Westover Hall

Ao infinito e além


A chuva havia aumentado muito, tínhamos distanciado algumas quadras de Westover Hall já. Um inverno chuvoso, que beleza estava esse clima. Jason cantarolava uma música qualquer que estava tocando na rádio, já eu apenas o olhava boquiaberta e maravilhada ainda não acreditando que ele estava ali. Ele me olhou de canto de olho, então se virou para mim e sorriu.

– Preste atenção na sua frente, motorista. Assim vamos acabar batendo.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Jason riu enquanto voltava o olhar para pista.

– Se batermos né, pois é capaz dessa tempestade levar o carro antes – Jason começou a batucar os dedos no volante ao ritmo da música, já que parara de cantarolar – Eu só gostei do jeito que você estava me olhando, é como se você estivesse pensando o mesmo que eu.

– E você estava pensando em que?

– Eu só não estava acreditando no que estamos fazendo e que você está aqui do meu lado.

– Ei, falando nisso, para onde vamos agora?

– Sem rumos, certo?

– Certo... Então vamos morar neste carro?

– Por enquanto, sim – Jason riu.

Ficamos uns instantes em silêncio. Era para eu estar apavorada ou temer essa nova vida né? Mas eu não ligava nem um pouco.

– Espere, acabei de definir um novo rumo – Jason anunciou.

– Ué, e o “sem rumo”?

– Pois é, maaas esse negócio de fugir cansa...

– Nossa, verdade – eu concordei acabando de notar.

– ...portanto vamos procurar uma lanchonete.

– Fechou.

Já na periferia da cidade, achamos um Subway 24hrs, paramos ali mesmo. Entramos na lanchonete e não havia ninguém, estava vaziozinho, só tinha um atendente sentado depois do balcão, porém... ele estava dormindo. Foi aí que eu e Jason percebemos que esse cara era um garoto chamado Octavian, que era do nosso ano, porém abandonou o colégio. E se tem uma coisa que Octavian sabia fazer, essa coisa é ser muito chato.

Virei para Jason e falei:

– Opção A: Acordamos Octavian e fazemos nosso pedido, opção B: Tomamos cuidado para não o acordar, preparamos nosso pão e saímos sem pagar, ou opção C: Riscamos e desenhamos na cara dele e tiramos fotos zoadas?

Jason riu antes de responder.

– Nossa Pipes, que antiético.

– E então?

– Opção C é claro!

Andamos de fininho até perto do balcão e achamos uma daquelas canetas pretas grossas perto do caixa, rimos como crianças e Jason contornou o balcão e se debruçou sobre ele.

– Ei Jason – o chamei – sem desenhar besteira, ok? Vamos ser educados.

– Ah sim.

Jason então escreveu “zzzzz” saindo da boca do cara, numa bochecha ele escreveu “não fui aceito no McDonald’s :c” e na outra ele fez um monte de riscos.

– O que é isso nessa bochecha dele?

– É claramente uma tatuagem tribal, dã – ele disse fazendo uma cara de “óbvio”.

Eu ri e tomei a caneta dele, então inclinei sobre Octavian pra desenhar do mesmo modo que Jason havia feito.

– Ei, ei – Jason reclamou – um pouco mais longe dele, ok?

O encarei séria.

– Como você quer que eu desenhe então? E ele ta dormindo.

– Ta, ta. Então passa um “delineador” nele – Jason falou sorrindo e fazendo aspas com os dedos.

Como ele sabia o que era delineador eu não sei, mas fiz o que Jason falou e Octavian ficou parecendo uma diva dos egípcios, com o olho delineado e tal. Então acrescentei o olho de hórus no meio da testa dele, pra combinar. Lembrei da história que Octavian tinha vários bichinhos de pelúcia escondidos e sempre dormia com um, então desenhei um coração com um ursinho dentro, no lado esquerdo da testa. Jason pegou a caneta e escreveu no queixo dele “daqui só sai merda” e fez uma setinha apontando pra boca de Octavian. Desenhei também o clássico bigodinho e a junção de sobrancelhas.

Íamos até desenhar mais, porém a porta do Subway se abriu. Congelamos na hora, e ainda congelados na mesma posição, giramos nossos corpos para ver quem tinha entrado. Era um homem de meia-idade, que olhou para nós, olhou para Octavian e olhou de volta para nós. Jason sem tirar os olhos do cara que entrou, retirou o celular do bolso e tirou uma rápida foto de Octavian, o flash quase me cegou, mas nem acordou ele. Então sincronizadamente saímos de fininho e rápido da lanchonete, passando pelo cara como não tivéssemos feito nada. Entramos no carro e partimos rindo do que fizemos.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Após isso, passamos em um fast food de frango que tinha drive-thru e estava aberto, tinha um carro na nossa frente (ás 3:00 da manhã) então enquanto esperávamos, vimos a foto de Octavian, por isso a moça teve que esperar terminarmos de rir, durante uns 3 minutos para finalmente ouvir nossos pedidos. Concluída a missão, continuamos nossa aventura.

– Já decidiu um novo rumo? – perguntei.

– Sim, vamos de algum lugar, para lugar nenhum – ele respondeu.

– Para o infinito e além – completei.

– Sim, este será o nosso slogan – ele sorriu.

Sorri de volta concordando. Sinto muito Buzz Lightyear, sua frase agora é nossa.

Quando já estávamos quase saindo na cidade, Jason de repente parou no acostamento, no começo da estrada.

– O que foi? – perguntei.

Ele tirou o cinto e olhou para mim.

– Bem... preciso suprir a falta que senti de você nesses três dias né, aquilo estava quase me matando.

– O que você quer dizer c...?

Foi aí que Jason me atacou, colocou as mãos em meu rosto e me beijou com vontade, inclinando o corpo totalmente em cima do meu. Ah ta agora entendi. Correspondi da mesma forma, coloquei minhas pernas sobre o banco e virei meu corpo para Jason, enquanto ele descia os dedos para minha cintura. Ele se afastou para tirar o próprio moletom e depois voltou a me beijar, então foi a minha pausa para eu tirar a camiseta que Jason ainda tinha. O meu casaco também não estava mais comigo, perdi a conta do tempo que ficamos assim, eu o puxando pra mim e ele me puxando para si. Depois desse certo tempo incontável, quando eu estava beijando-o no pescoço, ele começou a subir os dedos por minha barriga, levantando levemente minha blusa.

– Jason – murmurei chamando a atenção dele, que pareceu nem ouvir – ei, Jason – repeti um pouco mais alto.

No terceiro “Jason” que ele respondeu.

– O que... o que foi?

– Temos que parar por aqui, a Fernanda, a escritora, só classificou a fic para +12 sabe?

– Ah saquei. – Jason disse triste se afastando um pouco.

– Mas pelo menos os 3 dias foram recompensados.

– Espere só até os leitores não estarem vendo. – Ele me mandou um olhar de cumplicidade e um meio sorriso.

Segurei seu queixo, lhe dei outro beijo e voltei a sentar direito no banco.

– Vamos, vamos, a aventura continua.

Jason assentiu um pouco contrariado, colocou o cinto e partimos para a estrada, enquanto finalmente comíamos nosso lanche.

Era quase 5 da manhã quando chegamos em outra cidade

– A gente precisa dormir – anunciei – pra aproveitar o dia amanhã.

– Não podemos ir para um hotel, não temos tanto dinheiro.

– Vamos fazer o mesmo que fizemos naquela cidadezinha Chandler.

Ele assentiu, então procuramos o estacionamento de alguma loja qualquer e estacionamos. Jason me deu um beijinho de boa noite, o que me lembrou minha mã... Não, pera. Minha mãe era desnaturada, ela nunca me deu um beijinho de boa noite. Após a lembrança do meu pequeno trauma, eu desci o banco e adormeci profundamente.

*

Acordei para vida com o tempo tão fechado, que eu não sabia se era manhã, tarde ou noite. Procurei meu celular pelo bolso, foi quando lembrei que eu tinha o jogado pela janela. Fiquei imaginando a pessoa que simplesmente estivesse passando por aquela rua, e de repente acha um iPhone jogado no chão. Depois pensei que se essa pessoa fosse um drogado, meu celular já tinha sido trocado zilhões de vezes por drogas. Aí imaginei que pela chuva forte ele tivesse tão estragado que explodiu. Pensei em milhares de histórias até que Jason acordou do meu lado.

– Bom dia raio de sol! – exclamei.

– Raio de sol? – ele riu sonolento.

– Sei lá, você me lembra um raio de sol.

– Bom dia, que horas são?

Olhei para o céu franzindo a testa.

– Boa pergunta.

Jason endireitou seu banco e olhou pela janela.

– Piper! Você está vendo o mesmo que eu? – ele disse feliz.

Segui o olhar dele e encontrei um cinema, daqueles de rua mesmo, lá na outra calçada.

– Um cinema! – exclamei.

– É o item 12 da nossa folhinha! – ele exclamou.

Cocei a cabeça tentando lembrar.

– O item 12 seria?

Ele me encarou sério.

– Você não lembra né? “Fugir da escola para ir no cinema”.

– Ahhh certo, certo. – sorri. – O que estamos eperando?.

Saímos do carro e corremos até o cinema, porque já estava começando a chover.

– Que filme vamos ver? – perguntei quando chegamos à bilheteria.

– Qualquer um, não prestarei atenção mesmo. – Jason respondeu com um sorriso inocente.

Me virei para a moça da cabine:

– Me vê 2 ingressos para a próxima sessão, por favor.

– O próximo é The Monuments Men, ás 16:40.

– Ok, me vê dois... Espera. O quê?! Ás 16:40?

– Sim – a mulher respondeu confusa – Já está pra começar.

Olhei para Jason que também estava surpreso pelo horário que acordamos.

– Ok, me vê dois, por favor.

Jason me passou o dinheiro que ainda restava com ele e eu tirei uma porção para pagar. Estava mesmo acabando nossa grana, mas ok.

Como Jason disse, entramos no cinema para não assistir o filme. Portanto um pouco mais de meia hora depois do filme ter começado, fomos expulsos da sala pelo lanterninha, ele alegou que tínhamos comportamentos inadequados. Como se ninguém se pegasse no cinema né.

O tempo já estava limpo quando saímos na rua, então começamos a ouvir um som alto, tipo de DJ, muito barulho e algumas vozes loucas gritando. Sem pensar duas vezes seguimos o som e ao virar na esquina, achamos uma praça gramada grande a alguns metros, com milhares de pessoas e um palco com um DJ, havia também barraquinhas espalhadas em volta da praça.

– Um festival de música! – disse alegre.

– Vamos lá ver! – Jason disse me puxando pela mão.

Entramos na multidão, que estava elétrica, parecia até um show do Avicci aquilo ali. Jason estava puxando minha mão, enquanto tentava chegar mais perto do palco, então do nada ele parou.

– Com licença – ouvi uma voz enjoada de alguma garota – Por acaso nos conhecemos? Acho que já te vi em algum lugar.

A voz pertencia a uma garota que tinha interceptado Jason, e colocado uma mão no peito dele. COMO É QUE É MINHA QUERIDA?

– Hã, tenho certeza que não. – Jason falou fazendo uma careta para a garota.

– Ah desculpe, mas com certeza podíamos nos conhecer então – A menina disse.

Eu soltei minha mão e logo me postei na frente do Jason, com os braços cruzados e uma tosse seca.

– Rala sua mandada. – disse diretamente ao ponto.

A menina olhou para mim sarcasticamente e depois olhou para Jason.

– Você está com problemas de acompanhante, quer que eu te ajude?

– Sabe com quem você está falando? – perguntei. – Com a namorada desse aqui, propriedade minha.

– E...? Vocêee sabe com quem vocêee está falando? Está falando com...

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

– Uma piranha – falei por cima da frase dela.

–...Quione e... pera, do que você me chamou? – a tal de Quione me fuzilou.

– De piranha. Sabe aquelas lá que tem o salto maior que a saia.

Quione ficou boquiaberta pronta para me atacar, quanto Jason se intrometeu.

– Piper, vamos. Vamos apenas embora daqui, ok?

Então Quione riu.

– Piper seu nome? Que lindo!

– Obrigada eu sei. – sorri forçadamente. – Já Quione... pelo amor né, nasceu quando? Antes de Cristo pra ter um nome feio assim?

Quione pela segunda vez quase veio pra cima de mim, porém segurou a mão de Jason e disse sorrindo:

– Você propôs ir embora? Eu aceito sair daqui com você, deixa essa daí para lá lindinho.

– LINDINHO?

Então quem foi pra cima fui eu, estapeando ela para ficar longe de Jason. Foi uma incrível briga de garotas, clássica como a dos filmes, com puxão de cabelo e rolando pelo chão. Alguns que estavam ao redor da gente pararam para nos olhar. Então depois de alguns minutos de guerra, finalmente Jason afastou Quione e me puxou para ele.

– Ei, Ei! Fica longe dela ok? E de mim. – Jason disse para Quione.

Eu e Quione trocamos mais um olhar mortal antes de eu falar para Jason:

– Vamos sair daqui. – e o arrastei para fora do festival.

Caminhei pela rua arrumando meu cabelo, Jason ao meu lado.

– Por que razão você não agiu antes? – falei virando para ele, ainda caminhando até aquele estacionamento.

– Eu agi ta – ele se defendeu.

– Agiu tarde, você podia ter parado aquela briga no começo, ou antes de começar. Agora estou até envergonhada.

– É que... bem, foi um pouco excitante – Jason disse baixinho.

– Excitante?! – parei e dei um tapa no braço dele – Jason, como você pode falar isso? Aquilo não foi nada legal, seu cachorro!

Caminhei duro até chegar ao carro e entrei. Jason entrou no carro alguns instantes depois.

– Desculpe meu amor, você com crise de ciúmes...

Virei o rosto pro outro lado o ignorando.

– Ah Pipes qual é, é nosso primeiro dia de fuga, temos que viver tudo que há pra viver. Não vamos brigar por causa de uma garotinha que nos atazanou, certo? Só, hm... gostei de ver você... deixa pra lá, mas...

– Ta bom, Jason. Você ta certo – olhei para ele e soltei o ar dos pulmões – Sem brigas. Mas vamos sair dessa cidade, beleza?

– É pra já, vamos rodar esse país antes que nosso dinheiro acabe!

– Ao infinito e além – completei.

E assim fizemos, pegamos de novo a estrada, e ficamos conversando tanto que até deixei pra lá o episódio ocorrido. Quando eram umas 8 horas da noite, estávamos a alguns quilômetros já da divisa do Estado da Califórnia com o Estado de Nevada, no norte. Foi quando nos deu uma tremenda fome e nos tocamos que não tínhamos comido nada até então.

Chegando perto de uma cidadezinha da divisa, achamos uma lojinha de conveniência na beira da estrada, parecida com aquelas de posto. Jason quase atropelou uma velhinha que estava saindo da loja (mas Crodoaldo não permitiu mais um atropelamento nesta história), pois estávamos com pressa para parar lá e comer alguma coisa. Eu não achei errado, minha barriga também estava roncando. Saímos correndo do carro, porém logo senti um pressentimento ruim. Um pressentimento feminino avisando para sair dali. Já que eu estava com muita fome, achei que era besteira, e segui Jason para dentro da lojinha.