Little Things

Hora errada


- Quer dizer que você é a garota que está dividindo o apartamento com o meu filho a meses? – A mãe do Edward perguntou isso pela milionésima vez desde que eu havia conseguido descer da maquina de lavar completamente, e me livrar das cuecas e meias presas ao meu avental. Depois o Edward conseguiu fazer os intrusos irem para a sala e se certificar de que eles pelo menos pudessem entender algo do que fossemos falar. Eu chamo isso de “uma ótima tentativa para ganhar algum tempo”.

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- Mas é claro que é Marie. – Tio Paulo disse de um jeito que eu quase me esqueci de que ele era brasileiro. – Essa menina é extremamente parecida com o pai dela. – Ele disse para a mulher e depois se levantou do sofá e foi caminhando até mim. – Eu me lembro de ter segurado ela no colo quando ela ainda era aquele bebê gordinho. – Ele começou o discurso da vergonha e eu quase voltei para a lavanderia e me joguei dentro ad maquina de lavar. Quem sabe assim eu me livraria daquela vergonha.

- Tio Paul... – Eu chamei me certificando de que usaria o equivalente inglês para o nome real dele. – Não podemos falar de outra coisa? – Tipo algo que não envolva eu e os meus quase trinta quilos antes de chegar aos quatro anos de idade. – Essa última parte, graças ao meu filtro contra besteiras fora de hora, ficou apenas no meu pensamento.

- Ela está certa querido. – A mãe do Edward se levantou também me fazendo lembrar vagamente de que ela infelizmente ainda estava ali. – Temos muito o mais o que conversar. E que tal se começarmos falando sobre a belíssima cena que nos presenciamos quando chegamos aqui?

- Mas mamãe, eu esperava poder contar a senhora sobre como eu tenho escrito músicas novas, e meu projeto de fim de ano, está quase no pronto. – Edward disse com a maior cara de tapado, e eu quase quis beijar ele. Depois que eu tivesse socado toda a cara dele, é claro.

- Tenho certeza de que a sua companheira de apartamento está te servindo de ótima inspiração. – Ela falou e eu vi o Edward corar até atingir a cor da raiz dos seus cabelos intensamente laranjas.

- Mas não foi para isso que vocês vieram aqui não é? – Eu perguntei e me xingue mentalmente depois pela minha enorme falta de educação em interromper um diálogo tão importante como aquele. Já falei que falta de educação na Inglaterra é crime de Estado?

- Brasileira, certamente. – A senhora Shefield disse com desgosto e eu ignorei isso, para o bem dela, e do meu também, é claro. – Mas a mocinha está certa. Nós não viemos aqui para assistir ao meu filho e a sobrinha do meu marido protagonizarem cenas eróticas sobre a maquina de lavar. – Ela falou com ainda mais desgosto e eu quase ri da cara dela. Se aquilo para ela era “quase erótico”, ela provavelmente teria desmaiado se tivesse pego o Phill e a Kamylla umas semanas atrás.

- Nós viemos aqui para falar sobre a viagem- Tio Paulo falou e foi minha vez de fazer uma careta de desgosto.

- Que viagem cara? – Edward perguntou confuso e eu quase me joguei da janela do nosso andar. Eu era mesmo uma vadia.

- Nós vamos passar o dia de ação de graças em Gales, onde nós moramos, e depois vamos aproveitar a semana do Natal, para irmos com levar a Manuela de volta para o Brasil. – A Senhora Shetfield disse e o Edward me encarou como se de repente eu tivesse passado a ter mais uma ou duas cabeças.

- Você vai embora em menos de três semanas e não me disse nada sobre isso? – E falou se direcionando completamente a mim, e o olhar de desgosto que ele sustentava foi como uma pequena faca cortando um pedaço do meu coração.

- Eu ia te contar... – Comecei a tentar me explica r ele não me deixou nem chegar a metade da frase antes de se pronunciar outra vez.

- Quando? Quando você já estivesse de malas prontas e na porta de um avião? – Ele levantou um tom a mais do que deveria na sua voz e eu me encolhi um pouco. – Talvez você precisasse me dizer isso para conseguir uma carona até o aeroporto.

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- Não fale assim James, eu só não sabia como te contar... – Falei começando a me sentir extremamente mal.

- Não sabia como contar para o cara com quem você vive a meses que você ia embora do país para provavelmente nunca mais voltar? Me desculpe Manuela, mas eu acho que você me devia isso. – Ele falou rápido de mais e minha mente confusa quase não acompanhou todas as palavras.

- Você sempre soube que eu só ficaria um ano. Eu pensei que você soubesse e não quisesse falar sobre isso. – Eu falei passando de magoada para desesperada rapidamente. – Você sabia que eu era aluna de intercambio, sabia que eu não poderia ficar mais do que um ano. Eu só não sabia o que dizer sobre isso. Me desculpe se eu estava mais preocupada em aproveitar nosso prováveis últimos dias no mesmo continente do que preocupada em planejar minha festa de despedida e volta para casa.

Edward abriu e fechou a boca incontáveis sem conseguir dizer qualquer coisa.

Eu fiquei parada por segundo suficientes para ouvir a mãe dele resmungar algo como “Será que nós não devíamos ter falado sobre isso agora?”, e depois disse eu já estava longe o suficiente para ouvir apenas as batidas frenéticas do meu coração recém repartido.