Lado A Lado - Novos Rumos

Problemas com Pais


“Meu pai também me decepcionou muito, ele já não faz mais parte da minha vida há muito tempo.”

Guerra em Lado a Lado

Por Laura

Eu tinha chegado em casa com Pedrinho e Cecília. Tentei conversar com meu filho sobre o que acontecera, mas ele estava incomodado e decidi fazê-lo somente quando chegássemos. Ele foi direto para o quarto e falei que me esperasse lá, dessa vez ele não escaparia da conversa, eu e ele precisávamos entender algumas coisas.

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Cecília estava assustada, e eu resolvi falar com ela antes. Com ela eu sabia que seria mais fácil e menos doloroso, a levei até o seu quarto e me sentei com ela na cama:

– Meu amor, o que aconteceu hoje... - eu não sabia o que falar, por onde começar, só queria acabar com as dúvidas em sua cabeça- Não era pra você ter visto aquilo. Você se assustou, né?

– Não... É que o Pedrinho, e o Edgar...- ela me olhou triste e eu intercedi

– Eu sei o que aconteceu. Só queria saber o que te deixa triste. A mamãe pode te explicar algumas coisas.- falei carinhosa – O que te incomoda, meu amor?

– O Pedrinho disse que o Edgar não ama a gente. Nem ele, nem eu nem você, mamãe. È verdade?

– Não, não é verdade, Cecília. O seu pai … - ela me interrompeu

– Então o Pedrinho está mentindo?- eu percebi que devia ter mais cuidado, não podia minar a relação dela com o irmão

– Querida, não é que seu irmão esteja mentindo. Ele só não sabe direito o que fala. Ele era muito pequeno e não entendia. - ela me olhou intrigada- Você confia e acredita na mamãe, não é? - falei enquanto a colocava no colo e olhava bem em seus olhos tentando parecer confiante

– Sim, eu acredito- ela falou, dei um beijinho em seu rosto e tentei sorrir

– Que bom, filha. Pois o que eu vou dizer é verdade. A minha vida e a do seu pai era cheia de confusão. Coisa de adulto. Não tinha nada a ver com vocês. Seu irmão era muito pequeno. E você ainda era uma sementinha dentro de mim. Mas a verdade é que o seu pai ama muito você e o seu irmão- falei emocionada, mas tentando mostrar confiança

– E você, mãe. O Edgar ama você?- Cecília parecia um pouco mais aliviada, mas ainda tinha dúvidas e e aquela pergunta me pegou de surpresa

Eu tive que pensar naquela resposta, havia tantas coisas envolvidas.. Não podia dizer que era complicado, tinha que dar uma resposta definitiva e sem mentir. Algo que fizesse bem a minha filha.

E perguntei a mim mesma. Depois de tudo o que acontecera, Edgar ainda me amava? Mentalmente voltei àquela noite em lhe contei sobre nossa filha. Aquela noite em que ele me beijou e estávamos prestes a nos amar. Ele ia me dizer, ele ia, estava quase dizendo que me amava. Então falei com certa segurança:

– Sim, o Edgar me ama.

– E você ama ele?- a resposta para essa pergunta era mais fácil

– Amo... eu amo o seu pai – falei emocionada quase tirando o sentimento do fundo do meu peito

– Por que vocês não moram juntos?- ela interrogava

– Isso é complicado, meu amor. Problemas de adultos. Mas eu quero que você saiba que seu pai e eu nos amávamos muito, ainda nos amamos, e acima de tudo, estando juntos ou não, nós amamos muito você e o seu irmão. Essa é a verdade. Você acredita em mim, não é?

– Sim. - ela falou sorrindo e me beijou carinhosa- Eu também gosto do Edgar, ele é supimpa!

– Verdade, seu pai é um homem muito bom, e seja boazinha com ele, viu? Nada de se esconder novamente.

– Tá bom, mamãe.

Eu a deixei alegre e mais segura, sentia que havia conseguido acabar com aquela névoa que a entristecia. E mesmo sabendo que a conversa com Pedrinho seria mais difícil já o procurei mais firme.

Enquanto eu me aproximava do quarto do meu filho, comecei a escutar vozes um pouco mais exaltadas:

– Eu não quero ele aqui. - disse Pedrinho

– Eu gosto do Edgar. Ele é legal, Pedrinho – falou Neto

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– Bobo...Você fala isso pois não é o seu pai - comentou Pedrinho

– Bem, que eu queria... Ele vem quase todos os dias, traz presentes, enquanto o meu pai não veio nenhuma vez– ele disse sentido e aquilo me tocou de verdade

Albertinho havia se casado e mudado para São Paulo. Atualmente ele estava fazendo uma longa viagem pela Europa com a esposa. Eu não tinha notado que o fato de Edgar voltar as nossas vidas, havia atingido Neto dessa maneira, ele percebeu de forma dolorosa o desinteresse e ausência do pai, já que os primos agora conviviam com Edgar. E alguma coisa tinha que ser feita para ele não sentir tanto isso.

Eu ia entrar no quarto e interromper aquela discussão calorosa ( Neto e Pedrinho quase não brigavam, aquela tinha sido uma das poucas discussões deles que eu vira). Quando escutei:

– Desculpa, Neto. Não liga não, eu gosto muito de você, você não precisa dele.

Ao entrar no quarto, eu vi os dois abraçados, já fazendo as pazes:

– Eu também gosto de você, Pedrinho- Neto dizia emocionado

Uma lágrima escapuliu dos meus olhos ao ver aquela bela cena. Mas eu consegui disfarçar quando os meninos notaram a minha presença:

– Neto. A tia precisa falar com o Pedrinho. - falei tentando sorrir

– Tá bom.- ele ia saindo

– Mas antes me dá um beijo, querido – ele sorriu, veio correndo até a mim, me deu um beijo no rosto e saiu

Eu me virei para Pedrinho. A hora da nossa conversa havia chegado. Eu tinha muito medo do que sairia dela, mas era necessário, eu precisava compreendê-lo, e tirar aqueles sentimentos ruins que o perturbavam:

– Filho, eu gostaria de falar com você sobre o que aconteceu na casa do seu pai.- falei decidida

– Não precisa, mãe. Eu estou bem... Não quero falar- ele disse teimoso

– Não, não está bem não. A gente vai conversar, quer você queira ou não – falei um pouco autoritária e ele me olhou de forma dura, não era assim que queria essa conversa

Sentei na cama dele e o chamei para se sentar ao meu lado, o abracei tentando amolecê-lo e continuei:

– Meu amor, o que você disse sobre o seu pai foi muito grave, e não é verdade.

– Eu lembro.

– Sim, você se lembra, Pedrinho. Mas eu gostaria de saber exatamente o quê.- disse carinhosa- Você era muito pequeno, não entendia direito. Se eu soubesse... que guardava tantas coisas dentro de você, eu já teria te explicado.

– Não precisa. Quero ele longe da gente. Quero voltar para a casa da vó Amália... ver o Lauro. Não precisa mentir, falar bem dele!- ele parecia decidido, e estava abalado

– Pedrinho, olhe para mim. - o fiz olhar para o meu rosto- Seu pai não vai a lugar nenhum! Nem a gente. E acredite, eu não menti sobre ele. Você acha mesmo sua mãe é uma mentirosa?

– Não, mãe. Você não mente, é que … - ele começava a gaguejar – Você gosta do Edgar e não vê tudo, não vê como ele é. Ele não gosta da gente. Ele briga com você!

– Assim como as crianças os adultos também brigam... Não quer dizer ...Meu amor, eu gosto do seu pai. Mas não é assim. Eu consigo ver a figura completa. E acredite quando digo que ele é um homem bom e ama vocês, ele comete erros, mas é muito bom. Vou fazer um trato com você, me conta o que você lembra. E te explicarei tudo, responderei o que for preciso, sem mentir ou te deixar sem respostas. Pode ser?- resolvi encará-lo com um adulto, acreditar em seu discernimento.

– Tá bom. - ele olhou para mim, parecia convencido – Eu lembro de sentir a falta dele. Ele não ficava muito com a gente, não é? Lembro de um nome, Melissa!

– Seu pai era muito ocupado. E as vezes não conseguia ficar conosco. As vezes, ele chegava em casa e você já estava dormindo. Mas ele queria muito ficar.

– Você diz que quando a gente quer alguma coisa a gente consegue, a gente faz! - ele falou firme, e eu já percebia que meu menino fazia força para não chorar

– É que quando ficamos adultos, há um monte de coisas, e seu pai tinha muitas responsabilidades. Muitas vezes, não dá pra fazer tudo o que queremos. Podemos e temos que tentar. Mas nem sempre... - ele me interrompeu

– A gente também não era responsabilidade dele ... Ou não éramos importantes? - Pedrinho tinha esse jeito de chegar no ponto, me admirava bastante com a sua capacidade de compreensão, e debate, eu já tinha pensado e sofrido muito com essa questão, mas precisava fazê-lo entender outros pontos.

– Claro que éramos, mas nem sempre temos tempo e tomamos as melhores decisões. Todos erram, meu filho. Mesmo quando temos a melhor das intenções. Seu pai tinha as melhores intenções.- era tão difícil explicar isso ao meu filho, só esperava que ele fosse capaz de entender

– Quem é Melissa?- ele perguntou

– Melissa é a filha que seu pai teve com outra mulher … -e ele me olhou com certa surpresa e eu não queria que ele pensasse no pai como um mulherengo- Isso foi antes de se casar comigo. Assim, ela é a sua irmã também. Ela era doente e seu pai cuidava dela.

– Eu lembro de uma festa, ele disse que contava uma história pra mim. Uma mulher apareceu com a Melissa e ele foi embora. Não contou a história . E eu … - ele estava emocionado - senti que ele não me amava, amava a Melissa. Depois vocês dois brigaram. As vezes escutava vocês assim. Isso aconteceu? - ele lembrava, realmente lembrava daquele dia

– Aconteceu! Era o seu aniversário. Seu pai foi embora por que a Melissa estava doente e ele precisou levá-la ao médico. Ele queria ficar, mas precisou ajudá-la. Não era porque não te amava.

– Isso acontecia sempre?

– Nem sempre, mas as vezes, acontecia.

– Mãe, ele mentiu para mim. Ele disse que contaria a história. E era meu aniversário.

– Como te disse, filho, Melissa estava doente, por isso ele foi, ele não queria mentir.

– Mas mentiu. A Melissa não tinha mãe?

– Tinha ... tem.

– Quando eu ou a Cecília ficamos doente, você cuida da gente. Ela não podia cuidar da Melissa naquele dia?

– Isso é complicado. Envolve um monte de coisas. Mas seu pai achava que ele precisava cuidar dela.

– E a gente não precisava? Ele não queria, mãe! Ele não gostava da gente! - Pedrinho estava firme

– Meu amor... - o coloquei em meu colo, percebi o quanto aquilo o atormentava, e isso me abalou profundamente, precisava tentar outra coisa- Você era tão pequeno, não lembra de tudo! Quando descobri que estava grávida de você. Seu pai ficou tão feliz! Nós conversávamos sobre você, te desejamos tanto, tínhamos tantos planos. E depois, ele não estava com a gente tanto quanto queria. Mas quando estava, ele era tão carinhoso. Ele trocava a sua fralda, te dava banho, mamadeira, contava histórias e brincava com você. Poucos pais fazem isso, filho. Ele te amava, te amava muito. Eu via isso.

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– Eu não lembro.

– Você era tão pequeno. Mas acredite em mim, ele era ótimo com você. Tudo o que ele quer agora é aproximar, é ser seu pai.. Por que ele viria tanto aqui se não te amasse, e não amasse a sua irmã? Você é um menino tão inteligente, filho. Por que?

– Não sei.

– Dá uma chance a ele, meu amor. Você vai gostar dele. Seu pai é sonhador, amigo, bem intencionado. Sei que é um menino bom, justo... Tente entender as coisas. Era tudo... é tudo muito complicado.- eu estava emocionada, meu filho via que eu era verdadeira

– Mãe... -ele ainda resistia

– Eu me orgulho de você, Pedrinho. Você é um ótimo garoto, muito esperto, é fiel e protetor. Mas aquela brincadeira que fez hoje me desapontou. Eu tinha proibido. Ela não tem graça. E você foi cruel, não sabe o que causou no seu pai. O meu menino não é cruel, né? Não faça mais isso. Não se esconda mais, nem estimule a sua irmã nisso!

– Eu não faço mais – ele me olhou entristecido

– E me prometa que vai dar uma chance a ele. Ele é o seu pai. E te ama. Eu não queria ter afastado você dele. Eu estava muito triste, era muito complicado e fui embora com você, mas não fiz isso para te afastar do Edgar ou por que ele era ruim... Agora que estamos de volta o que mais quero é que vocês convivam, sejam amigos!

– Mas mãe...

– Prometa, meu filho. Prometa que vai tentar.- eu pedi intensa

– Tá bom, eu vou tentar.- ele disse firme e me dei por satisfeita

Havia sido uma conversa muito dura para nós dois. Pedrinho ainda era muito pequeno e nunca imaginei falar coisas tão difíceis com ele. Nunca imaginava que ele havia saído tão magoado do Rio e que essa mágoa ainda existia dentro dele. Isso doía muito em mim, ele era só um garotinho, não devia carregar esse sofrimento. Eu prometi protegê-lo e não consegui. Só esperava que com essa conversa, o tratando quase como um adulto. Que fosse o primeiro passo para ajeitar tudo e tirar o sofrimento do meu garoto. Eu queria vê-lo como um grande amigo do pai. Eu queria que ele percebesse que o pai o amava. Ele era inocente nessa confusão criada por adultos. Não devia carregar tantas mágoas em seu peito.