todo o destaque. Além do que não era nenhuma novidade a Haruno em uma capa de revista.

— Será que você não consegue compreender? Essa revista não deveria destacar a festa de ontem, apenas comenta-la. — Apontou para a capa e logo em seguida a abriu, mostrando a matéria voltada ao estande das fotos deles. — Você não vê? Eles mudaram a manchete da revista no meio da noite. Você pode achar isso comum, mas só ocorre quando os comentários em torno de um determinado assunto são grande demais. Seria comum ter uma página falando da festa e uma nota sobre nós. Porém nós somos “a” matéria, que só deveria ocorrer na semana que vem quando a edição exclusiva sobre o evento será lançada. — Sakura puxou a revista para o seu colo, voltando a folheá-la revendo as imagens deles sem parar de sorrir. — Nós somos uma segunda edição, que tudo! Mudaram no meio da madrugada para falar só de nós! É óbvio que eles mencionam a festa, mas eles que são apenas a notinha. — O rosto dela se iluminou apertando o encadernado conta o corpo. — Nosso plano está mais do que dando certo, ele já é um fato comprovado. Nós somos as pessoas do momento! — se jogou para trás agarrando um dos travesseiros e dando um gritinho entusiasmado. — Isso é mais do que perfeito.

Sasuke passou o olho pela matéria que de tão superficial chegava a enojá-lo. O que ele estava fazendo afinal? Detestava aquele tipo de espetáculo, sempre detestou. Aquelas manchetes, todo esse burburinho por um jantar e um marketing bem arquitetado. Essa não era a vida que queria para si, nunca foi.

— Minha mãe deve ter lido essa revista, ou outra, não sei. – Sakura o fitou por alguns instantes, ele estava descontente era obvio, dava para notar por sua expressão enquanto fitava foto por foto. — E onde eles conseguiram essas imagens? — na revista não tinham fotos só do desfile ou tiradas pela Shizune, mas fotos da noite de Ano Novo e outras dele chegando ao Hotel ontem à noite.

— Onde mais eles conseguiriam essas imagens? — Sakura se sentou na cama fitando-o com um sorriso irônico, mas ele não prestava atenção a ela, continuava com o olhar fixo, a boca comprimida em uma linha severa. — Não seja bobo — A Haruno arrancou a revista das mãos dele, jogando-a do outro lado do quarto. Fazendo com o que a atenção dele caísse sobre ela. — Isso não é um problema, é? — Sasuke a observou por um tempo, Sakura sorria incerta, fitando-o com seus expressivos olhos verdes.

— Não, não é. — Jogou as cobertas para o lado, estava cansado daquela conversa. — Eu concordei com isso, não é mesmo? Com tudo isso. — Um sorriso fraco surgiu em seus lábios, a Haruno o observou com atenção, sentindo a curiosidade se arrastar novamente. — O que faremos agora?

— Nada.

— Como assim? — Sasuke a fitou perdido e confuso. — Você não vai continuar com o plano?

— É claro que vou, não vai conseguir se livrar de mim tão cedo. — Sorriu marota, saindo da cama e ajeitando o short curto que usava. — Mas agora nós vamos agir normalmente, como se nenhuma notícia ou matéria sobre nós tivesse saído. Vamos andar pelas ruas de mãos dadas, sair de vez em quando e fazer coisas que namorados fazem sem se importar com a mídia. — Enquanto falava verificava o próprio reflexo no espelho que tinha no quarto, ajeitando os cabelos claros. — Isso, claro, até o seu grande desfile. Depois tudo será diferente.

— Desfile? Que desfile? — o pânico era evidente em cada sílaba. Sakura o fitou pelo reflexo, sorrindo para ele.

— Como assim que desfile? — Sasuke suava frio, tentando lembrar em que momento ele tinha topado participar de um desfile. Lembrava de fotos, de fazer campanha, mas desfilar? Isso foi ofertado? Ele disse sim? Levou ambas as mãos a têmpora só poderia estar enlouquecendo mesmo. Estava concordando com coisas que não combinavam em nada com sua personalidade. Essa história toda estava ficando mais longa e complicada do que imaginava a principio.

— Nós falamos no ateliê do Orochimaru. Não está lembrado?

— Não! Não falaram comigo. Vocês dois devem ter decidido naquele momento que resolveram confabular e não se importar com o que eu penso. — Sakura revirou os olhos, soltando um grunhido, mas ele estava pouco se importando, esquadrinhou o quarto em busca de uma camisa, enfiou a primeira que viu a frente.

— Espera! Onde pensa que vai?

— Embora. Não vou desfilar! — Pegou um par de tênis e se sentou a borda da cama para calça-los. Atônita Sakura andava de um lado para o outro.

— Não! Eu já fiz algo que você queria. Nós não fomos a festa, custa fazer algo que eu quero também? — parou em frente a ele, mas Sasuke não ergueu a cabeça para fita-la.

— Essa foi a única vez que fez algo que eu quis. Só ando fazendo o que você quer. — Ela pulou em cima da cama batendo com o travesseiro nas costas dele.

— Eu vou acabar com a sua vida! Vou fazer você ser despedido, você não vai ser contratado em lugar algum. Naruto vai te colocar para fora daquele apartamento. — Ela esbravejava com vigor, ajoelhada na cama, socando as costas dele com ambos os punhos cerrados. — E a sua mãe...

— E a minha mãe vai me deserdar, nunca mais vai olhar na minha cara e vai te adotar. — Ela parou, enquanto ele se aprumava ficando de pé, mas Sakura o agarrou pelo braço e o puxou de volta para cama.

— É só um desfile. O que tem isso demais? — perguntou baixo, evitando até mesmo toca-lo, Sasuke soltou um suspiro exasperado.

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— Tem que eu nunca desfilei e sinceramente isso não estava no combinado.

— Estava subentendido. — Ela sorriu sem graça, mas a expressão fechada dele não dava espaço para sorrisos, ameaçou levantar outra vez, mas Sakura o segurou pelos ombros e quando ele voltou a sentar quase que no automático começou a massageá-lo, era isso que fazia com Neji quando queria convence-lo de algo. — Sasuke, por favor, não é nada demais. Só um desfile e eu vou ajuda-lo. — Manteve seu tom suave, vista que confronto direto não estava dando o resultado desejado.

— E por que isso é importante? Por que eu preciso desfilar? Por que não pode ser só as fotos? — continuou a pressionar os pontos de tensão nos ombros dele e mesmo a expressão ainda fechada ela percebia que ele estava relaxando aos poucos.

— Muita gente que eu quero que te veja vai estar lá, o desfile é mais assunto, mais espaço para te torna mais importante, mais relevante. Prometo que só tem esse e é do Oro. — ele podia sentir o corpo dela pressionado ao dele. A respiração suave, as mãos o acalmando, ele estava entrando no jogo dela outra vez. Sakura desceu as mãos para os bíceps, apertando-os de leve, dando um beijo no meio das costas de Sasuke. — O que me diz? — com um suspiro resignado ele virou a cabeça para o lado em que ela estava apoiada.

— E quando vai ser esse desfile? — Perguntou de forma descontente e ela precisou se segurar para não gritar de felicidade no ouvido dele. Abraçou-o apertado, enfiando o rosto na curva do pescoço dele.

— Daqui há duas semanas. Mas você não precisa ficar nervoso, vai dar tudo certo, você vai se sair super bem, tenho certeza. Nós vamos treinar e não é nada difícil. — Ele não respondeu, ela tentou pensar que de alguma forma isso era algo positivo, permaneceu abraçada a ele com medo de que se o soltasse ele mudaria de ideia. Sasuke fitou o braço entrelaçado na frente de seu corpo e correu os dedos pela pele macia, causando um arrepio que fez Sakura solta-lo e chegar para trás. Virou a cabeça outra vez, focando-se em uma parte do rosto dela que ainda não tinha analisado com atenção, mas já tinha provado, mais de uma vez. — Eu... acho que devemos ir comer. Logo mais você vai ter que me levar para casa.

— Leva-la para casa? — ela aquiesceu. — Mas por qual razão?

— Agora que todos sabem onde estou intocada posso aparecer e não há nada mais romântico do que você me levar até em casa. — Ela tocou a ponta do nariz dele, mas logo se afastou, pondo-se de pé. — E quando formos sair vai me buscar, vai dar um toque casual a nossa relação, comum, aconchegante, as pessoas vão ver que é algo sério. — Sasuke a fitava com a expressão perdida e depois voltou a atenção para frente. Ele não esperava ter que ficar sozinho.— Não precisa se preocupar não vai ficar totalmente só tem o pessoal...

— Não estou preocupado, não ligo. — Sakura ergueu uma das sobrancelhas fitando-o descrente, ele não voltou a olhar para ela. — Vou escovar os dentes.

E qualquer conversa morreu entre eles. Arrumaram-se em um completo silêncio e o café seguiu da mesma forma , Sakura até tentou puxar algum assunto, mas foi repelida todas as vezes, então preferiu continuar quieta. Todo o avanço que tinham feito parecia ter ido para o espaço é lá estavam eles caminhando em ovos outra vez.

(...)

O carro parou em frente a um majestoso arranha-céu do Uper East Side, Sakura desafivelou o cinto e fitou Sasuke sentado ao esse lado, ele mantinha os olhos fixos a sua frente, mas ela sabia que a mente dele estava longe. Soltou um suspiro observando em volta, atrás de alguns arbusto dava para ver pequenos reflexos do flash de uma câmera. a Haruno logo se aprumou em seu acento, arrumando o sobretudo de veludo vermelho, ajeito as luvas pretas e suspirou. Voltando sua atenção a Sasuke. O porteiro do edifício já estava a postos, a sua espera.

— Bem. — Umedeceu os lábios, fitando as próprias mãos enluvadas. — Você sabe... Agora é a hora do show.

Sasuke apertou o volante com força antes de também soltar um suspiro e abrir a porta do carro. Deu a volta no veículo e abriu a porta do passageiro para que ela saísse. Sakura sorriu tomando a mão dele na sua e caminhando calmamente para dentro do prédio. Pararam no lob de entrada, Sakura parou a frente dele, segurando-o pelos dois braços.

— Não se preocupe, isso não vai durar muito tempo. Só mais três ou quatro semanas, depois do seu desfile tenho certeza que vou ter chocado todos que quero, e ninguém vai falar que o Neji me trocou. E eu estarei à espera da aparição dele na minha porta todo arrependido— Ela sorriu, mas Sasuke permanecia sério, fitando a todos que passavam a sua volta, porém evitando olhar para ela. Sakura coçou a ponta do nariz um pouco incomodada. — No máximo um mês, é o tempo que vai passar comigo. Não vou te incomodar mais do que isso.

Então ele a olhou, vendo o sorriso morrer em seus lábios e a atenção sendo direcionada aos pés deles. Sasuke retirou as mãos dos bolsos, pensou em falar algo, qualquer coisa, mas ele também não tinha muito a dizer. Ergueu as mãos para toca-la, mas não o fez. Ela se mexeu, dando um passo para trás pronta para dizer mais alguma coisa, no entanto antes que falasse seus lábios foram selados pelos dele em um beijo terno e calmo. Estremeceu ao sentir as mãos frias tocarem sua bochecha, relaxou, envolvendo-o com os seus braços, mas o beijo não durou muito, nem a caricia. Porém a sensação se perpetuou.

— Acho que eles já tiveram o que queriam. — O Uchiha fitava os lábios rosados enquanto Sakura observava cada parte do rosto dele.

Em resposta ela apenas concordou com um aceno— Nos vemos depois então. — Virou-se e partiu. A Haruno ainda permaneceu um tempo parada no mesmo lugar, sem entender o que tinha acontecido com ele e principalmente o que estava acontecendo com ela.