Percy Jackson e a Trilogia Da Pedra

09 - As Filhas da Noite


09 - As Filhas da Noite

A queda foi interminável.

Demorou para Percy reunir coragem suficiente para jogar-se nas profundezas, tanto que Beckendorf foi quem teve que chutá-lo nas costas para finalmente pular.

De acordo com Hesíodo o tempo que uma pessoa leva para cair da terra até o Tártaro era de nove dias. O tempo parecia se alongar enquanto eles caíam. Seria uma hora? Um dia que eles estavam caindo?

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O vento assobiou em seus ouvidos até que foi se tornando mais audível e aos poucos se tornou um rugido. A escuridão foi se tornando cinza avermelhado e o ar ficando insuportavelmente quente permeando um cheiro forte de enxofre.

De repente o poço se abriu em uma enorme caverna. O fundo ainda assim estava muito abaixo. Era enorme.

Manhattan caberia facilmente ali dentro, com os arranha-céus e tudo. Nuvens vermelhas pairavam no ar, era composta por uma plnície negra rochosa, pontuada por montanhas ingrémes e abismos laurencianos. Mais à esquerda, a planície se abria em uma série de penhascos, como degraus colossais que levavam mais a fundo na terra.

O fedor de enxofre dificultava a concentração de Percy, mas ele sentiu uma corrente abaixo, água.

Franziu a testa de olhos fechados e no último segundo um gêiser de água engoliu a ele e seus amigos. As histórias dos rios do mundo inferior eram horríveis. Rios podiam queimar sua alma, roubar suas lembranças e pulverizá-los, mas era sua única chance de não ser uma mancha de gordura no solo do Tártaro.

O baque na água foi duro, mas ele não se machucou graças aos poderes.

No entanto o frio das águas era causticante, seus ossos doíam. Isso não era a pior parte, e sim as vozes, como se o rio fosse feito de tristeza destilada. Elas faziam os garotos afundarem e deixavam seus corpos dormentes.

“Por que lutar?” Diziam. “Já estão mortos, o senhor dos Abismos já venceu”.

Percy estava afundando, se deixando levar pelas correntes. Assim como os outros.

Uma coisa martelava na mente do garoto. Uma voz. Era a voz de Poseidon.

“Resista filho. Lute. O rio está mexendo com sua cabeça. Lembre-se que nós controlamos todas as águas que existem na Terra. Você é meu filho, Percy, você é filho do Senhor dos Mares”

A voz de Poseidon fez clarear seus pensamentos e em um momento Percy estava usando todos os seus poderes para lutar contra o rio. A aura azul cobriu todo seu corpo e dos olhos verdes se desprendeu um vapor intenso. A Centelha.

Em pouco tempo Percy emergiu a cabeça das águas, ele se concentrou e atirou todos os amigos para fora da água apenas com um repuxo no abdome.

Ele foi por último. Se lançou com o resquício de poder que ainda sobrara. Estava exausto.

Percy aterrisou de costas ofegante no chão pedregoso.

Seus amigos estavam recobrando a consiência. Percy não conseguia mover um músculo.

–Percy! – era a voz de Beckendorf à esquerda.

Sem esforços o tronco do garoto foi erguido, e ele se apoiou no brutamontes como um bebê. Luke se agachou em sua frente e estendeu para o garoto um dos cubinhos de ambrósia da mochila. Com esforço Percy o pegou e comeu. O calor tomou conta de seu corpo instantaneamente. Ele tossiu um pouco de água.

–É o Cócito, o rio das Lamentações – era a voz do garoto, Nico di Angelo.

Percy ergueu o olhar. Nico estava de pé próximo à margem. Seus braços estavam cruzados.

–Você foi muito valente Percy, todos aqui devem suas vidas à você – sua voz era tímida, Percy assentiu seriamente quando Nico se virou.

Ele se pôs com dificuldade. Afastou a mão de Beckendorf quando este tentou ajudá-lo, afinal era o líder e tinha que se postar como tal.

Nico andou até a beirada do precipício mais próximo. Percy e os outros o seguiram.

Uns cinquenta metros abaixo uma outra planície se erguia, serpenteando no meio dela havia um filete de lava líquida. Um rio de fogo.

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–O Flegetonte – Nico apontou – Precisamos beber dele se quisermos sobreviver aqui embaixo.

–Mas este é o Rio da Punição...

–È também o Rio da Cura, eu tive que beber diariamente dessa lava causticante enquanto fiquei preso aqui – Luke observava o longe com certa melancolia e nostalgia sinistra.

Ninguém perguntou nada. Mas Percy não quis saber, cada um deveria ter seu passado antes da Cidadela, se eles respeitavam o espaço de Percy, ele faria o mesmo por eles.

–Vamos indo – Luke dizia enquanto se esgueirava por uma saliência grande o bastante para descer.

Na metade do caminho os pulmões de todos já imploravam por oxigênio. O suor já empapava suas roupas e o cansaço os dominava por inteiros.

As mãos de Percy estavam queimadas por encostar nas rochas vulcânicas ardentes.

Quando finalmente alcançaram a planície todos pareciam prestes a desmaiar. A tosse de Percy era audível. Ele se arrastou cambaleante até a margem do Flegetonte.

–Tem certeza? – a lava líquida fazia seus olhos cintilarem.

Nico não respondeu. O garoto submergiu a mão e grunhiu sonoramente de dor. Ele levou um pouco de lava até a boca e a engoliu com dificuldade. Sua pele pálida se tornou vermelha rapidamente, seu nariz soltou fumaça ao respirar e ele caiu de joelhos ofegando.

–Não foi tão ruim assim – sua voz saiu parcialmente rouca, o que provava o contrário do que dizia.

Percy se agachou próximo ao rio e afundou o braço na lava. O calor era horrível mas era suportável. Contou até três e fechou os olhos reunindo coragem.

Quando ele levou a mão até a boca a lava queimou tudo onde tocou. Seus lábios, sua garganta e seu estômago.

Seu corpo estava sendo frito de dentro para fora. As roupas fumegavam e soltavam fumaça. O gosto era pior do que gasolina, e ele fazia força para não vomitar. Tremia dos pés à cabeça enquanto o fogo mágico ardia e fritava seu corpo.

Quando o acesso parou ele finalmente conseguiu erguer o tronco e se sentar.

–Funcionou – disse simplesmente – E agora é, hã... Nico?

–Seguimos o rio. Ele leva ao coração do Tártaro – ele pareceu satisfeito consigo mesmo ao saber aquilo.

–E o que há no Coração do Tártaro?

–Para nossa sorte, que tenha mudado, como meu pai o alertou – seu rosto ficou sombrio, como se já houvesse descido no abismo antes.

–É... – Luke concordou com o mesmo olhar intenso.

Na beirada do próximo penhasco eles observavam os grandes degraus descerem até onde os olhos podiam enxergar.

Pareciam descer por horas, chapadas atrás de chapadas. Penhascos e mais penhascos. As mãos de Percy já deveriam estar em carne viva, as rochas ficavam mais quentes, o vapor de enxofre fazia seu pulmão doer mesmo com a lava do Flegetonte curando-o.

O poço parecia divertir-se com sua morte lenta. Suas pernas pesavam, seus pensamentos enevoados. Por hora enfrentavam todo tipo de monstros. Estavam tão cansados que um ciclope surpreendeu Percy e o desarmou.

Contracorrente foi atirada longe e caiu no Cócito.

Seus amigos se aproximaram para ajudar, armas em mãos. Quando eles fizeram menção de atacar, Percy abriu os braços e os afastou.

–Ele é meu! – exclamou e sorriu malignamente. O olho vermelho enorme do monstro tremeu um pouco – Venha!

Percy desembainhou as duas adagas presas horizontamente nas suas costas. As girou habilmente nas mãos.

Quando o porrete do ciclope mirava suas pernas ele desviou-se pulando. Descreveu um chute para baixo e fez o monstro se desequilibrar.

Pulou urrando e fincou uma das adagas de cada lado da cabeça do ciclope. A nuvem de poeira dourada manchou as pedras vulcânicas no solo.

Ele limpou o suor da testa com antebraço e guardou novamente as facas na base da espinha.

Percy percebeu que eles estavam na orla de uma floresta. O rio Estige corria no meio dela até desaparecer na escuridão densa que emanava do lugar.

As árvores eram secas, brancas como ossos e sem folhas, seus galhos afiados como navalhas.

Um calafrio percorreu a espinnha de Percy.

–Cuidado, esta floresta é amaldiçoada.

–Que ótimo – Percy bufou.

Eles andaram um pouco por entre as árvores mortas. Uma névoa branca espiralava em seus pés, parecendo garras prontas para devorá-los.

Após algum tempo que estavam andando o garoto começou a ouvir o vento sibilar. O barulho começou a ficar mais audível, como um ritmo. Bater de asas.

–Alguém esta nos seguindo – ele apontou para o alto. Bruxas esqueléticas os sobrevoavam, gargalhando malevolamente, ele diria que eram as fúrias, mas haviam dezenas delas.

Eles ficaram de costas uns para os outros quando a primeira deu um rasante e quase espetou suas garras em Nico.

–O que são vocês? – Percy gritou.

“As arai” sibilou uma voz acima “As Maldições”

Percy tentou localizar a dona da voz, mas nenhum dos demônios havia movido a boca.

Seus olhos pareciam mortos, as expressões, imóveis, como a de um fantoche. A voz propagou na escuridão como se uma so mente controlasse todas as criaturas.

–O que querem? – novamente o garoto esbravejou.

“Em nome da mãe da Noite, iremos amaldiçoá-los e matá-los mil vezes!”