“O Edgar tem se mostrado um amigo maravilhoso. Ele não acha que os meus planos são irrealizáveis, os meus desejos tolices. Isso não é pouco.”

Laura em Lado a Lado

Por Edgar

Depois que Laura me pediu o divórcio. Fiquei um tanto aborrecido. Eu queria que ela desistisse dessa ideia, não imaginava o fim da nossa história assim. Pensava que envelheceríamos juntos.

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E fiquei com raiva dela insistir nisso. Estava sendo frio, usava de cinismo com ela. Isso não a faria voltar atrás, eu sabia. Mas os sentimentos me dominavam e não conseguia agir de outra maneira. Ao menos conseguíamos manter as aparências para os nossos filhos.

Tínhamos tantas mágoas um do outro, tantas acusações de sofrimento que nos infligimos. Mas eu tinha fé que resolveríamos. Já Laura não, ela havia desistido. E eu não aceitava.

Mas chegou aquele dia, onde tive que acabar com essa birra. Eu tinha dormido tarde na noite anterior, a reflexão sobre a minha vida, sobre meus amores... Laura... Pedrinho... Cecília ... Melissa. Sobre como agir para não perder Laura para sempre.. Acabaram me dando insônia.

Acordei tarde, fiz meu desjejum as pressas e fui direto para o escritório. Tinha muitas coisas para fazer, muitos processos pra estudar. E ultimamente, a minha capacidade concentração não era a mesma. Era muita coisa na mente me distraindo.

Já era quase hora do almoço quando Guerra apareceu:

– Edgar, eu vim saber como andam... Laura, você, as crianças. -ele disse consternado

– Estamos bem. – respondi confuso, não entendendo a preocupação repentina dele.

– Você não leu o pasquim de hoje, leu?- ele continuava preocupado

– Não, hoje teve Pasquim? O que tinha nele, Guerra? - perguntei já sendo tomado pelo medo

– Tome, é melhor você ler – ele me estendeu o folheto e eu comecei a lê-lo com a sensação de que meu coração sairia pela boca.

A cada linha eu ficava mais chocado. Não podia acreditar que alguém era capaz de escrever aquilo. Não podia acreditar que falavam tantos absurdos sobre a minha família.. sobre Laura, ao terminar:

– Eu quero matar esses miseráveis. – falei furioso jogando o folheto longe

– Mas nem sabemos quem escreveu ou quem pediu essa matéria...

– Eu vou descobrir e quero matá-los- continuei furioso

– Edgar, se acalme... Para de falar em mortes... Nós sabemos que você não fará isso – falou Guerra assustado

– Mas eu tenho que fazer alguma coisa. O que falaram da Laura, essas mentiras sensacionalistas... Destruíram a reputação dela!

– A sua reputação também foi afetada!

– Eu não ligo pra isso... Esses anos todos vivi pelas aparências por Laura, para não afetar a sua reputação... Nunca importei de me verem como um marido traído. Mas agora, tudo desabou. E de uma maneira pior que pensava. E ainda envolveram a nossa filha nisso, insinuaram que não é minha, Guerra! Ela tem só 4 anos!

– Calma, Edgar, entendo. Mas agora não é o momento para pensar em vingança... Acho que Laura e seus filhos devem estar precisando de você!- ele falou sensato

Guerra tinha razão. Eu precisava saber como Laura e nossos filhos estavam. Sentia um terror ao imaginá-los envoltos naquilo. Me sentia tão impotente nessa situação. Eu não consegui evitar aquele escândalo. Mas podia servir de apoio. Podia tentar conter as coisas e protegê-los.

Durante o caminho pensei em alguma ação. Algo que pudesse conter aquele escândalo. E imaginei Laura e nossos filhos morando em minha casa, talvez assim conseguíssemos melhorar a situação. Eu falaria com Laura, torcia para que ela aceitasse.

Ao chegar a casa, escutei as vozes de Laura e da Baronesa. Elas discutiam, consegui distingui algumas palavras duras que D. Constância dizia a sua filha num momento tão difícil.

Aquilo me irritou tremendamente, e pedi que ela se retirasse. Fiquei ao lado de Laura, ninguém podia acusá-la daquela maneira. Ainda mais a sua mãe e naquele momento.

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Laura me parecia tão frágil, tão triste. Já a vira sofrer antes, e isso sempre mexeu comigo. Ela já tinha sofrido muito por consequências diretas das minhas ações. E eu procura evitar, tentava não aprofundar ou encarar, pois era doloroso demais enfrentar essa culpa.

Mas dessa vez, era diferente. Eu não era o responsável direto por aquilo... Laura não merecia aquele sofrimento, nunca mereceu. Ela tinha fugido, me feito sofrer muito, mas não era culpada das acusações mais mesquinhas. Ela era uma ótima mãe, não fora infiel, vulgar ou interesseira como insinuavam. Mantivera a sua honra.

E eu percebi, naquele momento, era nós contra o mundo... Ela precisava de apoio, de união. Eu corri e a abracei. Queria acabar com toda aquela tristeza, ela começou a chorar. Queria secar todas as lágrimas. Comecei a falar com doçura. Era como se estivéssemos de volta ao início do nosso casamento, onde não havia tantos problemas nos separando. E quando tinha, nos confortávamos.

Fui ver as crianças depois que ela se acalmou. Elas pareciam não saber nada. Isso era um alívio. Dei um pouco de atenção a elas, brinquei, contei histórias. Para elas o mundo continuava igual. Mas sabia que não continuaria assim, só esperava que não fossem tão afetadas. Tinha muito medo do que poderiam falar com meus filhos, o modo que os tratariam, como desmoralizariam a sua mãe e eles.

Interiormente era afrontado por vários sentimentos, pensava sem parar nessa situação. Mas conseguia me manter calmo, agir com serenidade. A minha família precisava disso.

Eu ainda estava preocupado com Laura e fui até o quarto dela. Ela dormia... linda. Parecia tão serena, ao mesmo tempo, angelical e desprotegida...

Eu a contemplei admirado. Ela estava tão frágil quando cheguei. Mas sabia o quanto era forte e corajosa, e isso me deu esperanças, ela ia superar aquilo... Havia um mundo contra ela, mas nem o universo inteiro seria capaz de acabar com a sua força de vontade. E ela não ficaria sozinha, eu estaria ao seu lado.

Mágoas ainda povoavam o meu coração. Mas naquele momento não era importante, nem parecia que existiam. Ela era importante, Pedrinho e Cecília eram importantes. O bem estar da minha família era o meu objetivo.

Havia anos que não a via dormir. Essa visão era incrível, e eu não queria que terminasse. Estava encantado.

Mas ao mesmo tempo, comecei a sentir uma necessidade de participar daquela cena. Queria senti-la, afagá-la, protegê-la com meu corpo para que nenhum perigo a atingisse.

Não consegui resistir à tentação e acabei acariciando o seu rosto com cuidado. Não queria acordá-la, mas ela acabou se mexendo assustada e me fez perguntas.

Começamos a conversar e falei sobre morarmos juntos, mas ela não aceitou. Eu não queria discutir, não podia fazer isso naquele momento delicado e ia embora. Só que ela pediu pra eu ficar... Pediu... Há quanto tempo não me pedia carinho, e como eu queria lhe dar isso.

Comecei a acariciá-la. Não sabia o que fazer. Eu tinha desejos dos mais ternos aos mais carnais. Queria protegê-la, mas não podia negar que no fundo também queria tê-la.

Não sabia como ela reagiria a um gesto meu. Então a abracei. Meu corpo parecia uma armadura a sua volta. E ela me parecia tão entregue.

Eu podia, até quis, beijá-la e possuí-la. Mas ela estava tão frágil, não podia aproveitar. Eu a amava e desejava, mas não sabia o que aconteceria depois de amá-la. Era possível que brigássemos, colocássemos as nossas mágoas e vontades mais profundas pra fora e voltássemos aos maus momentos. Não era o momento pra mais complicações. Ela precisava de mim, eu precisava dela.

E a sensação era tão boa. Eu sentia a sua temperatura, o seu corpo perto do meu. Me sentia próximo dela de uma maneira tão íntima, tão profunda. Desde que ela voltara eu não me sentia tão próximo ...

Nós conversamos sobre o que fazer, sobre nossos filhos, sobre os problemas que nos afrontavam depois daquela matéria horrível... E de uma forma tão natural, tão companheira. Depois até falamos com as crianças.

Ao voltar pra casa, eu já tinha me decidido. Ia esperar as coisas saírem um pouco de evidência... a poeira baixar por assim dizer. E começaria uma investigação. A próxima matéria de Antônio Ferreira iria desmascarar os vigaristas por trás do Pasquim. Com isso, eu tinha esperanças de despedaçar todas aquelas mentiras e recuperar a reputação de Laura. Falei disso com Guerra e ele ficou bem animado com a pauta.

Continuei apoiando Laura e nossos filhos nos dias seguintes. Assim sentia que a cumplicidade com Laura começou a crescer. Nos primeiros dias, ela não saiu de casa. E nós conversávamos muito. Ela demostrava uma vontade de saber como tratavam os nossos filhos. Ela sofria ao saber que eram hostis com eles, eu tentava esconder, protege-la desse sofrimento, mas ela insistia. Ela preferia enfrentar a verdade. E acabei falando.

Também descobri como as crianças eram fortes e unidas. Elas enfrentavam aquilo de uma maneira invejável. Me deixavam orgulhoso, como no dia em que uns garotos começaram a provocar querendo que Cecília, Pedrinho e Neto saíssem de um brinquedo para eles tomarem os seus lugares.

As crianças continuaram firmes, mesmo com os insultos direcionados a eles e principalmente Cecília, os 3 rebatiam as palavras e se defendiam. A situação estava ficando mais tensa, e eu interferi com medo que acabasse em briga e machucados.

Pensei em ir embora com eles para não serem mais confrontados, e Pedrinho disse firme:

– Eu não quero ir embora. Não tenho medo. Eles que vão embora se quiserem!

E percebi que Neto e Cecília o apoiavam nisso, assim nós ficamos. Mesmo com olhares contrários, as crianças continuavam brincando sem dar atenção a hostilidade de que eram vítimas.

No fim, eu pensei que talvez tivesse ficado mais abalado com a situação do que elas. Elas tinham tanta coragem e uma maneira simples de lidar com isso.

Após alguns dias, Laura também começou a se animar. Ela e Isabel estavam envolvidas com uma nova peça no teatro Alheira. Assim, Laura voltou a sair, mesmo que discretamente.

Um dia, ela ficou mais animada, e resolveu passear com as crianças. Ainda tínhamos uma preocupação com a exposição que causaria. Mas já fazia algum tempo, e bem ou mal, ela era a mãe, todos sabiam disso. Não havia motivos para esconder, era melhor enfrentar. E eu estaria com eles. Nós iríamos como uma família unida.

Fomos a praça perto da casa de Laura, demos um pouco de atenção as crianças, brincamos com elas e depois deixamos que elas brincassem sozinhas, enquanto nós as observávamos sentados em um banco da praça.

Laura e eu conversávamos. Mas eu percebia que ela estava incomodada com os olhares e cochichos agressivos sobre a gente, além de se preocupar com as crianças. Tentava descontrair a situação e comecei a falar de amenidades, e em pouco tempo, ela até arriscava uns sorrisos que eram correspondidos pelos meus:

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– Laura, você precisa ir ao cinema*... É incrível. O modo como capturam o movimento da gente, dos objetos, dos animais... – disse empolgado

– Eu ouvi falar dessas salas de cinemas, mas dizem que são abafadas e sujas, Edgar.

– Não digo que o ambiente não é abafado, mas é emocionante assistir um filme. Só vendo para entender. Parece mágica!

– Não sei não. Acho que isso talvez seja moderno demais – ela sorriu – Vou me contentar com o teatro.

– Nunca pensei que você tivesse medo da modernidade – a desafiei, e ela sorriu novamente, olhei para sua boca vermelha, era tão bela, aliás, Laura era tão bela, e naquele momento senti uma atração quase irresistível, a olhei bem, mas me reprimi e desviei o olhar

– Eu não tenho medo, mas .. - a interrompi.

– Eu vi um filme há algum tempo … Era ótimo, tinha um foguete, e homens que iam pra lua, e o foguete caiu diretamente no olho da Lua. Sei que é estranho, mas é muito bom, e criativo. Tem certa graça também. Tava pensando em levar as crianças pra ver...

– É uma ótima ideia, tenho certeza que iriam se divertir. Nunca foram ao cinema.- ela falou sincera

– Se você quiser ir também...

– Não sei... Vou pensar – nos olhamos bem nos olhos, parecia um daqueles nossos antigos olhares apaixonados, mas depois acabamos desviando o olhar

Laura levou seus olhos para onde as crianças estavam, e falou apreensiva:

– Edgar, cadê as crianças?

Elas realmente não estavam mais lá. Começamos a olhar em volta e eu avistei Pedrinho, Cecília e Neto:

– Eles estão ali – apontei aliviado, as crianças corriam em direção a um homem, que também corria pra elas.

Era um homem alto de pele escura, bem vestido, eu não o reconhecia, e achei muito estranho:

– Laura, quem é aquele homem?

– Espera um pouco, não poder ser!- ela disse animada – É o Lauro, Edgar!

Lauro? Não! O que esse sujeito estava fazendo no Rio? Qual era sua intenção ao reaparecer assim na vida de Laura e dos meus filhos? Aquilo não me parecia bom... Eu não gostava daquilo.

Em pouco tempo, ele estava a nossa frente com as crianças a sua volta. Elas estavam tão sorridentes, e pareciam muito felizes:

– O tio Lauro voltou, mãe! - Cecília falou

– Sim, meu amor. Lauro, há quanto tempo ...– Laura abraçou aquele homem sorrindo, o que me deixou mais irritado!

– Sentiu saudades, xará? - ele falou pra ela e depois olhou pra mim

De perto eu pude vê-lo melhor. Não era de achar homem bonito, mas ele me parecia simpático. Tinha olhos azuis, que traziam exotismo e certa beleza a sua figura.

Estava sendo difícil me conter! Eu queria partir pra cima dele... Descobrir porque esse sujeito aparecera, que intenções ele tinha com a minha mulher e meus filhos, e chateado constatei como eles pareciam gostar dele.

– Então esse é o famoso Edgar. Eu sou Lauro. Prazer – ele me estendeu a mão sorrindo

E eu acabei apertando a sua mão um pouco mais forte do que o necessário enquanto mantive um olhar pouco amigável:

– Prazer – falei sem sinceridade, pois o que queria mesmo era que ele não estivesse ali, que nunca tivesse voltado a vida de Laura e dos meus filhos, não fora com a cara daquele sujeito!