Mágoas

Chace me levou para casa meia hora mais tarde, depois de tocar para mim.

Assim que chegamos em frente a minha casa eu me lembrei de que não havia falado com Sunny.

- Droga – resmunguei irritada e tirei o elástico que prendia minha trança.

- O que foi? – perguntou Chace.

- Meus pais, não estão em casa – resmunguei e tirei o cinto de segurança.

- E você está brava por isso?- perguntou ele de sobrancelhas franzidas.

- Eu disse a eles que chamaria alguém para vir aqui, eu não chamei, daqui a pouco eles chegam, e se souberem que ninguém veio aqui vão pensar novamente que não tenho amigos e vão querer em mandar pra psicóloga, de novo.

- Você já foi pra psicóloga? – perguntou ele de sobrancelhas arqueadas.

- Algumas vezes, meus pais são meio que super mega protetores, e pensavam que eu não tinha amigos porque as pessoas não gostavam de mim, ou porque eu tinha algum problema.

- E você tinha?

- Talvez.

Ele riu e eu bufei, então abri a porta e lhe beijei os lábios brevemente.

- Tchau, obrigada pelo almoço.

- Ei, eu posso ficar aqui se você quiser – sugeriu ele.

Desci do carro e pensei na proposta por um minuto.

- Ok – falei por fim, ele sorriu e desceu do carro.

Assim que entramos em casa ele me prensou na parede e começou a me beijar, seu beijo estava diferente das outras vezes, agora ele parecia quente, urgente.

- Amélia... –sussurrou quando paramos de nos beijar, eu o olhei, ele me olhava hesitante.

- Hum? – resmunguei tentando me afastar para criar pensamentos coerentes.

- Você... Nossa, isso vai ficar uma porcaria mas tudo bem... – disse ele passando a mão nervosamente pelos cabelos, então pegou algo no bolso e me estendeu uma caixinha azul da joalheria e a abriu, dentro havia uma aliança de prata.

Engoli em seco e minhas mãos começaram a suar.

- Sei que esse não é o pedido perfeito,na verdade eu iria fazê-lo hoje, no meu quarto, mas as coisas não saíram como planejei, me desculpe por ser assim tão pouco... Sentimental, é que realmente estou começando a enlouquecer e não sei se posso agüentar mais por muito tempo sem fazer isso...

Mordi a língua e o olhei com atenção, ele não me olhava nos olhos, suas bochechas coravam, em sua voz transparecia a incerteza sobre o que ele falou a seguir:

- Quer namorar comigo?

“Sim!”.

- Namorar? – gaguejei meio apavorada, ele assentiu, respirou fundo e prendeu o ar – Eu... Chace, eu não...

Eu não sabia como terminar a frase, como lhe dizer que não podia aceitar aquilo, porque tinha dúvidas se tudo daria certo, e ele também parecia ter dúvidas sobre aquilo, e não sou do tipo de pessoa que gosta de se arriscar, prefiro a certeza e o conforto de um relacionamento certo e estável, do que um relacionamento cheio de falhas, sobes e desces, incertezas.

Ele viu minha resposta e baixou o olhar, magoado.

Mordi o lábio e tentei dizer algo, mas não saia.

- Eu... Entendo – disse ele e guardou a caixinha de novo no bolso, então foi em direção a porta e assim que saiu, posso jurar ter visto uma lágrima escorrer em seu rosto.

- Te vejo amanhã! – ainda gritei tentando soar empolgada, e não obtive resposta.

.-.

- Baile de primavera, lá lá lá láa – cantarolou Sunny se pendurando no meu pescoço, Ariana apareceu e entrelaçou nossos braços.

- Baile de primavera? Tem isso aqui? – murmurei fazendo careta.

- É claro que tem isso aqui, Amélia- disse Melody revirando os olhos.

- Hey! – gritou Logan a minhas costas e eu me virei para ver sua figura conhecida correr até nós com um papel em mãos. Ele se voltou a mim assim que chegou até nós – Amélia, quer ir ao baile comigo?

- São as meninas que convidam, Logan – lembrou Sunny.

- Além do mais, Amélia vai com o Chace.

- Vai? – perguntou Miguel aparecendo do nada também.

- Hã... Não sei se ele vai topar ir comigo – falei coçando a nuca.

- Ele não vai... – começou Miguel.

- Ele já topou ir com a Shirley – terminou Logan sério.

Pisquei diversas vezes para absorver a informação.

- Ele... Estão falando sério? – falei segurando as lágrimas.

“Qual é, é só um baile, porque estou me importando com isso?”.

- Sim, agora a pouco, ela convidou e ele aceitou – disse Logan confuso -. Pensei que estivessem juntos.

Abri a boca para dizer algo, mas nada saiu.

Balancei a cabeça e fechei os lábios com força, então corri para o banheiro mais próximo.

Tudo o que vai volta, certo, eu já devia prever algo do gênero, mas não consegui acreditar que ele chegar ao ponto de ficar com a Shirley por estar magoado comigo.

Me olhei no espelho, meus olhos já estavam embaçados e as primeiras lágrimas escorreram, funguei e as enxuguei quando ouvi a porta se abrir, Ari, Sunny e Melody entraram, todas com a expressão triste, Ariana me abraçou e eu enterrei meu rosto em seu ombro enquanto falava palavras sem muito nexo haver com Chace, mas elas pareciam entender e me aconselhavam, ouvi novamente a porta se abrir e dessa vez Shirley e duas amiguinhas dela entraram, elas vieram ao meu lado, se olharam no espelho, então Shirley sorriu impertinente para mim e murmurou num tom venenoso:

- Sabia, queridinha, que o Chace vai ao baile de primavera comigo? Parece que você não é assim tão importante para ele... Mas sabe como é que dizem, o primeiro amor a gente não esquece... Ou melhor, o Chace não me esquece.

Então piscou para mim e saiu, Melody e Ari tiveram que segurar Sunny para que ela não corresse atrás de Shirley e arrancasse os cabelos da cabeça dela, quanto a mim? Voltei a chorar.

.-.

Hora do almoço.

Minha professora da aula antes do almoço liberou a turma mais cedo, então almocei antes de todos e saí também antes de todos, eu estava sentada debaixo de uma árvore, lendo um livro quando vi pela visão periférica sentarem-se ao meu lado, ergui os olhos para encarar Miguel e Logan.

- Olá - disseram em coro e sorriram para mim.

- Oi – murmurei e lhes dirigi um sorriso fraco, então retomei a leitura.

O silêncio predominou por poucos minutos, até meu livro ser tirado do meu colo e ser posto de lado.

- Sai disso por enquanto – disse Miguel após largar meu livro sobre as grama.

- Eu gosto dos livros, são boas companhias, pode me devolver? – pedi.

- Pra quê livros? Você tem o goleiro mais gato do time de futebol, e o mexicano mais procurado da escola ao seu lado, você não precisa disso – falou Logan se gabando, e eu bufei.

- Desculpa, gato, e mexicano mais procurado do colégio, mas ainda quero ler – falei e tentei pegar o livro, mas Miguel o afastou de mim.

- Não, vamos conversar. E então, vai me levar pro baile? –falou Logan.

- Não.

- Magoou meus sentimentos – disse ele fazendo um gesto e uma voz gay.

Revirei os olhos.

- E eu, vai me levar? Eu topo ir com você – disse Miguel sorrindo todo galanteador pra mim.

- Não – repeti.

- E vai levar quem então? O mascote do time? – disse Logan.

- Não, eu não vou – falei cruzando os braços quando desisti de pegar de volta o meu livro.

- Como não? – disseram os rapazes ao mesmo tempo.

- Não indo, ué.

- Amélia, você vai nem que seja pra ficar sozinha lá – disse Logan.

- Ah, muito obrigada por jogar na minha cara que vou ser um completo fracasso e vou virar uma velha sozinha que mora com cinqüenta e sete gatos! – falei histérica.

- Ele não disse isso, Amélia – defendeu Miguel.

- Mas quis dizer! – falei ainda histérica.

- Você não vai ficar uma velha que mora com vinte e sete gatos, a não ser, é claro que um desses gatos seja eu, porque eu não vou deixar você virar uma velha sozinha – disse Logan calmamente.

Comecei a chorar e abracei ele e Miguel ao mesmo tempo.

- Estou tão sensível! – gritei com a voz esganiçada, então um deles se desvencilhou gentilmente de mim e o outro me abraçou.

- Você é sensível, Amélia –ouvi a voz de Logan mais próxima, e soube que ela ele que me abraçava.

- Eu não gosto de ser sensível, porque quando eu sou sensível eu fico chorando por causa do Chace – falei baixo e me agarrei mais a camisa xadrez do meu amigo.

- O que aconteceu com vocês dois afinal? – soltou Miguel.

Soltei Logan e limpei as lágrimas, então me recostei ao tronco da arvore.

- Eu dei um fora nele ontem – falei fungando.

- Explique – pediu Logan.

- Ele me pediu em namoro, eu recusei – falei fazendo careta.

- Entendi porque tanta tristeza naquele rapaz – comentou Miguel.

- Ele me odeia! – falei chorando e me agarrei a Miguel.

- Amélia! O que é isso? Se recomponha mulher! - ouvi a voz de Sunny e ergui os olhos para sua figura, ela estava a minha frente, com o rosto fechado e as mãos na cintura.

- E eu não disse que ele te odeia, eu disse que ele está magoado – disse Miguel deixando seu sotaque mexicano transparecer e acariciou meus cabelos -. Não tem como alguém odiar você, Amélia.

- Eu me odeio! – falei histérica e voltei a chorar.