In My Life

Capítulo único


Reyna colocou Esperanza no berço depois de fazê-la dormir, para então tirar sua armadura demoradamente. Retirando sua capa, a toga púrpura e desafixando as medalhas presas ao peitoral dourado, juntamente dos cintos de couro que o seguravam. Quando enfim se viu livre dela, havia apenas um fino tecido, assim como sua roupa inferior e as sandálias gladiadoras. Soltou a trança longa que descansava em suas costas, fazendo o cabelo negro cair livre em seus ombros.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Há lugares dos quais vou me lembrar

por toda a minha vida, embora alguns tenham mudado

Alguns para sempre, e não para melhor

Alguns já nem existem, outros permanecem

Olhou-se no espelho do quarto, vendo ao fundo do reflexo Leo já roncando em um sono merecido. Ele tinha o rosto afundando no travesseiro, numa posição um tanto ridícula. Um trovão soou no céu da noite, e pôde sentir um tremor comum em dias de tempestade. Nos tempos em que Jason se fora, Reyna sempre lembrara dele quando chovia, mesmo o mais simples sereno até o pior dos temporais. Já não importava mais. A Reyna depois de Leo não era a mesma Reyna de antes. Agora ela o olhava com carinho e sorria de suas besteiras. A Reyna depois de Leo e Esperanza sempre sorria. Se havia alguém que pudesse a fazer uma pessoa melhor, ele podia.

Ela sabia que, no fundo, Leo gostava de pensar que Esperanza seria algo que compensasse a morte de sua mãe. Reyna sabia que era mais que isso.

Todos esses lugares tiveram seus momentos

Com amores e amigos, dos quais ainda posso me lembrar

Alguns já se foram, outros ainda vivem

Em minha vida, amei todos eles


Ela, ainda olhando no espelho, imaginou o que seria diferente se fosse Jason ali, deitado em sua cama, ao invés de Leo. Não haveria Esperanza, ou apelidos em espanhol e nem danças fora de hora. Leo nunca seria Jason, e essa era sua melhor qualidade. Ele nunca seria Jason. Esperanza voltou a chorar em seu berço, e Reyna caminhou até lá e acariciou sua cabeça, tentando fazê-la dormir novamente. Não queria admitir, mas estava tão cansada quanto ele, seu trabalho era muito mais exaustivo. Mesmo assim, ela não queria que nada fosse diferente. Leo estava ali, tinham uma filha saudável (apesar de eles se preocuparem com o perigo de sua dobra de fogo) e uma vida confortável.



Mas de todos esses amigos e amores

Não há ninguém que se compare a você

E essas memórias perdem o sentido

Quando eu penso em amor como uma coisa nova

Reyna nunca havia se visto propriamente como uma mãe. Previu que um dia chegaria sua vez, somente não havia imaginado que seria com alguém como Leo. Era apenas olhar para ele e veria o porque. Mas, para sua surpresa, ele a fez mais feliz do que sempre fora. Até mesmo antes da guerra, antes do Acampamento Júpiter... antes de seu pai deixar a ela e sua irmã, Hylla. Ela prometera a si mesma que nunca deixaria o mesmo acontecer com Esperanza. Não era fácil ser filha de um deus ou ser um legado, eram tantos riscos e perigos... Aquela criança que estava deitada próxima dela viera numa época calma. Sem monstros infiltrados ou batalhas. Mas, em algum lugar dentro dela, Reyna ainda pensava que era pouco. Nem mesmo todas as proteções que pudesse oferecer poderiam salvá-la de fora daquele berço.

Riu para si própria, percebendo o instinto maternal tomando de conta, e passou a mão no rosto, com o sono já fazendo-a se desmanchar. Ao tirar a palma de sua bochecha, olhou-se. Havia mudado muito, mesmo Leo dizendo que continuava a mesma. Mas ele apenas não havia entendido ao que se referia, ela queria dizer por dentro.


Embora eu saiba que eu nunca vou perder o afeto

por pessoas e coisas que vieram antes,

Eu sei que com freqüência eu vou parar e pensar nelas

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Em minha vida, eu amo mais a você

Esperanza se remexeu, ainda acordada, mas agora em silêncio. Ela era estranhamente quieta às vezes, analisando tudo ao redor com seus olhinhos pretos, fazendo Reyna sorrir sem nem perceber.

– Parece com você - A voz áspera e embargada de Leo disse. Ele estava sentado na beirada da cama, não mais dormindo. Reyna estava tão distraída com a filha que não notou quanto ele acordou e ficou a observando.

– Com você. - Ela insistiu, lembrando-se da explosão e da forma que suas orelhas eram pontudas como de elfos e os cabelos cacheados.

Leo deu uma risada baixinha, esfregando os olhos com a cabeça baixa, pensando o quanto demoraria para entender que Esperanza não sabia ser apenas um deles.

– Discussão agora, nem pensar - Ele falou, ainda cansado, se levantando e indo para o banheiro do quarto.

Ela suspirou, agradecendo por não ter mais de replicar que as brigas entre eles só piorariam a situação.



Embora eu saiba que eu nunca vou perder o afeto

por pessoas e coisas que vieram antes,

Eu sei que com freqüência eu vou parar e pensar nelas

Em minha vida, eu amo mais a você


– Sinceramente - A voz de Leo disse, abafada pelo som da água que ele usava para lavar o rosto. - Acho que vamos ter sérios problemas com essa daí. - Ele soava divertido - Imagina só, ela chutando o traseiro de alguns monstros enquanto... - Sua voz pareceu mais receosa - Queima eles.

– Ela não vai queimá-los. - Reyna disse, tentando acalmá-lo - Se garantirmos que tenha total controle da dobra, nada de mal acontecerá.

Leo queria poder dizer que achava o mesmo, mas não era assim. Ele não se esqueceria do dia em que sua mãe morrera por causa do seu poder. Se sentou na cama e ficou lá, pensando.

– O que se passa? - Reyna perguntou, desconfiada - Não é de perder sono.

Ele suspirou.

– Sabe que dia é hoje? - Olhou para o relógio digital que havia na cômoda, marcando 4 da manhã.

– Dia das Mães. - Reyna falou, certa sobre o que dizia. Ela percebeu o que acontecia com Leo.

Aquele era mais um ano sem sua mãe, pensara Leo. Mais um ano em que não poderia dar um abraço ou beijo em seu rosto. Ele só tinha medo de que, algum dia, viesse a acontecer o mesmo com Reyna. Leo demonstrara estar feliz com a herança do fogo, mas agora não tinha o que esconder. Para ele, aquilo era uma maldição. Só não entendia o porque de Reyna estar tão calma em relação àquilo, mesmo sabendo que ela dificilmente se desesperava.

Naquela noite, ele acordou apenas porque seu pesadelo atingiu o auge. Sonhara que estava de novo na oficina de sua infância, em Houston. Mas, ao invés de ver a primeira Esperanza Valdez sendo engolida pelas chamas, ele viu Reyna. Foi no momento em que ela sumia em que ele acordou, e apenas se acalmou quando a viu segura e olhando para a filha, no quarto de sua casa na cidade dos romanos.

– Não vai acontecer o mesmo. - Ela disse, o despertando de sua mente, como se pudesse ler seus pensamentos. Leo já deixara se se assustar com aquele dom que ela tinha de desvendar as pessoas. Reyna se aproximou dele e, ainda de pé, envolveu-o em um abraço. Ele conseguia ouvir o coração dela bater em seu peito.

– Como pode ter certeza, dulzura? - Leo falou, ainda sentindo o cheiro de sua pele.

Reyna olhou Esperanza de onde estava. Mesmo tão pequena, ela os seguia com o olhar. Os olhos de obsidianas de mãe e filha se encontraram.

– Intuição de mãe.

Em minha vida... eu amo mais a você.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.