Percy Jackson e a Trilogia Da Pedra
03 - Sem Retorno
Percy estava possesso de raiva. Estava preocupado , talvez se eles não tivessem brigado na noite anterior , ela não teria se arriscado e sabe-se lá o que teria acontecido.
Os campos verdejantes de New Jersey passaram como borrões enquanto o garoto cavalgava o pégaso. Quando avistou a floresta do Acampamento , ordenou Blackjack a voar baixo.
Quando eles sobrevoaram a orla , Percy pulou do pégaso no ar. Ele descreveu algumas cambalhotas e deslizou na grama. Se levantou abanando a poeira das roupas. Agradeceu mentalmente à Blackjack e correu pelo Acampamento.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Estava igualzinho ao fim do verão , campistas armados , sons de bigorna e olhares selvagens. As trincheiras de guerra ainda circundavam as construções do vale.
Tudo estava coberto de neve , o poder que controlava o clima no Acampamento se fora junto com o Velocino.
Percy passou correndo e bufando em direção à Casa Grande. Os campistas cumprimentaram o filho de Poseidon , ele se limitou a olhar na direção deles e assentir. Ficou pensando nos sonhos quando viu os rostos deles.
Quando chegou ao quartel-general azul de dois andares do Acampamento , Percy subiu as escadas da varanda e achou Quíron e o Sr. D jogando Pinochle.
—Percy – Quíron olhou na direção do garoto e esboçou um pequeno sorriso.
—Quíron , onde ela está? – Percy abanou a mão impaciente.
—Perry , bom tê-lo de volta , mas não esperava ver você antes do verão , que infortúnio desnecessário – ele ignorou o Sr. D.
—Na enfermaria filho , mas Percy eu...
O garoto não o deixou acabar , saiu correndo pela neve que cobria a grama verde do lugar.
Passou pela Arena e pela ala dos chalés , não parou até chegar à enfermaria. Alguns filhos de Apolo estavam montando guarda nas portas de entrada. Eles olharam para Percy e assentiram , dando tapinhas nas costas dele.
Percy entrou afoito. As duas dúzias de macas estavam quase lotadas. Ele procurou nos rostos dos campistas. Eles estavam muito ruins , a fila da esquerda era a mais chocante , corpos cobertos de gesso e gaze , da cabeça aos pés. Pessoas desmaiadas com cortes feios e queimaduras horríveis. O garoto andou até o fim da enfermaria e a achou.
Percy respirou fundo. A garota dormia inconsciente numa das últimas camas dali.
Ele andou até sua cama e pegou uma cadeira nos fundos. Parecia tudo normal com ela , alguns arranhões e um galo roxo enorme em sua testa. Percy esticou a mão e tocou a dela , ele sentiu a eletricidade familiar.
—Ah! Annabeth , o que foi que você fez? – Percy suspirou.
Ele sentiu movimento , os dedos dela se mexeram entre os seus. Ele levantou o olhar para o rosto da garota.
Os olhos se abriram vagarosamente , ela gemeu de dor e colocou as mãos na cabeça.
—Quem está aí? – ela balbuciou.
—Eu Annabeth , eu estou aqui – Percy tentou pegar a mão dela , a garota a afastou.
—Ah , é você – ela desviou o olhar – O que faz aqui? Achei que iria estar inventando desculpas e ignorando o mundo – ela disse sarcástica , Percy pôde sentir a mágoa na voz dela.
—Não , você entendeu tudo errado – Percy passou a mão pelo cabelo louro dela. Estava preso num coque , uma franja caía sobre os olhos cinzas penetrantes.
—Bom saber disto – ela se virou na cama e afundou a cabeça no travesseiro.
—Não foi isso que quis dizer Annabeth – ele se defendeu – Olhe pra mim , por favor.
Ela não se virou.
—Desculpe , mas o que você veio fazer aqui Annabeth , não sabe a preocupação que senti – ele alisou as costas da garota. Acariciou o ponto onde ela fora perfurada no verão anterior , teve muito tempo para decorar as curvas da cicatriz que quase a matara.
—Não acho que isso vá te interessar , já que você não está nem aí pra nada ultimamente , vá se trancar no seu quarto e fugir de tudo – Percy esboçou um sorriso.
—Não é nada disso Annabeth , você não sabe o quanto é difícil ter que evitar a única coisa que me mantem lúcido nesses tempos sombrios – ele ficou fitando os tênis pretos.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!—Então por que você está evitando? – ela se virou e o analisou.
—É complicado.
—Então me conte , eu posso te ajudar a entender isso – ela segurou a mão dele , foi a vez de Percy a afastar.
—Não – ele murmurou – Só eu posso entender isso – ele disse relutante.
—Por que você está assim Percy? – o olhar dela fez o coração dele saltar – Se afastando de tudo , não é assim que se encara os problemas.
—Não esse tipo de problema Annabeth , você não entende – Percy suspirou.
—E pelo jeito , nem você entende – ela passou a mão pelo cabelo embaraçado e fitou o criado. Gemeu um pouco e colocou a mão na cabeça.
—Está doendo muito? – Percy esticou a mão e tocou de leve , ela se encolheu – Vou pegar um néctar e passar aí , afinal ainda tenho que cuidar de você.
Annabeth tentou esconder o sorrisinho de canto.
Percy foi até o armário dos fundos e tirou uma gaze e uma garrafa térmica. Ele voltou e se sentou perto de Annabeth , fez sinal para ela se aproximar.
O garoto molhou a gaze e a passou bem de leve pela testa da garota. O galo estava bem feio. Ele molhou outro pedaço de gaze e amarrou na testa dela em baixo dos cabelos , como uma bandana.
Annabeth se esticou para beijar o garoto. Por alguma razão incontrolável ele se afastou. As visões dos sonhos encheram sua mente. Ele se levantou subitamente e colocou as mãos no peito , o coração batia acelerado e descompassado.
Ele fechou os olhos e tentou se controlar , passou as mãos pela cabeça e ficou de costas para a cama de Annabeth.
—Percy , o que foi? – ele notou o quê de preocupação.
—Nada , não é nada – ele se sentou na cadeira novamente.
Ela não tentou prolongar o assunto , os dois sabiam que falar sobre isso só geraria mais brigas e , num momento como esses , era a única coisa que queriam.
Percy olhou para a garota. Ela estava com as sobrancelhas arqueadas e o rosto contraído , estava linda , mesmo descabelada e machucada , Percy não suportaria perdê-la.
O garoto tirou uma mecha dos olhos dela e a colocou atrás da orelha. Ele colocou a mão em sua nuca e a beijou.
A eletricidade percorreu todo seu corpo. Já faziam três meses que eles não se tocavam , e isso estava matando o garoto. Quanto mais ele queria tocá-la , mais seu medo crescia.
Eles se separaram e Percy continuou a segurar a nuca dela , ele tinha medo de que fossem os últimos momentos deles.
O garoto ficou mais um pouco na enfermaria junto com Annabeth e pensou sobre a profecia , a qual ele não compartilhou com a namorada. De alguma forma , ele sabia que deveria ir sozinho. Era burrice , ele tinha certeza , mas não podia arriscar a vida de mais nenhum meio-sangue , principalmente a da meio-sangue que ele mais amava.
Ele saiu uns dez minutos depois , deixou Annabeth repousar , mesmo a garota insistindo para ele ficar. Percy saiu da enfermaria calado , as mãos nos bolsos da jaqueta de moletom , essa era uma que ele havia comprado na semana anterior. Ela tinha o símbolo de um Ômega vermelho no peito , bem apropriado.
O garoto havia se decidido sobre algo , ao andar pelo Acampamento cheio de rostos que o olhavam com expectativa.
Ele havia se decidido , e essa decisão provavelmente salvaria a maioria dos rostos que ele já conhecia a anos ali.
Quando avistou a Casa Grande , pensou em todos os momentos bons e ruins que adentrou a construção.
—Quíron – o garoto o chamou ao subir os degraus da varanda.
O centauro o olhou e eles fizeram uma troca de olhares significativos , ele se lembrou das vezes que fora forçado a ver essa mesma troca de olhares entre Quíron e Annabeth.
—Sr D. , não vá roubar , já volto – ele se aproximou na cadeira de rodas e indicou Percy porta.
***
—É muito perigoso – Quíron disse , alisando a barba.
Os dois estavam no escritório do centauro , nos fundos da casa. Percy havia contado sobre a profecia e as Parcas , o modo como a névoa verde as serpenteou e elas o profeririam as palavras rimadas.
O garoto havia contado a Quíron sobre a profecia. Ele não comentou sobre os sonhos nem as crises de ansiedade.
—Quero que entenda que não estou pedindo sua permissão , eu estou lhe avisando – Percy murmurou.
—E eu estou lhe dizendo que irá morrer Percy – o centauro insistiu.
Percy havia dito ao centauro sobre sua decisão. Ele seguiria a profecia e embarcaria na missão sozinho. Talvez o segundo verso fosse sobre isso , “Sozinho e desamparado , longe do lar” , talvez ele tivesse que ir sozinho afinal. Quíron , como sempre pensou diferente.
—Você não pode interpretar uma profecia tão levianamente , meu jovem – ele suplicou com o olhar.
—Não estou interpretando-a , eu só não quero arriscar a vida de nenhum semideus , só isso – ele deu de ombros.
—Entenda Percy , você não pode protegê-los de um jeito ou de outro , agora que o Velocino se foi , temo que ninguém aqui neste lugar está protegido.
—Mas você sabe que em minha jornada , nada sairá de bom , eu já suspeitava que a derrota de Cronos não fosse nos garantir a segurança , afinal – Percy tamborilou os dedos pela mesa de madeira que os separava.
—Meu jovem , sua jornada é você quem faz , não tente encará-la sozinho , isso só o prejudicará – o centauro o encarou , os olhos castanhos estavam tentando tranquilizá-lo.
—Não desta vez Quíron , você pode estar certo , mas isso eu tenho que enfrentar sozinho , eu preciso derrotar Tártaro , ou ele vai destruir tudo , acredite , se ele é poderoso o bastante para sequestrar o rei dos Olimpianos , preciso detê-lo.
—Exato – Quíron abriu os braços – Se ele sequestrou Zeus , como você poderá derrota-lo , e além disso , sozinho – o centauro o encarou.
—Isso só descobriremos com o tempo , agora eu devo encarar essa nova profecia – ele disse e se levantou.
—Se você for , não haverá volta – Quíron o alertou.
—Vou partir ao amanhecer – o garoto abriu a porta do escritório e saiu para o que seria seu último dia no Acampamento Meio-Sangue.
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