O Mistério Da Fera

Capítulo 20 - Seu segredo é pior do que sua face?


- Gisele, acorde!

- O que houve? – Fernan entrou no quarto e se deparou com a cena.

Estevão estava segurando a menina, tentando acordá-la.

- Vá se lavar e tire estes lençóis daí. – Fernan disse. – Vou tentar acordá-la.

Era praticamente uma ordem. Estevão olhou para Fernan, indignado e o mordomo lhe lançou um olhar repreendedor. Afinal, era para o bem dela.

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- Gisele! – Fernan dava leves batidas no rosto dela, e nada.

- Pronto. – Estevão disse, depois de ter feito tudo o que ele havia pedido.

- Preciso levá-la para repousar.

Estevão a colocou em sua cama.

- Ela apenas desmaiou, eu acho.

- Mas é claro que sim! – Estevão disse.

Gisele abriu lentamente os olhos. Primeiramente, viu Fernan em pé, à beira da cama. Olhou o ambiente a sua volta e viu que não lhe era estranho. Olhou para o interruptor e logo Estevão tomou sua visão. Ela exclamou um grito assustado, e foi se encolhendo.

- Fique calma! Eu posso te explicar!

- Fica longe de mim! – Gisele saiu correndo e se trancou em seu quarto.

Estevão se sentou em sua cama, com os cotovelos apoiados em seus joelhos e as mãos no rosto, e chorou.

Fernan estava tão surpreso que não sabia o que dizer.

- Acho que precisa ficar sozinho, não?

- Ah, Fernan... – Ele chorava mais.

Fernan estava feliz por tudo aquilo: não teria mais que esconder nada de ninguém e Estevão havia revelado um lado sensível e humano.

Ele foi até o quarto de Gisele e viu a menina sentada na cama, abraçando seus joelhos, com o olhar fixo na parede. O corpo dela tremia como se estivesse com a temperatura baixíssima.

- Fernan? – Gisele disse.

Ele entrou no quarto e levou a menina para lavar a mão no banheiro que ficava ao lado de seu quarto. Voltaram para lá.

- Sei que está assustada, mas peço para que durma.

- E se ele entrar aqui? – Ela se sentou na cama.

- Ele não vai vir.

- E se Bruno vier atrás de mim? – Ela se deitou.

- Estevão irá te proteger. – Ele a cobriu com um lençol branco.

- Estevão? Ele não! – Ela gritava.

- Durma, Gisele. Ninguém te perturbará esta noite.

- Fernan... – Uma lágrima caiu do olho esquerdo de Gisele.

O mordomo limpou seu rosto e acariciou seus cabelos. E então, ela pegou no sono.

***

No dia seguinte, Fernan foi até o quarto de Gisele para acordá-la.

- Gisele? – Ele tocou os ombros dela.

- Oi... – Ela abriu os olhos.

- Quer comer algo?

- Não, obrigada. – Ela sorriu.

- Mas você precisa se alimentar.

- Depois, Fernan.

- Bom, então, você quer fazer alguma coisa?

- Eu estou indisposta. Minha mente pesa mais do que o meu corpo.

- E a estufa?

- Ah, não, Fernan.

- Você disse que não ia parar.

- Eu disse, mas...

- Você vai ter coragem de descumprir o que disse?

- Isso é chantagem! – Riram.

- Consegui te arrancar um sorriso. Isso é bom.

- Eu não consigo atravessar aquela porta, Fernan. E se eu encontrá-lo?

- Vocês não vão se ver, se você não desejar.

- Eu estou com medo dele, Fernan. Medo!

Ela não esperava que Estevão estivesse ouvindo tudo pelo pequeno buraco que ligava seu quarto com o quarto dela.

- Não tem porquê.

- Como assim?

- Ele vai te explicar um dia.

- Um dia... Eu quero uma explicação hoje! Não vou aguentar viver com esse pânico dentro de mim. Eu pensei que estivesse em segurança aqui.

- E está. Garanto-te que ele nunca lhe fará mal algum.

- Ah, Fernan...

- Ele já lhe fez algum mal?

- Não.

- E então? – Ela respirou fundo. – Vamos terminar de encher a estufa?

- Vamos. – Ela sorriu.

Foram em direção ao jardim e começaram a levar alguns dos vários vasos que Estevão havia comprado para que Gisele cuidasse de suas flores e plantas.

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Ele observava tudo da janela de seu quarto e ela não percebia. Estevão sorria quando Gisele sorria e de certa forma estava mais calmo por ela não ter ficado tão assustada, mas estava um pouco magoado pelo medo dela.

Haviam passado a tarde inteira ali, até que resolveram parar. Gisele foi descansar em seu quarto. Deitou-se em sua cama e ficou olhando para o teto. Percebeu que alguém havia entrado em seu quarto. Gisele soltou um gemido de medo.

- Você tem medo de mim? – Estevão disse e foi se aproximando.

- Eu...

- Você disse que não tinha medo de mim.

- Eu...

- Você também disse que a minha aparência não importava.

- Eu...

- Eu? Só sabe dizer isto?

- Eu confesso que minha mente está uma bagunça.

- Eu posso te explicar. – Ele estendeu a mão.

- Eu não consigo.

- Se você não confiar em mim, meu mundo está perdido.

- Você está exagerando.

- Não estou, Gisele. Minha felicidade nestes últimos meses foi você quem trouxe para mim. Se eu não tiver você, não tenho nada.

Ela silenciou e ele, sem reposta, saiu do quarto e foi para o seu. Sentou-se em sua cama e começou a chorar, como ontem.

Sentiu um toque suave e gelado em seu ombro nu. Desde a noite de ontem, não havia mudado de roupa. Sua única preocupação foi colocar suas botas. Ficou sem camisa e apenas com sua calça. Isso deixava Gisele, de certo modo, constrangida, afinal, Estevão era um homem, fisicamente, muito bonito.

- Eu nunca imaginei que poderia te ver chorar deste jeito. – Ela sorriu. – Isso é culpa minha?

- Bem... É que eu preciso te explicar tudo isso.

- Eu vou te ouvir.

- Primeiro precisa me dizer se não vai ficar com medo de mim ou fugir, como fez ontem.

- E eu tive motivos, não tive?

- Eu sei, mas...

- Eu só me assustei, Estevão. – Ela segurou uma de suas mãos. – Você sabe que eu gosto de você como você é.

- Espero que continue gostando depois do que eu vou dizer.

- Mas é tão ruim assim?

- Diria que foi a pior coisa que aquela feiticeira fez para mim.

- Pior do que a sua aparência? – Estevão a olhou. – Sem ofensas... – Ela ergueu as mãos. - É que você sempre diz que não gosta. – Ela sorriu de lado.

- Eu sei que não quis me ofender, mas é pior sim.

- Então, me diz.

Gisele fez questão de olhar no fundo dos olhos de Estevão e isso o deixou mais a vontade para contar sua história.