Eu Odeio Esse Fantasma!

"Até mais tarde Miller!"


Sim, ele me beijou.

Ele. Me. beijou.

Rayn Miller, o fantasma mais gostoso que eu já tinha visto, me beijou. Não que eu tenha visto muitos fantasmas antes, mas ele com certeza era o mais gostoso de todos.

Vou dizer, ele não tinha hálito de menta.

Pois é! Nada do que falaram nos livros românticos, e Rayn Miller, definitivamente, era digno de ser personagem de um livro de romance.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Tudo bem, eu estou divagando enquanto um fantasma temporariamente vivo está me beijando.

O pior de tudo?

Eu correspondi na mesma hora em que senti seus lábios macios e frios nos meus. Minha única reação foi querer mais, sentir mais; o frio e o quente se misturando, sua hesitação, o medo de que eu não fosse aceitar, a calma com que se movia mesmo não tendo aquele tempo, a angustia de nunca mais poder fazer aquilo.

Arquejei e puxei seu rosto para o meu, querendo mais daquela mistura de sentimentos em um único encostar de lábios. Senti, com estranha felicidade, seus braços contornarem minha cintura, seu corpo foi de encontro ao meu em segundos e seu aperto ficou mais forte, com possessividade e medo de que eu o empurrasse para longe a qualquer momento.

Eu não conseguiria faze-lo nem se eu quisesse. E vergonhosamente, eu não queria nem um pouco.

Minhas mãos instintivamente rumaram para sua nuca e senti seus cabelos macios sobre meus dedos. Rayn ofegou com aquele movimento e me puxou mais para si – como se aquilo fosse possível-, meus pés estavam começando a doer por ficar na ponta do pé já que o Miller era frustrantemente mais alto e eu não conseguia parar de sorrir durante o beijo, que se intensificou quando sua língua pediu passagem, a qual eu cedi rapidamente. O beijo estava sendo, como tudo até agora, surreal.

Infelizmente, como reles mortais que somos, o ar se fez presente e nos separamos ofegantes.

__O que...? – Tentei xinga- lo mas nada me veio a mente.

Ele riu ainda ofegando.

__Desculpe.

__Desculpe? Você é um convencido descarado de uma figa! “Meu presente” era o seu beijo?! Oras! – Comecei a dar socos no peito dele e me senti realizada em finalmente poder fazer aquilo.

__Ei! – Ele segurou meus pulsos com uma mão só – Isso dói sabia?

Rayn não estava com raiva, pelo contrário, ele possuía o sorriso mais radiante que eu já tinha visto.

__É pra doer! – Tentei me soltar e ele gargalhou, devia estar vendo uma baixinha se remexendo feito uma retardada – Me. Solta. Porra!

__Eu disse que era fácil parar você. Você é fraquinha, é só segurar seus pulsos e pronto. – Ele disse debochado, falando a mesma frase que a de um tempo atrás.

O olhei com os olhos cerrados. Ele estava me desafiando?

Olhei para sua mão que segurava as minhas, estava perto de seu peito, que por um momento me desconcentrou – por que ele não se mexia ok? Só para deixar claro que aquela camisa ressaltando seu peitoral não tinha absolutamente nada a ver com isso -, mas voltei a prestar atenção em seu rosto que tinha uma expressão de pura paz, e é claro, deboche.

Agarrei sua camisa, o tecido macio entre meus dedos e o puxei bruscamente, sentindo aquela parede de músculos bater contra meus 1,60 de altura. Ele me olhou surpreso e no minuto seguinte, ergui meus pés e colei seus lábios nos meus novamente, a sensação de torpor me invadiu, me desligando do mundo a minha volta.

Quem era Julie Evans? Rayn Miller? Algo sobre fantasmas? Eu não sabia dizer.

Senti sua mão diminuindo o aperto em meu pulso, com dificuldade me separei lentamente, abrindo os olhos e enxergando aquela imensidão azul.

Puxei meu pulso e sorri delicadamente. Difícil imaginar, eu sei.

__Fraquinha? – Falei baixo, perto de seu rosto ainda estático – Eu acho que não. Só é preciso as técnicas certas.

Ele olhou suas mãos, que seguravam o vazio e riu, me olhando com uma expressão que não soube identificar.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

__Você é impossível.

__É o meu trabalho. E acho que já ouvi isso antes. – Falei fingindo estar pensativa. Ele gargalhou.

Nossos olhos sempre estariam em uma eterna luta de cores, e eu sempre perderia. Estranhamente, gostava disso.

POV. Rayn

Uma palavra para definir Julie Evans?

Imprevisível.

Em um momento, ela estava prestes a me espancar e no momento seguinte ela me beija. Não dava para entender.

A garota era completamente maluca, boca suja, irritante e teimosa.

Por que eu beijei ela? Nem eu sei.

A única explicação que eu tinha achado plausível para meu coração começar a bater mais rápido e meu estomago dar um giro de 360º graus quando senti seus lábios nos meus, foi o fato de achar que nunca mais iria fazer aquilo novamente.

E só por isso.

Sinceramente, nem liguei para o fato de ter achado todos aqueles sentimentos afeminados demais. Eu era humano afinal.

Bem, não exatamente.

Sentir os lábios doces de Julie Evans sobre os meus foi diferente de tudo o que eu lembrava sobre minha antiga vida; era mais inesperado, mais caloroso, mais amável, mais tenso, mais vivo.

E foi aquele sentimento que me impeliu a passar meus braços envolta de sua cintura; Julie Evans era real, era viva, era feliz ao seu modo, era diferente de tudo e de todos, era ela mesma.

__O que você pensa que está fazendo? – Sua voz ficou mais fina com o contato de meus braços sobre seu corpo. Eu ri melodicamente.

__Não posso aproveitar meus últimos momentos? – Falei sarcástico e cafajeste, apertando sua cintura. Não queria que a pessoa que estava em meus braços com o rosto completamente vermelho – de raiva ou vergonha, eu não saberia dizer – soubesse o tamanho de meu afeto por uma garota que ia contra todas as minhas expectativas de perfeição.

Ela abriu a boca chocada, sem saber o que falar.

Ao invés disso, senti um punho colidindo com meu braço. Ela havia me socado. Prático.

__Ei! Para com isso sua maluca!

__Maluca? Eu? VOCÊ É UM SAFADO, UM CANALHA ESTUPIDO E IMBECIL! – Ela começou a estapear meu peito decidida a sair de meu aperto contra sua cintura. Vi sua face se endurecer e seu maxilar trincar, ela estava tentando não chorar ou era impressão minha?

Arregalei os olhos com a sua súbita mudança de humor. Não sabia o que tinha acontecido.

__Espera, se acalma. O que aconteceu?

Ela ofegou como se houvesse levado um chute no peito. Seus olhos marejados ficaram injetados de fúria e dor.

__O que aconteceu? – Sua voz era calma, terrivelmente calma – Nada. Não aconteceu nada.

Então a verdade me atingiu. As palavras que eu havia dito a magoaram mais do que eu podia esperar. Muito mais.

__Meu deus Evans! Eu estava brincando! – Falei desesperado, angustiado para tirar aquele sentimento de fúria e dor de dentro daquela garota frágil.

Mas que droga eu fiz?

__Me desculpe! Meu deus! Eu não falei aquilo por mal! Me desculpe – Soltei sua cintura e migrei minhas mãos para seu rosto, vi ela me olhar confusa. Eu devia parecer patético. Eu era patético.

__E depois você pergunta se eu tenho problemas? – Ela me olhou desnorteada, confusa com a minha mudança de humor.

__Acho que peguei isso de você.

Ela riu um pouco. Meu estomago se revirou com aquele som.

Tudo bem. Alguma coisa não está certa.

__Você está bem mesmo? Eu falo muita merda de vez em quando!

__Pegou isso de mim também? – Ela perguntou com deboche, a tensão os poucos se dissipando.

__É, talvez. Provavelmente. Sim.

Dessa vez ela gargalhou e a acompanhei.

Ela foi parando de rir enquanto olhava para minha mão, segui seu olhar e a vi começar a sumir, aos poucos transparente.

__O que vai acontecer daqui para frente Rayn? – Sua voz tremia de nervosismo e medo. Eu também me sentia assim.

Ela não tirava os olhos de meu braço que começava a ficar transparente da mesma forma que minha mão e cada vez mais eu ia desaparecendo. Com a outra mão ergui seu rosto, tocando com delicadeza seu queixo, aproveitando o máximo de contato que podia para com sua pele quente.

__Vamos fazer um trato? – Falei, minha voz não passando de um sussurro rouco. Seus olhos, que ela tanto dizia odiar e que eu tanto amava investigar, me analisaram curiosos – Vamos fingir que nada aconteceu. Vamos ser só... nós mesmos.

Ela sorriu meio tremula, um sorriso hesitante, como se estivesse se acostumando com a ideia. Sabia o que ela pensava; sabia que ela achava que eu não havia sentido nada, que não tinha me importado, que queria apenas sentir aquilo por estar temporariamente vivo.

Ela estava completamente enganada.

__Um fantasma idiota e uma garota marrenta? Só nós mesmos? Acha que é uma boa coisa?

__Com certeza. Só nós mesmos. – Sorrimos juntos dessa vez, como se compartilhássemos um segredo muito sigiloso.

E estávamos mesmo fazendo aquilo.

Olhei para meus pés que desapareciam também, o efeito subindo aos poucos em direção a minha cintura.

__Até mais tarde Evans - Falei com um sorriso triste.

Ela me olhou hesitante antes de se inclinar e tocar uma última vez seus lábios nos meus. Como uma despedida feliz de algo que nem sabíamos o que poderia ser.

__Até mais tarde Miller.