Marylin

A body in my fault


Eu acompanhava as placas tentando decifrar para onde James estava me levando, e tudo o que consegui descobrir era que já não estávamos em território inglês. Três horas se passaram desde que começamos essa aventura, se é assim que posso chamar.

– Estamos chegando? – Perguntei bocejando.

– Mais alguns minutos e chegaremos... – Ele não desgrudou os olhos da estrada, que agora nos contemplava com sua paisagem rural. – Tem alguma ideia de onde estamos?

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– França! – Murmurei entusiasmada. – Mas não é Paris. – Fiz minha típica cara de cachorrinho.

– Estamos perto de Paris...

– Perto de Paris e sem sinal de celular? – Perguntei indignada.

James sorriu me avisando que eu não conseguiria arrancar mais nenhuma informação dele.

As estrelas me desviaram a atenção. Isso era uma coisa que conseguia me tirar de todos os devaneios, o céu era algo que me prendia, me fascinava. O céu é como nós, muda de fases, nem sempre o sol brilha, nem sempre chove, e nem sempre se tem estrelas.

Minha atenção se voltou a estrada, que era muito mal iluminada diga-se de passagem. Tudo o que se via eram infinitas árvores e áreas agrícolas. Provavelmente estávamos na parte rural da França, como se isso não fosse obvio.

Mais alguns minutos se passaram até que James estacionou em frente a uma elegante casinha.

– Meu avós deixaram essa casa de herança para minha mãe. – Descemos do carro. – Eu sempre venho aqui quando quero ficar longe de tudo.

A entrada da casa era toda de madeira, igual a um chalé, a porta tinha um molde antigo e desgastado e sua cor era de um vermelho vivo.

– Vem, vamos entrar. – James segurou minha mão e me puxou para dentro.

Aquele lugar era incrível! Simples, pequena, e sem paredes! Uma lareira pequena ao canto, onde duas poltronas de couro marrom e uma mesinha com flores a rodeavam, um divã branco com uma manta fina e bege, cheia de almofadas de couro, logo em cima, mais adiante um balcão, que servia de mesa, e uma cozinha pequena e adorável que permanecia intacta com sua decoração antiga, logo mais ao fundo uma cama de casal grande, e aparentemente muito confortável, uma penteadeira rustica de madeira, e mais flores.

– É lindo! – Sorri

– Está cansada? – Ele perguntou colocando minha mochila em cima da poltrona.

– Sim. – Admiti bocejando.

– Enquanto toma um banho eu faço nosso jantar, tudo bem? – James depositou um beijo em minha testa e caminhou até a enorme geladeira. – A caseira deve fez compras hoje. – Ele comentou enquanto eu abria minha mochila procurando algo para vestir. – Teremos Lasanha... receita de família. – Ele riu baixo.

– Você já estava planejando me trazer aqui, não estava? – Perguntei enquanto procurava o banheiro. – O banheiro ficava ao lado do quarto, pequeno, simples, somente com o necessário, mas mesmo assim não deixava de ser elegante e confortável.

– Tudo bem, eu estava... precisávamos disso, agora vai tomar banho! – Ele riu apontando uma colher de madeira para mim.

– Estou indo patrão! – Mostrei a língua para ele e fechei a porta do banheiro, que bateu contra o batente fazendo um barulho enorme e fez James rir de tal ato.

Paz! Era disso que eu estava precisando, e esperava conseguir com essa viagem. Sem Richard, sem Burning Flight, sem Máfia Britânica, sem preocupações, somente eu, James, e o nosso amor.

Eu me sentia culpada por não estar dando a merecida atenção a James nesses últimos dias. Estava sendo tudo tão complicado, tão sufocante... não o nosso relacionamento, mas a situação em que me encontro.

Por um momento chego a pensar que tudo isso é um erro, e que talvez seja melhor deixar Deus condenar aqueles com o nome na lista deixada pelo meu pai. Embora isso me atormente, eu não consigo deixar isso para trás. Eu preciso fazer justiça.

~X~

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Os ventos batiam nas paredes de madeira fazendo barulhos assustadores, o tempo mudou radicalmente. Eu agarrei meu cobertor involuntariamente assim que um estrondoso e barulhento raio caiu em algum lugar muito próximo de nosso lugar de paz.

– Uma tempestade! – James murmurou fechando as janelas e desligando todas as luzes da graciosa casa.

Sua postura, mesmo longe do trabalho, era a de um agente muito competente. Ele se movia, e agia, como se estivesse preparado para uma guerra. E eu tenho minhas teorias de que se realmente acontecesse uma guerra, ele estaria preparado para enfrenta-la e salvar o país. Mas eu sabia que, na verdade, ele nunca saía do trabalho pois eu fazia parte do trabalho dele, ele era meu protetor, e mesmo eu não querendo isso, o tempo todo ele agia pensando em minha proteção. O quão egoísta isso soa?

– Tudo bem? – Ele parou no pé da cama e ficou me observando.

– Se eu não te conhecesse bem acharia que você faz parte dos vingadores. – Sorri me espreguiçando.

– Isso é coisa de super herói. – Ele tirou os sapatos e cambaleou até o meu lado na cama.

– Você é um herói. – O abracei pelo pescoço, trazendo-o para perto de mim. – Você faz parte de uma Máfia.

– Eu mato pessoas. – Ele riu beijando minha testa.

– Você defende pessoas. – Seus olhos me hipnotizaram, fazendo com que eu esquecesse as próximas palavras a serem ditas.

– Talvez eu seja apenas um humilde protetor. – Ele beijou minha bochecha me fazendo corar. – O seu protetor. – Ele riu.

– Você não precisa ser meu protetor o tempo inteiro. – O encarei. – Quero dizer... você não precisa estar trabalhando o tempo todo, não precisa se preocupar tanto comigo.

Ele suspirou e se moveu, me mantendo entre seus braços. Estendi o cobertor, fazendo com que ele cobrisse a nos dois, e fiquei a pensar na minha ultima frase enquanto o silêncio percorria o quarto.

Trovões foram tudo o que se ouviu durante os dez minutos seguintes. Meu coração se apertava com a teoria de que eu tinha estragado o final de semana perfeito.

– Porque não acredita que me preocupo de verdade com você? – James murmurou junto com mais um trovão. – Quando estou com você eu não estou trabalhando Marylin, eu deveria estar pois meu trabalho, apesar de tudo, é proteger você mas... esse sou eu de verdade! Eu me preocupo com você, eu me preocupo com seu bem estar, com seus sentimentos, com sua felicidade.– Sua mão começou a fazer nós em meu cabelo já bagunçado. Eu não sabia o que dizer. – Me desculpa se eu dou a impressão de que estar com você é só meu trabalho, porque Mary...

– Eu não quis dizer isso James. – Sussurrei com a voz falha. – Eu acredito que se importe comigo, acredito de verdade. É só que isso é tão egoísta! – Me aconcheguei em seus braços, deitando em seu peito de uma maneira onde as batidas de seu coração eram fáceis de ser ouvida. Aquele era meu som preferido no mundo inteiro. – Não quero que se preocupe só comigo, estar comigo o tempo inteiro sabe? Eu gosto de sua companhia, é claro! Mas... e sua família? Seus amigos? E você? – Não me movi. – Não é egoísmo te ter tão preocupado comigo? – Perguntei me assustando com outro violento trovão.

– Egoísmo é me pedir para ficar longe de você Marylin. – Ele suspirou. – Meus amigos estão no trabalho, minha família está no trabalho, minha vida está aqui deitada em meu peito tentando me convencer de que não é tão importante. – Sorri. – Por favor, não me peça pra ficar longe de você porque isso é algo que sei que não conseguirei fazer. – As batidas de seu coração ficaram mais rápidas. – Agora descanse...

– Eu amo você. – Sussurrei sentindo meus olhos pesarem.

– Eu amo mais. – Ele riu beijando minha testa e me guiando para um sono profundo e calmo ao som da chuva que começara a cair.

~X~

Os trovões continuaram durante toda a noite. Eram barulhos ensurdecedores que me deixavam assustada e me fazia agarrar involuntariamente qualquer coisa próxima de mim.

Minha mente estava cheia de coisas, pesada, perturbada. Coisas como Alisson, Burning Flight, Máfia Britânica e Richard estavam me deixavam a beira da loucura.

Eu me sentia extremamente culpada pelo desaparecimento de Alisson, eu odiava passar meu tempo na Burning Flight tentando acabar com a vida de pessoas que acabaram com a minha, eu estava cercada por monitores, câmeras e agentes de uma máfia mais importante do que o FBI, e eu não conseguia esquecer os olhares de Richard que me deixavam amedrontada, e faziam com que eu me sentisse uma criança sem proteção onde a mente podia ser lida.

A claridade invadia a casa, motivo pelo qual despertei. Me espreguicei sentindo o vazio ao meu lado e ao abrir os olhos, com dificuldade, percebi que James não estava ali. Onde ele estava?

Após a tempestade um lindo dia se formara lá fora.

– James? – Gritei sem sair da cama.

Dois segundos depois a porta se abriu, e James entrou falando com alguém pelo celular.

– Tudo bem... Não, na verdade eu não tenho como mudar isso. – Ele falava baixo e me encarava seriamente. – Não senhor. – Seu olhar me explicou o assunto tratado “ Notícias ruins!”. – Não podemos prende-lo por isso? – Uma pausa dramática para me fazer ter leves taquicardíacos. – Tudo bem, chegamos hoje a noite. – Ele desligou o celular. – Droga! – Resmungou jogando o aparelho na poltrona de couro.

– O que aconteceu? – Me levantei imediatamente cambaleando até ele.

– Desculpa Mary... mas temos que voltar. – Ele me encarou decepcionado.

– Não tem problema, mas... o que aconteceu? Está tudo bem? – Perguntei passando a mão por seu ombro tenso. Ele negou com a cabeça. – James! O que aconteceu? – Perguntei novamente.

James segurou minha mão e me guiou até a poltrona, pedindo em meio a gestos que eu me sentasse.

Meu coração sairia pela boca, ou por qualquer outro buraco, se ele não me contasse o que estava acontecendo.

Ele suspirou fundo, sentou em minha frente e me encarou preocupado.

– Acharam o corpo da Alisson. – Ele murmurou.

O corpo da Alisson! Ela estava morta... e a culpa era minha.

– A MB achou o corpo? Como eles acharam? Onde? – Perguntei ansiosa pelas respostas.

– Katherine achou o corpo dela faz duas horas... em nossa casa.