Memórias

Silêncio. Isso é tudo que ouço. Silêncio depois de horas de barulhos altíssimos e gritarias desesperadas. Horas recheadas de medo e horror. Ninguém esperava que o suntuoso Titanic afundasse, muito menos daquela forma. Ah, como foi cruel e doloroso ouvir cada estalo, cada rangido, cada súplica que o navio fazia para o mar. Mas o Senhor Azul não demostrou clemência. Afundou-o, levando como pagamento a mais nossas vidas e nossos sonhos. Mas não o culpo apenas, eu não admiti que havia algum problema, não, eu não fui capaz. Maldito orgulho que nos ataca de devora nas piores horas! A culpa ainda me corrói enquanto ando, ou flutuo, pelos corredores, antes cheios de nobres, completamente vazios e cobertos pelas algas.

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Lá vão eles, os idosos mais incríveis que já vi. Morreram juntos e irão para o Paraíso juntos. Eles acenam para mim, eu retorno o gesto. Ainda tenho algum tempo aqui, nas profundezas do Oceano, tempo que talvez dure toda uma eternidade cheia de memórias boas. Sempre assim, memórias boas vinham, apenas para acabarem naquele pesadelo. Memórias de um pesadelo sem fim, de uma angústia que não se mitiga. Memórias, lembranças amargas da sensação de se deixar levar pelas águas do Senhor Azul, de se entregar para a beleza solene e serena da Dama Fria. E, como capitão do, um dia, majestoso Titanic, eu me preparo para seguir, novamente, o rumo das ondas, implorando para que elas lavem esse tormento de ouvir e ver milhares indo para os domínios da calmaria de minha alma. Mesmo que seja a única coisa que ainda a faça existir.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.