Substância Triste

Posso ver a chuva

Caindo sobre o vidro desta janela enegrecida

Posso sentir o laço apertado

De uma corda envolta em meu pescoço

Você consegue ver?

Você consegue sentir?

Esta substância triste

Que cai e não se levanta

Que se arrasta

Mas não desiste

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O orvalho vem antes do amanhecer

Tão frio quanto gelo

Tão doce quanto um beijo

Tão delicado quanto à brisa

Da flor com caule espinhoso

Nasce esse orvalho precioso

Da noite sem luar

Uma nova tristeza a brotar

Você consegue ver?

Você consegue sentir?

Esta substância triste

Que ondula e inflama

Que lenta se derrama

Somente quando se ama

Embebede-se com minha solidão

Cante, ria, dance

Caia ao chão

Deixando escorrer pelos dedos

A última pétala do botão

Botão esse já murcho

E que antes de morrer

Culpou o orvalho

Culpou o gelo

Culpou o beijo

Culpou a brisa

Botão esse já despetalado

Perdido, esquecido, iludido

Desventurado

Você consegue ver?

Você consegue sentir?

Esta substância triste

Sem rosto e sem nome

Que não morre, que não some

E seguindo insiste