Amor Sem Fronteiras

Capítulo 1 "Reencontro"


Era um dia como qualquer outro, mas Helena estava ansiosa. Ninguém sabia, nem percebia. Ela era muito tímida e reservada, só dividia seus pensamentos com Laura – sua irmã mais nova, que tinha a personalidade oposta à sua: era muito extrovertida, estava sempre expondo o que sentia. Elas estavam se preparando para a chegada de Artur e Guilherme. Os pais de Artur eram amigos dos pais das duas irmãs, e, desde muito novas, as crianças sempre se encontravam para brincar, de modo que cresceram muito unidas.

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– Eles logo estarão aqui – pensou Helena – e eu não consigo dar um jeito nesse cabelo!

Helena tinha cabelos castanhos, ondulados, pele branca e olhos acinzentados, que mudavam de tonalidade de acordo com o clima. Seu pai sempre dizia que seus olhos refletiam seu interior, e eram a única maneira de ele saber como ela estava se sentindo. Aos vinte e quatro anos, ela se achava sem graça como se ainda fosse uma adolescente.

Fazia muitos anos que as irmãs e os dois amigos não se encontravam. A família delas havia mudado de cidade quando Helena estava com quatorze anos, e desde então eles não tinham conseguido se ver mais. Ela não sabia o que esperar. Lembrava de quando os quatro brincavam no quintal de sua casa, horas a fio. Não sabia se eles ainda teriam a mesma amizade de antes, e por isso estava se corroendo de ansiedade. Laura também estava, mas ela fazia o estardalhaço de sempre, pois não conseguia se conter.

– Eles chegaram! – gritou Laura, com sua voz esganiçada. Saiu correndo para dar uma ajeitada nos cabelos ruivos e rebeldes, que mantinha curtos porque não queria se preocupar com isso. Não era muito vaidosa, sabia que era bonita e diferente, com aquele cabelo, os olhos verdes e as sardas que tinha pelo rosto. Era mais baixa que a irmã, mas chamava mais atenção pela personalidade extrovertida e engraçada.

Sua mãe abriu a porta, e fez com que os rapazes ficassem à vontade. – Esperem que as garotas estarão aqui em um minuto! Paulo, venha aqui fazer companhia para os meninos! – O pai das moças desceu as escadas e se sentou, puxando conversa.

– Então, garotos, há quanto tempo! Como vão seus pais? Gostaria de poder vê-los novamente... Nos divertíamos tanto juntos, rindo e conversando! E vocês e as meninas brincando pela casa, derrubando tudo. Não tínhamos um minuto de descanso... Bons tempos aqueles... Me lembro daquele dia... mas espere um momento, quando começo a falar me esqueço de tudo. Como vão vocês? Gostaram da faculdade de medicina? O que planejam fazer agora que conseguiram seus diplomas?

– Pretendemos entrar no programa Médicos Sem Fronteiras. Parece que conseguiremos, já que temos o perfil certo. Eles preferem médicos solteiros e recém formados, uma vez que temos que passar muito tempo no exterior, em lugares desconhecidos, e sem endereço fixo. – Respondeu Guilherme. – Por isso decidimos visitá-los, já que não sabemos por quanto tempo ainda estaremos por aqui.

Ficaram em silêncio durante alguns momentos. Artur finalmente disse:

– Já planejávamos isso antes de entrar na faculdade. Sempre buscamos ajudar as pessoas, e essa oportunidade foi perfeita.

Helena estava na escada, escutando. Reparou na voz de Artur, como havia mudado. Quando, de repente, Laura surge do nada ao seu lado e fala com sua voz característica, que ecoa pela casa toda:

– O que você está fazendo parada aí? Quase me matou de susto!

Helena ficou com vontade de esganar sua irmãzinha, mas sabia que ela não fazia por mal. Desceram juntas o último lance de escadas. Helena sentia um nó no estômago, mas se conteve, como sempre, e entrou na sala de estar.

Artur e Guilherme se levantaram quando as duas irmãs entraram. Os quatro mal conseguiam se reconhecer, estavam muito diferentes. Helena reparou que Artur tinha ficado alto e muito mais bonito do que quando ficava tentando esfregar minhocas no seu cabelo. Ele também percebeu que ela mudara muito, mas que os olhos continuavam os mesmos, misteriosos e sonhadores como ele se lembrava. Sempre ficara intrigado com aquela cor indescritível. Guilherme e Laura já tinham começado a conversar, contando milhares de casos que aconteceram nesses anos todos, e Helena ficou pensando como conseguiam entender o que o outro estava falando, já que a conversa parecia totalmente sem nexo.

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Artur estava sentado, olhando pela janela. Helena sentou-se também, e não conseguia pensar em como começar um assunto. Ficou olhando para as próprias mãos, que não paravam se contorcer, pareciam ter vontade própria.

– Esse quintal é muito bonito. – disse Artur, ainda olhando para fora – Aposto que há muitas minhocas por aqui... – completou, sorrindo levemente. Helena não conseguiu segurar o riso. Desde que eram crianças, ele era a única pessoa que conseguia fazê-la rir daquela maneira.

A mãe das moças entra na sala e avisa: – O jantar está servido, não demorem senão vai esfriar. Todos se levantam e se dirigem à sala de jantar, onde a mesa estava pronta.