Ainda A Única

Sorvete


Peguei o celular de Chace e disquei o número recém decorado por mim, de meu pai, ele atendeu na terceira vez que chamou.

- Alô? – disse ele confuso.

- Pai? Sou eu, Amélia.

- Oi filha, o que foi? Aconteceu alguma coisa? Que telefone é esse?

- Não aconteceu nada, só estou te avisando que não precisa me buscar hoje, vou sair pra tomar sorvete com um amigo, ele me leva pra casa depois, tudo bem?

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- Claro, claro, preciso desligar, sua mãe está gritando que achou uma barata. Beijos querida...

- Beijos pai.

- ... Espera, você disse amigo?

Desliguei a chamada e entreguei o celular para Chace que me olhava com um sorrisinho de canto.

- Vamos lá – falei sorrindo e afivelei o cinto da Land Rover na qual me encontrava.

Saímos do estacionamento e entramos na fila de carros que queriam pegar a rua para ir para onde quer que estivessem indo.

- Você me disse que não é do tipo interesseira – disse Chace após buzinar para um outro carro, que vi ser o de Logan – mas na primeira oportunidade que têm me pede algo, tsc, tsc, tsc – ele balançou a cabeça em negação, mas tinha um sorriso brincalhão no rosto.

- Um sorvete não é nada tamanho o insulto que senti hoje – falei dramaticamente e ele riu.

Então saímos do estacionamento e ele começou a dirigir um pouco mais rápido.

- Se o sorvete é a desculpa pra tudo, vou viver com um pote de sorvete na mochila.

- Então planeja me insultar muitas mais vezes?

- Convivência por muito tempo pode fazer as pessoas errarem as vezes – disse ele dando de ombros.

- E quem disse que eu vou conviver com você por muito tempo? – indaguei, ele me olhou, sorriu e então voltou a olhar para a rua, calado.

Mas depois de um minuto falou, sem mais o sorriso no rosto:

- Você acha que vai voltar pra sua cidade?

- Improvável – murmurei depois de pensar um pouco, vi a postura dele relaxar um pouco e Chace passou a mão nos cabelos castanhos.

Então o carro diminuiu a velocidade e parou no meio-fio em frente a uma sorveteria grande, tirei o cinto e pulei do carro, Chace saiu do carro também e trancou o mesmo enquanto íamos para a sorveteria.

A sorveteria era uma construção grande, de um só andar, toda colorida, num espaço cercado por cercas de vidro ao lado da sorveteria, tinham mesinhas de madeira com cadeiras de madeira, e um grande guarda-sol passava no meio das mesinhas e fornecia sombra às pessoas sentadas que tomavam sorvete.

Entramos na sorveteria e vi muitos freezes, tinha sorvete de tudo quanto é tipo, todos de fabricação própria da sorveteria.

- Eu amo esse lugar – Chace começou a contar – meu pai me trazia aqui quando eu era pequeno...

Escolhi duas bolas de sorvete de morango, Chace escolheu três de chocolate numa casquinha que ele tentava equilibrar em uma mão e tentava pegar a carteira para pagar com a outra, revirei os olhos, tirei uma nota do bolso do jeans e paguei, depois de pegar o troco fomos para uma das mesinhas de madeira ao lado da construção e nos sentamos lá, Chace estava emburrado.

- Não era pra você pagar – resmungou ele, o ignorei e comecei a tomar meu sorvete – que graça tem eu te trazer pra tomar sorvete e não pagar a conta? Não vale.

- Machismo parando aqui – falei e voltei e tomar meu sorvete, ele ficou emburrando enquanto mordia suas bolas de sorvete – Desde pequeno, você sempre tomou sorvete de chocolate?

Sua expressão se suavizou, e ele até sorriu sozinho antes de falar.

- Sim, adoro sorvete de chocolate, principalmente o daqui.

- O de morango é bom – falei dando de ombros e enfiei mais uma grande colherada de sorvete na boca, Chace me olhava sorrindo, com a boca toda suja de sorvete de chocolate, comecei a rir ao ver sua cara, ele pegou seu celular e olhou seu reflexo no visor apagado, então olhou em volta a procura de algo.

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- Cadê a pia daqui? Tiraram desde a ultima vez que vim aqui? – ele se perguntou, revirei os olhos e peguei um dos guardanapos que estava no porta-guardanapo da mesa, vazia, ao lado.

Entreguei-lhe o guardanapo, mas assim que pegou ele sujou todo o guardanapo com sua mão lambuzada de sorvete.

Comecei a gargalhar de sua careta e peguei mais guardanapo e limpei sua boca, quando terminei ele me olhava com um sorrisinho de canto nos lábios rosados e lindos, me recostei na cadeira e voltei a tomar meu sorvete e quando o terminei, ele continuava a me olhar com a mesma expressão, suspirei, passei o dedo num restinho do que tinha sobrado do sorvete no potinho e passei na ponta do seu nariz, ele voltou a si e riu.

- Acorda Burns – falei e ele riu, e deve ter esquecido que segurava um sorvete.

Porque ele levou a mão que -segurava o sorvete- ao cabelo, como se fosse passar os dedos entre os fios castanhos, como sempre fazia, mas ao fazer isso, Chace se sujou todo, e eu comecei a gargalhar loucamente enquanto ele me olhava de olhos arregalados e com expressão de besta, ri mais ainda ao ver sua cara.

- Cara, como eu sou burro – murmurou ele e começou a tirar sorvete do próprio cabelo, eu tentava me controlar, mas ao vê-lo eu voltava a rir.

- Espera! – falei quando ele ia jogar a casquinha do sorvete no chão – Me deixe tirar uma foto disso, para um dia você mostrar aos seus filhos o quanto você era burro.

- Há, há, há – disse ele me mostrando a língua, mas largou a casquinha na mesa de madeira, pegou o celular, mexeu nele rapidamente e me entregou – Vou ficar lindo nessa foto, pra mostrar pros no... –ele mudou o rumo da frase- meus filhos que o pai dele consegue ser lindo até com sorvete no cabelo.

Voltei e rir, coloquei a casquinha na cabeça dele, com a parte redonda pra baixo, e tirei a foto dele sorrindo de orelha à orelha pra câmera, com o nariz sujo de rosa, os cabelos sujos de sorvete de chocolate e a casquinha como um chapéu de festa de aniversário.

Entreguei a ele o celular, ele viu e riu.

- Sou tão patético – falou ele, então limpou com o dedão um pouco de sorvete que escorria pela sua testa e passou o dedo na minha bochecha e me sujou – Agora somos dois patéticos.

Voltei a rir e ele me acompanhou.

Depois de eu me limpar e de ajudar ele a se limpar o máximo possível, saímos da sorveteria e entramos no carro dele.

Todo o caminho da sorveteria até a minha casa, fomos conversando sobre nossas história de criança, o quanto ele era bagunceiro, e o quanto eu aprontava na cozinha enquanto tentava fazer cookies e coisas assim, até que ele parou o carro e eu olhei para fora, então vi que já estava em casa.

Tirei o cinto de segurança e peguei minha mochila que estava, até então, aos meus pés.

- Vou propor de novo, porque sou teimoso, quer ir comigo ao jantar de hoje a noite na minha casa? – disse Chace se virando no banco para me olhar.

- Chace... – choraminguei e então mordi o lábio – Não.

- Ah, por favor Amélia, seria mais legal se você fosse, eu sei que pelo menos teria alguém com quem conversar.

- Não... Deixa pra outro dia- falei abrindo a porta do carro e me arrastando pelo banco.

- Então, sai comigo? Um outro dia? Amanhã? – sugeriu ele empolgado e eu ri pensando em sua proposta, então me lembrei que não podia.

- Não posso, amanhã Melody vem aqui me dar aula de Francês.

- Domingo?

- Provavelmente meus pais vão me levar para algum lugar arrastada.

- Então diz que não pode ir arrastada com eles, porque vai sair comigo.

- Você é insistente! – falei e saí do carro, mas ainda segurei a porta aberta.

- Como eu disse, sou teimoso, e eu quero sair com você e... – eu o interrompi.

- Tchau Chace.

Bati a porta com a força necessária para que fechasse e comecei a me afastar do carro, mas ainda ouvi Burns gritar:

- Amélia!

Me virei nos calcanhares para olhá-lo, Chace estava sentado na janela da sua porta, no carro, e me olhava por cima do capô, comecei a rir de sua insistência.

- Eu vou vir aqui amanhã! – prometeu ele, e antes que eu retrucasse ele voltou rapidamente pra dentro do carro e se foi.

Voltei a caminhar em direção a porta, encarando o chão e com um sorrisinho nos lábios, e assim que entrei em casa vi meu pai, com as mãos nos quadris, minha mãe estava atrás dele, ele tinha uma expressão séria, quase como se estivesse sofrendo.

- Amigo? – ele repetiu a palavra que disse antes que eu desligasse o telefone de Chace na cara dele.