E Se Eu Não Voltasse, Você Sobreviveria Sem Mim?

Eu não suportaria perder você...


WALT/ANÚBIS



No meio da noite comecei a sentir um desconforto que se espalhava pelo meu corpo e mente. Meus sonhos fantasiosos em que eu tinha Sadie nos braços sumiram e a escuridão incomoda se fez presente. Depois de resistir à sensação por um bom tempo abri os olhos e ainda sem enxergar me sentei na cama. Eu estava no quarto no fim do corredor que há muito tempo atrás havia pertencido a Carter. Esfreguei os olhos e minha visão melhorou consideravelmente. Me pus de pé e comecei a andar sem nem saber o porque de tal feito. Sem que me desse conta, eu já estava parado na frente da porta do quarto da loira; a porta entreaberta me chamou a atenção.



Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

...A roupa que a menina usava na noite passada estava jogada no chão, as cobertas reviradas e o resto do quarto parecia frio, como se Sadie tivesse saído a muito tempo. Meu coração errou algumas batidas quando o sono me deixou. O desconforto vinha de Sadie e não de mim! Abri as portas da sacada e me dirigi até a muretinha, observei toda a vista procurando um ponto dourado no meio de todo o verde e azul escuro. Eram 06h47min no relógio no canto do quarto e Sadie não acordava cedo. Sai do quarto e passei em todos os cômodos da casa e nenhum sinal da menina.

Meus nervos já estavam à flor da pele. Ela não estava em casa. Voltei ao quarto temporariamente meu, arranquei as roupas leves do pijama e pus um jeans, uma camiseta qualquer e um tênis. Já saia do quarto quando pensei em pegar um casaco.

Sai da casa e agradeci ao meu bom senso por pegar o casaco; o vento era fraco, mas não deixava de ser frio. A vista seria linda se eu não estivesse tão inquieto: a grama, as flores e demais coisas estavam cobertas por uma camada cristalina de orvalho e o sol estava apenas pensando em nascer, de modo que o céu se encontrava em uma mistura de cores. Passei a dar passos largos e rápidos em volta da casa procurando qualquer sinal dela... Nada. Não havia qualquer traço da menina!

Aproximei-me dos estábulos já desanimado e quase perto do abismo chamado desespero. As grandes portas estavam abertas e de lá pude ver minha loira escovando um cavalo branco quase prateado. Suspirei aliviado e vi a menina tremer de frio e me aproximei de vagar tirei o casaco e o coloquei em volta dos ombros da minha pequena. Lentamente ela olhou em meus olhos, levantou e eu a ajudei a colocar o casaco. Bom, eu estava tentando me acostumar com a mínima distancia então comentei:

–Você não costumava acordar cedo.

–Acredite isso é uma novidade pra mim do mesmo jeito que é pra você. – ela forçou um sorriso, mas desviou os olhos e voltou a escovar o pelo branco já brilhante do animal.

– O que aconteceu?

–Não consegui dormir. – ela disse de forma vaga me escondendo algo.

–Sonhos ruins? – seu corpo ficou imóvel por um momento e depois um longo suspiro escapou.

–Talvez. – ela estava sendo muito vaga em relação a tudo isso; ela virou para mim e se afastou do cavalo pegou algo que eu não identifiquei de primeira e o lançou no ar na minha direção. Agarrei a escova ainda no ar e ela sorriu – Bom, pode começar. – e se voltou para o próprio cavalo. Fiquei alguns segundos parado só olhando para ela – Vamos Walt!

Continuei imóvel e ela riu. Tirou um cavalo negro da bainha e o trouxe até perto de mim. O cavalo era esguio e bastante belo, a pelagem era tão negra que às vezes se via reflexos azuis.

–Esse é o Noite. – Sadie me apresentou ao cavalo sorrindo – Você vai cuidar dele hoje.

Não foi difícil. Simpatizei com o cavalo logo de cara. Escovei seus pelos magníficos e pensava no quanto o nome lhe caia bem. Escovava o focinho com ternura quando pensei em perguntar a Sadie:

–Se este é o Noite, quem o seu amigo? – perguntei me referindo ao cavalo prateado. Sadie também escovava o focinho do animal e, portanto, estava de costas para mim, mas virou e sorriu.

–Não consegue adivinhar?

Pensei um pouco, mas não falei nada.

–Se esse cavalo representa a noite, o que esse poderia representar?

– A Lua talvez. – arrisquei e o cavalo relinchou alegremente enquanto Sadie ria e acariciava o pelo do animal. Ela virou para mim ainda sorrindo.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

–Você acertou. - ela se afastou, mas virou para mim. – Vem cá.

Segui ela até um canto no estábulo.

–Pega a cela. – ela mandou e eu obedeci, voltamos aos cavalos e ela me ensinou como colocá-la no cavalo. Voltamos para o canto com mais celas e mais uma vez Sadie me mostrou como colocá-la no cavalo. Selei os dois e fiquei olhando a loira durante mais algum tempo.

–Você já montou? – ela perguntou sem olhar para mim, ainda conferindo as celas e os dois cavalos, Lua e Noite.

–Não.

–Sério? – ela pareceu surpresa, mas virou sorrindo para mim como se isso a agradasse. – Então eu te ensino.

Os próximos minutos foram agradáveis enquanto a minha pequena loira me ensinava o básico: ajeitava as rédeas e minha postura, depois ainda no chão me explicava como controlar o corcel negro. Depois ela montou a Lua e ambos saímos dos estábulos. Fomos devagar apenas apreciando o nascer do sol e a brisa fresca da manhã. Passamos pela casa e começamos a nos afastar por algumas colinas verdejantes e molhadas pelo orvalho. Ao mesmo tempo, Sadie e eu colocamos Noite e Lua a trote e logo mais a velocidade era aumentada. Sadie tinha os cabelos levados pelo vento e os olhos fechados. Aproveitava cada segundo e parecia se sentir livre da confusão que virara sua vida. Segui seu exemplo e fechei os olhos e senti a liberdade do momento, a ternura do vento e as boas vindas do sol. Depois de alguns minutos eu já podia sentir o suor escorrendo pelas minhas costas, mas essa sensação me foi agradável.

Demos voltas pelas colinas alterando entre marcha e trote. Curti o momento mais do que consigo admitir em palavras. Foi uma das poucas vezes em que me diverti de verdade em toda a vida; e todas essas poucas vezes foram com certa loira. Cavalgamos de volta para a casa e deixamos os dois cavalos sangue puro no pasto verde à-vontade para comerem. Entramos no sobrado e Sadie já tirou o casaco; seguimos até a cozinha e juntos preparamos um café da manhã merecido: suco de laranja bem fresquinho e torradas com manteiga, requeijão e geléias.

As horas haviam passado de forma rápida; quando terminamos de comer o relógio apontava 11h53min. Fomos para a varanda e nos sentamos na rede observando a calmaria do dia. Era quase grosseiro o modo como aquela vista exalava serenidade e a cidade de Londres só nos lembrasse dos perigos que corríamos lá. Perigos...

–Sadie... – comecei com a voz baixa e ela olhou para mim – você teve um pesadelo, não foi?

Ela desviou os olhos e os fixou no horizonte.

–Foi.

Mais alguns minutos em silencio e o ar pareceu ficar pesado.

–Foi muito ruim? – não consegui evitar a pergunta.

Ela conseguiu sorrir; sorriso esse que não chegou aos olhos.

– Você nem imagina!

–Vai me contar um dia? – manti a voz baixa; não havia motivos para falar alto, estávamos lado a lado e o assunto era quase sombrio. Sadie olhou em meus olhos com uma expressão próxima da tristeza.

–Vou. Mas não hoje.

Não consegui esconder o sorriso.

–Você sempre conta depois. – encostei meu ombro no dela, mas logo o tirei; por um segundo seu sorriso alcançou os olhos, mas seu rosto ficou inexpressivo depois.

–Foi o pior sonho que eu já tive. – sua voz era baixa e tristonha. Passei meu braço sobre o ombro dela e a trouxe para um abraço forte. Sadie se encostou ainda mais em meu corpo e essa simples aproximação fez meu coração disparar.

– Eu sempre vou proteger você. Não precisa ter medo de nada. – sussurrei ainda apertando o seu corpo contra o meu. Sadie olhou em meus olhos.

–Dessa vez nem você pode me proteger, Walt. – ela levantou da rede e começou a se afastar pela varanda que dava a volta pela casa. Não agüentei ficar apenas observando, me levantei e a segui em passos firmes e ágeis. Alcancei-a e segurei seu pulso, ela parou sem resistir ao toque, mas não se virou para mim. Virei ela de forma lenta e delicada e seu corpo se aproximou do meu. De forma baixa, mas firme afirmei:

–Então eu vou morrer tentando. Daria tudo por você e quantas vezes isso fosse necessário. Onde, quando, como não me importa. Você é tudo pra mim. Tudo! – seus olhos brilhavam com o que me pareciam lágrimas. Eu segurava suas mãos entre as minhas, mas soltei uma delas e acaricie sua bochecha. Sadie fechou os olhos apreciando meu toque. Alisei seus cabelos e me aproximei ainda mais; ela não me impediu, mas também não disse nada. Seus olhos me convidavam a chegar cada vez mais perto. Seus lábios estavam quase nos meus; separados por milímetros... Nossos lábios se roçaram de leve; não era um selinho, mas o simples e muito leve toque fez meu corpo se arrepiar.

... O som de um motor fez com que virássemos para o lado. Um carro se aproximava pela estrada de terra. Nossos olhos voltaram a se encontrar; ambos brilhando de tristeza, incapacidade e desejo enquanto os rostos continuavam impassíveis.

– Não quero que se machuque. Não por minha causa, Walt. – as palavras saíram de uma forma quase dolorosa para ela e eu não soube bem como reagir. Separamo-nos de forma relutante e fomos para o jardim da frente. Os avôs da loira foram logo abraçá-la e saber como estava. Não neguei um sorriso à cena... Por enquanto, Sadie não precisava mais de mim.

Começava a me afastar quando uma voz me parou.

–Já vai rapaz? – o avô de Sadie se pronunciou. Sadie estava falando com sua avó, mas se virou quando ouviu a pergunta do avô e focou seus olhos em mim.

–Sua neta esta segura com vocês aqui. – respondi ao idoso, mas meus olhos estavam nela. – Não precisam de mim, por enquanto.

Sadie deu passos silenciosos na minha direção e eu não pude tirar os olhos dela, mesmo sabendo que mais dois pares de olhos estavam cravados em nós.

–Então, eu te vejo segunda? – ela perguntou

–É. Nos vemos segunda. – ela passou os braços ao redor do meu pescoço e eu a envolvi nos meus braços em um abraço apertado. Sua cabeça descansou em meus ombros e eu afaguei seus cabelos. Quebramos o abraço e eu comecei a me afastar.

Hei rapaz. – de novo o velinho me chamou e me virei para ele sem saber o que esperar – Por que não passa o resto do fim de semana conosco?

Sadie e eu estávamos surpresos, mas incrivelmente felizes. Ela olhou para mim e deu um sorriso meigo.

–Fica?

Eu sorri de volta.

–Fico!

Ela veio até mim e eu fui até ela. Mais um abraço apertada no qual eu a tirei do chão e a rodei no ar.

–Bom, vocês podem cuidar dos cavalos... – vovó começou, mas viu os dois cavalos muito bem tratados – Acho que vocês vão nos ajudar com o jardim.

Soltei Sadie e fomos logo aos canteiros. Passamos a tarde arrancando ervas daninhas e plantando diversas flores: margaridas, rosas e até girassóis. No fim não consegui não reparar em como a menina estava linda e serena... Mas não resisti a provocá-la.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

–Sadie tem uma coisa no seu rosto. – comentei, mas ela não olhou para mim, continuava a mirar as flores.

– E o que isso seria? – ela perguntou.

–Isso. – enchi minha mão de lama e lambuzei toda a sua bochecha. Ela me olhou como se não acreditasse no que eu tinha feito enquanto eu ria satisfeito, mas ela se limitou a inclinar a cabeça para o lado enquanto tirava o possível da lama com as mãos.

–É... To orgulhosa! – ela exclamou e foi a minha vez de não acreditar no que ela dizia. – Eu te ensinei muito bem, hein Walt! – estava perdido no seu sorriso que não reparei na sua mão cheia de lama... Ela lançou muito mais lama do que eu, e não apenas o meu rosto, mas o ombro direito também acabou sujo de terra. Assim iniciamos uma pequena guerra que rendeu muitas risadas e muita sujeira.

–Olha só o estado de vocês dois! – a avó de Sadie exclamou surpresa - Pelo menos as flores ficaram lindas.

Com o canto dos olhos pude ver o avô se aproximando.

–Sadie? Minha querida, você esta pensando em mudar a cor dos cabelos? – ele perguntou em um tom divertido; Sadie tinha bastante lama nos cabelos e o dourado esta quase invisível aos olhos alheios.

–Cansei de ser loira, vô. – ela comentou e os dois riram.

– Vocês não podem entrar em casa desse jeito!

–Não. Não podem não. – o velhinho completou – Tenho uma idéia: Vocês levam a Lua até a cachoeira e se lavam lá e na volta vão trazer uma cesta cheia de maçãs. E não, Sadie. Você não pode escapar.

–Mas eu não disse nada! – ela exclamou

–Mas pensava em dizer, não? – a avó se meteu.

–Talvez. – ela respondeu se afastando e indo até a Lua com seu avô – Você vem? – ela perguntou a mim. Apressei-me a correr até eles.

O idoso nos ajudou a montar e logo Sadie e eu íamos em direção a cachoeira. Sadie ia à frente guiando o cavalo e eu me segurava em sua cintura cheia de lama. O fim da tarde se aproximava e logo a noite cairia. Chegamos à macieira e a partir daí fomos guiados apenas pelo som das águas caindo.

... Avista era incrível. As águas cristalinas caiam de forma convidativa. Desci do cavalo e ajudei Sadie a descer (sendo muito mais especifico, eu a ergui nos braços antes que tocasse o chão), logo prendemos Lua em uma arvore qualquer. Não perdi tempo algum e peguei Sadie nos braços e pulei junto com ela no rio de correntezas fracas e águas calmas. Assim que voltamos à superfície já estávamos quase limpos já que grande parte da lama se dissolveu. Daí começou a guerra de água que durou muito mais do que a guerrinha de lama.

...Batíamos pés e mãos na água; agarrei o tornozelo da menina e a puxei para perto. Ela por sua vez forçou meus ombros para baixo e ia para o fundo do rio junto comigo. Afundar não foi difícil já que ainda usávamos jeans e ainda estávamos com os sapatos. Voltamos para a superfície e Sadie se afastou até uma rocha quase plana; ela tirou os tênis e a calça jeans, mas permaneceu com a regata laranja colada ao corpo. Ela voltou para a água e nós voltamos a brincar. Mergulhamos indo em direção ao fundo e lá nossos corpos se roçavam há quase todo o instante...

Voltamos à superfície ao mesmo instante a uma distancia perigosamente difícil de resistir. Já estávamos ofegantes pelo o tempo que ficamos embaixo da água e a proximidade não me era conveniente. Sadie se apoiava com uma das mãos em meu ombro e parecia na mesma situação que eu. Envolvi sua cintura ainda embaixo da água e me aproximei ainda mais...