Aluga-se Um Namorado

Chocolates, Vinhos e Beijos Cinematográficos


Revirou-se sobre as cobertas, não queria levantar, não queria mesmo ter que sair de seu ninho. Dois dias na sala o fizeram esquecer de como era reconfortante estar aquecido e confortável. Que horas deveriam ser? 08h? 09h? No máximo 09h30 o que para os seus padrões já era considerado bem tarde, mas o frio sempre o tornava preguiçoso. Virou-se para o meio da cama e ao abrir os olhos notou que estava sozinho. Sasuke ergueu o pescoço, buscando a cabeleira rosa em alguma parte de seu quarto, mas nada, nenhum sinal de Sakura.

Espreguiçou-se e puxou o celular de debaixo do travesseiro e não foi sem espanto que notou que já passava das 11h. Com um salto saiu da cama, desvencilhou-se do edredom e praticamente se arrastou para fora do quarto. Ao abrir a porta deparou-se com Naruto assistindo TV e comendo cereais enquanto Sakura estava sentada em frente ao balcão da cozinha fazendo anotações, bastante compenetrada na ligação que transcorria. Resolveu não atrapalha-la, se virou para o Uzumaki que o fitava com espanto.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

— Cara, o que aconteceu com você? — Naruto enfiou mais uma colher na boca, sem desviar atenção do amigo que se jogava na poltrona oposta a que ele estava — Achei que a bela adormecida estava precisando de um beijinho para despertar. — riu da própria piada e o Uchiha apenas enrugou o nariz, não achando a menor graça.

— Parece que dormir em uma cama faz uma diferença tremenda. — Ergueu os braços, esticando as costas e ouvindo a coluna estralar. — Não tinha dado conta que as noites no sofá tinham sido tão ruins assim — Naruto apenas aquiesceu, Sasuke estranhou que o amigo não tenha surtado ao ouvir aquela frase.

Não queria ter dito dessa forma, na verdade não queria nem dizer que ele e Sakura tinham dividido a mesma cama. Pensou que Naruto faria o estardalhaço, mas agora parecia que tinha se engando, porém não tinha, Naruto só não tinha entendido de primeiro o que as palavras de Sasuke significavam, mas quando entendeu o fitou atônito.

— Você dormiu a noite toda na sua cama? — o ar amigável foi se esvaindo aos poucos. Naruto fitou as costas de Sakura depois o amigo. — Eu, eu... Hum... quando eu acordei ela já estava de pé... — Naruto se levantou largando a tigela na mesinha, apesar de parecer irritado, Sasuke viu que tinha uma ponta de atordoamento no semblante dele. — Vocês dormiram juntos? — Sasuke desviou o olhar, não tinha propriamente dormido da forma como Naruto imaginava, mas ele não entenderia isso. Não queria mais perturbação por conta dessa história. Mas antes que dissesse qualquer coisa para amenizar uma voz feminina respondeu o questionamento de Naruto, largando a bomba sem o menor tato.

— Dormimos, no sentido literal. — Sakura desligou o celular e se levantou. Sem se importar com o efeito que suas palavras poderiam causar emendou — Naruto, eu e você não temos nada e nem vamos ter um dia. Eu e o Sasuke namoramos, de mentira é verdade, mas até para isso é necessário um certo grau de intimidade. Você tem que aprender a lidar com isso sem dar um show cada vez que algo remotamente comum entre namorados ocorre entre nós. — suspirou jogando as madeixas rosadas para trás, seu olhar felino desviando de Naruto e cravando em Sasuke — E você precisa ir se arrumar porque nós temos muito o que fazer para que o nosso plano alcance a perfeição. — Sakura sorriu para os dois e se afastou em direção ao quarto.

— Naruto, ela não quis... — Começou a dizer assim que a porta de seu quarto foi fechada, mas o Uzumaki o interrompeu com um abano de cabeça e uma risada.

— Sim, ela quis — Naruto pegou sua tigela e a levou para a cozinha, tinha perdido a fome — e nós dois sabemos que ela está com a razão. Eu e ela... — deu outra risada, tão amarga que Sasuke ficou compadecido — Só eu para sonhar com esse tipo de coisa. — Sasuke nada disse, podia ver o canto dos olhos do Uzumaki estreitos demais e um brilho já conhecido surgindo e não era brilho de felicidade. — Eu vou dar uma volta e deixar vocês fazerem o que devem fazer.

Sem mais uma palavra ele saiu batendo a porta com força no processo. Deixando um Sasuke estático no meio do caminho entre o sofá e o seu quarto. Nem ao menos pode se despedir do melhor amigo, passou as mãos pelos cabelos, ultimamente seus dias não andavam começando bem. Um tormento novo a cada despertar. No entanto o que sentia hoje era diferente, um misto de mesmice e decepção. Depois da noite passada ele realmente achou que esse novo dia não seria como os outros, que Sakura se comportaria de outra forma. Eles tinham se aberto um para o outro de certa forma, tudo nela estava diferente naquele momento, mas provavelmente era só ali.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Sem relutância ele foi fazer o que ela tinha pedido, certo de que quanto menos tempo passasse com Sakura melhor seria, faria tudo como ela estava pedindo, assim podia se livrar desse incomodo mais rápido possível e livrar seus amigos também.

(...)

O dia parecia que não teria fim, as horas se arrastavam de forma tortuosa. Sakura tinha passado a tarde toda em meio a telefonemas estressantes, em alguns momentos Sasuke chegou a achar que ela realmente mataria a pessoa do outro lado da linha só com a força do pensamento. Mas isso não aconteceu, ela gritava, berrava, desligava o telefone e cabia a ele ouvir os grunhidos e resoluções sem importância. Seu dia se dividira em ouvir Sakura e assistir filmes e séries; desfrutando das maravilhas do serviço de quarto e da hidromassagem em sua suíte, mas nada disso fez com que seu dia se tornasse melhor, ou que passasse mais rápido, ou que aquele lugar lhe agradasse. A cama era ótima, a comida também, porém ainda assim queria estar de volta ao seu velho apartamento.

Quando saiu da banheira, notou que não ouvia mais a voz da Haruno, parece que ela finalmente tinha ficado quieta. Enrolou uma toalha na cintura, jogando outra sobre os ombros, secando os fios rebeldes. Ao abrir a porta se deparou com Sakura sentada em sua cama mexendo em um tablet, ao lado dela tinham dois celulares, um notebook, uma carteira de couro e a chave de um carro.

— De onde surgiu tudo isso? — Não se lembrava de nenhum desses objetos enquanto estava no quarto, só de um, o celular prata que pertencia a ela, de qualquer forma também não havia escutado quando eles chegaram.

— Shizune trouxe. — Respondeu sem fita-lo, concentrada no que escrevia no tablet. — Ela também arrumou as reservas no restaurante, trouxe o dinheiro, o carro que a partir de agora é seu e já providenciou o paparazzo da noite. — Sorriu satisfeita, soltando uma pequena nota musical de satisfação como se ela tivesse feito tudo aquilo.

— Essa Shizune é humana? — não pode evitar perguntar. A mulher em questão o intrigava, ainda mais o seu serviço hábil e silencioso. Como o serviço secreto ainda não tinha requisitado Ela? O mundo perdia uma espiã de autocalibre. — Como ela consegue fazer tudo que você manda tão rápido e sem que ninguém veja? Até hoje não encontrei essa mulher. E ela já esteve duas vezes no meu apartamento. Como eu não a ouviu entrar aqui?

— Descrição absoluta é a prioridade na profissão dela. — respondeu, dando de ombros, como se nunca antes tivesse parado para pensar nas habilidades de Shizune. — Ela é paga para isso e um dia você vai conhecê-la. — Sorriu para ele largando as coisas sobre a cama e erguendo-se em um pulo. — Bem, agora eu vou me arrumar, lembre-se de por uma das jaquetas daquele ensaio que fizemos. Precisamos estar usando uma peça da marca.

(...)

Sasuke se “desarrumou” da melhor forma possível. Sakura tinha dito a ele que não era necessário usar uma roupa social e sim algo mais casual que o encontro seria “normal”, mas pela pouca convivência que eles já tinham o Uchiha já sabia que o normal e casual para Sakura era um normal e casual completamente diferente do que era para ele e o resto do mundo. Então não foi necessário que alguém o dissesse que nenhuma de suas antigas peças servia, sabia que precisava dar um toque. E foi por isso que ele preferiu seguir um dos looks criados no ensaio fotográfico.

Optou por uma calça skinny preta, um suéter branco com uma das jaquetas de couro preta. A noite fria pedia um cachecol, colocou também na cor cinza. Os cabelos nem adiantava arrumar, eles eram intratáveis. Depois de estar totalmente caracterizado – no que ele torcia ser – no modo usual de Sakura Haruno, Sasuke pegou uma pequena lata de coca no frigobar e começou a rodar por sua moradia temporária. A vista ainda o deixava embasbacado, à noite os longos galhos do Central Park pareciam reluzir com todo o gelo cristalizado.

Quando Sakura voltou ao quarto, Sasuke saiu da janela, arrumou a roupa e passou as mãos pelo cabelo. A Haruno entrou cantarolando assim que o avistou, sorriu dando uma voltinha. Usava botas de cano médio, enrugadas e preta; meia calça fina preta com algumas bolinhas em um tom mais escuro; vestido cor de rosa que acentuava um pouco sua cintura, mas era leve e esvoaçante de alça fina; sobre os ombros estava uma mini jaqueta de couro, os cabelos rosados soltos e com alguns cachos abertos; na cabeça um gorro preto caído para trás que mais parecia dar um charme despretensioso ao seu figurino do que realmente esquentar sua cabeça.

Depois de sua pequena volta, ela parou no meio do cômodo analisando a escolha de Sasuke, o fitou de cima a baixo, fez um som de estalo com a boca e sorriu.

— Incrível! Parece que você sabe se arrumar quando quer. — Ela sorriu e pegou alguns dos itens sobre a cama. Entregou a ele uma carteira, uma chave e um celular. — Seu novo celular e a Shizune já fez backup das informações do outro para esse, além de ter montado uma agenda e um esquema prático para você, a chave é a do carro que agora é “seu” , como eu havia dito, e uma carteira nova porque eu detesto a antiga. — E ela sorriu ao dizer a ultima frase pegando o próprio celular e guardando na bolsa. — Vamos, se não nos atrasaremos para nossa noite de não-gala. — Sakura jogou os cabelos por sobre os ombros tomando a frente.

Sasuke bufou colocando o celular novo no bolso e abrindo a carteira não se surpreendeu ao ver todos os seus documentos e cartões organizados de forma assimétrica, no entanto um papel dobrado que destoava toda a arrumação chamou sua atenção, ao pegá-lo descobriu ser um cheque nominal a ele. Possuía alguns zeros a mais do que ele costumava ver.

— Esse é o meu pagamento? — Sakura se virou para ver do que ele falava e voltou a sorrir.

— Sim, mas não o meu pagamento. — Ela deu uma piscadela para ele, achando graça da cara de espanto dele. — Esse é o primeiro cachê do seu trabalho com o Orochimaru, depois você tem que dar os seus dados bancários para a Shizune passar para o escritório dele e do amigo para quem nós posamos. — voltou a andar, deixando o desnorteado Uchiha para trás. — Ainda vem muito mais de onde saiu esse? – Sasuke não podia acreditar que pagariam tanto por algumas fotos, só com aquele cheque ele já podia fazer muitas coisas, com outro, ele não conseguia nem cogitar como gastar. Na verdade tinha ideia, ele tinha prioridades. Guardar era a melhor opção e investir, ele ia investir dinheiro, não pode evitar a risada que deu.

— Nem sei porque de tanto espanto, nem é tanto dinheiro assim. — Sakura observou sei reflexo na porta do elevador. — Tentei convencer a Shizune a te pagarem mais, porém você ainda é um new face.

— Sakura, são cinco mil dólares! — ela de uma risada de escárnio, revirando os olhos. — Por dois dias de trabalho, foram cansativos? Foram sim, mas mesmo assim em ganhei 2500 por um dia. Sabe quanto eu faria em um mês nesse preço?

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

— Sei, menos que um dia meu — e ela voltou a piscar para ele entrando dentro do elevador. — Vamos, senhor deslumbrado.

Assim que chegaram ao térreo uma pequena e inusitada recepção de funcionários o aguardavam. Sasuke olhou para os lados em busca de algo que pudesse lhe explicar o que era aquilo ou quem sabe alguém a suas costas que seria a verdadeira razão para aquilo. No entanto quando se voltou para frente Sakura já tinha tomado a dianteira e falava com o gerente enquanto o cerco de cinco funcionários ao menos o rodeavam.

— Shizune falou com você? — questionou a Haruno, sem fitar o homem ao seu lado, prestava atenção no uniforme das pessoas a sua frente.

— Sim, senhorita. Ela não contou toda a história, mas disse como as coisas deveriam funcionar. — Ele olhou de Sasuke para a Sakura. — Estamos preparados para manter tudo como no combinado.

— Hum... — Sakura passou o olho por todo o semicírculo de funcionários até parar com o olhar superior sobre o homem empertigado ao seu lado — Nada de fotos, de vídeos, de comentários. Qualquer coisa que saia desse lugar que não seja a história contada por ela vai gerar um processo e eu vou fazer de tudo para acabar com esse hotelzinho. — O homem apenas assentiu com a cabeça sem deixar que o sorriso cordial saísse de seus lábios e Sasuke logo soube que ele já estava acostumado com aquele tipo de comportamento de seus hospedes. — Bem, você já sabe, desde o ano novo eu e o Sasuke estamos hospedados aqui vivendo nosso pequeno conto de amor. — Ela sorriu e fitou o Uchiha que apenas revirou os olhos. Quantas pessoas estavam envolvidas em toda aquela tramoia? Ele já não tinha mais noção. — E se tudo sair de acordo com o nosso combinado todos serão muito bem pagos.

— Esses seis funcionários estarão à inteira disposição de vocês: o chofer Edmure, as duas camareiras Elisa e Sam, os dois garçons Bernard e Anthony e o mordomo Nicholas. — A cada nome citado a pessoa meneava a cabeça e fazia uma pequena mesura, Sasuke tentou ser o mais cordial possível apesar de está encabulado com aquela ostentação, Sakura apenas acenava de má vontade ao final.

— Não vamos precisa de chofer essa noite. Vamos fazer uma pequena caminhada romântica. — Os funcionários voltaram a fazer uma pequena mesura e se afastaram, enquanto o gerente do hotel os acompanhou até a porta. A presença de Sakura já causava um pequeno burburinho na recepção do lugar.

Os dedos frios dela deslizaram pela parte de trás da mão de Sasuke antes que as portas fossem abertas, logo ele estendeu a palma para que ela pegasse, seus dedos se entrelaçaram enquanto saiam para noite fria de Nova York.

A caminhada foi curta e silenciosa, não um silêncio constrangedor, mas acolhedor, Sakura parecia mais interessada em observar o Central Park congelado e Sasuke mantinha os olhos fixos no chão, volta e meia fitando os dedos finos entrelaçados aos seus. Em menos de 20 minutos eles chegaram no bistrô onde o “encontro” aconteceria. Apesar do frio a noite estava bonita e poucas nuvens cobriam o céu.

O local era aconchegado todo trabalho em madeira, situado próximo há um dos lagos do parque, mais parecia um chalé com longas janelas que dava para ver todo o salão, contrastava com o topo dos arranha-céus que apareciam por trás das copas das arvores, parecia uma lacuna no tempo, a vista para a vegetação dava o ar rústico perfeito. Assim que entraram o cheiro de vinho e massas italianas tomou o ambiente. A mesa na qual ficaram tinha a vista para o pequeno lago e as arvores após ele, uma pequena ponte tinha sido construído em um jardim montado em frente ao local. Sasuke observou o lado de fora com atenção em um busca de um flash que fosse não conseguia ver nada.

— Shizune, você já esta a postos? — Sasuke nem tinha percebido que ela havia sacado o celular. — Ok. Uhum. Pode deixar, vamos ser mais convincentes. — Sakura desligou fazendo uma pequena careta. – Ela disse que a nossa caminhada foi muito apagada, precisamos interagir mais.

— Eu gostei da nossa caminhada. — Ele disse antes mesmo de pensar, abriu a boca para refutar o que tinha acabado de dizer, mas Sakura sorriu.

— Eu também gostei. Mas ela foi quieta e nós temos que transbordar amor. — Sasuke quase sorriu do comentário dela.

Os pedidos foram feitos, Sasuke pegou um pequeno pedaço de pão ciabatta da cesta sobre a mesa, enquanto Sakura fitava as próprias mãos, mordeu o lábio inferior fitando o rapaz.

— Sabe, eu estava pensando que nós podíamos começar o nosso jogo, mais cedo... — Sasuke enrugou o nariz tentando entender sobre o que ela falava. — Sobre contar as coisas um ao outro, acho que serve para criar um entrosamento. — Um brilho de entendimento surgiu nos olhos negros e ele apenas aquiesceu.

— E sobre o que falaremos dessa vez? — Ele a fitou intensamente, e as bochechas dela coraram, Sakura levou uma das mãos até os cabelos claros e os colocou atrás da orelha, tornando-se inquieta.

— Amor. — abaixou a cabeça enquanto falava. — Queria saber se você já amou alguém, ou coisas assim. — Ela o fitou por um instante, Sasuke parecia pensativo.

— Talvez, mas você começa. Eu comecei noite passada, nada mais justo. — Ele sorriu sacana e ela revirou os olhos, arrumando o corpo sobre o assento.

— Já me relacionei com diversas pessoas, mas sempre tive um problema muito grande em confiar e me abrir por isso eu sei que só meu uma. O Neji, na verdade amo. — ela de uma risada nervosa, bebendo um gole de sua água — Nossa história parecia predestinada a acontecer. Como se ele fosse corrigir todas as minhas falhas, claro, se eu estivesse agora com ele não estaria vestida assim, nem aqui, apesar de amar esse restaurante, Neji o odiava. Neji não gostava muito se vir ao parque, e apesar de ser o meu lugar favorito eu não ligava porque... — E ela sorriu como se recordasse de algo. — Eu não sei como explicar. Mas tudo parecia certo com ele, eu sabia que não estava fazendo nada de errado e as pessoas não falavam coisas sobre mim. Como eu falei algumas coisas eram diferentes porque ele tinha um ritmo diferente, mas eu gostava, eu não me importava. Eu me sentia adulta e responsável, eu... todos amavam nos ver juntos e gostavam de ouvir sobre como nos conhecemos e como tudo se encaixou. É claro que a gente tinha problemas, mas... — não estava conseguindo dizer exatamente porque o amava e isso a estava incomodando — nosso filhos seriam perfeitos e sairiam em todas as revistas como “os bebês mais lindos do mundo”. Nós viajaríamos o mundo todo e seriamos famosos e poderosos. — Ela sorriu, encolheu os ombros passando as mãos pelo vestido — Na verdade ainda vamos ser. – Piscou para Sasuke que apenas sorriu de canto. Aquilo era algo típico dela já deveria ter deduzido que a resposta seria assim. — Sua vez.

— Eu não sei. — Sasuke comeu outro pãozinho. — Teve uma garota há muito tempo. Eu gostava dela desde pequeno, nós morávamos na mesma rua e estudamos na mesma escola. Nós éramos da mesma classe, mas ela não falava muito comigo. — Ele brincou com o guardanapo em seu colo. Sakura prestava atenção a cada palavra. — Até que no dia de São Valentim ela deixou um bombom e uma carta no meu armário, eu tinha sei lá, 13 anos. O bilhete não dizia quem era apenas marcava um encontro na parte de trás da minha escola. Quando eu cheguei lá fiquei besta em saber que era ela. — Ele deu um meio sorriso, seu olhar parecia opaco, longe demais. — Foi legal, ela dava a entender que gostava de mim e eu me imaginava vivendo minha vida toda com ela, claro, nunca disse isso em voz alta. — Sakura soltou um som abafado, segurando uma risada. — Mas conseguia me ver velhinho sentado em uma varanda olhando o pôr-do-sol de mãos dadas com ela, com uma musica antiga ao fundo e netos no jardim. — Ele meneou a cabeça, ser adolescente era algo tão idiota, não conseguia nem acreditar que um dia tinha pensado algo assim. — Só que não deu certo e nós acabamos. — Sakura ficou atônita.

— Como assim? Você imaginava envelhecer com ela! Não teve sei lá sua primeira vez? Sua segunda vez? Um anel de compromisso? Nomes em arvores? — O Uchiha escorou as costas no acento, um pouco surpreso pelo bombardeio de perguntas. — Como terminou? Por quê? Foi à distância? Vocês tiveram que trocar cartas de amor e um dia ela parou de escrever? — Sasuke riu da maneira como ela falava e da forma como os olhos dela brilhavam a cada palavra, Sakura parecia tanto uma criança ávida por uma história que era quase adorável.

— Não, não. Quer dizer, alguma dessas coisas que você disse chegou a acontecer, mas terminamos porque eu descobri que ela só namorou comigo para ficar perto de outra pessoa. — Ele remexeu no cabelo, bagunçando a franja. — Ela tinha fingindo tudo, fiquei com ela durante dois anos e uns quebrados até os meus 16 anos. Então depois desse fatídico episódio eu nunca mais namorei. Me envolvi com algumas pessoas, mas nada sério. — O silêncio se instalou entre eles, Sasuke não parecia incomodado com isso, mas Sakura ficou meio perdida querendo falar algo, mas sem saber o que dizer. Ela nunca vivera um amor como aquele e achava a menina uma idiota por ter jogado a oportunidade fora.

Antes que algo fosse dito a comida foi servida e quando Sasuke deslizou os dedos pelo garfo a mão de Sakura o segurou, ela sorria de forma terna.

— Não sei como ela pode não gostar de você. Você é realmente uma pessoa incrível, Sasuke. Eu fico feliz em tê-lo conhecido. — Ela sorriu, as mãos de Sakura permaneceram sobre a dele, ele soltou o talher e deslizou os dedos sobre a palma dela em uma caricia suave, passou seus dedos por entre os de Sakura. — E agora eu entendo o porquê da Karin me odiar tanto, poxa, eu sou a segunda garota da sua vida. — Sasuke não pode evitar rir.

— Pois é, você arrumou uma inimiga para vida inteira. — Os dedos dele tocaram o pulso fino dela, acariciando bem de leve.

— Lutarei bravamente pelo meu território e meu homem. — Ambos riram, e o jantar transcorreu com tranquilidade, em meio a conversas despretensiosas e toques ligeiros e íntimos, mas que de alguma forma saiam naturalmente, sem mecanismo ou premeditação.

Depois do jantar veio à sobremesa com direito a calda de chocolate na ponta do nariz e na bochecha, quando saíram do estabelecimento Sakura sentiu sua mente um pouco zonza pelo vinho. Tomaram quase uma garrafa inteira.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Caminhavam calmamente pelo canteiro de rosas vermelhas congeladas ainda de mãos dadas, assim que subiram na pequena ponte, a Haruno parou de andar e Sasuke se encolheu.

— Está frio. Vamos voltar logo para o hotel. — Sakura se virou ficando de frente para ele, passou a mão pelo rosto tirando os fios de cabelo da frente.

— Existe uma maneira muito eficaz de acabar com o frio. — Ela sorriu, desfazendo o laço do cachecol dele, segurando as pontas o puxou para perto dela, mantendo seu rosto a centímetros do dele, podia sentir a respiração quente de Sasuke e o hálito de vinho tinto dele.

Eles permaneceram parados por alguns instantes, sem nada dizer, sem nada fazer. As pontas de seus narizes se tocaram, os rostos viraram de um lado ao outro, os lábios se encontraram em um toque suave até selarem em um beijo calmo e delicado. Os lábios dela tinham gosto de chocolate e canela, Sasuke a apertou em seus braços, esquecendo por um momento quem era ela era de verdade e o porquê deles estarem fazendo aquilo, apenas se deixou levar pela quentura que as poucos dominava o seu corpo.

No entanto a realidade os chamou quando ambos os celulares começaram a vibrar em seus bolsos, os lábios se afastaram. Sorriram encabulados, puxando seus aparelhos. Sakura deu alguns passos para trás, enquanto muitas mensagens de Shizune chegavam informando o sucesso do plano, o beijo, o ar de paquera sobre a luz do luar e a repercussão dos estandes no desfile.

Sasuke atendeu ao seu telefone, a ligação estava horrível e só conseguia ouvir ecos e sons cortados, sem conseguir compreender o que a outra pessoa falava do outro lado da linha.

— Mãe? Alô? Aconteceu algo? — Sua voz foi subindo alguns décimos.

— Sasuke, graças a Deus. Onde você está? — A voz de Mikoto soou grave e preocupada.

— Estou no Central Park com a Sakura. — Virou-se para ver se a ela prestava atenção em sua conversa, mas Sakura parecia distraída com algo em seu próprio telefone. — Eu disse a você que ia passar um tempo longe do Buffet, de tudo. — Não podia entrar em detalhes apesar de querer, sua mãe sabia de todos os seus passos. A matriarca Uchiha suspirou aliviada.

— Achei que estivesse no evento de hoje à noite. — Sasuke enrugou o nariz.

— Não. Por que? — Algo na forma como a mãe falava o fazia pensar que algo ruim aconteceu.

— Ele me ligou várias vezes essa noite. — Essas palavras fizeram com que todo o sangue dele gelasse. — Querendo saber como você estava e o que você estava fazendo. Parecia alterado. Falou de Sakura também. — Mikoto ficou em silêncio por um tempo, soltando um suspiro cansado antes de voltar a falar — meu filho tem certeza de que as coisas têm de ser assim? Ele me pediu seu numero e...

— Não! — A voz de Sasuke saiu muito mais alterada do que ele desejava, Sakura parou o que estava fazendo para prestar atenção nele. — Não passe, não fale com ele. Não diga nada sobre mim, sobre Sakura, sobre minha vida. Não quero saber, não quero que ele saiba o que eu faço. Não existe espaço para ele, nem nunca haverá.