America's Candies

Meramente ilustrativo


Tinha a porra de um aviso na porta do avião.

E ele dizia: em caso de emergência, não entre em pânico.

Mas eu estava em pânico. Estávamos pousando, pousando, cara! A viagem passou depressa demais. Puta que pariu, foi muito rápido. Eu deveria ter quebrado as janelas e matado todo mundo quando a velha que sentava ao meu lado tinha ido ao banheiro.

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Tentei soltar o cinto. Não foi. Puxei, empurrei, apertei os lados e até mordi, mas não sabia tirar o negócio. Vou morrer sentado na poltrona. Legal. Parece mais divertido do que morar com meu pai, o astrônomo idiota que tem dois enteados ruivos e uma esposa rechonchuda. Voltei a sacudir o cinto. Merda.

- Posso ajuda-lo? – ah, a aeromoça bonitinha e ruivinha que eu vi mais cedo. É constrangedor saber que eu paquerei a moça durante as seis horas de viagem, e agora ela tem que me ajudar a tirar a merda do cinto. Droga.

- Eu... é. – não sei o que foi isso também. – Como eu abro isso?

Ela deu uma risadinha. Filha da puta. Como se nunca tivesse ficado presa numa poltrona.

- É só puxar, senhor.

Puxei.

- O ferro, senhor. Que prende o cinto.

Ah! Esse ferro, que parecia uma lingueta de sapato. Puxei. O bagulho abriu sem som nenhum, fácil e rapidamente. Tentei sorrir, mas estava amargurado demais pra isso.

- É. Eu sabia – peguei minha mochila. A ruivinha me encarou, brava.

- Como você entrou com isso?

Olhei para minha mochila. Era maior que o tamanho permitido para bagagens de mão.

- Pela porta. Eu vim carregando – era verdade, ela não podia reclamar disso.

- Senhor...

- Até mais! – peguei a outra – a mala. A aeromoça olhou horrorizada para a mala, perguntando a si mesma como eu tinha entrado com aquilo pela passarela do avião. – Me processe – eu disse, piscando para ela e dando uma corridinha básica pelo corredor.

Nunca tive sorte, e com certeza não teria hoje. Assim que voei pela porta do desembarque, vi uma placa gigante escrita: BEM-VINDO À CASA, RICK, nas mãos de uma mulher que meu pai segurava pela cintura. Minha madrasta. Era outra, puta que pariu. Eu não sabia nem o nome da ex dele, a rechonchuda, como eu iria saber o nome da moça loira de saia comprida e blazer? Fechei a cara. Ela sorriu e acenou animadamente.

Meu pai, no entanto, não parecia animado. Ele acenou com uma mão frouxa, quase acertando a própria cara.

Duh, pelo jeito eu vou ter que tomar a iniciativa de cumprimenta-lo e nos tornar a FAMÍLIA MAIS FELIZ DO KANSAS, amiguinhos! – tsc, tsc.

Empurrei uma garotinha, depois o gêmeo dela, depois o cara que estava cuidando deles. Tive que esmurrar mais algumas pessoas até descobrir que o mais simples era passar por baixo das faixas. Assim que fiz isso, dei de cara com as pernas de alguém; pernas bonitas, definidas, cobertas por uma meia-calça grossa rosa, preta e vermelha.

Ergui os olhos para a garota. Ela me olhou também, surpresa. Tinha cabelos loiros parecidos com os da minha nova madrasta, presos em um rabo-de-cavalo ondulado, uma cara mal-humorada, de quem chupou limão pela manhã e óculos armação tartaruga azuis. Embaixo deles, olhos castanhos. Os mesmos olhos castanhos da... opa. Opa, opa, opa, opa! Olhei para a mulher com meu pai. Voltei a olhar a garota. Alguém tinha me avisado sobre isso... que a esposa do meu pai tinha uma filha... mas a Dona Redonda só tinha dois filhos igualmente rechonchudos...

Era a essa filha que eles se referiam; interessante.

Aquela era uma família feliz – mas, segundo o locutor, era apenas meramente ilustrativo.