As Nem Um Pouco Felizes Histórias De Amor.

Uma segunda chance, pra mim mesma.


#Narrado por Diana#

Quando retornei a sala para cumprimentar “educadamente” as visitas, percebi o tímido sorriso de Rafael ao me ver. Ok, ele era um cara realmente galanteador e beijava bem. Não sei se deveria pensar naquele beijo que foi o estopim de tudo, mas eu estava pensando agora.

Sentei ao lado do meu avô, próximo de Rafael e sua mãe. E enquanto todos diziam o quanto eu estava me “tornando uma moça muito bonita, tão parecida com a minha mãe”, eu revirava os olhos e puxava a saia um pouco mais pra baixo, tentando deixá-la pelo menos até a altura dos meus joelhos.

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Lucas (que a propósito é o tipo de irmão que você sonha em ter, até que ele começa a cortar suas roupas e encher suas saias de lantejoulas e purpurina rosa), começou a rir da cena. A blusa que eu usava tinha uma renda discreta no busto. Eu não curtia rendas. Nem saias. Nem purpurina. Muito menos quando tudo isso estava em um único pacote.

- Estamos animados para ver a publicação de seu livro, Diana. Já pedi para Rafael fazer todas as economias possíveis para comprarmos o seu livro na estreia. – disse Ester, mãe de Rafael.

Eu apenas sorri. E depois sorri de novo. Essa era a forma mais “humana” que eu tinha de me comportar na frente de pessoas que me deixavam constrangidas. E além do mais, os capetas dos meus primos estavam ali. Qualquer movimento brusco seria motivo para um sarro levado pelo resto da vida.

- Soube que você passou na UFRJ. – disse Rafael por fim.

- É, eu passei. – respondi sem muita empolgação. Por toda a sala havia barulho. Todos, sem exceção alguma, conversavam um com o outro. Típico de domingo.

- Então minhas aulas serviram para alguma coisa. – engrandeceu ele logo depois arqueando a sobrancelha.

Fitei o chão e apertei as mãos uma contra a outra. Assenti a sua afirmação.

- Vai fazer letras mesmo? – continuou ele.

- Sim... Por enquanto. Quer dizer... – balbuciei. – Na verdade não sei. Foi o curso que escolhi, o que mais me aproxima do que eu gosto de fazer... Só tenho medo. – disse por fim.

- Medo de quê? – questionou ele intrigado aproximando o rosto para ouvir melhor a minha voz.

- De não ser o suficiente, sabe? As pessoas irão ler o meu livro e eu já sinto um milhão de críticas me bombardeando. Temo que isso me afete, e tal. – respondi.

- Críticas fazem bem. Elas te constroem. – replicou ele.

- Por esse lado você tem razão, mas digo que eu não estou preparada para receber críticas. – continuei.

- Então, aqui vai uma crítica. – disse ele erguendo a cabeça em um rápido gesto e me encarando profundamente com os olhos claros mais “claros” que já vi. – Esteja preparada para todo o tipo de crítica mocinha. Não seja chorona.

- Eu não sou chorona.

- Você é a garota mais chorona que eu conheço.

- Tá, você diz isso porque só me viu chorar uma vez. – afirmei.

Rafael fez um silêncio aparente enquanto observava todos na sala. Depois, levantou-se do sofá e foi até a cozinha.

Olhei ao redor e vi Lucas fazer um gesto indicando que eu fosse atrás dele. Hesitei. Não queria ir atrás de Rafael. Eu nem sabia o porquê de ir lá na cozinha com ele, mas Lucas não parava de me encarar e eu estava ficando desconfortavelmente irritada.

Levantei-me e puxei a saia novamente pra baixo tentando fazê-la alcançar meu joelho. Em vão. Jurei pra mim mesma que eu jogaria ela fora depois daquele dia.

Passei pelo corredor e vi Rafael de costas servindo água em um copo. Minha tia falava alguma coisa a respeito do sorriso dele (céus, eu não era a única a achar o sorriso dele bonito).

- Você deveria fazer propaganda de pasta de dente. – disse ela.

Rafael riu e eu também.

- Não o iluda tia. O sorriso dele nem é tão... – fiz uma pausa enquanto ele virava o rosto na minha direção e sorria. – Bonito assim... – parei, tendo minhas duas últimas palavras pronunciadas gradativamente.

- Eu ainda acho um belo sorriso. – afirmou ela novamente passando por mim e nos deixando a sós na cozinha.

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Rafael virou-se para o outro lado e lavou o copo em que bebeu água.

- Sua tia é bem legal. – disse ele. – Quer água?

- Não, valeu. – disse.

Nos encaramos novamente e lembrei-me de que o estopim do que eu estava vivendo agora aconteceu naquela cozinha. Com aquele cara. Perto daquela pia. Gelei.

- Aqui não deve te trazer boas lembranças. – falou ele ao observar minha expressão nada feliz.

- Não... Quer dizer... Não é isso. Eu só não queria pensar nisso agora. – franzi a testa em sinal de reprovação ao meu pensamento.

- Pelo menos vocês se acertaram.

Meu silêncio negou a afirmação dele.

- Ou não. – disse ele novamente.

- Não somos mais como antes. Acho que nunca mais seremos como antes.

- Todo mundo muda Diana. É isso que nos diferencia dos animais.

- Eu não consigo me adaptar facilmente com mudanças. – repliquei.

- Eu também não. Mas, chega uma hora em que ou você muda por vontade própria ou é obrigado a mudar. E, sinceramente, eu espero que você nunca seja obrigada a mudar. É mais doloroso. – continuou ele.

Ele tinha razão de certa forma. Mesmo assim, fazer o meu ego acreditar em mudanças era como dizer a uma criança de quatro anos, que quer o quarto pintado de rosa, que a única cor que se tem pra pintar o quarto é azul.

- Um dia eu aprendo. Não sei de que forma, mas aprendo. – disse a ele.

- Poderíamos mudar de assunto... Tipo... Falar sobre “Star Wars”. Você assistiu?

- Sim... É bem legal. Estou com os DVDs aí.

Ele riu.

- Espero que tenha gostado mesmo. Eu queria te levar pra uma exposição de filmes de ficção que vai ter perto da minha universidade. Quer ir? – convidou ele.

Antes de responder, sorri. Eu precisava de alguma distração além de ficar sugerindo capas para o meu livro ainda não publicado.

- Claro, eu adoraria.

***

No dia seguinte após a aula, fui até a editora mais uma vez ver os novos modelos de capa.

- Veja Diana, essa é a nossa última capa desenhada. O que acha? – perguntou a designer.

Avaliei de cima a baixo e não me agradei. Porém, a opinião final não era a minha e sim a do produtor geral de imagem gráfica.

- É bom. – disse.

Todos na mesa me encararam.

- Bom? É maravilhoso Diana! – disse Abner, o produtor geral de imagem gráfica.

- É, sei lá. Não acho que esteja enfatizando a ideia do livro. O quê, uma garota segurando uma lista de desejos na mão? Isso é tão óbvio. – falei recostando-me na cadeira.

Um silêncio na sala de reunião começou. Levantei-me e desfiz a minha ideia.

- Mas, eu não sou formada em nada. Se vocês acreditam que essa capa irá causar impacto, eu apoio. De verdade. – continuei.

- Iremos revisar a capa mais uma vez. Sua ideia conta alguma coisa aqui. Pelo menos pra mim. – disse Abner.

Os funcionários saíram da sala e eu fiquei com minha mãe e Abner.

- Estamos planejando tudo pra essa semana. Queremos que seu livro seja publicado logo no primeiro semestre no próximo ano. – disse ele.

- Isso não vai atrapalhar a faculdade dela? – perguntou minha mãe.

- De modo algum. – respondeu ele.

Após alguns diálogos a respeito do contrato com a editora, fomos embora.

***

Enquanto íamos para casa, minha mãe comentava que eu precisava comprar roupas novas (novamente), já que eu ia pra faculdade e logo mais seria reconhecida por ter um livro publicado.

- Não preciso de novas roupas mãe. – disse.

O taxista que nos levava apenas ria.

- É a primeira vez que vejo uma garota que não quer comprar roupa nova. – comentou ele.

- Ah, o senhor não viu nada. – disse minha mãe. – Mas, você vai comprar roupa nova. Vou pedir que o Lucas vá com você ao shopping. Ele sempre escolhe roupas bonitas pra você.

- E curtas. – repliquei.

***

Em casa, refiz algumas listas da escola e afazeres a respeito da minha formatura da escola.

- Quando será? – perguntou Lucas ao me ver organizando uma papelada.

- Semana que vem. – respondi.

- E Daniel, vai participar?

- Não sei. Ele nem ao menos está indo à escola.

Lucas sentou-se na minha frente e começou a folhear uma revista de vestidos de formatura.

- E Catharina? Eu também não a vi mais. – comentou ele.

- É, as amigas dela comentaram outro dia que ela estava doente e por isso não estava indo. – disse.

- Hum... Espero que ela fique bem.

Franzi a testa e depois encarei Lucas.

- Quer mesmo? Ou é da boca pra fora? – questionei.

Lucas pensou por um momento, riu e disse:

- É da boca pra fora.

- Já imaginava. Flávia disse a mesma coisa hoje de manhã.

- Por falar nela, a Flávia e o Maurício andam bem “juntinhos”... – comentou Lucas.

- Eles estão namorando e vão à formatura juntos. Provavelmente ficarei segurando vela. – resmunguei.

- Só se você quiser. – replicou Lucas sugerindo algo que eu esperava não ser aquilo que eu estava pensando.

- O que quer dizer com isso moleque? – perguntei brava.

- Diana! O Rafael é louco por você! O que custa chamá-lo pra ir à sua formatura? De repente rola alguma coisa e tal. – respondeu ele.

Puxei o travesseiro e joguei em cima de Lucas para calar a boca dele.

- Não fale besteira. – resmunguei.

- Ah! Não vai convidar o Daniel, não é?

Fiquei em silêncio. Ouvir aquele nome ainda não soava nada bem aos meus ouvidos.

- Era o que eu queria, mas... Não sei. – disse confusa.

- Sabe Di, acho que vocês precisam conversar de verdade. Dar um fim a isso. Ele te prende sem nem mesmo te segurar. Isso é insano. Por que não vai até a casa dele é põe um fim a essa “espera”? O tempo já foi suficiente e ele não veio atrás de você. Talvez já até tenha seguido em frente.

- Ele veio atrás de mim sim. – disse. – O papai e ele conversaram outro dia, mas ele seguiu o conselho do papai e decidiu “pensar” mais um pouco antes de me contar qualquer coisa. E quando o papai me disse isso, comecei a achar que Daniel ainda gosta de mim e isso não é ingenuidade. É só uma verdade. Eu preciso ir atrás dele Lu. Talvez o problema seja eu e não ele.

- Talvez o problema seja a falta de coragem dos dois. De qualquer forma, faça o que achar melhor. – concluiu Lucas.

- Deveríamos pensar no meu vestido agora. – mudei de assunto.

- Eu acho vermelho lindo. Olha esse aqui...

E conversamos o resto da tarde sobre vestidos, penteados, sapatos e “como sua unha tá feia, porque não pinta pra parecer uma garota pelo menos na formatura?”.

***

Comprei nossos ingressos pra exposição. Vou te buscar amanhã depois da aula.

Era essa a mensagem curta e direta de Rafael que recebi na madrugada.

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- O quê? – questionei sozinha deitada na cama no quarto escuro por volta das três horas da manhã enquanto Lucas roncava na cama ao lado.

Não respondi. E não foi porque eu não queria, mas meus olhos fecharam automaticamente depois que li a mensagem.

Na manhã seguinte na escola, a reunião dos formandos fora para definir a cor do vestido.

- Todas as meninas de vestido vermelho. Os meninos, gravata vermelha. – disse a representante da formatura.

Muita algazarra a respeito da cor e então ficou decidido que seria vermelho e ponto final, mesmo que uma ou duas garotas tivesse anunciado greve de fome se a cor fosse vermelha.

- Qual o problema de irmos todas com o vestido da cor que queremos? – comentou Flávia durante o intervalo.

- Porque ficaria RI-DÍ-CU-LO. – disse Lucas. – Vermelho é vida. Representa paixão e...

Suspirei enquanto mexia a colher no copo de iorgute.

- Acho que não deveríamos comentar sobre paixão agora. – interrompeu Maurício.

Olhei para eles e depois sorri.

- gente, não tem nada haver. Sério, me ignorem. – disse.

- Já disse a você que Daniel é um idiota? Sério, ele é. – comentou Murilo.

- também acho amiga, você vai conseguir algo melhor. – disse Flávia abraçando-me.

- Já até conseguiu. – murmurou Lucas recolhendo-se na cadeira. Todos olharam surpresos e felizes.

- Você já está com alguém? – questionou Flávia.

- Não! Lucas!! Não, não estou com ninguém!

- Não ainda. – continuou meu irmão.

Revirei os olhos e ignorei o restante da conversa até o fim do intervalo.

Quando a aula acabou, fui até o portão com Lucas e nos despedimos dos amigos. Enquanto isso, uma mão tocou meu ombro. Virei pra trás e vi Rafael.

- E aí? – disse ele.

Fiquei surpresa e só então lembrei que Rafael havia mandado mensagem na madrugada avisando que iria me buscar para a exposição após a aula.

- O-oi. – disse gaguejando.

Não foi difícil perceber os sorrisos de Lucas e Flávia, além dos olhares de Maurício e Murilo.

- Recebeu a mensagem? – perguntou ele.

- Sim... Eu só não lembrava e eu nem falei com minha mãe. – respondi.

- Mas eu já fiz isso por você. – continuou ele.

- Vá logo Diana. – sussurrou Lucas.

- Então, nós vamos? – insistiu Rafael.

Assenti com a cabeça e o acompanhei despedindo-me de todos com um simples aceno.

Dentro do carro, Rafael começou a puxar conversa tentando ser legal, o que não era difícil para um cara como ele.

- Sua mãe fez um interrogatório do tipo “pra onde vocês vão? que horas chegam? não irão beber? Não irão se drogar?” e outras coisas mais.

Comecei a rir e então disse:

- Bem típico da minha mãe.

***

Chegamos ao local da exposição. Rafael entregou os ingressos e entramos. A exposição começava com vídeos de filmes antigos como Star Wars e Star Trek.

- Já assistiu algum? – perguntei.

- Já assisti todos. – respondeu ele sorrindo.

Continuamos pelo corredor da exposição e chegamos até os filmes em preto e branco e vi “O Ditador”, de Charlie Chaplin. Admito que quase chorei. Foi um dos primeiros filmes que assisti.

- Eu acho esse cara um máximo! – comentou Rafael.

- Eu também.

E mais adiante, os musicais. E bem a minha frente, “Cantando na chuva”. Corri até o telão onde a minha cena favorita rolava e comecei a cantarolar baixinho. Meus olhos brilhavam, eu sentia isso, e lembrei da minha avó Carmem que, quando viva, cantava pra mim e dançávamos na sala.

- Se eu ousasse pensar que de mim gostasse, é isto que iria dizer... Foi feita pra mim, e eu pra você. A natureza a fez e ao terminar você era todas as doçuras que podia imaginar. Você é pura melodia, que jamais me deixaria. Mas estou contente que os anjos a enviaram e que a fizeram só pra mim.¹ – cantava Rafael baixinho, me acompanhando.

- Eu gosto desse filme também. – disse ele.

Não disse mais nada. Aquele filme lembrava Daniel. E aquela cena lembrava a minha avó. Duas lembranças boas e tristes ao mesmo tempo porque eu não tinha nenhum dos dois comigo.

Antes que a cena terminasse, segui para o próximo setor da exposição.

***

- Foi um dia muito legal Rafael. Obrigada. – agradeci abraçando-o.

- Que tal um lanche agora? – sugeriu ele.

Concordei e fomos até uma lanchonete e cafeteria ali próxima. Ambos pedimos uma porção de fritas e Milk-shake. Conversamos sobre a faculdade e coisas além disso como o nosso futuro. E depois, Rafael disse que eu deveria pensar no presente, e que eu estava vivendo um ótimo momento.

- Mesmo assim, já sentiu que todas as coisas estavam dando certo, mas um vazio desconhecido te cercava? – perguntei a ele.

- Sim... Isso é falta de amor. – respondeu ele.

- Não... É apenas coisa da minha cabeça. – repliquei. Ele riu. – Mas, eu quero te fazer um convite agora.

-Faça.

- Quer ir a formatura comigo? – perguntei sorrindo.

Ele esboçou um ar pensativo e misterioso e então respondeu:

- Seria uma honra indescritível.