Impulsos De Uma Paixão

Tão perto. Tão próximos!


–Entre.

Mesmo ouvindo o convite de Sasuke, permaneci de pé na porta, um tanto receosa. Entrar ali seria como entrar na vida reservada dele, depois de tanto tempo vivendo no obscuro, e não era uma situação normal para alguém que testemunhou tantos desafios desde o princípio. Aquela era a casa de Sasuke-kun. O mais difícil e precioso pedaço da sua história de vida.

–Está bem.

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Por algum motivo seu olhar foi diferente, como se quisesse me alertar ou até mesmo me proteger daquela sensação de medo.
Entrei sem resistir a vontade de conhecer cada pedacinho daquela casa. Não havia um só móvel fora do lugar, empoeirado, ou com roupas encobrindo-os. Tudo era muito organizado, com cheiro amadeirado de objetos limpos e, sem sombra de dúvidas, uma das melhores residências de Konoha.

Distraidamente descobri o quadro da família Uchiha pendurado um pouco acima de mim. Nele estava o pai de Sasuke; tão sério que dava impressão de que ele vivia de mau humor. A mulher ao lado dele era sua esposa; tão serena e bela que partiu meu coração ao pensar na sua morte. À frente do pai estava Itachi; um homem que viveu durante muitos anos encarcerado, preso no único caminho que a vida lhe ofereceu. E ao lado da mãe, tão pequeno e aparentemente indefeso, Sasuke estava sorrindo na foto; aquele dia deve ter sido um dos melhores para ele.

–Do que você precisa?

Ele estava atrás de mim, o tempo todo me observando. Silenciosamente me virei para ele, e o encontrei com as mãos enfiadas nos bolsos, olhando um ponto imaginário no chão da sala.

–Na verdade eu só preciso olhar a ferida e... – simplesmente ele se sentou em uma das cadeiras e esperou por mim.

Parei do seu lado, e cuidadosamente minhas mãos frias tocaram sua pele quente. O corte ainda sangrava e parecia ser bem maior agora que o vejo com mais claridade.

–É um corte feio. – comentei tentando afastar a manga curta da camiseta, mas ao perceber que não daria certo Sasuke levantou o braço a fim de removê-la, e gemeu baixo ao flexioná-lo. –Não se mexa. – pedi levantando a saia acima dos joelhos, e peguei a kunai que estava presa na minha coxa. A lâmina rasgou com muita facilidade a blusa ao meio e por último cortei as mangas. –Desculpe pela blusa. – olhei de esguelha e o flagrei olhando com muita discrição a barra da saia que na pressa não ajeitei. Como se nada tivesse acontecendo ignorei o fato, mesmo com o coração aguentando firme cada batida. –Há cortes pequenos nas costas... – falei averiguando os ferimentos. –Na verdade há cortes menores por todo o corpo.

–Não passam de arranhões.

–Poderiam ser escoriações grave. – com as mãos abertas cheias de chacra, comecei a cuidar do primeiro ferimento. –Foi uma missão difícil... Eu deveria ter ido.

–Você deveria está feliz por ter ficado e salvado muitas vidas aqui.

Ele queria que eu refletisse sobre a hipótese de eu ter ido e livrado o esquadrão Anbu do esgotamento, enquanto muitas pessoas morreriam no hospital.

–Você está certo.

Nunca pensei que está perto dele novamente traria de volta a velha sensação de que Sasuke estava há vários metros de mim. Melancolicamente eu conseguia senti cada ferida cravada em sua pele; conseguia tocá-las e curá-las, mas não conseguia penetrar sua alma. Aquele silêncio que eu sempre via em Sasuke, como uma barreira conflitante que sempre esteve entre nós, e que, uma única vez, eu consegui quebrá-la a custo de muita lágrima. Sintia-me fraca toda vez que me deparava com aquela distância, por que eu saiba o que ela significava.

–Sabe que... hoje de manhã eu cuidei de três crianças genin, e elas eram um pouco parecidas com nós três naquela idade. – sorri ao me lembrar do trio. –Eles eram muito cúmplice um do outro, e não escondia a paixão de estarem no mesmo time... mesmo discutindo o tempo todo. – suspirei recordando aquela época, e lamentei por ela ter passado tão depressa. –Às vezes parece até que foi ontem. – mais um suspiro alto, e um sorriso bobo. –Você não sente saudade daquela época?

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Aguardei a resposta como se estivesse depositando todas as minhas esperanças em um Sim ou Não.

–Não sei se eu devo pensar no passado.

Sem ter o que dizer, depositei toda a minha concentração em suas feridas, e assim mergulhamos completamente no silêncio. Apesar de sua postura fria, eu senti o peso daquelas palavras e o quanto elas significam para ele. Talvez ele nunca viesse a falar da importância do Time Sete em sua jornada, mas Naruto, Kakashi-sensei e eu, sabíamos o que aqueles dias significaram.

–Já está acabando. – falei para ele não perceber que meu chacra estava se esgotando. –Só mais um pouco...

Abruptadamente Sasuke segurou minha mão, interrompendo o procedimento de cura. Atônita, virei para ele, e nossos olhares se encontraram em meio a pouca luminosidade.

–O que foi? – perguntei sentindo o coração disparar.

–Você está se excedendo de novo.

–Bem, eu acho que um médico deve fazer... – sutilmente a mão calejada dele apertou a minha e seu calor me inundou.

–Pare já com isso. – Sasuke interrompeu o pequeno contato e se levantou recolhendo meu casaco. –Vamos agora antes que volte a nevar forte.

Contrariada, deixei o chacra fluir em minhas mãos, e o desafiei com o olhar.

–Eu ainda não terminei.

Sasuke respirou forte ao ver a cena. –Então você prefere que eu te leve a força para casa? – indagou sério. –Por mim tudo bem, mas não sei se seus pais vão gostar disso.

–Você não teria coragem. – disse confiante, mas temendo sua ameaça. –Só mais dois cortes e acabou. Além do mais... – levei a mão à testa sentindo-me fraca. –Senti fraqueza de repente.

–É por que você está esgotada.

Olhei-o a fim de questioná-lo, mas Sasuke não estava no mesmo lugar.

–Teimosa. – atrás de mim, sorrateiro, ele me segurou em seus braços, e calado carregou-me para um quarto.

–Onde está me levando?

–Descanse. – cuidadosamente Sasuke me deitou em lençóis perfumados, e seu cheiro estava lá por toda a parte.

–Mas... – sem olhar para trás ele fechou a porta.

Apoiei os cotovelos na cama, e sem ação observei o quarto. Um cômodo tão desconhecido, mas ao mesmo tempo familiar. Com as pontas dos dedos toquei carinhosamente o cobertor que me protege, e em seguida um dos travesseiros. Abracei-o contra meu corpo, e lentamente descansei a cabeça no outro. Entorpecida com seu cheiro fechei os olhos cansados, agarrando-me fortemente ao travesseiro, e me entreguei ao cansaço. Eu nunca estive tão perto dele como estava ali.

Abri os olhos desconfortavelmente. Pelas flertas das cortinas a luminosidade do sol começava a assombrar a penumbra do quarto silencioso.
Sentei-me com o travesseiro nos braços, e acredito que não o soltei por toda a noite. Longos minutos se passaram e tudo o que fiz foi guardá-los como se eles fossem objetos raros. Sasuke estava ali... O cheiro dele estava impregnado em qualquer coisa que eu tocasse, ou sentisse.

Abracei o travesseiro novamente, como uma louca apaixonada, e sem mais demoras o deixei na cama. Olhei tudo aquilo com um pouco de melancolia, e silenciosamente me despedi do quarto de Sasuke. Ao chegar à porta, notei o porta-retratos do Time Sete em cima da cômoda, e fui até ele. A fotografia era tão antiga, mas eu me lembro perfeitamente bem do dia, e do horário que a tiramos. Foi a primeira e última fotografia do time; um cartão memorável de boas vindas.

Time Sete... – sussurrei com os olhos embargados de lágrimas.

Deixei o porta-retratos onde ele estava, e ao me virar deparei-me com Sasuke. Seu olhar era desconfortavelmente fixo, e a expressão estava nula. Ele não sabe, mas sinto-me completamente boba toda a vez que o vejo assim.

–Eu pensei que você não tivesse mais essa foto. – comentei entrelaçados os dedos nervosamente. –Bem, já faz tanto tempo que a tiramos, não é?Seria normal se...

–Você tem razão. – disse interrompendo-me. –Eu sinto falta daquela época.

–Eu sei. – olhei a fotografia antes de sair, e sem nada dizer um ao outro deixamos o quarto. –Desculpe por eu ter incomodado ontem à noite, e obrigada por tudo.

Sasuke parou e por muito pouco não enfiei a cara em suas costas.

–Você está com fome? – perguntou virando-se para mim.

–Err... Um pouco.

–Uh. – murmurou pensativo e em seguida ajeitou a blusa sem tirar os olhos da janela. –Vou te levar em casa, e no caminho comeremos alguma coisa.

–Não precisa se incomodar, além disso, já é dia e muito bonito por sinal.

–Não é incômodo. – disse como se sua palavra fosse o último veredito.

Havia poucas pessoas na rua, mas um número bom se comparado com os últimos dias. O sol brilhava fracamente sobre Konoha depois de uma semana suportando a chuva de neve, ainda assim a temperatura era fria, embora a barraca de lámen fosse quentinha.

–É impossível comer lámen e não se lembrar do Naruto. – comentei fazendo Sasuke sorri sutilmente; o que para mim foi surpreendente.

–Tenho que admitir que você está certa.

Olhei-o de esguelha, me perguntando o que ele diria se eu tentasse interagir com outros assuntos, e até mesmo poderia ser sobre ele.

–Você...

–EI! – não foi preciso virar para o lado e vê quem se aproxima aos berros. –Bom dia, Sakura-chan. Bom dia, Sasuke.

–Bom dia. Quanta disposição. – comentei fuzilando-o, e ele sorridente se sentou a meu lado.

–Boas notícias para o Time Sete!Ei, tio!Uma tigela no capricho!

–Por que você precisa gritar se ele está na sua frente? – indagou Sasuke olhando Naruto com cara de tédio.

–Você não vai estragar meu dia, Sasuke! – sorri em silêncio enquanto observava ambos iniciar uma guerra de olhares.

–Aqui está, Naruto.

–Obrigado, tio. – e, como era de seu costume, ele se contentou ao provar o macarrão; como se há tempos não repetisse o mesmo hábito. –Isso é tão bom!

–Já sabemos disso, Naruto. – falei chamando sua atenção.

–A propósito... O que vocês fazem aqui logo cedo?

Olhei Naruto, sem ter o que explicar, e sutilmente me virei para Sasuke.

–Nada demais, apenas nos encontramos na rua.

Disse um tanto aliviada, embora eu ainda tentasse dar explicações sobre a noite passada. Talvez, somente dessa forma, eu conseguisse explicar a mim mesma, detalhadamente, o que nos impulsionou a estar tão próximos.