Ele E Ela

Discussão


Naquela mesma noite depois de entrar em casa e dar de cara com um Jack aparentemente furioso ,Maria somente fingiu não ter visto nada e subiu para o quarto reprimindo um sorriso.

"Ele sempre vai me segurar" ,ela pensou enquanto entrava no quarto e deslizava as costas pela porta até se sentar no chão. Borboletas voavam em seu estômago e a vontade de sorrir era contínua ,mal se lembrava da última vez se sentiu assim.

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Mas logo a sensação foi mudando. As asas das borboletas batiam fortes demais em seu estômago e o quarto pareceu girar. Reconheceu aquela sensação e sabia o que viria a seguir.


Levantou depressa e correu até o banheiro ,se ajoelhou diante do vaso sanitário e levantou a tampa para logo sentir seu corpo amolecer enquanto o vômito saia por sua boca.Quando finalmente acabou ,abaixou a tampa do vaso e deu a descarga ,deitou no chão cansada demais para fazer qualquer coisa.


Encarou o teto do banheiro e prometeu a si mesma nunca mais beber de estômago vazio. Mas estar de estômago vazio era sua obrigação não era?


Com um suspiro fechou os olhos e adormeceu.Acordou de madrugada ,sentindo frio em suas pernas descobertas. Percebeu que ainda estava no chão gelado do banheiro, e em sua boca aquele gosto amargo a incomodava.


Se levantou lentamente, lavou a boca e tirou a roupa suja. Ao fazer isso se lembrou da sensação de ter as mãos de Dyllan em seu corpo ,sentiu nojo e assim acabou debaixo do chuveiro às quatro da manhã.Depois do banho e de se vestir,jogou-se na cama e dormiu novamente.


Quando acordou o sol brilhava forte do céu lá fora, afundou o rosto no travesseiro e pensou que dia era aquele. Depois de um momento de confusão lembrou de ser sábado e se sentiu mais relaxada.


Sábado.Sem escola, sem Rachel ,sem torcida, sem Dyllan. A vida perfeita.


De olhos fechados lembrou do aperto dos braços de Miguel a sua volta e sorriu ,não importava a situação ,ele a tinha segurado. E por esse motivo ,resolveu ficar feliz .


Se sentou e esticou os braços, sentindo seus músculos relaxarem. Suspirou e pensou em voltar a dormir ,mas não ,queria passar um tempo com Berta e se distrair. Levantou e foi até o banheiro ,fez sua higiene matinal e se vestiu,camiseta e shorts ,já que passaria o dia em casa.Desceu as escadas animada por ser sábado ,e ao passar pela sala se sentiu ainda mais feliz por ter tido a sorte de não dar de cara com seu pai.


Isso a fez lembrar de que quando chegou na madrugada encontrou Jack furioso na sala ,um problema a mais ,deu de ombros decidindo lidar com isso mais tarde.


Entrou na cozinha chamando por Berta.


– Bom dia minha menina! - Berta respondeu feliz ao perceber a animação da menina.


– Bom dia Bertinha! - deu um beijo no rosto da mulher e se sentou na bancada ,pegou uma maçã em cima da mesa e se forçou a dar uma pequena mordida.


– Posso saber qual o motivo de tanta felicidade? - Berta perguntou mantendo os olhos no caldo de feijão que mexia com uma colher de pau na panela.


– Hoje é sábado! - falou,escondendo o verdadeiro motivo de estar feliz.


– Sei . - falou desconfiada. - Mas me conte como foi a festa de ontem.


Maria sentiu um pouco de sua felicidade sumir com essa pergunta ,a noite de ontem teve partes que ela preferia esquecer.


– Foi boa ,todas são. - deu de ombros somente.


– Onde foi a de ontem?


– Na casa da Rachel.


– Essa menina não é boa companhia Maria ,já avisei você.


– Isso não é da sua conta. - disse sem pensar e logo se arrependeu.

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Berta permaneceu calada ,como se não tivesse ouvido nada.


Pelo visto ,ser feliz por um dia seria difícil.


Pulou da bancada e foi até Berta ,depositando um beijo em sua bochecha.


– Desculpa Berta ,o que eu queria dizer é que eu sei o que é certo ou errado.


– Será mesmo, Maria Flor ? - Berta se virou para encará-la ,e foi como se aqueles olhos castanhos perfurassem sua alma. Descobrindo tudo o que aconteceu na noite passada.


Maria desviou o olhar ,fazendo o mesmo com o assunto .Resolveu perguntar sobre as filhas de Berta e isso gerou uma longa conversa. Berta gostava de falar sobre elas e Maria gostava de ouvir.


Depois de meia hora ,Berta terminou de fazer o almoço e antes que pudesse insistir para que Maria comece algo ,essa já tinha saído da cozinha. Subiu até seu quarto e se dedicou um pouco aos trabalho pendentes do colégio. Fez alguns e deixou outros de lado ,até se deparar com o caderno de literatura e lembrar do trabalho que teria de fazer com Miguel.


Agora ,a ideia de conversar normalmente com ele não a assustava tanto, era só não falar ou mostrar demais.


Guardou os papeis, sentiu seu estômago roncar e ignorou a sensação, tomou seu Ipod em mãos e cochilou ao som de Yellow.


Acordou ao sentir um leve tremor embaixo de si, sentou e chacoalhou os lençóis até encontrar seu celular. Uma nova mensagem ,um número desconhecido. Mas ao ler o conteúdo da mensagem ,soube de quem tinha vindo,e uma luz se acendeu dentro dela.


"Boa tarde Maria Flor, só queria saber como você está.''

Como estava? Feliz ,radiante ,excepcionalmente bem ,mas só por causa daquela mensagem.

"Estou bem ,me perguntando como conseguiu meu número."

Pressionou enviar ,e alguns minutos depois a resposta veio.

"Taí uma coisa que você nunca vai saber Maria Flor."

Sorriu ao pensar nele e como se fosse possível o sorriso se alargou ainda mais ao perceber que ele se importava com ela ao ponto de mandar mensagens perguntando como ela estava.

"Isso é o que veremos ,Miguel Collins.Você chegou bem em casa ontem? "

"Cheguei sim ,Brooke não demorou muito a aparecer ."


"Não queria ter incomodado nem nada disso."


"Não foi incomodo nenhum ,e agora sei o seu nome todo Maria Flor! (:"

" Já percebi que você gostou dele ,rsrs"


" Você não?"

" Não muito..."


"Por que?!"


"Não sei bem ,acho que só não gosto mesmo."

" Pois eu gosto!"


"Já sabemos disso ,agora chega de falar do meu nome. Você mora muito longe daqui?"


"Não muito ,moro na parte norte da cidade, rua cinco. A casa mais bonita do bairro u_u"


"Nenhum pouco convencido você, né? kkkkk não é muito longe mesmo. E olha que surpresa,o cara mais tranquilo que conheço morando na parte mais tranquila da cidade*-*"


" Pode parar por ai, essa cidade inteira é tranquila e sem essa de cara tranquilo."


"Ok! Você tem razão."


Esperou,esperou e nada de resposta. Miguel não demorava a responder ,mas dessa vez estava demorando um pouco mais. Maria pulou quando sentiu o celular vibrar novamente.


"Ei ,desculpa ter parado de falar. Vou ficar meio ocupado agora, mais tarde nos falamos ok?"


"Tudo bem ,sem preocupações (:"


Jogou o celular sobre a cama e cruzou os braços emburrada, o que iria fazer agora? Resolveu ler as mensagens de novo ,não tinham nada de mais ,porém agora ela tinha o número dele. E isso era maravilhoso.


Passou o resto da tarde com Berta na cozinha conversando ,não viu o pai o dia inteiro mas sabia que ele estava em casa. Iria viajar na segunda e Maria se sentia aliviada com isso.


No começo da noite Berta começou a arrumar suas coisas para ir embora e Maria sentiu seu coração apertar ,a melancolia se arrastava em sua direção sorrateiramente. E ela começava a sentir um frio na boca do estômago.


–Querida ,antes de ir eu quero lhe pedir um favor. - Berta disse enquanto pendurava a bolsa azul marinho no ombro.


– Claro ,o que é ?


– Eu deixei uma caixa de fotos do seu irmão em cima da mesa de jantar ,você pode levar até o quarto dele? - olhou com preocupação para Maria ,sabia da dificuldade que a menina tinha em falar do irmão.


– Posso. - respondeu seca.


– Se você não puder, eu...


– Não Berta ,eu levo e é melhor você ir antes que fique muito tarde.


Berta sorriu e fez carinho no rosto de Maria ,sentia orgulho daquela menina ,tinha suportado tantas perdas e ainda lidava com uma relação extremamente difícil com o pai. Mas ainda sorria.


Maria acompanhou Berta até a porta e deu um abraço se despedindo ,já se sentia ansiosa para que amanhã chegasse logo e Berta estivesse novamente aqui.


Com um suspiro se dirigiu até a sala de jantar ,parou estática ao ver a tal caixa. Se forçou a dar passos lentos e não olhou para o conteúdo dela enquanto subia as escadas. Não era pesada ,deviam ser somente fotos. Fotos que Maria preferia não ver.


Parou em frente o quarto do irmão e equilibrou a caixa com uma das mãos. Girou a maçaneta e ... nada.


A porta não se mexeu ,estava trancada. Maria tentou novamente ,mas ela não se abriu.Franziu o cenho ,quem teria trancado a porta sem avisá-la?
Somente um nome ,Jack.


Maria deixou a caixa cair no chão e se dirigiu ao escritório do pai furiosa. Agora não podia nem mesmo entrar no quarto do irmão?!


Empurrou as portas brancas com força ,não se importando com o barulho que faria.


– Você trancou o quarto do meu irmão?! - falou alterada.


Ele estava trabalhando como sempre.


–Sim ,por que? - respondeu sem tirar os olhos da tela do computador.

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– Por que você fez isso?!


– Porque não quero você naquele quarto.


– Não posso nem mais entrar no quarto do meu irmão?! - o sangue fervia em suas veias ,e ver o quanto Jack não se importava só piorava as coisas - E você pode entrar quando quiser certo? - cruzou os braços .


– Eu tenho as chaves ,isso lhe diz alguma coisa? - olhou para a filha por um segundo ,e depois voltou ao trabalho.


– Por que você tem acesso as coisas dele ,se foi você quem o matou?! - bateu as mãos na mesa de madeira com lágrimas de raiva nos olhos.


Isso fez com que ele parasse ,respirou fundo ,tirou os óculos e se virou para ela.


– O que disse?


– É isso mesmo que você ouviu Jack ,você não tem direito de se quer entrar naquele quarto já que você é o responsável pela morte do meu irmão!


– Seu irmão também era meu filho e você acha mesmo que iria ter coragem de fazer qualquer coisa contra ele?! - aumentou o tom de voz ,a dor e a raiva em seus olhos.


– TANTO ACHO COMO FEZ! - Maria gritou sem qualquer controle.


– E você acha mesmo que meu filho iria gostar de ter uma irmã como você?! Irresponsável, uma bêbada ,um erro! - ele gritou contra a filha. - Se seu irmão e sua mãe estivessem aqui sentiriam vergonha de você ,Maria Flor. - falou sem sentimento nenhum em sua voz.


Foi como levar um tiro ,era como se tivesse perdido a capacidade de falar.


Ele tem razão..


Fechou os olhos reprimindo as lágrimas ,sabia que não poderia rebater ,então correu para fora daquela sala.


Desceu as escadas quase caindo nos degraus ,pegou as chaves do porshe de cima da mesa e correu para o frio da noite.


Quando entrou no carro se permitiu chorar como nunca antes.


Esse sofrimento nunca vai ter fim ,eu tenho que acabar com isso ,isso tem que ter um fim!


Deu a partida no carro e arrancou pelas ruas da cidade, as lágrimas encobriam sua visão e quase não conseguia enxergar a estrada.Não sabia para onde estava indo ,quem sabe um caminhão a acertasse e desse um fim naquilo.
Mas era pedir demais . Até que um endereço veio em mente. Parte norte da cidade, rua cinco.


Sem pensar duas vezes deu a curva e pisou fundo no acelerador. Não importava a velocidade, nem suas lágrimas. Só queria saber se quando estivesse perto dele aquilo iria passar.


Entrou na rua cinco e diminuiu a velocidade ,aquilo parecia ridículo ,não sabia qual era a casa .Estava quase saindo do carro e gritando por ele pela rua, quando viu a familiar picape vermelha de Brooke estacionada numa garagem.
Era ali ,ela sabia.


Estacionou o carro sem qualquer cuidado ,e pegou um fino casaco que estava jogado no banco de trás. O vestiu rapidamente e correu para fora ,subiu as três escadas que levavam até a porta em pulos.


Bateu na porta com força sentindo as lágrimas ainda mais pesadas em sua face.


Abre ,abre ,abre por favor!!!


A porta se abriu ,e lá estava ele.


– Maria ?!