O ar terrestre invade meus pulmões e o vento, carregado de calor e maresia, bagunça meus cabelos dourados. Se não fosse pelas minhas preocupações, eu poderia relaxar um pouco à luz do astro rei, mas ao simples movimento de cabeça avisto os dois: Serenity e Endymion. Lua e Sol unidos no mar azul.

Hoje mais cedo tentei impedir Serenity de vir... Um flashback, como um filminho passa na minha cabeça.

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Serenity estava se esgueirando e eu a surpreendi.

–- Te encontrei princesa!! – falei exaltada – Vai ver o Príncipe de novo? – precisava impedir – Eu sei que você está apaixonada, mas se aproximar dele é muito perigoso!

–- Não é paixão!! – Serenity falou enfática – E você, Venus – havia raiva nos olhos de minha princesa, mas de uma hora para outra ela fez uma careta e completou – Se continuar assim, nunca irá encontrar um amor...Você não entende os meus sentimentos!!

Quando a princesa falou isso saiu correndo... E eu somente pude acompanhá-la de longe...

Minha Princesa mal sabe que eu também estou...

– Eles estão cada vez mais unidos – ouço a voz Dele me tira de minhas divagações... Mas me recuso a virar o rosto!

Aquele maluco quase matou a princesa... Isso que dar me envolver com seres de Elysion.

O sol reflete no mar, parece que minha princesa está em uma manta de diamantes... Nunca vi Serenity tão bonita e feliz... Este pensamento gera um aperto no meu estômago... Sim, apesar de me odiar por concordar com ele...

Minha princesa e o príncipe de Elysion estão cada vez mais unidos...

– Lady de Venus – ele insiste, será que ele não percebe que não quero falar com ele? – Não consigo conceber que você me culpe da crise alérgica de sua princesa!

O quê? Ele está insinuando que a culpa é minha? Isso eu não vou aceitar!

Volto-me para olhá-lo, tentando colocar todo o meu desprezo neste gesto.

Ele está montado em um daqueles animais típicos de seu reino, os pégasus. Sua montaria era belíssima, tinha o pelo e asas brancas com uma estrela de quatro pontas negra na testa bem desenhada, os olhos daquela criatura eram amendoados. Um par perfeito para seu cavaleiro que possui um toque quente e aconchegante...

Ao reviver o toque de Kunzite, percebo que fiquei tempo demais admirando a criatura, minha intenção de desprezo se perdeu... mas só de olhar para seu rosto moreno, seus olhos anis, cabelos prateados ao vento e rosto másculo recordo todo o ódio que eu tinha guardado em meu peito.

– Você não vai aceitar? Está louco? Minha princesa quase morreu!!! – queria que ele descesse da montaria para eu poder encará-lo – Que ideia foi a sua de falar para seu príncipe leva-la em um campo de Pentas? – meu desespero quando vi a princesa desfalecida retornou para mim como um murro – PENTAS? Eu havia te avisado, Serenity tem uma alergia forte a Pentas!! Ela não poderia...

– Foi você, Lady Venus, que falou para assustá-la com Pentas... – a voz dele estava firme.

– Sim, mas – me dou por vencida, as lágrimas que lutavam para sair dos meus olhos molham minha face – Ela quase morreu...

Kunzite desceu em segundos da montaria e me amparava em seu peito – Foi um erro, Lady Venus – ele acaricia meus cabelos – Mas os dois não podem ficar juntos...

Olho para seus olhos azuis e repito, com muita dor, o que ele falou – Sim, eles não podem ficar juntos, é errado eles ficarem juntos...

Olho para o mar, a princesa está andando de forma desastrada no barco, o motivo? Ela quer alimentar um dos golfinhos que se aproximou dos dois. Endymion a olha com um quê de preocupação no rosto.

– Ele a ama – consigo sentir o desespero na voz de Kunzite e me aconchego um pouco mais em seu peito – Ele realmente a ama e morrerá se perdê-la. Você não sabe o quanto ele me culpou, o quanto ele SE culpou...

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– Ela negou que havia se aproximado de pentas, falou que era cansaço – respiro fundo – tivemos que aceitar esta explicação... Mas tem coisa demais acontecendo... – lembro-me do meteoro que sumiu a algumas semanas.

– Eles estão dispostos a morrer por este amor – Kunzite está os observando, o perfil deste homem era fino e marcante. De onde eu estava era possível ver a dobra de seu pescoço, o pomo de adão descendo e subindo com sua respiração, fico parada olhando isso por um tempo até que decido, penosamente, me afastar dele.

Apesar de ele permitir que eu deixasse seus braços, se mantém próximo a mim. Ainda é possível sentir o aroma de sua loção pós-barba. Fico olhando o mar.

– O que acontecerá com eles?

– As famílias irão descobrir e proibir o relacionamento – ele fala de forma prática.

– Minha Deusa não conseguirá controlar Serenity.

– Também tenho dúvidas sobre o poder que Jimmu-sama possui sobre Endymion.

Olho para baixo e um sorriso se forma em meus lábios - É impossível.

Ele também está sorrindo – Pois é, é impossível.

Não entendo bem o que aconteceu...

A princesa estava no barco sentada e levemente recostada no ombro do amado príncipe dela. Eu estava ao lado do Lorde Kunzite, ele entrelaçou os dedos dele entre os meus e eu apertei gentilmente sua mão. Depois disso, uma calmaria abateu entre nós e ficamos observando-os.

Não sei quanto tempo ficamos lá em meio aos rochedos, com a música das ondas nos nossos ouvidos e o cheiro de maresia em nossos pulmões. Mas ficamos e o mundo poderia acabar naquele momento.

Entendi como a princesa estava sentindo. Comecei a não me importar com o que iria acontecer com o planeta ou com o mundo...

Os lábios de Kunzite tocaram pela primeira vez os meus.