Por Laura

Eu olhava meu filho no colo do meu pai. Pedrinho não chorava ...

– Pai, o que aconteceu? Por que ele não chora? - perguntei desesperada

Meu pai não respondeu, sua atenção estava fixa no meu bebê, ele tentava fazê-lo respirar. Ele parecia muito preocupado, eu sabia que a situação era grave, e lágrimas começaram a descer em minha face.

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Eu e Edgar havíamos sonhado tanto com aquele filho.. Depois chegou aquela carta, ele foi para Portugal e eu fique me sentido abandonada … com problemas na gravidez … fiquei de repouso por semanas ... por Pedrinho ... eu tentei ficar calma, mas … . Eu tentei, mas com o Edgar longe, o sofrimento era muito. E ainda mais com a possibilidade de perder meu bebê. Onde estava Edgar? Ele devia estar comigo... me amparando, me ajudando quando estava prestes a dar a luz, sofrendo comigo quando tive problemas. Ele me prometeu que voltaria antes do nosso filho nascer...

E agora isso. Pedrinho nascera mas não chorava. Ele era tão pequeno! Tinha que chorar... Tinha que viver, eu não iria suportar se o perdesse também... mesmo se Edgar não voltasse... O que sentia era tão ruim que parecia que ia me dilacerar. Era a pior coisa que podia imaginar. O meu pior pesadelo.

De repente comecei a escutar um pequeno gemido, um choro baixo que foi aumentando e tomando conta daquele quarto. Era o meu filho. Pedrinho chorava, ele estava vivo. Meu filho.

Isabel e eu nos abraçamos felizes, pois a tristeza que antes reinava no quarto foi substituída pela felicidade extrema:

– Ele está bem, filha. Não se preocupe! Ele é um guerreiro!- meu pai falou com um grande sorriso em seu rosto, depois o enrolou num pano e o colocou em meus braços

– Bem vindo, Pedro. - falei olhando e fazendo carinho no rosto do meu filho pela primeira vez.

Finalmente ele estava em meus braços, finalmente eu vira o que tanto imaginei enquanto o esperava. Ele era bem pequeno, ainda não conseguia definir direito a cor dos seus olhos, mas ele era branquinho, cabeludo. Um cabelo escuro assim como o meu, mas liso como o do pai. Era lindo, e se mexia, parecia assustado. Chegara ao mundo numa situação difícil, mas prometi a ele que o protegeria, e o amaria muito e para sempre. Aliás, eu já o amava demais, mais do que pensei que fosse possível amar.

Minha mãe e tia Celinha o viram. Elas pareciam animadas, e D. Constância já fazia planos para o neto. Meu pai pediu cautela, falou que ele era muito pequeno e que eu e meu filho precisávamos de tempo para nos recuperar. Assim, elas acabaram indo embora. Ele resolveu ficar comigo, e também pediu que Isabel e Matilde ficassem para me auxiliar.

Eu comecei a amamentar Pedrinho, mas ainda não tinha o que se poderia chamar propriamente de leite. Segundo meu pai, era normal. Também tivemos de ter paciência com ele já que se cansava rápido e demorou um pouco para aprender a sugar o meu peito.

Seu Assunção ainda parecia preocupado, com medo dele perder muito peso nos primeiro dias, ele era muito pequeno e qualquer perda poderia prejudicá-lo.

Isabel se ofereceu para amamentá-lo. Ela dizia que tinha bastante leite, o suficiente para Pedrinho e Neto.

Assim, eu, ela, Neto e Pedrinho passamos aquela noite no mesmo quarto. Eu e ela quase não dormimos, sendo que nos revesávamos em dar o peito a Pedrinho a cada hora. O leite dela daria energia ao meu filho, enquanto o material grosso que saia dos meus seios seria bom para a saúde dele. Pelo menos meu filho parecia faminto, ele não mamava muito de uma vez, mas acordou diversas vezes, sempre querendo mais e mais.

E durante essa noite, eu também cheguei a cuidar de Neto, inclusive até troquei suas fraldas nas vezes em que Isabel amamentava o meu filho.

E uma impressão veio até mim. Esses meninos cresceriam juntos como irmãos. A diferença de idade entre eles acabou sendo menor do que imaginávamos. Cerca de1 mês e alguns dias. Seriam quase como gêmeos.

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No dia seguinte escrevi umas linhas sobre a nascimento de Pedrinho. E pedi a meu pai que as enviasse como um telegrama a Edgar. Tinha esperanças que com o nascimento do filho e nessa situação tão complicada, ele mandasse notícia. Mas ainda tinha muitas dúvidas em relação ao que ele estava fazendo em Portugal, se já teria me abandonado. E também estava desapontada, o Edgar que eu amava não agiria com tal desapego. O Edgar que dizia que me amava tanto deveria estar ao meu lado quando nosso filho nascesse.

Durante o dia, recebi algumas visitas. Até mesmo os meus sogros, a verdade é que apesar de constrangido, meu pai pediu que pelo menos por enquanto nos visitassem pouco.

Devido ao tamanho de Pedrinho era melhor a tranquilidade e evitar qualquer cansaço da parte dele. Todo o seu esforço deveria ser direcionado as mamadas. E ele também tinha que ser mantido sempre bem agasalhado e em lugares quentes. Felizmente estávamos em janeiro, um mês bem quente na cidade.

Além do que essas visitas em vez de me tranquilizar, me deixavam mais nervosa. Sei que eles pretendiam me estimular, mas quase todos falaram de Edgar, que ele ficaria orgulhoso ao conhecer o filho. O que só me lembrava que Edgar não estava conosco, e que talvez tivesse nos abandonado.

Aliado a isso, ainda estava aflita com meu filho e sua saúde. Eu queria tanto acalentá-lo sempre, brincar com ele, beijá-lo, mantê-lo próximo a mim. Mas meu pai dizia que era melhor deixá-lo no berço, bem agasalhado e evitar estimulá-lo por enquanto.

Tudo isso só aumentava a minha carência, e ás vezes durante a noite, quando todos estavam dormindo, eu o olhava meu bebê e chorava pensando no que seria da gente. Mas ao menos eu tinha o alento de ter Pedrinho, apesar de ainda ter muito medo de perdê-lo.

Poucos dias após o nascimento, o meu leite de verdade chegou. Mas me parecia tão pouco, e com o tempo, talvez por causa da minha aflição pela falta de notícias de Edgar, a saúde do meu filho, a pressão de todos, ele acabou se secando por completo.

Eu fiquei mais preocupada, mas Isabel me acalmou. Ela dizia que o seu leite era suficiente para os nossos filhos, e enquanto Pedrinho precisasse, ela o amamentaria. Ela falava que ele era o seu segundo filho, e eu respondi que sentia o mesmo por Neto. Neto de certa forma também já havia se tornado o meu segundo filho.

Certo dia , começou a chover muito e apesar de ser verão, o clima resfriou. Era o fim da tarde, e eu estava sozinha com meu filho, o observando no berço. Normalmente, ele era bem quieto, mas me parecia mais parado ainda. Sua cor também estava diferente.

O peguei no colo e notei que ele estava frio. Quase não se mexia. O medo tomou conta de mim, e gritei:

– Não, Pedrinho. Não deixa a mamãe!

Eu fiquei sem reação enquanto as lágrimas inundavam o meu rosto Meu pai apareceu assustado e perguntou:

– O que foi, filha?

– Pai, ele está frio... Pai … não deixa ele morrer!- pedi entre os soluços

– Calma, Laura. Calma!

Meu pai pegou uma manta grossa que estava no berço, tomou Pedrinho dos meus braços e o enrolou na manta. Em seguida desceu apressado e eu o segui enquanto meu coração galopava de pavor em meu peito. Ele parou na cozinha e colocou Pedrinho perto do forno aceso.

– Tudo vai dar certo, filha. Você vai ver. Ele só precisa de calor. - ele ficou próximo ao neto – Reage, Pedrinho. Vamos, Pedrinho!

Eu observava a tudo perplexa, em silêncio, apesar das lágrimas ainda correrem em meu rosto. Passou um tempo e a cor do meu filho pareceu voltar, ele já se mexia bem, parecia querer se espreguiçar, emitindo doces sons para o meu ouvido tão preocupado. Abracei o meu pai apertado, deixando toda aquela tensão sair na forma do som do meu choro de alívio:

– Está tudo bem, filha. Pedrinho está bem. Ele é um guerreiro!- ele me falava me acalmando.