Perfume

Ele


Quem já abraçou a mulher amada depois de longa separação, deve saber como é.

Sentir a cabeça se afundando em seu peito, e deixar os pensamentos vaguearem pelo pescoço.

E sentir.

Sentir o perfume dela. Não apenas o delicioso odor comprado e engarrafado num vidrinho de cristal e, antes do encontro, cuidadosamente espirrado por todo o ser, chegando quase a sufocar um desavisado.

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Mas o perfume da própria pele.

Aquele cheiro único e viciante, inebriante, que te faz querer provar o sabor da fonte de tal tentação.

Mas tais devaneios não deixam de ser um tanto quanto impróprios ali, e com ele.

Havia o abraço, sem dúvidas.

E termina ai o paralelo de seu doce e simplório devaneio com a crua realidade para a qual fora tragado desde que começara a trabalhar na mansão.

Aquele jovem se agarrava em sua blusa, as mãos tremulas apertando o tecido de um modo que chegava a doer só de olhar.

Ali, ainda deixava lágrimas caírem impulsionadas por soluções mal-contidos.

Riff se limitava a fechar o pequeno corpo marcado no circulo de seus braços, as mangas do uniforme se sujando com o sangue que escorria das costas de seu jovem mestre.

O cheiro doentio de ferro inundaria a cena, se não fosse um outro, mais forte. Aquele que, secretamente, impregnava a pele daquele herdeiro que jamais fora uma criança, mas ainda não parecia um adulto.

O cheiro de veneno.

Arsênio e cianureto eram os mais comuns.

Havia também o chá maldito que seu Mestre preparava, o doce aroma da morte misturado às ervas.

O garoto de fios negros desordenados no desespero era ele inteiro veneno, como um bom membro da maldita família Hargreaves.

Mas Riff realmente não se incomodava.

Apenas fechava os olhos, saboreando o perfume de seu jovem mestre.

Se deixava arrastar pouco a pouco, caindo num delicioso abismo de inconsciência onde nada fora do limite de seu abraço importava.

Mal sabia que logo o perfume das rosas mudaria tudo.

E o então conde Hargreaves estaria morto.

Mas tudo isso foi a muito tempo.


Agora, seu Mestre já era o Conde e herdeiro da amaldiçoada família.

Mas ainda estava ali.

Podia sentir, enquanto fechava, um por um, os botões de suas roupas.

Estava ali, quando ajoelhava-se diante dele para arrumar-lhe os sapatos.

Mesmo quando em raros momentos, ele se deixava envolver em abraços secos de lágrimas, mas tão necessitados quanto sempre foram.

O perfume daquele homem pelo qual abrira mão de sua vida.

Mentira.

O homem que lhe entregara um motivo para viver.

Algo de bom para sentir.

Um alguém para tocar, para sonhar, para enlouquecer e, num sorriso educado, arrumar as roupas e sapatos.

Cain.

E seu eterno cheiro de veneno.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.